Volume 2
Capítulo 72: Discussão Na Catedral
— Argh! Não podemos deixá-lo fugir! — bravejou Bishop, o Santo estava com a voz irritante como nunca.
— Nyah! Vamos…
O grupo voltou à entrada, onde os religiosos escondiam-se em uma barricada inútil de bancos. Antes que Kawaii pudesse falar algo, duas pessoas abriram a porta e adentraram o local, assustando a todos. Porém, o susto só durou até o momento que descobriram a identidade dos novos invasores.
— Fran! Rhyan! — gritou a semi-humana ao ver o estado dos companheiros.
O corpo magro ensanguentado de Rhyan Gotjail era carregado pela sua pequena companheira de cabelos curtos. Aparentemente, o falso herói havia se envolvido em uma briga feia.
— A-alguém ajude o mestre Gotjail! Ele está morrendo! — gritou a menina em voz chorosa.
— Por aqui! — Rapidamente, Amélia estendeu outro pano no chão, ao lado de Orcus, que dormia profundamente, e o jovem ruivo foi deitado com cuidado nele.
Rhyan estava em um estado horrível, a origem do sangramento eram diversos orifícios em sua pele, julgando pela situação, provavelmente eram picadas dos insetos anormais que voavam do lado de fora. No entanto, Fran não tinha quase feridas visíveis.
A garotinha ajoelhou-se ao lado do corpo e o observou enquanto um dos religiosos usava magia de cura no jovem ruivo. A propósito, também tentaram usar magia de cura em Orcus, mas não foi efetiva, pois ele não estava machucado, apenas dormia profundamente.
— O que aconteceu com ele? — perguntou Kawaii pondo a mão no ombro de Fran.
— F-foi o homem mascarado… o mestre tentou me proteger, m-mas levou todas as picadas dos insetos. — Os olhos da menina se arregalaram quando ela relembrou a cena terrível.
Os gafanhotos de aspecto metálico tinham o tamanho de uma mão e o rosto deles era um ferrão que terminava em uma ponta quase tão fina quanto uma agulha de injeção, ser atingido múltiplas vezes pelos insetos era um verdadeiro inferno, e Rhyan provou dessa dor insuportável para proteger sua escrava. Kurone estava surpreso, ele não imaginava que aquele herói narcisista pudesse fazer isso.
Ao escutar a garotinha falando "homem mascarado", seu peito ficou quente, lembrou-se da máscara queimando por baixo do manto de Santo e rapidamente jogou o pensamento para o fundo da mente, afinal Rory estava ao seu lado.
O encontro com o supervisor, a Boito .20 e a máscara eram coisas que não queria compartilhar com a loli arrogante no momento, na verdade, nem tinham tempo para perder falando sobre isso. A ilha continuava despencando lentamente e eles precisavam fazer algo, assim pensando, o jovem disse:
— Não podemos ficar parados, vamos logo atrás do Edward, senão todos vão morrer! Já que a catedral não é atacada, vamos trazer todas as pessoas para cá — ele sugeriu.
— É umya boa ideia, myas nyão acho que os religiosos estão com vontade de sair e escoltar as pessoas para cá.
— Deixa comigo, será como daquela vez nas terras da senhorita Sophiette. — Amélia levantou a mão e se ofereceu. Eram poucas as vezes em que podia ser útil em situações problemáticas, por isso estava disposta a ajudar. — Vocês podem pelo menos curar os feridos? — Ela voltou um olhar afiado para o homem curando Rhyan.
— S-sim! Vamos dar o nosso melhor! — Ele buscou apoio dos outros colegas, mas todos ficaram em silêncio, porém não negaram que ajudariam.
— Então a demônia vai cuidar das pessoas…
— Ei, não gosto de quando você fala com desprezo…
— Kurone, não era hora para discussões. — A cocheira tentou acalmar o jovem que ia tirar satisfação com Avios Bishop.
Estranhamente, Avios não estava se escondendo atrás dos outros como na última luta. O Santo até mesmo usou seu poder para tentar matar Edward.
— Então a Amélia vai cuidar das pessoas, o Orcus vai continuar dormindo e nós vamos descer a porrada no Edward! Fechou, vamo logo… Frederika, você vai ficar aqui com aquela menina, tudo bem?
De fato não dava para levar Frederika, era um campo de batalha cruel demais para uma garotinha como ela, que mal conseguia correr rápido. Ele não podia colocá-la em perigo.
— …!
— Não seja teimosa, veja, a Fran vai te fazer companhia.
No entanto, a menina não queria deixá-lo ir só. Ela tinha medo de perder o jovem, a única pessoa que a tocou após tanto tempo? Kurone tentou convencê-la de todas as maneiras, mas ela não desgrudava da sua perna.
Vendo que aquilo ia demorar, Amélia, Avios e Kawaii saíram na frente, deixando Kurone, Rory e a garotinha teimosa.
— Tudo bem, pode ficar aí — Rory disse em seu tom frio.
— Quê? Você não pode lutar sem mim, sem falar que eu…
— Pode ajudar? — comentou indiferente. Fazia algum tempo que o jovem não ouvia ela falando daquela maneira. Era o mesmo tom de desprezo de quando se conheceram. — Não seja patético, idiota, você é fraco demais para ajudar nessa batalha. Sabe quem também foi idiota e pensou que podia brigar com eles? Resposta: aquele inútil morrendo ali no chão. — Apontou para o corpo de Rhyan.
