Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 65: A Lua É Bonita, Não É?

— Tô esperando.

— A verdade é que o instituto… nyão, toda cidade é um enorme laboratório de experimentos.

— E o que temos a ver com isso?

— Nós estudamos a relação entre esse mundo, Niflheim, e a Terra. Nosso foco principal é os reencarnyados.

— Ainda não vi como isso tem alguma coisa a ver comigo e com o idiota — disse Rory, impaciente.

Orcus permaneceu calado todo o momento, sem nem mesmo piscar, apenas escutando o diálogo das duas lolis à sua frente.

— Nós classificamos os reencarnados em três gerações…

Segundo Kawaii, a primeira geração de reencarnados era composta por pessoas daquele mundo que obtinham memórias da vida passada. A segunda geração, assim como a primeira, era de pessoas que conseguiam a memória da vida passada ao nascer, porém, eram memórias de outro mundo, mais precisamente, da Terra.

E, Por último, a terceira geração era composta por pessoas que obtinham suas memórias da Terra entre os 5 e 10 anos. Não havia relato de alguém que obteve memórias da vida passada depois dos 10 anos.

Rory franziu o cenho ao perceber o que Kawaii queria dizer. Havia três gerações, mas Kurone não se encaixava em nenhuma delas, era uma espécie diferente das outras, e…

— Você também é umya reencarnyada, Rory Nyakano, myas a qual geração pertence? Percebe como vocês são enigmyáticos? Você, Kurone e…

— "Ela" — a garotinha completou.

— Então você também percebeu. "Ela" é uma reencarnyada que nyão quer ter a identidade revelada. Vocês são misteriosos, por isso temos que investigá-los.

Orcus engoliu seco, pois não estava entendendo nada, mas o clima estava muito tenso, como se uma batalha pudesse se iniciar naquele momento.


— Não precisava ter feito isso — disse Kurone.

O jovem andava de cabeça baixa enquanto segurava firmemente a mão da garotinha ao seu lado, Frederika, porém ele não falava com ela, mas sim com a outra garota ao seu lado.

— Precisava, sim, você ia ficar muito solitário na cela.

— Mas vocês duas deviam estar se recuperando.

— Tudo bem, tudo bem. Já estamos bem melhor, veja!

— Argh!

— D-desculpa, era só brincadeira — a cocheira gritou afobada ao perceber que não mediu a força do que deveria ser apenas um "soquinho". Os outros dois garotos ficaram assustados, mas se acalmaram com a explicação dela.

O local aonde foram levados era uma construção média, diferente da prisão extravagante de Andeavor, que tinha direito até a um porão subterrâneo de lolis. Kurone franziu o cenho ao lembrar quem causou aquele incidente.

Na época, ele estava sob os efeitos sedativos dos remédios controlados. Mesmo após quase dois meses, ainda achava estranho a morte de Edward, aquela também fora a primeira vez que viu um Duque, Azazel van Gyl, o demônio que matou o marquês de Soul Za. Algo lhe incomodava, se não tivesse visto com os próprios olhos, diria que tudo aquilo foi forjado.

— Chegamos. — O garoto ruivo sinalizou para o interior escuro da cela. Não era nada acolhedor, mas tinha duas camas forradas de maneira preguiçosa e o chão, aparentemente, estava limpo.

— Tenha uma ótima estadia, Kurone Nakano, nós voltaremos quando o festival acabar — disse o reitor, virando as costas largas para o trio atrás das grades.

O homem e os dois garotos do instituto foram embora, deixando apenas o jovem e as duas garotas no local escuro e silencioso. Aquilo lembrava um cenário de um filme de terror que assistira certa vez, mas já estava acostumado com a prisão, afinal não era a primeira vez.

No Japão, era constantemente levado pelos guardas, quando brigava com outros delinquentes, em seu primeiro dia naquele mundo também foi preso, ele já podia se considerar um verdadeiro "especialista em prisões", não que fosse algo para se orgulhar. Após se acomodar em uma das camas, Kurone quebrou o silêncio:

— Você conseguiu falar, não foi? — O garoto olhou para Frederika, sentada ao seu lado, ela ainda não havia soltado sua mão.

— …! Si… sim…

— Não precisa se esforçar, é bom ver que pelo menos aconteceu algo bom nessa porra.

— O que aconteceu nesses últimos dias? Ficamos preocupadas depois que você saiu do instituto de cabeça quente — perguntou Amélia, com um misto de choro e repreensão na voz.

— Aconteceram muitas coisas, mas tudo acabou em morte, não quero falar sobre isso. — Ele tentou encerrar o assunto, mas…

— É verdade a acusação de assassinato?

— Não é bom falar dessas coisas perto de Frederika, vai prejudicar o crescimento dela! Não queremos que a coitada vire uma loli velha por não ter um desenvolvimento saudável.

— Não entendi nada, mas você parece gostar da palavra "loli".

— Falando assim, eu pareço um pervertido. 

— P… perver… tido…?

— Olha! Viu o que você fez? Me fez ensinar uma palavra feia pra Frederika!

