Volume 2
Capítulo 68: Pandemônio No Festival
— Ei, Kurone, tem algo acontecendo lá fora, está escutando os gritos? — Amélia olhou confusa para a pequena janela com grades.
O companheiro de cela arrumava gentilmente os cabelos longos de Frederika. Ele se levantou para verificar o local apontado pela cocheira e, no mesmo instante, um objeto bateu contra as grades, fazendo-o recuar.
— Ahh! — gritou assustado ao ver um objeto metálico se tornando fumaça branca após o impacto. — Que diabos foi isso?
— …!
— Calma, eu vou proteger vocês — o garoto disse enquanto subia na cama para ter uma visão melhor do lado de fora.
No entanto, tudo que viu foi uma neblina branca no ar e alguns insetos zumbindo de maneira irritante. “Precisamos sair daqui.”
— Frederika, Amélia, se afastem.
— Sim.
— …!
O jovem estendeu a mão para a porta de grades da cela e concentrou-se. Partículas azuis se formaram ao seu redor e…
Pow! A fechadura estourou e a porta foi aberta com um único tiro da Boito .20 recém-materializada. As duas garotas deram um grito fino, assustadas ao escutar o disparo. Kurone simplesmente se desculpou com um "Foi mal" e saltou para o lado de fora da cela.
O corredor estava escuro, mas ele ainda lembrava para onde devia ir.
— Pode ser perigoso, Amélia, quero que fique de olho na Frederika, se acontecer qualquer coisa, foge com ela.
— Que palavras pesadas, mas eu entendi. Eu não me impressionaria se fosse Rory atirando nos moradores de Eragon.
— Queria que fosse isso mesmo.
Kurone sabia que havia um Duque do Inferno solto pelas ruas de Eragon, o mesmo demônio que matou o supervisor, Flugel e uma garotinha. No fundo, queria se encontrar com ele e ter sua vingança, porém isso poderia pôr as garotas em perigo.
— Ei, não faça nada imprudente também. Essa sua expressão está passando a impressão que você vai fazer uma loucura de novo.
— Nossa, tá tão na cara assim? Tá bom, tá bom, vou tomar cuidado também. — Ele tentou fazer uma piada, mas foi repreendido pelo olhar feio de Amélia.
A cocheira havia mudado a maneira de como falava com o jovem após seu desabafo. Agora, ela parecia mais a garota que conheceu no fundamental, Luna, que sempre se preocupava com seus machucados após as brigas com outros delinquentes.
O trio correu rapidamente para a saída da prisão. Os passos curtos de Frederika estavam os atrasando, então Kurone jogou ela em seu ombro e aumentou a velocidade da corrida. “Por favor, que seja a Rory atirando no Avios, por favor, que seja a Rory, por favor…”
A expectativa do jovem foi traída ao sair do prédio. Insetos de aparência anormal, com o tamanho de um punho, perseguiam os moradores desesperados. Uma neblina branca pairava pelo ar, misturada à presença esmagadora de seres demoníacos.
Se tivesse que descrever aquela cena caótica com uma palavra, essa palavra seria “pandemônio”. Quando o jovem foi preso, um silêncio mortal dominava a cidade na madrugada, mas, quando saiu, encontrou aquele alvoroço.
Ele ativou o Olho Sagrado e varreu o cenário rapidamente à procura de seus dois companheiros: Rory e Orcus. Percebeu que eram os únicos que podia confiar naquele mundo.
— Amélia, não solte minha mão! — disse, agarrando com firmeza a mão da garota ao seu lado.
A cocheira confirmou balançando a cabeça e eles saltaram no caos. Kurone procurou e procurou a presença de sua pequena companheira, até…
— Blergh!
Ele quase caiu ao sentir um fluxo de mana anormal. O olho amarelado sangrou e o jovem ficou paralisado por alguns minutos até conseguir estabilizar o corpo novamente.
— Kurone!
— …!
As garotas ao seu lado gritaram preocupadas, mas ele sinalizou que estava bem e falou com a voz arranhada:
— Ali! Encontrei a Rory!
A tensão no ar era quase palpável. Azazel van Elsie e Rory Nakano se encaravam, como se qualquer movimento fosse fatal. Avios, Orcus e Kawaii também ficaram estáticos, eles não ousaram fazer qualquer movimento brusco.
— O que é que temos aqui…? — A demônia mascarada quebrou o silêncio, falando em seu tom despreocupado.
— Nyão podemos vencer, vamos recuar! — Kawaii sussurrou, mas Rory a ignorou.
— Podem correr, eu mato essa desgraçada.
— Ei, irmã do Nakano, isso é suicídio! Não tá vendo como essa coisa é perigosa!? — protestou Orcus.
— Se vão correr, é melhor fazer isso logo, eu já decidi o que vou fazer…
— Um momento, infelizmente, eu negarei seu pedido. Azazel van Elsie é minha presa, me desculpe. — Quem disse, chamando a atenção de todos, foi a figura imponente de um homem de aproximadamente sessenta anos.
