Volume 2
Capítulo 100.3: De Volta Ao Prólogo (parte 3)
O corpo ficou rígido inconscientemente. Sentiu a saliva quente escorrer pela garganta seca como se a rasgasse. Os movimentos estavam limitados e todos os pelos eriçados, só havia uma palavra para descrever aquele sentimento: medo.
Conhecia aquela presença, já sentira aquele mesmo pavor antigamente, mesmo não havendo fogo, o olfato captou o maldito fedor da fumaça.
Aquela era a aura do mesmo ser demoníaco que destruiu todo o seu vilarejo e matou sua preciosa família, por que ele estava ali novamente? Tiraria novamente tudo o que tinha de novo? Assim pensando, ela olhou para o seu companheiro.
Ryuu não deixava transparecer, mas Luminus também sabia que ele sentia pavor no interior do peito. Nem cogitaram fugir, era impossível, precisavam lutar aquela batalha que jamais venceriam.
A dona da voz obscena saltou da árvore e caiu a alguns poucos metros de distância da dupla em um pouso gracioso, a minissaia branca e preta estabilizou-se após exibir as lindas coxas grossas e, de pé, ela balançou os seios voluptuosos.
Atrás da máscara preta e branca, a demônia soltou uma risada. Membros do Conselho do Inferno eram incompreensíveis, ali estava um exemplo, por que alguém tão forte vestiria um uniforme de empregada tão revelador?
— Ei, tenha pelo menos um pouco mais de decência, temos crianças aqui, vista uma roupa que não exiba tanto da sua pele — comentou Ryuu, segurando o fuzil com apenas uma mão e apontando-o para a demônia.
— O que é isso? Nem todos os homens gostam desse estilo? Desculpe-me pela decepção, se preferir, posso tirar a roupa aqui — respondeu desabotoando o uniforme na região dos seios.
Mais uma vez, a garotinha ficou impressionada com o seu companheiro, mesmo tremendo de medo, ele tentava se acalmar com piadas e um diálogo que não levaria a nada. Como estava próxima, escutava a pulsação rápida do coração do homem.
— O que você quer?! — Luminus deixou um grito rouco escapar.
O ser demoníaco pôs o dedo fino oculto por uma luva branca no queixo e produziu um “Hmmmmm” audível. Após alguns minutos de pensamento, respondeu:
— Vou matar vocês…
Bam! Ryuu não perdeu tempo e disparou enquanto rolava com a menina para os arbustos. A demônia mal se moveu, apenas rodopiou e evitou o tiro.
— Ei, ei, ei, não faça isso, qualquer dano que tentarem causar em mim, voltará para vocês — advertiu como uma mãe preocupada.
— Calada, vadia!
Bam! Bam! Bam! Ambos sabiam que tiros eram inúteis, aquilo não era um monstro comum que encontravam nas florestas de Andeavor. Compará-la com qualquer outro ser vivo era um insulto.
— Ei, loli, não temos escolha, vamos ter que matar essa desgraçada — ele falou em tom sério enquanto segurava os pequenos ombros rígidos da garotinha. Rory estava com cara de quem poderia chorar a qualquer momento. — Escuta! Eu sei que você tá com medo, mas você vai precisar lutar se quiser sair dessa floresta viva!
A voz trovejante fez o corpo da menina tremer ainda mais. Ela recuou e arregalou os olhos carmesins. Sabia que não podiam perder tempo, mas não podia conter aquele medo, se fosse lutar agora, poderia perder Ryuu.
— E-eu…
— Vou precisar do seu poder dessa vez, por favor…
Sentia-se horrível, o homem só estava ali por ela e, mesmo assim, a garotinha não queria lutar. Cerrou os punhos e, após uma terrível luta interna, respondeu:
— Sim, vamos acabar com ela — afirmou com a voz ainda rouca.
A menina concentrou-se, imaginou um objeto no interior da sua mente e o materializou. Pequenas partículas azuladas subiram pelo ar e deram forma a uma arma semelhante àquela que Ryuu carregava.
