Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 1

Capítulo 38: Você É Um E.T.?

— Tente ficar parado!

— Argh!

Inri apertou a atadura na mão de Kurone e, guardando os pedaços restantes, usou magia de cura para aliviar a dor.

Apesar de dominar um grau avançado de magia de cura, a garota não era como seu conterrâneo — tinha até mesmo menos mana que um humano comum. Tudo que pôde fazer no momento foi renovar as ataduras destruídas durante a batalha.

A sacerdotisa chefe serviu apenas como apoio, pois, o próprio Kurone usou os conhecimentos de medicina para se examinar. O jovem torceu o rosto quando disse que havia deslocado o pulso, e, sem aviso, Rory o recolocou — um som doentio como um "crack" ecoou por toda a carruagem.

Atualmente, o grupo que veio resgatar as crianças estava dividido em duas carruagens — A utilizada por Edward e a trazida por Kurone vestido de empregada.

A bordo da carruagem de Kurone, estavam Inri, Rory, a Besta Negra, Noah e Elisabella. Noah e a princesa foram relutantes quanto a ideia de ir em uma carruagem diferente de Sophia, mas logo cederam.

Sophia, Brain e Ana ficaram responsáveis pela segunda carruagem, que transportava as crianças.

"Eu consigo", a marquesa tentou tranquilizar a empregada. O motivo de Inri ter ficado tão cansada era porque Sophia estava totalmente restaurada. Irônico.

Ana, que não ajudou muito — para não dizer em nada —, se ofereceu para ser a copiloto de carruagem da marquesa, já que Brain não tinha experiência em condução.

Noah conduzia a carruagem em silêncio, mas a cada minuto olhava para trás, a fim de verificar a segurança da marquesa.

— Vou descansar um pouco!

Inri deitou ao lado das garotinhas de cabelos brancos, que dormiam tranquilamente, no fundo da carruagem.

— Você não está cansada também? — Kurone perguntou a garota de cabelos dourados.

Elisabella se manteve calada até o momento, olhando fixamente enquanto Kurone era curado por Inri.

O olhar da garota, aproximadamente em seus dezesseis anos, parecia inquieto.

— Ah!

— Ihhh!

O grito repentino de Kurone assustou a garota, que pôs a mão sobre o peito reflexivamente.

— Desculpa! Eu esqueci que você… quer dizer, a senhorita é a princesa do reino! — gritou fazendo uma reverência exagerada.

O rosto da garota ficou vermelho. Tentava falar algo, mas as cordas vocais não produziam som algum. Era o problema de viver como uma princesa reclusa: fobia social.

Kurone sentou sobre as pernas e tocou a testa no chão de madeira. Era demais para o jovem, que há alguns dias, atirou na princesa friamente — mesmo não sendo a verdadeira.

— N-Não precisa se desculpar! — A garota tentou se manter firme. — A-Apenas me diga, qual o seu nome?

— Kurone, meu nome é Kurone Nakano.

— Kurone… — Elisabella olhou para o jovem enquanto fixava o nome na mente. "Kurone" Era realmente um nome peculiar. Porém, "Nakano"…

Desde que entrou na carruagem, Elisabella não parou de olhar para o jovem. Ela aguardou até esse momento, quando ele estava só, para criar coragem e falar:

— Kurone Nakano, posso te fazer uma pergunta?

— Claro… Quero dizer, como desejar, majestade.

— N-Não precisa ser tão formal! — Elisabella gritou em pânico, mas logo disfarçou seu rosto corado. — Bem… Isso pode parecer estranho, mas… v-você é… um… um…

— Um…?

— Você é um E.T. não é???

E.T.? Um extraterrestre? Essa não seria a palavra ideal para descrever Kurone Nakano.

— E-Eu não entendi muito bem…

— N-Na verdade, eu estudo isso há muito tempo… E, você tem as mesmas características de um E.T., sabe…

Realmente, ele era como um alien. Uma cabeça anormal, um disco voador e frases como "me leve a seu líder"? Idêntico. Se bem que, tecnicamente, ela era a líder de Andeavor. Também não podia discordar do fato de ter uma cabeça avantajada, que era ocultada pela franja.

