Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 66: Luna Nakano

Certa vez, um escritor disse que quando um japonês quisesse confessar para a pessoa amada, ele deveria utilizar aquelas palavras. Mesmo após o passar do tempo, aquela ainda era a melhor alternativa para as pessoas tímidas confessarem seu amor. "A lua está bonita, não é?" Essas seriam palavras lindas se não tivessem sido ditas em japonês e, ao mesmo tempo, não seriam lindas se não fossem ditas nessa língua, Amélia pensava assim.

Kurone ainda tentava processar o que foi dito pela garota à sua frente. Instantaneamente, uma memória foi desbloqueada. Quando estava no fundamental, uma garota lhe disse algo semelhante sob a luz da lua brilhante de Tóquio, mas, como era lento para entender, acabou ignorando e magoando os sentimentos da menina.

Aquela frase dita pela cocheira poderia ser traduzida como "a lua está bonita" ou… "Kurone… eu gosto de você!" A imagem da menina que conheceu no fundamental apareceu novamente em sua memória, ela estava chorando enquanto corria, quem era aquela garota?

Era… Luna? Sim, sim, Luna, Luna Nakano, como pôde esquecer da própria prima? Eles estudaram juntos e a garota foi a única que ficou perto do Kurone delinquente, pois ela conhecia a dor que o garoto sentia. Aquela menina sabia o verdadeiro motivo pelo qual o filho dos Nakano se tornara um delinquente tão novo.

Passaram anos juntos, mas, certo dia, ela desapareceu, ou melhor, o abandonou, deixando-o solitário novamente. As últimas palavras que trocaram foram exatamente as ditas por Amélia, mas por que Kurone se lembrava daquilo?

— Talvez você nem lembre mais de mim — a cocheira falou com uma voz chorosa —, mas eu me lembro claramente de você, Kurone, fui sua única amiga por tanto tempo e, na verdade, depois que voltei da Itália, você foi o único amigo que tive também.

— Ei, ei, ei! O que tá acontecendo aqui?! — O jovem gritou incrédulo.

— Imaginei que fosse reagir assim, você sempre foi temperamental. 

— Você não pode ser a Luna! Ela voltou para a Itália… porque…

— "Você era uma má influência para ela"? Eles apenas não te contaram. 

Kurone pôs a mão na cabeça, tentando raciocinar.

— No dia que eu decidi que me declararia para você novamente, com palavras fáceis de serem compreendidas, eu tomei coragem e escrevi uma carta para você, mas minha mãe conseguiu pegar e brigamos feio… eu disse que não precisava da carta e que me declararia para você de qualquer jeito… mas, quando eu saí correndo de casa, acabei sendo atropelada por um caminhão de mudança. — Amélia falava virada para a parede enquanto lágrimas escorriam cada vez mais forte de seus olhos.

— Mas que diabos…

— … Quando percebi, estava vivendo um inferno. Reencarnei no corpo de Amélia, uma mestiça de doze anos e, em alguns dias, minha vila foi incendiada e fui a única sobrevivente.

Amélia era uma mestiça, Amélia já o conhecia, Amélia era Luna… A mente do jovem estava uma bagunça tentando processar o que era dito a cada nova palavra da garota.

— Por sorte — continuou ela —, encontrei o senhor Edgar, um homem gentil, ele me acolheu e me deu um emprego na mansão Soul Za… sou muito grata a ele, pois, por conta desse emprego, eu consegui te reencontrar, mesmo que estivesse mais velho que da última vez, se bem que eu também estou bem diferente.

Era fato que a cocheira gostava dele, mas aquilo não era uma declaração de amor, não, era, na verdade, um pedido de desculpas misturado a um desabafo, a garota se sentia culpada por mentir para Kurone?

O corpo do jovem tremia, ele acreditava que fora abandonado por Luna, por isso a amaldiçoava toda noite, a chamando de traidora por deixá-lo sozinho. Foi nessa época que perdeu a meia-irmã, Teruhashi, e matou o médico, a cabeça dele estava terrível. 

Nenhum dos dois era o culpado, a única que mentiu foi a mãe de Luna, escondendo sua morte, não sabia se aquilo era bom ou ruim, mas ele carregava ódio pela prima que o abandonara até aquele momento.

Amélia ou Luna, não importava o nome, viveu com aperto no coração até aquele dia, pois partiu sem dizer adeus ao garoto que amava e, quando o reencontrou, ficou aflita, esperando um momento oportuno para contar a verdade.