Apesar da idade, ele tinha um físico bem definido que podia ser visto por baixo do terno azul. Era o inconfundível reitor, que sempre aparecia de última hora nos combates alheios.
— Que interessante, eu sou tão querida assim? Não tem Elsie para todo mundo, então terão que me dividir, mas não se preocupem, tem para todos, afinal eu tenho dois…
— Cale-se, demônio!
O homem estendeu as duas mãos para o alto e partículas azuis se juntaram nas pontas dos dedos, em segundos, ele segurava um machado dourado em uma mão e um martelo prateado na outra, ambas as armas de tamanho anormal. O homem bateu os objetos com força no chão, matando todos os insetos próximos apenas com o ar.
As mangas longas do terno azul se rasgaram quando os músculos dele se contraíram para empunhar as armas. Algumas partes na região do tórax e da panturrilha também estouraram, deixando a roupa elegante aos farrapos. O homem aumentou alguns centímetros apenas ao liberar os músculos escondidos.
— Olha que homem! — Azazel comentou em seu tom obsceno enquanto observava o seu adversário se aproximando. — Então também lutarei com 20% do meu poder.
A demônia saltou do telhado e pousou em frente ao palco. Ela usava nada mais que o uniforme de empregada, mas isso não atrapalhava sua locomoção, afinal aquela era a Presidenta do Inferno, segundo o que Brain contara.
Elsie mostrou que o que sentiram antes era apenas um vislumbre do seu poder. A pressão na praça aumentou, fazendo Kawaii e Orcus terem ânsia. No entanto, Rory e Avios não foram afetados pela mudança.
— Lá vou eu! — Com o grito, o reitor se impulsionou e partiu para cima da oponente, reduzindo a distância dos corpos em instantes.
O homem soltou o machado com tudo em direção à cabeça de Elsie, mas a demônia simplesmente deslizou e esquivou do ataque. Porém, o martelo ia em sua direção, pronto para quebrar as costelas…
Plac! Ela deu apenas um golpe de mão, isso lhe custou uma unha, mas o martelo se partiu ao meio, fazendo o grande homem cambalear.
Azazel deslizou, ficou de frente para o adversário e disse caçoando:
— Que pena, quebrei o seu brinquedo. E agora, como irá me satisfazer sem ele?
— Não me subestime, demônio! — Junto ao berro, partículas azuis estouraram e o que era apenas o cabo se tornou um martelo imponente novamente.
A demônia bateu palmas e voltou a esquivar das investidas estrondosas. Ela não atacou nenhuma vez, mas o oponente já ofegava com o pouco tempo de batalha.
— É melhor acabar com isso! — Assim dizendo, ele pisou firme no chão, fazendo a praça tremer, e enviou um vento mortal na direção de Elsie.
— Ahhhh! — Ela recebeu o ataque propositalmente e gritou de maneira obscena. — Olha só, um ataque que interfere diretamente na alma, estou impressionada com você, no entanto, esse é muito fraco, só senti um leve formigamento.
— Ei crianças, o que estão fazendo aí? Se mexam! — o homem falou para o grupo assistindo ao espetáculo em cima do palco.
— S-sim, precisamos dar um jeito para a cidade nyão cair, vamos à fonte…
— Velho desgraçado, roubou minha briga.
— Desencana, irmã do Nakano, precisamos ajudar ou vamos morrer! Tá na cara que o velhote não vai matar ela, ele só tá dando tempo pra gente! — Orcus tentou ser o mais convincente possível. Naquela situação, ele não podia se separar de Rory, ou acabaria morto, mas se a acompanhasse no campo de batalha também morreria.
— Tsc. Vamos, não quero ver essa merda virar um monte de destroços.
— É por aqui! — Kawaii guiou o grupo.
O homem encapuzado e o outro, com asas de anjo, estavam satisfeitos com o resultado. A presença de Azazel van Elsie era irritante, porém atraiu a atenção das pessoas problemáticas como a garotinha de cabelos prateados e o homem de meia-idade musculoso, dando a oportunidade para Belphegor dé Halls e Satiel concluírem sua missão naquela cidade. Eles estavam quase deixando a praça quando…
— Demônios malditos! Pensam que podem invadir minha cidade e ficarem impunes!? Agora sentirão a fúria do herói Rhyan Gotjail! — Um jovem apareceu… voando.
Belphegor pôs a mão na máscara e tentou entender que tipo de magia ele usava para voar, algo improvável para um humano, mas logo parou ao perceber a pose defensiva de Satiel.
— Esse povo de Eragon está nos dando muito trabalho — ele falou enquanto jogava o manto para longe, revelando seu terno limpo.
O demônio usava um tipo de terno negro com uma camisa branca por baixo. Se a máscara no rosto de Elsie podia ser comparada àquela de "comédia" do teatro, a de Halls era a de "tragédia". Havia uma expressão triste desenhada no material branco do acessório.
Rhyan franziu o cenho ao ver aquele homem. Era sua segunda vez de frente a um Duque do Inferno, mas prometeu que, dessa vez, não perderia de jeito nenhum! Cerrando o punho e reunindo partículas azuis, ele materializou a AWM.