Volume 2
Capítulo 67: Festival Da Deusa Lunar
Avios Bishop caminhou imponentemente no palco de madeira. Naquela noite, no Festival da Deusa Lunar, ele seria o centro das atenções por algumas horas.
O Santo voltou a atenção para o público como se olhasse para um monte de lixo, não era para menos, afinal todos tinham os olhos mortos. Ele franziu o cenho ao perceber a figura de duas pessoas conhecidas no local: a garotinha de cabelos prateados e o guarda gordo, ambos eram companheiros de Kurone Nakano, o herege que se intitulava um igual.
Ser Santo era um dever sagrado, significava ser a representação da deusa a qual servia, mas o jovem fazia pouco desse título e andava de um lado para o outro com demônios.
O homem jogou a presença incômoda da garotinha e do guarda para o canto dos olhos e decidiu focar no público à sua frente. As pessoas, com olhares mortos, não pareciam ansiosas… Na verdade, não tinham nenhuma emoção visível.
— É com grande prazer — ele começou — que eu, Avios Bishop, anuncio aqui o início do Festival da Deusa Lunar. — O Santo se calou, pois sabia o que viria a seguir: uma salva de fogos de artifício no céu noturno.
Cada um dos lançadores dos fogos estava localizado em uma das extremidades do muro que circundava a ilha flutuante. Quando chegasse o momento, eles seriam disparados simultaneamente e explodiriam no alto da praça de Eragon.
Após alguns segundos, Avios olhou para cima impaciente. Estava demorando um pouco, provavelmente, houve um problema técnico, mas decidiu esperar para continuar seu discurso, foi nesse momento que…
— Ei, o que é aquilo? — Um dos moradores apontou para a entrada da Cidade-Estado. As casas da praça não eram altas, por isso podiam ver claramente o portal da ilha. Havia algo ali, um tipo de fumaça branca se destacando em meio à noite escura. Repentinamente, todos escutaram um barulho semelhante ao do bater de asas de um animal grande.
As pessoas começaram a sussurrar entre si: "É apenas outro bolder" e voltaram a atenção novamente para o Santo estático no palco. O homem sentiu uma aura pecaminosa se alastrando pela praça. Definitivamente, algo estava errado.
— Moradores de Eragon, é com grande prazer que damos início ao Festival da Deusa Lunar. — Quem falou não foi o Santo no palco, na verdade, a voz veio do outro lado, do edifício mais alto de todo o local…
— Ali! N-na prisão! — gritou um dos moradores apontando para o prédio.
Alguém estava lá em cima, e essa pessoa emanava uma aura demoníaca. Antes que alguém pudesse falar qualquer coisa, ele prosseguiu:
— Vamos nos divertir, mas com cuidado para ninguém se machucar! — Após o grito do homem, linhas amarelas percorreram o céu e explodiram formando lindas flores brilhantes. Eram os fogos de artifício, iluminando a noite calma.
— Ahhhhh! — gritou uma mulher ao olhar para cima.
O nevoeiro branco, antes na entrada da cidade, pairava pelo ar da praça, e o pior de tudo, algo estranho nessa neblina chamava a atenção dos moradores. Para ser mais exato, os vários "algo" eram pequenos insetos semelhantes a gafanhotos.
Os animais tinham o corpo coberto por um tipo de armadura prateada e, ao invés de um rosto, havia um enorme chifre pontiagudo cobrindo a face, um ferrão anormal invertido! Eles tinham o tamanho de uma mão fechada e produziam zumbidos insuportáveis ao bater as asas de aspecto metálico.
Os rostos das pessoas ficaram tensos, mas logo se lembraram da barreira que protegia a cidade, estavam seguros pelo menos daquelas coisas, só precisavam se preocupar com o louco no telhado da prisão, porém quando assim pensaram, um tremor balançou toda a ilha.
— Ahhhh!
A multidão cambaleou, sendo jogada de um lado para o outro, as luzes da cidade piscaram devagar, como se a energia fosse desligada repentinamente. Como um terremoto atingiu uma ilha no céu? Todos se perguntaram internamente.
E a sequência de acontecimentos não parou mesmo após o tremor. O homem encapuzado no telhado fez um gesto com a mão e, como que obedecendo, os insetos anormais se moveram, indo em direção à praça. Foi o golpe final, as pessoas inexpressivas preencheram o rosto com pavor genuíno pela primeira vez.
Antes que qualquer outro gritasse, uma garotinha de cabelos prateados saltou sobre o palco onde estava Avios Bishop e apontou um objeto negro na direção dos animais.
Bam! Bam! Bam! Os tiros da arma foram, sem erro, em direção aos insetos, reduzindo eles a nada mais que pó branco. Ela conseguiu extinguir alguns, mas foi uma ação em vão, considerando que havia centenas daquelas coisas no céu.