— Agora você pareceu o pai dela, ia dizer para não se apegar, mas já é tarde demais… Espera! Não era sobre isso que estávamos falando, como você conseguiu mudar o rumo da conversa?!

— Vou dormir, tô cansado demais. Boa noite pra vocês… se bem que acabou de amanhecer. — Kurone olhou para a pequena janela com grades na parede.

O sol iluminava aos poucos o céu de Eragon, iniciando o 6° dia do jovem na Cidade-Estado flutuante, ou seja, o festival se iniciaria em aproximadamente 20 horas. Naquele momento, ele via, literalmente, o sol nascer quadrado.

Seis dias naquele inferno se passaram rapidamente, excluindo o tempo que passou perdido a caminho da ilha flutuante, olhando assim, Kurone não teve sequer um dia de paz desde que saiu de Andeavor.

— E-espera! Você vai dormir com a Frederika?

— Ah, é mesmo, ela tá aqui… não vejo problema, ela é só uma criança.

— M-mas isso é muito errado!!

— Qual o problema, quer dormir também? Mas acho que a cama não aguentaria o peso… — provocou o jovem.

— Pare de falar essas coisas! Eu vou contar para Rory suas propostas indecentes… Espere aí! Você me chamou de gorda? — Amélia tentou protestar, mas o garoto já estava dormindo, agarrado em Frederika como se ele fosse um bichinho de pelúcia.

Na verdade, a garotinha estava feliz, afinal aquela era a única pessoa que podia tocar nela sem acabar em coma como Amélia ou, no pior dos casos, morrer. Foi por conta dele também que ela deu suas primeiras palavras após anos em silêncio.

— Kurone… — A cocheira voltou o olhar sério para o garoto deitado, provavelmente ele ainda não estava dormindo profundamente.

— Ummm… — ele respondeu preguiçosamente.

— … Não é nada, você já está com a cabeça cheia, depois eu falo. — Amélia sentou-se na outra cama e olhou o amanhecer através das grades por alguns minutos. Kurone não podia ver, mas o corpo dela tremia incessantemente, a garota tinha algo importante a falar, mas não teve força suficiente.


Acordou com a luz da lua adentrando o interior da cela. Ele mexeu nos cabelos bagunçados e, após tirar a cabeça de Frederika apoiada em seu peito, a cobriu com cuidado para não acordá-la.

Frederika e Amélia provavelmente passaram os últimos dois dias preocupadas com o jovem desaparecido e mal dormiram, mas…

— Você devia descansar um pouco — sugeriu Kurone.

— Eu dormi, mas acordei de tarde. Olhe, trouxeram comida.

— Não tô com fome… Amélia, tem alguma coisa te preocupando? Você tá estranha faz um tempo.

— É raro ver você chamando alguém pelo nome além da Rory. — A garota tentou brincar, mas parou ao ver o rosto sério do outro. — Na verdade, tem uma coisa que quero te contar, mas não sei como falar.

— Pode falar, tô escutando.

Amélia olhou para a cama, a fim de verificar se Frederika ainda dormia, em seguida, voltou o olhar para a pequena janela de grades, mostrando a lua do outro lado, ela evitava olhar para o rosto do garoto de propósito. Juntando suas forças, disse:

— Tem um tempo que quero te falar isso… é algo que venho mantendo em segredo desde o dia que te encontrei. Eu achei que nunca mais nos reencontraríamos. — Ela apoiou a mão na parede da cela e encarou a lua ainda mais.

— Desculpa… eu não sei se entendi.

— Eu sei, eu sou realmente uma idiota. Sou assim desde aquela época, nunca mudei. Fiquei triste quando vi que a Brain foi a primeira a chamar sua atenção quando chegou na mansão, me senti acuada quando a empregada da Sophia olhou daquele jeito para você…

— Ei Amélia, tempo! Tempo! Eu não tô entendendo o que você tá querendo dizer.

A garota não virou, não queria mostrar o rosto corado com lágrimas, mas continuou mesmo assim:

— Eu sempre fui incompreensível mesmo, me sinto uma idiota por mentir todo esse tempo para você, mas já me decidi. 

— Hã? — O coração do garoto saltou ao ver o rosto vermelho e os olhos marejados de Amélia.

— Quando você sumiu do instituto, eu decidi que, se voltasse a salvo, te contaria a verdade…

Ele ficou em silêncio. Não estava entendendo o que a cocheira pretendia passar com suas palavras, era complexo demais para uma declaração de amor, mas sentia que ela diria algo importante, por isso não se atreveu a piscar, apenas escutou.

— Desculpa, eu tô enrolando e enrolando, mas, no fim, não estou dizendo nada. — A garota olhou mais uma vez para a lua, antes de cerrar os olhos castanhos e engolir seco. O canto da boca formou um sorriso, como se fosse inspirada pelo brilho do grande astro. — K-Kurone… tsuki ga kirei desu ne?

Kurone esqueceu de respirar por alguns minutos, tentando processar as palavras ditas que um habitante daquele mundo não deveria saber.



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