Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 100.4: De Volta Ao Prólogo (parte final)

Devido à Percepção Universal, Luminus conseguiu atravessar a área segura sem tocar em nenhum fio da Aranha Branca. No local em que estava, não havia mais nenhuma daquelas linhas mortais.

Suor e lágrimas escorriam no rosto avermelhado. Fazia aproximadamente dez minutos que a mensagem “O Compartilhamento de Mana foi interrompido” apareceu no seu campo de visão, mas seguiu o conselho do seu companheiro e ignorou as mensagens do Sistema.

E mesmo estando tão distante do campo de batalha, ainda conseguia sentir a presença esmagadora da demônia mascarada. Não era possível, um ser como aquele não podia ser real, aquilo era um absurdo até para um membro do Conselho do Inferno.

— Sen… senhor Ryuu… — murmurou enquanto usava todas as forças para correr, só iria parar quando não conseguisse mais sentir a aura esmagadora.

Os pés desajeitados bateram contra uma raiz e ela rolou pelo chão repleto de grama. A garotinha tentou engatinhar, mas seu corpo frágil não teve forças para isso.

Ela virou o corpo para cima e observou as folhas laminadas sendo balançadas pelos ventos fortes. No fundo, sabia que Ryuu não retornaria; novamente, aquele ser demoníaco tiraria sua família. Via o homem que considerava um pai ao lado daquele que fora seu irmão, ambos iam juntos ao além, deixando-a sozinha naquele tormento.

Ficaria apenas aguardando sua morte novamente? Tinha poder, mas por que não conseguia lutar? O que a impedia de apertar o gatilho?

Prometeu selar os próprios poderes que a deram o título de “aberração” para não machucar mais ninguém, porém uma pessoa estava morrendo e, para salvá-lo, precisaria do seu poder amaldiçoado.

Não havia mais o que pensar, não poderia perder Ryuu assim como perdeu o vilarejo. Luminus cerrou os punhos e levantou-se com ira nos olhos. O corpo ainda estava rígido e trêmulo, pois o medo não desapareceu, apenas foi sobreposto pelo ódio.

A menina correu em uma velocidade que nem aquela demônia poderia alcançá-la. Pedras, plantas e arbustos foram destruídos pela barreira envolta do seu corpo. Naquele ritmo, voltaria ao campo de batalha em poucos minutos, porém…

[Aviso! A mana está abaixo de 60%]

Tentava ignorar o aviso, mas sua parte covarde às vezes dominava o corpo e diminuía a velocidade, porém logo era suprimida pela parte guiada pelo ódio. A Percepção Universal  captou a armilha de fios da Aranha Branca, mas não era um problema, ela decorou todo o percurso seguro.

— Estou chegando, senhor Ryuu!


— Isso tá ficando chato, por que não consideramos um empate, cada um vai para sua casa, finge que nada aconteceu, não reportamos nada às autoridades e tudo fica bem? O que me diz? Um limpa a bunda do outro — sugeriu Ryuu acendendo outro cigarro. Com aquele já eram três.

A demônia continuava examinando a área, ela estava mais próxima que antes, mas ainda não havia descoberto o padrão nas passagens pelos fios da Aranha Branca.

— É uma proposta tentadora, mas como tenho o cargo de Presidenta do Inferno, eu sou a autoridade. E outra coisa… — gesticulou exageradamente o dedo de um lado para o outro e, por fim, apontou para o homem — você cometeu um erro ao pensar que minha Área se limita apenas à ação e reação.

Em instantes, um vulto rápido atravessou o emaranhado de fios e aproximou-se do homem, que não teve tempo de reagir. Não podia arriscar um salto por impulsivo ou acabaria morto pela própria armadilha.

— Peguei — disse a demônia mascarada. O corpo dela teletransportou-se pela floresta e ficou a pouco menos de cinco centímetros de Ryuu.

— Esse tempo todo você só tava brincando, desgraçada. Mas eu não vou me foder sozinho! — gritou colocando a mãos nos pinos das outras três granadas em sua cintura. — Foi mal, loli, mas você vai ter que terminar a missão sozinha — murmurou antes de detonar as granadas.

— Você não teria toda essa coragem, não seja idiota, eu só quero te matar! — falou a monstruosidade em tom desafiador. Era inteligente o suficiente para entender que Ryuu não sacrificaria a própria vida de maneira irracional, ele tinha um plano que ela não notou.

O homem não perdeu tempo e puxou os pinos dos cilindros dourados. Nos poucos segundos antes da explosão, ele apontou para alguns objetos pendurados nos fios da Aranha Branca próximos, objetos semelhantes às granadas na cintura do homem.

— Não vai dizer que você já tinha descoberto o teletransporte!? — murmurou surpresa. Pela sua reação, jamais enfrentara um humano tão calculista como aquele.

Desde o início, ele sabia que a sua presença fora ocultada. Sabia que seriam emboscados por ela a caminho do acampamento, por isso preparou a armadilha com fios da Aranha Branca. Era tão calculista que também reconhecia a própria fraqueza, não poderia derrotar a demônia, então só podia mandar a garotinha fugir e se sacrificar para dar um fim à monstruosidade.

— Nos vemos no inferno, vadia! — bravejou segurando o corpo da inimiga. Não permitiria que ela se teletransportasse da explosão. O homem usou toda a sua mana para usar um feitiço de enfraquecimento nela.