— Boa, uma M16A2, ótima escolha — disse o homem passando as mãos pelos cabelos da garota assustada. — Não se preocupe, eu vou estar ao seu lado.
— Que rude ignorar o oponente dessa maneira, — começou a voz obscena ecoando por toda a floresta — não me digam que ainda querem lutar? Não é uma das escolhas mais inteligentes.
Bam! Bam! Bam! Bam! Os tiros das duas armas começaram a sobrepor as palavras vis da demônia. Luminus gemia a cada disparo por conta do recuo da arma, porém apertou o gatilho com mais força.
— [Earth Wall]! — bravejou o companheiro erguendo uma trincheira no chão.
Mal tiveram tempo de aproveitar a cobertura, uma salva de espigões negros obrigou a dupla a mergulhar mais fundo no mar de arbustos ácidos. Naquela altura, as queimaduras causadas pelas folhas eram o de menos, só estavam concentrados na inimiga.
— Merda! Ela usa magia das sombras, assim é muito roubo — praguejou Ryuu procurando pela companheira.
Eles não podiam se separar, afinal aquela floresta causava confusão na mente de qualquer um, só não se perderam até o momento por conta das habilidades dele.
— Peguei! — A demônia apareceu nas costas do homem e preparou-se para atacar, porém, desapareceu novamente ao ver Luminus saltando dos arbustos com o rosto vermelho e atirando em sua direção sem misericórdia.
A menina aproveitou-se da brecha e invocou quatro tipos de magias de elementos diferentes. Ela era medrosa, não fraca, nem mesmo o poder de Ryuu poderia parar alguém como Luminus streix Astaroth, a reencarnação de Astarte.
— É assim que se faz — gritou o homem contente. Sem ficar para trás, ele pegou duas granadas presas na cintura e arremessou no local onde a inimiga aterrissou. — Não podemos deixar ela atacar!
Tiros, magias e granadas fizeram um alvoroço na floresta ao atingir o ser demoníaco. Uma enorme cratera surgiu no local onde os ataques foram concentrados e, dentro dela, a demônia com uniforme de empregada limpava a poeira da roupa.
— Vocês são bem espertos, não são? — comentou ao ver o cenário deserto.
— Posso não parecer, mas sou bem calculista e atento aos detalhes de uma batalha — disse Ryuu na copa de uma árvore. Luminus estava em seus braços com o fuzil voltado para a oponente. — Você foi besta ao dizer que qualquer ataque nosso se voltaria contra nós mesmos, aí só precisei ligar os pontos…
— Eu chamo de “Área de Ação e Reação”, ela reflete qualquer ataque feito em, no máximo, 100 metros de distância. Como descobriu qual a distância certa?
— Eu só chutei, se tivesse errado, a gente tava fudido — concluiu passando a mão na testa suada.
Luminus percebeu o quão difícil seria aquela batalha, mas decidiu que não desistiria. Enquanto Ryuu Toshiro estivesse ao seu lado, ainda poderia lutar. Precisavam evitar as folhas inconvenientes, não se distrair com as ilusões da floresta e ficar fora do alcance da habilidade da inimiga.
— Não é como se fizesse muita diferença vocês terem essa informação, afinal…
— Segura! — Ryuu berrou puxando o corpo da menina com violência e saltando entre diversas árvores.
— Você é realmente rápido, que excitante! Que comece a caçada!
O campo de divisão da garotinha era nada mais que o uniforme militar do homem, mas podia sentir a aura perigosa da demônia aproximando-se em uma velocidade anormal. Ela saltava três árvores no mesmo tempo que Ryuu saltava uma, era questão de tempo até que estivessem no campo da Área de Ação e Reação.
Mais granadas explodiram no ar e o homem criou barricadas de terra para reduzir a velocidade da oponente, mas foi inútil, ela era como uma bala de pistola e suas defesas eram folhas de papel, a demônia atravessava tudo com a maior facilidade.
