Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 50: Pesadelo De Praxe

Patético.

"Ontem, dia 02, um médico do hospital Yamamoto foi internado em estado grave após ser espancado por um estudante do fundamental. Segundo as informações que recebemos dos funcionários, houve um desentendimento entre o estudante e o médico. A identidade do garoto ainda é desconhecida."

Por quê…

“Sinto muito, mas seu filho não poderá mais estudar nessa escola. Na verdade, ele precisará de um laudo de um profissional em doenças mentais para entrar na próxima escola.”

Por quê…

“É um monstro!”

“Não me diga que foi o filho dos Nakanos que fez aquilo com o médico?”

“Ele tinha cara de delinquente mesmo, era só questão de tempo!”

“Parece que tudo foi culpa da meia-irmã…”

“Filho, quantas vezes já disse para não ficar perto desse demônio! Vamos, venha para casa!”

“Ei, aquele lá é o Kurone Nakano?”

“Olha as faixas na mão e a franja cobrindo os olhos! Que medo! Vamos sair daqui!”

Por que as pessoas me julgam…?

“Calma, não vou lhe machucar. Eu não sou um médico comum. Eu sou… Ah! Um médico da cabeça…” 

Eu só…

“Sei que em sua idade é bem comum essas instabilidades emocionais, mas me diga, garoto, por que você espancou aquele médico?"

“Ele…”

Eu só…

“Huh? Pode falar mais alto? Eu não escutei…”

Eu só…

“Ele queria abusar da minha irmã em coma. Então…”

Eu estava em meu direito! Eu só…

“Eu só queria matar o desgraçado!!!”

“Eu queria dar socos nele até minha mão não ter mais força para socar aquele rosto imundo. Ele ousou… Ele ousou tocar na minha irmã. Ela está morta por conta daquele porco!”

“A-acalme-se, Na-Nakano!”

Esse sou eu? Ah, é mesmo, isso aconteceu no fundamental. Naquela época eu era um delinquente.

O rosto de louco e a intenção assassina eram apenas uma fachada. Escondi meus olhos por baixo da franja porque ela achava eles bonitos. Se fosse forte como sou hoje, eu poderia ter salvado ela?

“Do que adianta ficar se lamentando?”

O Nakano do fundamental está falando comigo? Olhando de perto, eu realmente era legal com o cabelo tingido e os olhos de valentão.

“É hora de ficar me encarando com essa cara de idiota? Você agora tem força, mas também tem mais irmãs que precisa proteger. Acorda, seu idiota, a Frederika, a Dora, A Rory e até a Amélia precisam de você!”

Eu estou mesmo levando sermão de uma criança? E esse delinquente sou eu!

“Por que está me encarando assim? Acorda logo, palhaço, e vai espancar a cara daquele idiota que machucou a Frederika!”


Aquele teto era novo.

A primeira coisa que Kurone viu ao acordar foi um cenário monocromático. Por quanto tempo esteve dormindo e onde estava? Apesar da confusão, o jovem se manteve estranhamente calmo.

Nyah! O myaninho já acordou? — Uma voz felina atravessou a audição, fazendo-o se virar.

Ele não estava só embaixo dos lençóis brancos caros. Havia um rosto familiar deitado ao lado: Kawaii, a semi-humana.

— Ei, tudo bem com você? Sua testa…

Reflexivamente, Kurone passou a mão no local indicado e percebeu a umidade. Havia suor, muito suor! Era como se acabasse de retornar de um banho. Na verdade, todo o seu corpo estava banhado por suor, manchando a roupa e os lençóis.

Quando tentou se lembrar do que causara aquele excesso de transpiração, o sonho conturbado lhe passou pela cabeça. E isso também o lembrou de…  

— Frederika! — gritou, saltando rapidamente da cama.

Os pés descalços tocaram o chão frio. “O que tá acontecendo?”, pensou, ao olhar para o espelho no centro do quarto.

Ele estava com roupas estranhas, em um quarto estranho, com uma garota estranha dormindo ao seu lado. Algo que fez o garoto recordar-se dos últimos acontecimentos foi uma faixa branca em seu braço. Ela ainda estava ensanguentada, o que indicava um avanço temporal curto desde o momento que desmaiou. A cabeça também pulsava ocasionalmente. Era efeito colateral do uso excessivo do Olho Sagrado.

— Acalme-se. A garotinyha está bem!

Os ombros relaxaram ao escutar a voz felina. Então Frederika ainda estava viva. Os detalhes não importavam naquele momento. Se ela estava viva, então ok. Poderia relaxar os músculos.

Myas deu um trabalhão carregar ela quando tiozão com nome de monstro falou que nyão podia tocar nela!

— Tiozão com nome de monstro? Você quer dizer o Orcus?

— Sim! Esse mesmo!

— Ummm… Pera aí! Por que você tava dormindo comigo!?

Nyah! Como assim? O myaninho 

nyão se lembra do que fizemos na noite passada! Chocada! Que insensível!

— Ei, ei, ei! Essa conversa tá tomando um rumo bem estranho! Eu não sou lolicon não!

— E o que é essa espadonya apontada pra mim? 

— Ahhh! Isso é uma coisa natural que acontece com todo homem quando acorda! Olhe pra lá! — Kurone gritou, censurando a virilha com as mãos.

Nyaaah! Eu tô só brincando. O myaninho tava muito tenso. Nya verdade, eu tava sentada nyaquela cadeira, esperando você acordar, mas o sono bateu e eu decidi dormir.

— Isso não teve graça!

