Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 1

Capítulo 39: Seu Pai Está...

Kurone viu o muro de madeira da vila após passar por um enfileirado de arbustos. Ainda havia alguém lá? Provavelmente não.

Amélia não participou da batalha contra Edward porque ficou responsável pela evacuação dos moradores. Junto da jovem estavam Linda, Edgar e as sacerdotisas que vieram com Inri.

A cocheira, de início, não concordou com a ideia de ficar para trás, mas bastou Kurone dizer “Por favor, você é a única que pode fazer isso…”, para ela concordar.

— Ei, acordem! Estamos chegando! — Kurone gritou para as garotas que dormiam no fundo da carruagem.

Rory foi a primeira a despertar.

— Eu já disse que odeio ser acordada por gritos! Tá querendo morrer?

— Desculpa, desculpa. Na próxima te acordo com um beijo.

— Seu! Você ficou bem folgado! Vou ter que te adestrar quando chegarmos na vila!

 Elisabella observava do canto a interação habitual da dupla. Ela ficou surpresa quando Kurone falou que Rory também era uma “E.T.”.

— Tá encarando o quê? — A garotinha rude olhou para Elisabella.

— N-Nada!

— Idiota! Ela é a princesa do reino!

— Pra mim, tanto faz.

— Uhhh. Vocês já estão brigando? — A Besta Negra disse em uma voz sonolenta.

— Como sempre, Kurone e Rory sempre se dão tão bem. — Inri também provocou Rory.

— Que irritantes!

— Uhhh. Falando nisso! Kurone Nakano! — A Besta Negra apontou para o jovem. — Eu exijo que me dê um nome!

— Hã?

— Todos aqui têm nome. Também exijo um!

— Um nome… Eu sou horrível nessas coias… — disse olhando para a garotinha ao seu lado. — Mas se não tem jeito, então vamos lá… Umm…. 

Kurone encarou a loli de pele parda ao seu lado e pôs a mão no queixo em seguida.

A escolha de um nome era algo que devia ser levado a sério. Porém, o jovem nunca foi bom em dar nomes. Nos jogos online, sempre se aproveitava de nicks gerados pelo jogo.

“Kurory…? Não, parece o da Rory.”

“Ela é pequena… Tem pele bronzeada… Cabelos brancos… Que tal Shiro? Não! Muito genérico… Ela é um dragão…”

— Já sei! Que tal Dora?

— Dora?

Todas as garotas fizeram uma expressão confusa.

— Vem de “Doragon”.

— “Dora-a-agon”? — A garotinha tentou pronunciar.

De onde eu venho — Kurone piscou para Elisabella —, a palavra “doragon” significa dragão.

— Que preguiçoso — Rory comentou.

— Dora… Dora… Sim! Eu gostei de Dora!

— Fico feliz.

— Bem criativo, Kurone — Inri comentou.

— Não me elogie, foi apenas conveniente.

— Eu estava me perguntando isso… Mas por que o nome dela é Rory?

— É que…

— Chegamos! — Naoh anunciou.

A carruagem estava parada próxima à ponte que levava à entrada da cidade. A garotinha, agora chamada de Dora, foi a primeira a saltar da carruagem, pulando sobre a cabeça de Noah.

Sophia chegou no local dois minutos depois.

— Será que eles também foram embora? — Kurone varreu o terreno com os olhos.

Antes de deixar a vila, o grupo de religiosos de Avios Bishop tentou impedir Kurone de levar a Besta Negra. Após alguns minutos de discussão, Edgar e Linda se juntaram com alguns aventureiros e iniciaram uma batalha contra o grupo de Bishop.

Nenhum deles estava ali. Para onde teriam ido? Quem venceu a batalha? Kurone teria que deixar essas questões de lado por enquanto. A prioridade deles, agora, era levar as crianças até onde os moradores estavam. Provavelmente, Edgar e Linda também estavam lá, assim como Orcus, que se juntou a eles na luta.

— Para onde os moradores foram? — Elisabella perguntou.

— Para o local mais próximo e seguro daqui. — Kurone respondeu.

— Seguro e próximo…?

