Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 45: Boa Noite, Amélia

Querida mamãe, como você está? Tem tomado seus remédios direitinho?

Rin, Eriko, senhorita Kanade e Teruhashi não se preocupem, também escreverei cartas especialmente para vocês. Até o momento, essa é a segunda carta que escrevo (a primeira foi especialmente para a Raika).

Para quê essas cartas? Na próxima vez que eu encontrar a Cecily, quero perguntar a ela se há uma maneira de mandar essas cartas para o Japão (espero que eu encontre ela sem morrer).

Desde a última carta, aconteceram várias coisas, uma mais estranha e inesperada que a outra:

Primeiro, conseguimos derrotar o marquês Soul Za (ou mais ou menos, mas o que importa é que ele está morto!), retornamos com segurança para as terras da senhorita Sophiette, e lá, descobrimos sobre a morte do rei de Andeavor.

Se não bastasse ter me declarado o “Santo dos Hereges”, de alguma maneira, seu precioso filho se tornou noivo de uma princesa…

Sua reação provavelmente seria “viva! Enfim serei avó!”, mas infelizmente, a princesa só tem dezesseis anos! Eu não sou lolicon e ainda não fui rejeitado pela senhorita Kanade!

Enfim, retomando o assunto. Após o sepultamento do rei, descobrimos que Azazel van Elsie estava mais uma vez metida na história. Ninguém sabe exatamente quais os objetivos daquele demônio, mas uma coisa é certa: ela é perigosa e precisa ser parada.

Ainda na catedral onde o rei foi sepultado, aconteceu o evento mais bizarro de todos: uma loli garotinha com orelhas de gato invadiu a catedral com um exército de meio-humanos. A invasora portava uma Ingram… Uma submetralhadora! Eles ameaçaram explodir tudo para me “resgatar”. Não entendeu? Eu também não!

Por sorte, Inri (uma garota também reencarnada) conseguiu conversar pacificamente com a terrorista de orelhas peludas.

Resumidamente, a garotinha chamada “Kawaii” também era uma reencarnada e trabalhava procurando mais reencarnados pelos reinos vizinhos de Eragon (a cidade natal dela). Após discussões e mais discussões, fomos convidados para uma visita à Eragon, para um festival que acontecerá lá. Infelizmente, Inri não pôde ir conosco.

Claro, houve relutância por parte da Rory, mas quando escutou a Kawaii dizer “temos um tanque militar em Eragon”, ela mudou de ideia na hora. O motivo? Sei lá! A Rory é imprevisível. Mas um tanque militar nesse mundo é algo bem peculiar. Pelo que a garotinha falou, existe mais um reencarnado em Eragon.

Por fim, a princesa Elisabella também não concordou no início, mas acabou aceitando. A Dora disse que precisava fazer algo importante, se transformou em sua forma bestial e saiu voando… Faz uma semana, e ela não retornou, estou realmente preocupado com ela. Sabe, nunca passou pela minha cabeça que eu iria me preocupar com pessoas desse mundo, mas aparentemente me enganei.

Talvez fosse pelo fato de eu realmente não ter amigos no Japão, por isso, não conhecia a "preocupação" e o "querer proteger". Odeio admitir, mas a Raika estava certa, ter amigos é legal! 

No momento, eu, o senhor Orcus, Amélia e Rory estamos próximos da fronteira entre Andeavor e Eragon. A viagem até o momento foi um saco (desculpa o palavreado, mãe!). É época de reprodução dos strouths, por isso, há um engarrafamento de aves em quase todas as estradas.

O festival começa em duas semanas… e…


— Amélia, qual o nome do festival mesmo?

— Se chama “Festival da Deusa Lunar”, e é comemorado a cada quatro anos.

— Não tem um desses em Andeavor?

— Hahaha! Hic! Claro que não! — Uma voz grossa surgiu detrás do jovem.

O corpo de Kurone foi empurrado violentamente para frente ao receber o tapa da mão peluda. O dono de um físico desleixado, barba por fazer e voz rude era Orcus, o líder da guarda de Grain, e naquele momento, responsável pela segurança do futuro rei de Andeavor.

— Caraca, o senhor já tá bêbado a essa hora, senhor Orcus?! — O jovem repreendeu o homem de rosto vermelho.

— Temos que aproveitar… a…. vida… hic!

A fogueira à frente de Kurone queimava a lenha lentamente. Durante os últimos dias, as carruagens tiveram que acampar toda noite. De acordo com Kawaii, "era muito perigoso andar pela fronteira à noite".

Haviam oito carruagens de Eragon espalhadas pela vasta clareira. Uma carruagem foi cedida exclusivamente para o grupo de Kurone. Como de praxe, a cocheira do veículo não era ninguém menos que Amélia.

“Amélia, Orcus e Rory… Que formação estranha”, pensou o jovem, voltando sua atenção para a garotinha de cabelos prateados em seu quinto sono dentro do veículo. “Será que a Dora vai conseguir nos acompanhar? Eu estou com um mau pressentimento desde que nos despedimos em Andeavor.”

— Acontece que… — Amélia chamou a atenção do jovem e explicou: — Andeavor não é um país com uma religião oficial, apesar de mais da metade da população pertence à igreja da deusa Annie.

— Entendo… então isso de eventos só traria discórdia entre as duas igrejas…

— Três… Hic!... Não esqueça da… Hic!... Deusa Lucy.

— Ah! A Inri me falou algo sobre isso mesmo, são três deusas… Uuaahhhh…

— Melhor irmos dormir, não queremos ficar para trás — sugeriu Amélia enquanto cutucava a fogueira.

— Verdade, o senhor também, senhor Orcus, vá dormir!

— Tá, tá. Como vossa majestade quiser… Hic! Mas vou tomar outro copo antes… Hic!

Apesar do local ser uma clareira em uma pequena montanha, Kurone não teve problemas com o frio nos últimos dias. Seria o Aprimoramento de Corpo? Considerando a maneira como Orcus e Amélia também lidavam com o frio, esse não era o caso.

Não sofria com o vento gelado, tinha um lençol confortável para dormir e estava com muito sono, provavelmente teria sonhos tranquilos… Mas não era bem assim.

Desde que saiu de Andeavor, Kurone começou a ter problemas com o sono, isso devido a um pesadelo antigo que voltou a lhe assombrar.

Quando foi a última vez que teve aquele pesadelo? Antes de iniciar a vida universitária?

Não importava o tempo. O mais importante era o fato do sonho ser o mesmo. Começava de maneira nostálgica e feliz e se tornava um inferno. Uma vez iniciado esse pesadelo, era impossível acordar antes do fim.

Mas era impossível lutar contra a natureza do corpo humano. Como um estudante de medicina sabia bem disso. Os olhos do jovem enxergavam a noite de maneira turva. Ele teria que enfrentar o sonho infernal novamente…

— Boa noite, Kurone.

Porém, o doce “boa noite” de Amélia fez o coração do jovem se aquecer. Ele teria forças para resistir ao pesadelo por mais uma noite. A voz calma da cocheira com aparência masculina lembrou ao jovem aquela garotinha tsundere, sua irmã, Eriko, que aparecia sorrateiramente em seu quarto toda a noite e desejava “bons sonhos” ao irmão. Esse seria o motivo de ele não ter pesadelos no Japão?  

“Boa noite, Amélia.”



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