— O que deu em você…? Até há pouco você disse… Não me diga que ficou preocupada quando viu o Rhyan chegando?
Rory não negou, ficou em silêncio e virou as costas, mas disse antes de ir:
— Fique aqui, é mais seguro para você e para essa coisa aí. Ajude as pessoas que chegarem aqui, você estará nos ajudando também se fizer isso.
— Mas como você vai lutar?! O compartilhamento…
— Já cuidei disso. Tem alguns Orbes Azuis nesse lugar, vou pegar alguns “emprestados” para lutar.
— Rory, eu vou…
— Já disse para ficar! — O tom de voz da garotinha elevou-se e o grito reverberou por todo o local.
Era a primeira vez que via a loli arrogante daquele jeito, normalmente a menina era fria e, quando demonstrava outras expressões, eram todas sádicas ou de desprezo, jamais escutou a voz daquela maneira, como se ela estivesse chorando internamente.
— “Eu vou ajudar”, “Eu também posso lutar”, “Vamos ganhar juntos”, “Somos mais fortes lutando em equipe”...
Ela repetiu incontáveis citações com a voz arranhada, mas não virou o rosto para Kurone, na verdade, não precisava, o jovem podia imaginar a garotinha com uma expressão de fúria enquanto citava cada uma daquelas palavras, como se odiasse mortalmente quem as disse.
— … Tudo é mentira, é uma bobagem sem fim. Vocês são todos mentirosos. Olhe para você, inútil, por exemplo, não sabe lutar, se apoia totalmente em sua loucura e acha isso bom, mas não passa de um idiota fraco que não consegue nem enfrentar o humano mais fraco desse mundo sem acabar ferido!
Raramente Rory exclamava, mas isso era a menor das diferenças na fala da garota. O corpo permanecia rígido e ainda se recusava a virar para o outro. Ela continuou com a fala que amaldiçoava a existência de diversas pessoas:
— Você não é um protagonista da merda daqueles quadrinhos esquisitos, eles também não eram, mas, por se acharem um, também morreram e abandonaram aquela garotinha que acreditou cegamente nas palavras vazias só porque soavam legais e convincentes. Por isso, não seja idiota e fique aqui, eu tenho poder para afirmar que vou matar cada um daqueles desgraçados.
— Não importa o que você diga, é meu dever, dado pela Cecily, acompanhar você.
— Você não escutou o que te ordenei, IDIOTA!!!
— Argh! Blergh! — o jovem gritou ao ver o cenário girando.
Repentinamente, o corpo de Kurone foi arremessado com violência contra uma das colunas da catedral, o garoto cuspiu sangue ao bater na parede e cair de joelhos no chão frio.
Frederika correu rapidamente na direção dele, mas Rory foi mais rápida e não teve misericórdia, ela cortou o ar e chutou o rosto dele na horizontal. Como estava ajoelhado, foi fácil receber o golpe na orelha, que jorrou sangue após o impacto.
O corpo rolou novamente, assustando todos os religiosos do local, no entanto ninguém ousou interferir.
— Como você pode me ajudar dessa maneira? Olhe, está sangrando apenas com esses golpes e com a perna machucada.
Bam! Um tiro da M16A2 atravessou a perna do jovem, fazendo-o gritar de agonia e, se não bastasse aquilo, disparou outra vez no ombro ferrado anteriormente.
— Você não pode me ajudar assim, entendeu? Se acabou se machucando tão fácil assim, vai morrer no campo de batalha.
— Tsc…
Porém, o jovem não desistiu, mesmo com a dor percorrendo todo o seu corpo, ele tentou ficar de pé e disse:
— Isso não foi nada, vamos logo atrás dos demônios mascarados.
Rory ficou em silêncio encarando o companheiro teimoso, a cena de Frederika não querendo desagarrar da perna do jovem mudou para ele não querendo deixar a loli arrogante sozinha.
A garotinha de cabelos prateados relaxou o rosto e formou um sorriso maligno no rosto, apesar de não ser algo equiparável àqueles que usava quando humilhava os adversários. Aquele sorriso parecia forçado.
— Você está todo felizinho para salvar as pessoas mesmo sendo um assassino.
— Quê?
— Não se faça de besta. Você sabe do que estou falando, sem falar que me ajudou a cometer tantos assassinatos… Ah, eu não te contei, não foi? Qual é a verdadeira tarefa do Lolicon Slayer?
Kurone não respondeu, a garotinha não deu tempo, ela continuou com seu tom sádico arranhado forçado:
— Eu sou a culpada. Fui eu que matei as crianças de Eragon, fui eu também que matei a 17° criança em Andeavor, Edward só está vestindo um cadáver que encontrou jogado pelas ruas.
Dessa vez, ele nem tentou compreender o que ela disse, ignorou as palavras, pois sabia que aquilo não podia ser verdade.
— Não importa, eu vou…
— Chega!
Kurone foi arremessado mais uma vez contra a parede, batendo o cocuruto e, antes de cair, foi surpreendido por magia. O corpo do jovem foi congelado e um frio tomou conta de seu ser. Quando percebeu, estava parado como uma estátua de gelo, apenas observando as costas de Rory deixando a catedral.
As pessoas assombradas não queriam encostar no jovem, talvez com medo de enfurecer a garotinha que tinha acabado de sair. O garoto pensou em dar um grito ensurdecedor, mesmo congelado, porém as luzes se apagaram repentinamente e a escuridão tomou conta do mundo destruído de Kurone Nakano.