— Vo-você! — o Santo exclamou com uma voz rouca ao notar a presença da garotinha ao seu lado: era Rory.
Vendo que seria inútil atirar nos insetos, Rory mudou seu alvo para o homem estranho no telhado. Aquela era a construção em que Kurone estava preso, provavelmente, ele já teria notado que estava acontecendo algo estranho no lado de fora, mas não poderia fazer nada.
A garotinha suspirou em alívio, afinal seu companheiro estava seguro. Ela não poderia arriscar a vida dele em uma luta contra aquele adversário.
— Ei idiota, você já notou quem é nosso inimigo, não?
— Olhe como fala comigo — disse Bishop irritado.
— Não é hora pra isso, imbecil, vai ajudar ou quer ser o primeiro a morrer? — ameaçou a loli arrogante ao Santo, criando um clima hostil mesmo naquela situação. Claro, era Rory sendo Rory.
— Tsc, é um daqueles Duques do Inferno, dá para sentir a aura repugnante daqui, o que esse ser blasfemo faz aqui?
— Por que não pergunta a ele? — a garotinha respondeu satisfeita com a confirmação de quem era seu adversário. — Vou acabar logo com isso.
A menina encostou o fuzil no rosto e mirou na figura em cima da construção. Talvez desse a sorte de atingir um ponto vital e derrubar ele.
Bam!
— Porra! — praguejou ao lembrar que sua vida foi toda baseada no azar.
A loli arrogante xingou mais algumas vendo seus tiros falhando um após o outro. Ela ficava cada vez mais irritada, afinal estava se concentrando muito para disparar, porém, tinha o empecilho da ausência do Compartilhamento de Mana.
O motivo pelo qual os ataques deram errado foi um segundo homem que explodiu as balas na metade do caminho com uma flecha. O indivíduo saltou e aterrissou na praça e, em seguida, jogou o manto para longe e revelou um físico bem definido junto a um par de asas angelicais.
Aquelas asas eram diferentes das de Flugel, a garota certamente era uma semi-humana, mas aquele homem não, pelas características, ele pertencia à raça dos anjos daquele mundo. Rory franziu o cenho ao perceber a dificuldade aumentando cada vez mais.
— Ei, por que a barreira não tá funcionando?! — Orcus, que subiu no palco desajeitadamente, perguntou a Avios.
Pouco a pouco, a praça foi preenchida pela presença dos gafanhotos metálicos. De brinde, os insetos anormais eram acompanhados por uma neblina densa que dificultava a visão.
— Ahhhhhhh! — Uma mulher gritou e correu, iniciando um alvoroço na multidão.
Aquela era a primeira vez em anos que os moradores de Eragon sentiram o medo na pele, eles jamais imaginariam que aquela barreira um dia os abandonaria. Porém, foram novamente jogados de um lado para o outro por um segundo tremor.
— Ei… é impressão minha ou nós estamos nos movendo? — Orcus fez um comentário que chamou a atenção do Santo e Rory, focados nos Inimigos.
— I-impossível! N-nós estamos caindo! — Avios gritou assombrado ao perceber o que acontecia. — Alguém mexeu no orbe…
A garotinha e Orcus olharam feio e com espanto, respectivamente, para o Santo de olhos arregalados. Eles ouviram de Kawaii que a barreira, o portal e a ilha só funcionavam por conta de um orbe que servia como fonte de energia para tudo. Então se alguém realmente mexeu no objeto…
— Nyah!! Nós vamos continuar caindo lentamente até esbarrarmos no chão. — Kawaii, chegando ofegante, verbalizou o pensamento deles. — Temos que ir à fonte e dar um jeito nisso…
— Divertido! Que divertido ver a expressão de vocês! — Novamente, outra voz desconhecida reverberou, porém essa não era desconhecida para todos…
Os músculos de Rory se contraíram e ela caiu ajoelhada apenas ao escutar as palavras ditas em tom sádica ecoando pelo ar. Ela sentiu ânsia, mas se controlou e tentou ficar de pé, a origem daquela ânsia era a própria encarnação da maldade:
— Azazel van Elsie veio brincar! — disse a demônio mascarada batendo palmas como se estivesse em um espetáculo.
De fato, aquilo se assemelhava a um show, de um lado estava o Duque do Inferno desconhecido e, do outro, van Elsie, ambos se divertindo com o sofrimento alheio.
A demônia virou o rosto repentinamente para a sede de sangue assustadora vinda do palco.
— Azazel van Elsie! Desgraçada! Eu vou te torturar, matar, esquartejar e jogar seus restos para os cães! — Rory gritou furiosa, sua aura se estendeu por todo o local e paralisou as pessoas que tentavam fugir. Até Orcus e Bishop tiveram que ficar de joelhos para suportar a presença esmagadora da garotinha.
— Que criancinha vingativa temos aqui. — A demônia não ficou para atrás e também estendeu sua aura, derrubando os que estavam de pé.