Bam! Luminus percebeu a gravidade da situação e iniciou os disparos. Teria que tomar cuidado para não atirar quando estivessem na área da inimiga ou acabariam mortos por seus próprios ataques.
A menina sentiu a respiração ofegante do companheiro tocar o seu cabelo. Provavelmente, ele estava muito cansado, afinal não dormiu nada enquanto ela se recuperava do mal-estar
Naquele ritmo, não teriam mais chances de continuar a batalha, quando assim pensou, Ryuu a surpreendeu. O homem parou em uma árvore com um tronco grosso familiar. Estiveram naquele local mais cedo.
O homem franziu o cenho e formou um sorriso diabólico no rosto, só fazia aquilo quando tinha um plano em mente.
— Eu fiz isso para garantir a nossa segurança e olha só, funcionou mesmo — ele disse apontando para a demônia vindo em toda velocidade para os atacar.
A menina não entendeu o que ele queria dizer até ver a inimiga parando repentinamente. Sangue jorrou quando o braço dela foi arrancado de maneira brutal e caiu no chão cheio de gramíneas.
— Sã-são aqueles fios da Aranha Branca que o senhor roubou?!
— Sabia que seriam úteis. Mesmo estando no alcance dela, não vamos receber dano já que não somos nós que estamos atacando. Temos um escudo de teias de aranha mortal ao nosso redor!
— Por isso o senhor me pegou no braço quando eu acordei? Então…
— É, não são 100% seguros, existe uma passagem que deixei para nós atravessarmos, eu usei ela para chegar até aqui, mas duvido que a vadia tenha decorado.
A demônia levantou-se rapidamente e, em instantes, seu braço estava no lugar mais uma vez, como se nada tivesse acontecido. Ela olhou pensativa para a armadilha preparada por Ryuu. Pela sua reação, não esperava um opoente inteligente como aquele.
Suas mãos arremessaram espigões negros, mas eles foram interceptados pelos fios mortais espalhados pelas árvores.
— Heh? Para esses fios serem tão poderosos, suponho que vieram de um monstro magnifico também. Não tem problemas, as coisas só estão ficando cada vez mais divertidas!
O homem olhou com desgosto para o ser mascarado excitado. Ele não podia atirar, pois ainda estavam na Área, porém também não podia sair dali.
— Loli, nós ganhamos tempo, quero que você fuja agora! — ordenou com um olhar sério.
— Eu não vou deixar o senhor lutar sozinho contra essa coisa…
— Vai logo, nós não temos muito tempo. Olhe, se você for por aquele caminho com cuidado, vai conseguir passar sem se ferir, a passagem tem exatamente sua altura.
— Es-espera, o senhor fez isso já sabendo que me mandaria fugir?!
— Sim, calculei que, se encontrássemos o dono da presença demoníaca mesmo, não teríamos chance algumas, mas eu ganharia tempo para você fugir — explicou apontando para a inimiga andando de um lado para o outro. — Merda, ela tá quase encontrando a passagem, vai logo!
Luminus olhou para a demônia e, em seguida, para a passagem. Não queria abandonar Ryuu, mas sabia que seria apenas um peso para ele se continuasse ali. Se fugisse, ele não precisaria se preocupar com ela enquanto lutava, ou talvez ele pudesse fugir também.
— Eu vou, mas me prometa uma coisa, você tem que fugir quando tiver certeza que eu estou longe o suficiente dela. Não tente enfrentar essa coisa.
— Pode deixar, eu ainda tenho alguns fios, posso brincar um pouco mais, mesmo se ela descobrir a passagem — disse o homem em um sorriso confiante.
— Estou confiando em você, senhor Ryuu, tome cuidado,
— Você também, nós nos veremos em breve, loli — despediu-se com uma expressão triste que fez o coração da garota doer, mas ela ignorou e começou a correr.
A inimiga tentou atirar alguns espigões na garotinha correndo, mas eles foram defendidos pelos fios da Aranha Branca.
Luminus correu o mais rápido possível, se chegasse muito longe rapidamente, Ryuu poderia escapar também e eles se reencontrariam.