Myas se quiser fazer algumya coisa de verdade… — A garotinha lançou um olhar sugestivo para o garoto.

— Já disse que não sou lolicon! Sou o extremo oposto disso!

— Que gritaria é essa aqui?

— Nakano, você já tá de pé!

O barulho da porta se abrindo foi sobreposto por uma voz fria e outra rude consecutivamente. A figura da garotinha arrogante e o guarda fora de forma adentraram o quarto sem cerimônias. “Que bom ver rostos familiares.”

— Mas você não perde tempo mesmo, hein, Nakano. Já levou a garotinha pra cama. Hahaha! — Orcus soltou outro de seus habituais comentários desnecessários, deixando Kurone com o rosto completamente corado.

— Até você!

Naquele momento, quando apontou o indicador esquerdo para o homem, Kurone percebeu o exagero de faixas na mão. Aquilo era demais. As ataduras ensanguentadas se estendiam das pontas dos dedos até o cotovelo. Aquela era a mesma mão que afundou no rosto daquele jovem desagradável. Por que tantas faixas? Ele apenas deu um soco…

— Ah! Foi o Nui que cuidou de você. Nossa, sua myão tava em um estado horrível. Os dedos estavam virados para o lado contrário e saia muito, muito sangue da myão toda. Não sei o motivo, myas tava saindo sangue até de seu olho.

Uma vertigem momentânea tomou conta do corpo do jovem. Ele quase perdera todos os cinco dedos em apenas um soco… Talvez só estivessem ali para Nui curar devido a [Autorecuperação]. Havia um desequilíbrio alarmante entre força e defesa em seus status.

“Se minha mão tá assim, então aquele cara…” Bastou pensar no diabo para ele aparecer! A porta se abriu novamente e uma silhueta com cabelos ruivos abundantes adentrou o local, acompanhada de uma garotinha.

— Eu disse que você nyão poderia vir aqui!

— E quem você acha que é para EU obedecer? 

“Essa frase me lembrou alguém…” Kurone olhou de soslaio para a loli arrogante.

O jovem de cabelos ruivos trouxe consigo o ar hostil. Rory e Orcus olharam para ele com desdém. Porém, o que mais surpreendeu Kurone foi o rosto dele.

Estava intacto! Não havia nem mesmo um arranhão. Até mesmo a magia de Elsie — “Maldita Azazel!” — não era tão perfeita a ponto de curar sem deixar uma cicatriz.

— Quem te deu permissão de me encarar? Sei que EU tenho um rosto bonito, mas…

— Você tem uma cara de pau mesmo. — As palavras saíram inconscientemente da boca de Kurone.

— Como ousa!!! EU tive a consideração de vir até aqui para escutar seu pedido de desculpas, mas…

— Me-mestre Rhyan, por favor, pare! — gritou uma garotinha de olhos marejados

— Todo mundo quer me dar ordens hoje? Reconheça seu lugar, serva!

— Isso não é jeito de falar com ela! Na verdade, não é jeito de falar com ninguém.

Por que estava tão irritado afinal? Nem conhecia a garotinha de olhos marejados. Talvez fosse a própria presença do jovem chamado Rhyan que o incomodava.

— Vai me bater de novo? A escrava é minha, EU trato ela do jeito que quiser! Você deve ser tão ignorante que nem sabe quem EU sou, mas serei benevolente e te contarei para que se arrependa e peça perdão de joelhos.

Kurone simplesmente franziu o cenho ao escutar aquelas palavras. Será que aquele jovem sofria da popular “Síndrome da Oitava Série”? Ou era só um narcisista sem noção?

— Meu nome é Rhyan Gotjail. Sim, o herói Gotjail, servo da Grande Deusa, e também é aquele que derrotará o Lorde Demônio.

— Nunca nem ouvi falar.

— Chega! EU tentei ser paciente, mas cansei! Serva, dê-me a arma. EU acabarei com isso agora!

— Tá querendo levar outro soco? Rory, me dá o fuzil.

— Eu não, se vira aí.

— Ha! Como assim, nem sua serva te obedece? Que existência patética!

— Quem você acha que tá chamando de serva do inútil? Mudei de ideia, eu mesma vou te matar. 

O brilho azulado familiar envolveu as mãos de Rory. Não era um bom sinal. Kurone podia imaginar a cena de algumas horas atrás se repetindo ali… Por falar nisso, onde era exatamente ali?

O jovem provavelmente estava em Eragon, mas o método usado para sair da montanha e chegar à ilha flutuante, assim como a localização, eram desconhecidos. Onde estavam Amélia e Frederika? Ali não se parecia com um hospital!

— Ei, não tá me ouvindo? Como ousa? — A voz irritante de Rhyan chamou o garoto para a realidade. Fazia tempo que não tinha um ataque da SPA, vulgo “Síndrome do Pensamento Acelerado”.

“Ratatatatatatatata!!!” Os tiros da Ingram fizeram diversos buracos no teto branco do quarto. O olhar de todos foi direcionado para a garotinha segurando a submetralhadora.

— Me escutem ou vão acabar cheios de buraquinhos como esse teto. Nyaahh!

A loli balançou a cauda peluda e as orelhas em sincronia, fazendo uma pose adorável. Considerando as palavras usadas pela voz felina, aquela era uma ameaça fofa! Algo do tipo “ei moço, eu só quero te matar um pouquinho, por favorzinho, deixaaaa!”

A cena lembrou Kurone daquela presença que sentiu na catedral. Não podia ser diferente, afinal, ela era uma reencarnada. Apesar da aparência, aquela loli era assustadora!



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