Volume 2
Capítulo 59: Assassino Em Série
Flugel e Kurone dormiram na hospedaria da praça. Ele não podia voltar para o instituto sem descobrir quem era o desgraçado que matava as crianças de forma tão cruel e desumana.
Sua convicção foi reafirmada pela manhã, quando saíram da hospedaria, eles viram o corpo de outra garotinha, morta como a do dia anterior. A expressão de pavor e o sangue vazando do corpo da criança fazia o sangue de Kurone aquecer como se tivesse engolido chamas do inferno.
Para encontrar o assassino em série eles precisavam de pistas, mas, mesmo que torturassem cada um dos civis daquela praça, eles não obteriam nenhuma resposta, afinal os moradores de Eragon já estavam mortos por dentro.
Precisavam de pessoas que se apegassem a vida, que teriam medo da dor e pudessem colaborar com a busca, por isso…
— Ei, ei, por que uma garota bonita está andando sozinha a essas horas? Sabia que a madrugada é mais perigosa que a noite em Eragon?
— É verdade, tem muitos patifes nessa cidade.
Dois jovens. Um humano de cabelos desgrenhados e um semi-humano com orelhas de gato. Eram as vítimas perfeitas. Em meio àquele ambiente mórbido ainda havia jovens que buscavam um sentido para a vida miserável. Aqueles dois patifes eram mais bravos que os cidadãos depressivos daquela ilha flutuante.
Flugel não respondeu nada. Ela era contra o plano de servir de isca, não por achar idiota, mas sim porque, em sua visão, não se achava feminina o suficiente para atrair a atenção de marginais como aqueles.
— Vem aqui, mocinha, nós vamos te acompanhar.
— Isso mesmo… Argh!
Uma intenção assassina se estendeu pelo beco escuro e uma sombra apareceu atrás dos jovens. A primeira coisa que veio à mente daqueles patifes foi correr, mas tentaram ignorar as pernas covardes e focar no dono daquela presença mortal.
— Eu tenho algumas perguntas para fazer — disse Kurone.
O garoto estava em um estado terrível! As roupas sujas de sangue, o cabelo desarrumado e as ataduras davam a ele o ar de um verdadeiro louco. Os criminosos seguraram o grito de medo.
— A gente não sabe de nada!
Os dois patifes sabiam que deveriam fugir daquele louco, mas não tiveram como fazer tal ato, as pernas não se moviam!
— Vocês viram alguém suspeito por aqui matando crianças?
— É-é sério, eu não vi nada!
— N-não olhe pra mim, eu também não vi!
— Será?
— É melhor colaborar se não quiserem voltar para casa com um braço a menos. — Flugel disse em sua voz firme. A garota estava com a faca que comprou especialmente para a caçada, já que suas armas e armaduras ficaram no quartel.
— Ahhh! Por favor, não nos machuque! Nunca fizemos mal a ninguém!
— É-é verdade… nós apenas assustamos crianças e mulheres que passam por aqui, mas é apenas isso!
— Não é isso que quero saber! — Irritado, Kurone chutou as caixas de madeira próximas ao seu pé.
— C-calma! Acho que me lembro de algo… — O semi-humano pôs a mão na cabeça para se proteger dos pedaços de madeira indo em sua direção.
— Então fale logo.
— Você lembra? Vimos um homem estranho carregando uma criança ontem. — O semi-humano olhou para o companheiro, na espera de uma confirmação.
— S-sim! Ele estava com um manto preto e corria como um maluco… A criança tava chorando pra caramba! — O jovem humano forçou a voz.
— O que você acha, Flugel?
— Não parece ser mentira. Para onde o homem ia quando o viram?
— Pra lá. — O semi-humano apontou para o beco no outro lado da praça.
— Vamos deixar vocês irem por hoje, mas parem de arrumar confusão, senão eu e o senhor Kurone teremos que ensinar boas maneiras a vocês. — Flugel ameaçou.
— S-sim senhora! — Os jovens gritaram em uníssono.
— Vamos lá, não podemos perder tempo.
Em segundos, a figura dos dois estranhos desapareceu e os criminosos encostaram na parede, deixando o corpo cair lentamente enquanto respiravam com dificuldade.
— Por que você não falou que eram dois homens? — perguntou o humano.
— Você viu aquele outro com o manto cinza? Imagina se ele descobre que nós deduramos ele!
— Tem razão…
Os marginais respiraram profundamente mais uma vez. Quando pensaram em se levantar, sentiram que algo estava errado, na verdade, sentiram uma presença esmagadora às suas costas. Suor frio escorreu pelo rosto dos patifes. Aqueles dois deram a volta para escutar a conversa? Eles caíram de joelhos, prostrados para a fonte da presença, mas sem olhar para quem quer que fosse.
— Por favor, nos perdoe!
— Não era nossa intenção… Hã?
Quando o humano levantou a cabeça, foi tarde demais. Gritos ecoaram pelo beco e duas cabeças rolaram — uma com cabelos mal-penteados e outra com orelhas de gato.