— A mansão Sophiette! — Quem respondeu dessa vez foi Sophia. — Vamos deixar os cavalos descansarem aqui por alguns minutos e depois vamos até lá.

— A mansão Sophiette…

Elisabella viu a mansão Sophiette uma única vez, quando criança. Conseguia se lembrar vagamente da construção, mas sabia que era grande o suficiente para acomodar todos os moradores da vila e ainda sobraria — muito — espaço.

 — Depois, vamos te levar até a capital. — Sophia concluiu.

— Entendo…

— Deve ter comida no almoxarifado da guilda, eu vou dar uma olhada. — Ana disse, correndo em direção ao prédio da guilda, próximo à entrada.

O terreno plano da colina estava devastado — devido ao ataque de Dora —, e a vila estava em um estado deplorável. Se comparado com o que Kurone viu quando chegou a esse mundo, há algumas semanas, aquelas pareciam terras inabitadas de uma cidade fantasma. Ao nível de curiosidade, o local onde o jovem e Rory foram invocados podia ser visto de onde estavam — Kurone olhou de relance e suspirou.

 — Tem alguém vindo! — Noah apontou para o lado oposto do local onde Kurone chegou a esse mundo.

Uma nuvem de poeira se aproximava rapidamente de onde estavam.

Ao longe, reconheceu o chapéu pontudo azulado, adornado com uma pena branca no topo: era Amélia.

Do lado da garota, estava um homem desconhecido. Quando se aproximaram mais, notou que o estranho vestia roupas muito extravagantes para um morador da vila. Poderia ser um dos nobres que apoiavam Sophia?

Não tinha uma das melhores memórias, mas Kurone podia afirmar que não se lembrava daquele homem no julgamento de Sophia.

A distância entre eles diminuiu ainda mais. Estavam a vinte metros, dezenove, dezoito, dezessete…

O homem ao lado de Amélia estava com uma expressão péssima, aquilo não era um bom sinal. O que poderia ter acontecido no intervalo de menos de um dia?

Quando chegaram a menos de dez metros, Amélia puxou as rédeas e a carruagem derrapou pela terra misturada a cinzas — o local onde derrapou foi exatamente onde Inri ergueu a barreira para proteger a todos do fogo da Besta Negra —, a carruagem parou a dois metros de Kurone e seu grupo, e, o homem desconhecido saltou da carruagem.

— Holland! — Elisabellla gritou.

— Princesa! Princesa! Oh, princesa! — O homem chamado Holland caiu de joelhos e rastejou até onde Elisabella estava.

— Conhece? — Kurone perguntou.

— Ele é o mensageiro do castelo… Mas o que aconteceu? Você está pálido!

— Eu encontrei ele perto das terras da marquesa Sophiette. Ele foi atacado por bandidos e levaram tudo, menos as roupas do corpo. — Amélia explicou.

— Holland, o que aconteceu?

— Princesa…

Holland caiu de joelhos e expirou demoradamente com o nariz avantajado. O mensageiro levantou o rosto, em direção ao de Elisabella e mostrou olhos chorosos. Ele engoliu seco diversas vezes antes de pronunciar as próximas palavras:

— Princesa… — disse em uma voz rouca. — Acontece que… E-Eu… Seu pai…

— Diga logo!

— É seu pai, princesa! Ele está morto.

— Eh…

A notícia não deixou apenas a princesa, mas sim todos em choque. Kurone ainda se lembrava nitidamente do rosto daquele velho rei cego. A pedido de Sophia, ele confiou ao jovem a missão de enfrentar Edward e resgatar as crianças.

Como ele havia morrido?

Apesar da idade, o homem não parecia ter problemas de saúde. Kurone percebeu que era alguém que esbanjava de vitalidade ao escutar o rugido furioso do rei. “MATEM ESSE HEREGE!”. Lembrava-se bem daquele grito também.

Um som incômodo trouxe Kurone de volta à realidade. Sim, estava novamente perdido em pensamentos.

Era Elisabella. A garota caiu de joelhos, na mesma altura do mensageiro, e começou a soluçar.

Um grito ensurdecedor ecoou pelo terreno da vila Grain, e foi ampliado pelas montanhas.



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