Uma explosão destruiu boa parte da Floresta de Taliesin e decretou o fim da última missão de Ryuu Toshiro.


A força da explosão arremessou Luminus. Nem a sua barreira mágica a protegeu de bater com força contra uma árvore e ter alguns ossos quebrados.

Ela levantou-se após alguns segundos e, ainda vendo o mundo girando, correu em direção à origem da destruição. Seus passos se tornaram lentos à medida que a garotinha via cenário.

Quase desmaiou quando chegou ao local. O que antes era uma floresta repleta de árvores e com fios mortais espalhados, agora não passava de uma clareira com uma enorme cratera no centro. 

Animais, plantas, rochas, oponentes lutando… tudo foi devastado pela grande explosão. Luminus estava na frente de um verdadeiro cenário pós-guerra, ela pensou assim, no entanto, virou a cabeça rapidamente ao escutar um ruído ecoando em meio ao caos. 

Três cilindros dourados caíram no chão acinzentado, provocando um som de metal tocando algo duro.

O corpo do homem esbarrou na terra após três segundos. A garotinha de cabelos prateados piscou várias vezes até compreender o que aconteceu. Os olhos carmesins voltaram-se, relutantemente, para o cadáver do seu companheiro. Ele estava morto! O delinquente que até há pouco gritava coisas como “vamos matar essa desgraçada” e “atire com vontade!” estava definitivamente morto…

— Há! Eu avisei, eu avisei! — A demônia mascarada falou em tom sádico.

Realmente, ela advertiu: “Qualquer dano que tentarem causar em mim, voltará para vocês”. A demônia avisou, mas o companheiro imprudente ignorou as palavras e a atacou. 

O coração de Luminus disparou. A menina voltou a atenção novamente para a mulher mascarada. Ela apertou o fuzil negro com força para não deixar seu medo transparecer, o corpo infantil tremia.

— Ué? Vai atirar? Não viu o que acabou de acontecer ao seu amigo? Está querendo morrer mesmo? Um membro da Família Real está triste por conta da morte de um humano?

Irritante, irritante, irritante! Ela não calava a boca imunda por trás da máscara preta e branca. Aquele monstro teria que morrer.

Mesmo sabendo o que aconteceria, Luminus apontou o fuzil para a demônia. Estava na Área de Ação e Reação dela, mas nem reparou nisso. Iria morrer? Não importava, sua racionalidade se foi no momento em que seu parceiro morreu. Tudo o que a garotinha, chamada carinhosamente de “loli” pelo seu amigo, pensava, naquele momento, era em vingança. Enfim, o ódio superou o medo.

As lágrimas dificultavam a visão, mas estava perto o suficiente para atirar sem precisar mirar. Claro, a demônia também não desviaria; ela estava parada, como que desafiando Luminus a atirar. “Você terá coragem?” Essa era a impressão que sua postura relaxada passava.

Bam!

As consequências após o disparo foram óbvias. Dois orifícios se abriram no corpo pequeno, porém a garotinha mostrava um sorriso satisfeito em meio às bolhas de sangue aflorando no canto da boca. Apenas dois tiros atingiram Luminus, isso porque o terceiro disparo do fuzil semiautomático atingiu a máscara da monstruosidade. A criatura arrogante provavelmente fez uma expressão de surpresa por baixo da máscara. Por conta da arrogância, acabou com uma bala de quase cinco milímetros alojada na testa.

O corpo da garotinha de cabelos prateados foi ao chão. Ela caiu próxima ao seu companheiro. 

O fim estava próximo. O sangue se espalhava lentamente pela grama verde e não tinha mais mana para usar magia de cura.

Luminus olhou uma última vez para o céu tingido de vermelho. Um aventureiro de Eragon uma vez lhe dissera: “O pôr do sol do Continente Demoníaco é o mais bonito de todos!” Ele tinha razão. Queria desfrutar do céu avermelhado, mas uma sombra impediu. Era a demônia mascarada novamente, mas nada importava mais.

— Como você ousa morrer tranquilamente enquanto eu sofro?

A garotinha ficou em silêncio, vendo, de maneira turva, a máscara maculada pela bala do fuzil. A roupa também fora danificada pela explosão.

— Você não morrerá assim! — A voz irada tornou-se sádica novamente.

Luminus arregalou os olhos ao perceber o que aconteceu. O corpo do companheiro ao seu lado estava em chamas.

— Eu vou torturar esse corpo morto até me sentir satisfeita e você morrerá horrorizada, todos saem ganhando, não?!

A garotinha, que desistira da vida, tentou ficar de pé mais uma vez, mas algo fincou seu corpo no chão: a adaga que seu companheiro carregava na cintura, a demônia roubou o objeto do corpo sem vida.

— Blergh!

— Isso, fique horrorizada! Por mais que dessa vez eu não consiga te matar, ficarei satisfeita com seu sofrimento. Lembre-se de quem a fez sofrer e se desespere pela eternidade. Lembre-se do nome Azazel van…

Era o fim. Pela segunda vez, Luminus streix Astaroth morreu ao lado de uma pessoa querida. As últimas palavras que a demônia falou foram quase todas ignoradas, exceto uma. Cravaria o nome “Azazel van” em sua alma e só descansaria no dia em que desse fim a vida daquele monstro. Não importava mais sua missão como “Reencarnação de Astarte”, não importava quantos milhares de anos se passassem, um dia certamente vingaria a morte do seu companheiro.



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