— Apenas para ter certeza, o que você quer dizer com E.T.?

— É-é uma abreviação de Estranho Transmigrado. Essa ideia foi rejeitada várias vezes, eu e meu clube não desistimos… Conseguimos reunir muito material sobre os "Estranhos Transmigrados"... São pessoas que vieram de outro lugar… um mundo diferente do nosso…

Para uma pessoa desse mundo, isso parecia uma ideia qualquer vindo de um clube de ocultismo, por isso foi rejeitada. Porém, essa garota estava certa. Kurone era um estranho — em ambos os sentidos — de outro mundo.

Deveria contar a verdade sobre seu mundo de origem?

Se contasse tudo, talvez a garota tivesse alguma ideia de como mandá-lo de volta para seu mundo. Mas também correria o risco de se tornar notícia nacional em todo o reino. "Eles estão entre nós, seu vizinho pode ser um E.T., tenha cuidado!". Não havia bicicletas nesse mundo, logo, Kurone não poderia escapar de um grupo de caçadores de ETs.

O jovem olhou para Elisabella e refletiu por alguns minutos. Enfim, após olhar de relance para Rory, dormindo tranquilamente — a garotinha roncava como um orc —, disse:

— Meu nome é Kurone Nakano. — Se pôs de pé enquanto falava. — Tenho 20 anos. Meu nome de família é escrito com os ideogramas de "dentro" (中) e "campo" (野), é a única coisa que meu pai me deu desde o meu nascimento. Venho de um país chamado Japão, que fica em um mundo longínquo. Eu era um estudante de medicina até ser atropelado por um caminhão… Bem, é basicamente isso.

Elisabella ficou paralisada. Piscou várias e várias vezes até assimilar tudo que foi dito. Aquilo era real? Estava na frente — e conversado — com um verdadeiro E.T.?

— Agora é minha vez de te perguntar, o que você sabe sobre os ETs? — Kurone questionou a garota que demorou para responder.

— Quase tudo que sei foi ensinado por minha irmã, ela escreveu um livro antes de fugir de casa… — Elisabella torceu o rosto, em uma expressão dolorosa, mas logo se recuperou. — De acordo com o que ela escreveu, os ETs são trazidos pela Grande Deusa de um mundo distante. Em sua maioria, eles têm cabelos negros, olhos puxados, nomes estranhos… Inclusive, ela criou um pequeno sistema de escrita utilizado nos nomes dos ETs. São muitas informações, se quiser, posso te emprestar o livro.

— Esse livro cita alguma coisa sobre como mandar os ETs de volta para casa…?

— Não vi nada disso, mas minha irmã pesquisava uma maneira de abrir uma passagem do nosso mundo para o dos Transmigrados. Provavelmente, ela fugiu de casa para continuar a pesquisa sem as obrigações com o reino.

Podia ser impressão, mas Elisabella fazia uma expressão sôfrega sempre que citava a irmã.

Se a relação delas fosse como a de Kurone e suas irmãs, certamente foi doloroso o dia que acordou e não encontrou a irmã.

A cena imaginada também deixou o próprio jovem triste, ao lembrar de suas irmãs. Como elas teriam reagido ao receber a notícia que o seu precioso irmão estava morto? 

"Alô, é da casa Nakano?". Provavelmente quem atendeu o telefone foi Raika. "Infelizmente o senhor Kurone Nakano…".

Kurone cerrou os dentes e tentou afastar a cena. Certamente, logo estaria de volta. Não havia motivos para ficar triste. Quando retornasse, cabularia a aula e correria desesperadamente para casa — sendo cauteloso com os caminhões — e abraçaria as três. Claro, receberia um sermão da mais nova por faltar na faculdade, mas isso não interessava. Na verdade, ficaria feliz ao receber essa repreensão.

— Tudo bem com você? — Elisabella chamou pelo jovem.

— S-Sim… Por que a pergunta… Eu estou bem…

— É que… Você estava chorando.

Elisabella também não podia falar nada, pois, quase imperceptivelmente, algumas gotas de lágrima afloravam de seu rosto.



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