— Eles estão me atrapalhando — o assassino disse, em meio às sombras, olhando para a direção que Kurone e Flugel seguiram.
— Querida, cuidado, não vá acertar isso em ninguém — advertiu a mãe.
— Tá mama!
A garotinha jogava a bola na parede e segurava novamente com dificuldade. O ciclo se repetia e repetia, mas a menina não cansava. Era divertido aquele jogo que seu irmão lhe ensinou, por isso andava com aquela bola para todo lugar, até mesmo para a rua.
— Lá vai! Ahhhhh!
O brinquedo foi arremessado com força, mas errou o alvo. A bola caiu um pouco distante da parede.
— Mama! Mama!
— Um segundo, querida, eu estou vendo o valor das compras… Olha, agora vou ter que começar a conta de novo. — A mulher encarou a cesta com legumes e contou novamente enquanto o dono da barraca esperava pacientemente pelo pagamento. As pessoas de Eragon eram conhecidas pela sua paciência anormal. Bem, não era como se algo fosse acontecer mesmo.
— Eu vou pegá a bola!
A mãe não ouviu, estava concentrada na cesta e no preço absurdo dos legumes. O dinheiro não era suficiente para comprar tudo, então teria que tirar algumas coisas.
A garotinha correu para buscar o brinquedo, ela seria rápida o suficiente para pegar e voltar sem que a mãe percebesse sua ausência… Esse era o plano, porém a bola estava debaixo do pé de alguém.
— Olá, garotinha — o homem oculto por um manto disse, pegando a bola da menina debaixo de seus pés.
— Um homem suspeito!
— Sim, toda a informação é bem-vinda, senhora.
— Acho que não vi nenhum, mas vou tomar cuidado. — A mulher disse enquanto pagava os vegetais.
Se passaram duas horas, mas Kurone e Flugel não obtiveram nenhuma pista relevante. Algumas pessoas diziam ter visto um homem de manto andando pela noite, mas ninguém sabia para onde ele foi exatamente.
— Vamos querida, já temos… — A mulher procurou a filha que estava atrás dela há pouco tempo, mas não encontrou.
— Flugel, acho que…
— Minha filha! Alguém viu ela?!
— Porra! Um sequestro bem embaixo do nosso nariz. — Kurone protestou, examinando o local. "Assim não vou achar nada."
O garoto puxou a franja e exibiu o olho esquerdo, que se tornou amarelado em instantes. Com o Olho Sagrado ele poderia procurar pelo fluxo de mana da criança, porém…
— Ali!
— Certo!
Os dois jovens correram para o beco. Além do fluxo de mana de uma criança, Kurone sentiu algo anormal, algo semelhante à aura de um reencarnado.
— Para onde agora?
— Em cima da casa!
Sem perder tempo, Flugel exibiu as asas angelicais e puxou o braço do seu companheiro.
— Ali! — O jovem apontou para um homem fugindo pelos telhados e uma crianças se debatendo debaixo do seu ombro. — Achamos o desgraçado! Me solta e voa com força total!
A velocidade da amazona diminuiria se Kurone estivesse com ela, então ele decidiu perseguir o assassino pelos telhados enquanto a garota ia pelo céu.
— Tome cuidado, ele pode saber usar magia ou ter alguma arma!
— Sim!
A perseguição se iniciou.
Flugel tinha vantagem, mas Kurone não ficava atrás, ele focava no fluxo específico com o Olho Sagrado e saltava entre telhados graças ao Aprimoramento de Corpo — essas duas habilidades eram sempre úteis.
Tijolos e madeiras ficavam para trás enquanto o jovem fazia movimentos de parkour, saltando e esquivando como um profissional. Em pouco tempo, conseguiu diminuir a distância entre seu corpo e o do fugitivo. O assassino não tinha total liberdade por conta da carga extra embaixo do braço.
O manto do homem, diferente do de Kurone, que parecia uma capa de super-herói quando corria, cobria todo o corpo, dificultando ainda mais seus movimentos.
"Que droga é essa agora!"
Foi apenas por alguns segundos, mas o garoto sentiu uma presença estranha e, ao olhar para a esquerda, viu um vulto saltando entre telhados e desaparecendo em seguida. "Porra! Ele tem parceiros?" De qualquer forma, não tinha tempo para pensar naquilo, precisava de foco para não esbarrar em uma parede ou perder o assassino de vista.
— Parado aí, desgraçado! — Kurone gritou, quase alcançando o homem.
"Pow!"
A velocidade do jovem diminuiu, chumbo se espalhou pelo ar seco e seu corpo voou ao receber o tiro. "Arrrgh! Desgraçado!"
O assassino guardou novamente a escopeta debaixo do manto e saltou para outra casa. Naqueles poucos segundos, Kurone viu o rosto por baixo do capuz do manto, ou melhor, a máscara semelhante àquela de Azazel van Gyl.
— Kurone! — Flugel gritou, mas não podia se dar ao luxo de interromper a perseguição para verificar o estado do companheiro ferido.