Ele deveria, no mínimo, ter desconfiado das ações da cocheira, ela confiava cegamente nele e o seguia por todos os caminhos que tomava, por mais espinhosos que fossem. A garota acabou ferida diversas vezes por conta disso.

— Perdão por não ter sido clara no dia que me declarei pela primeira vez. Perdão por ficar com raiva por você não ter compreendido a declaração. Perdão por ir embora sem me despedir. Perdão por mentir todo esse tempo. Perdão por ser fraca. Eu gosto de você, mas não estou exigindo que corresponda esse sentimento, sei que está confuso agora, pode até mesmo estar com raiva, eu não o culpo. Eu só peço uma coisa…

A cocheira relaxou os ombros e olhou fixamente para o jovem à sua frente, antes de prosseguir com os olhos marejados e as mãos trêmulas:

— Por mais fraca que eu seja, me permita continuar andando com você e os outros! Agora eu posso te ajudar, diferente daquela época em que não podia fazer nada, eu só ficava olhando enquanto você se perdia, me sentia impotente ao ver que você não podia contar comigo, por isso… Confie em mim! Eu não posso lutar, nem sou determinada como a Rory, muito menos corajosa como senhor Orcus, não sou fofa como Frederika, mas posso conduzir, então… deixe-me fazer isso! Me dê as rédeas da carroça que eu o levarei até o inferno, se me ordenar.

Silêncio. Kurone nada disse, apenas olhou para a garota, o exterior era o de alguém que conhecia há pouco mais de um mês, Amélia, mas o interior era de uma pessoa que conhecia há muito mais tempo, Luna, a prima.

Passaram mais de dez minutos na mesma posição, ninguém falou nada, apenas os olhos chorosos da garota o observavam, na espera de alguma resposta, fosse negativa ou positiva, ela só queria escutar a voz dele.

Kurone segurou o choro, afinal ele não esperava aquele reencontro impossível, por tanto tempo esteve amaldiçoando a pessoa que mais o amou e não teve culpa de abandoná-lo. Enfim, o garoto disse:

— Tsc… Não posso mandar você embora, senão vamos voltar a pé para Andeavor, você ainda não me ensinou tudo sobre condução, então… Conto com você para continuar nos conduzindo, Amélia!

— …Si… sim! Conte comigo! — O grito da garota acordou Frederika, que se agarrou no corpo de Kurone.

— A propósito, se quer ficar fofa como a Frederika, deveria deixar o cabelo crescer — Kurone comentou em tom provocativo, deixando Amélia com vergonha. Ele decidiu que conversariam melhor quando voltassem para Andeavor, e aí, seria sua vez de pedir perdão.


O dia do festival iniciou-se com uma salva de fogos no céu. Sim, era parte da influência da Terra em Eragon.

As ruas do centro estavam bem movimentadas, deixando o resto da Cidade-Estado vazia e, em meio a uma dessas ruas desérticas, quatro pessoas se encaravam, exalando uma aura capaz de destruir o corpo de quem se aproximasse.

— O que faz aqui? Não me diga que gosta de frequentar festivais humanos? — perguntou a garota com uniforme de empregada em tom provocativo.

Ao lado da maid, estava uma garotinha com aproximadamente dez anos, ela mantinha um rosto calmo mesmo no meio daquelas presenças esmagadoras.

Do outro lado, estavam dois homens, ambos encapuzados, mas podia ser visto uma máscara no rosto de um deles. O mascarado falou, com o tom de voz acovardado:

— Estou aqui a negócios. Posso saber o que você faz aqui? O conselho sabe de sua presença? 

— Não preciso da permissão de ninguém para ir onde quero — respondeu a maid, Azazel van Elsie. — Saiba apenas que nossos objetivos são diferentes, mas nossos alvos são os mesmos, então procure não nos atrapalhar.

Ela ignorou a dupla encapuzada e virou as costas, indo em direção onde ocorria o festival. Antes de saltar em uma casa, ela virou-se e disse:

— Apenas tome cuidado, não estamos sozinhos aqui. — Assim dizendo, Azazel van Elsie e a garotinha ao seu lado desapareceram saltando pelas casas.

— Maldita Azazel, ela sempre faz o que quer! — murmurou o homem mascarado.

— Mestre, devemos acreditar no que ela falou?

— Não confio nela, mas Nakano e a Besta Negra estão andando por aí, é melhor tomarmos cuidado. Faça um reconhecimento quando o festival começar.

— Como desejar, mestre Belphegor.

Os dois homens encapuzados, Belphegor dé Halls e Satiel, foram na direção oposta a de van Elsie, eles precisavam se comunicar com alguém e fazer algo importante antes de dar início ao ataque.



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