Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 1

Capítulo 40: Você Deseja Poder?

— Ainda não acredito que o Raul fugiu.

Noah tinha uma expressão triste no rosto. Por mais que Raul estivesse do lado de Edward, ele ainda era alguém importante para a garota.

Antes de partir com Elisabella e Amélia para a capital, o mensageiro, Holland, informou que Raul conseguiu fugir da cela onde fora jogado.

— Com certeza vamos encontrá-lo. — Sophia pôs a mão no ombro da garota.

Após trinta minutos, o grupo partiu em direção às terras de Sophiette. Amélia ficou encarregada da tarefa de levar Elisabella e o mensageiro até a capital. Com ela conduzindo, levaria menos de vinte e quatro horas para chegar no castelo.

Noah e Sophia ficaram encarregadas de transportar as crianças dessa vez. Na carruagem que estava a oito metros de distância, estavam Brain, Ana, Inri, Kurone e suas lolis. Noah viu que o jovem de manto branco tentava conduzir o veículo com a ajuda de Ana.

— Provavelmente…

Noah encarou a marquesa.

— Provavelmente o corpo do rei será sepultado daqui a dois dias. Teremos que ir à capital o mais breve possível.

— Tem razão…

— Coitada da Elisabella.

— Ele era o único familiar dela, não era?

— Sim. A mãe morreu quando ela era pequena e a irmã fugiu de casa há dez anos. Agora o rei se foi…

— Eu sei como é difícil. — Noah olhou vagamente para o céu.

A empregada nunca foi a um sepultamento real — nem qualquer outro —, mas sabia, pelos livros, que o corpo de alguém da família real era sepultado e enterrado no mausoléu da igreja.

No fim, o representante da família — nesse caso, Elisabella — fazia um discurso em frente a todos, assumindo as responsabilidades do falecido familiar.

— Ela é apenas um ano mais nova que você e se tornará rainha — Sophia comentou.

— Se fosse eu, fugiria de casa.

— Não diga isso. Se eu tivesse morrido na luta contra o Edward, você assumiria a responsabilidade pelas minhas terras.

— C-Claro! Se fosse um pedido seu, eu assumiria sem pensar!

Depois da conversa, o silêncio reinou na carruagem. As crianças estavam dormindo desde que saíram do "abatedouro" e quase não se moviam. Vez e outra, Sophia olhava rapidamente para se certificar que as garotas estavam bem.

Noah olhou para o céu que se tornava laranja lentamente e pensou no rosto de Raul, não o de agora, mas aquele com o sorriso inocente.

Ele realmente sempre teve o desejo de vingança desde criança? Então, aquele Raul que conviveu era uma mentira? Apenas Edward conheceu o verdadeiro Raul?

"Onde será que você está agora…?"


Bem ao oeste de onde Noah estava, um jovem espirrou repentinamente.

Raul, o jovem que capengava sofregamente, limpou o nariz com as mangas da roupa suja e continuou a andar.

Conseguiu fugir, mas não isento de qualquer dano. Havia uma flecha que não teve coragem de remover em sua panturrilha.

A roupa elegante do jovem foi reduzida a nada mais que trapos — era o uniforme de cocheiro roubado.

"Porra Edward… Onde você está…?"

A visão se tornava turva lentamente. O corpo estava desidratado, a última vez que bebeu água foi há duas horas? Perdeu até mesmo a noção de tempo.

Não sabia exatamente para onde estava indo, mas precisava continuar andando.

— Ahhh!

Quando se deu conta, já estava deitado sobre a grama alta. Raul se esforçou para levantar o corpo novamente. Estava pesado e quente.

Havia uma subida íngreme logo à frente. Deus estava gozando da cara dele?

Não podia mais dar a volta, morreria antes disso.

Após uma pausa, o jovem cerrou os dentes e cravou as unhas na terra. Primeiro a mão esquerda e depois a direita.

Naquele momento, ele estava engatinhando como um animal machucado. A voz de Edward ainda ecoava em sua cabeça. "Não desista, nós vamos levar essa merda de reino para a vala".

Em apenas três minutos de escalada, o corpo do jovem estava ensopado de suor.

Estava a ponto de morrer desidratado.

— Tenho que sobreviver… Maldita Sophiette… Vou matar todos — A voz se assemelhava a um sussurro. A garganta ardia.

Por algum motivo, as memórias de quando mais novo se repetiam em sua cabeça, era isso que o fazia continuar.

Não. Não eram memórias felizes de quando brincava com Brain no vasto jardim da mansão Sophiette.

Eram memórias odiosas. Brain, sorridente, brincando com Sophia. A marquesa dava tudo que a garota pedia. Era um relacionamento de mãe e filha. Como ela pôde se esquecer de Ruthy dessa maneira? Havia se esquecido que a maldita marquesa a matara? Nunca se importou realmente com a mulher que chamava de “irmã Ruthy”?

Então, para honrar o nome de sua irmã, também teria de matar Noah! Uma traidora. Tinha que matá-la. Por culpa da mãe de Noah, sua irmã não estava viva. Claro, não era culpa apenas delas. Era culpa da maldita Sophiette, culpa dos malditos capangas de Ruthy, que eram fracos, culpa dos malditos nobres, culpa dos malditos moradores de Fallen… Não! Culpa dos malditos moradores de Andeavor… Ou melhor, culpa de todos os seres traidores desse mundo. Teria que matar todos para sua irmã poder descansar em paz.

Mas como?

Ele mataria um por um com as próprias mãos? Primeiro, precisaria de uma arma como aquela que o “Santo dos Hereges” tinha…

— Você deseja poder?

Ah, estava alucinando.

O campo de visão turvo captava a silhueta de alguém à sua frente. Era… Uma garota, usava uniforme de empregada e uma… máscara?

Raul tentou mover o corpo. Provavelmente era alguém que o seguia desde que fugiu da capital.

Onde estava sua espada?

“Eu perdi lá atrás, droga…”

O corpo desidratado não tinha forças para se manter de pé. Precisava fugir ou atacar, mas não tinha poder, assim como não tinha poder para matar os seus inimigos.

— Não vai me responder? Que rude! E eu aqui querendo te ajudar.

— …

Nada. Não saía absolutamente nada da garganta.

— Só vou perguntar mais essa vez. Você quer poder para matar seus inimigos?

Raul olhou uma última vez para a garota. Podia ser apenas sua impressão, mas ela falava em um tom de voz obsceno. O jovem estava prestes a desmaiar.

“Desculpe, irmã, eu não consegui nossa vingança…”

— Vou considerar esse seu olhar um sim.

Raul não escutava mais. A consciência desaparecia lentamente, mas sentiu seu corpo ser puxado. A sensação era de como se tocar em uma parte do corpo anestesiada.

O que aconteceria a partir dali? Encontraria sua irmã? Com que cara diria que morreu desidratado?

Não. Por algum motivo, Raul sentia que não morreria.



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