Volume 1
Capítulo 27: Como Em "Boku No Pic*"
O vento balançava os cabelos curtos da jovem impiedosamente.
"Você o encontrará na catedral da capital." Amélia acreditou nas palavras da sacerdotisa suspeita na vila Grain, sem questionar nada, e naquele momento seguia a toda velocidade para a capital. A jovem segurava o objeto embrulhado com toda a força para não o deixar ser levado pelo vento — assim como o chapéu gigante que usava até poucos metros atrás.
— Mais rápido! — gritou, batendo as rédeas no lombo dos cavalos.
Kurone estava com um dia de vantagem, mas a habilidade da cocheira era o suficiente para compensar a diferença de tempo. — Mais rápido!
Seria questão de tempo até o mestre descobrir a traição e mandar uma horda de orcs para a capturar. Por que estava fazendo isso exatamente? Amélia, um utensílio, devia seguir as ordens do mestre sem questionar ou desobedecer, mas fazia exatamente o contrário. "É tudo culpa do Kurone!"
A jovem ficou com o rosto corado por um momento até voltar a realidade e apertar as rédeas com força. O curto tempo que passou com o gentil Kurone foi o suficiente para a fazer sentir algo estranho em seu corpo. Era um sentimento indescritível que jamais sentiu antes. Seria alguma doença que ele lhe passou?
Kurone também sentia o mesmo? O que ele diria se descobrisse que ela era um demônio, e pior, também sabia dos planos obscuros do mestre?
— Mais rápido!
No fim, só saberia disso ao encontrar com ele.
Amélia avistou o muro da capital após uma floresta repleta de strouths. Precisava ir mais rápido. As garotinhas corriam perigo. Aquela coisa estava próxima, sentiu isso quando o "chamado" atravessou sua mente. A velocidade da carruagem aumentou, aumentou e aumentou conforme a garota se aproximava da entrada da capital. O consumo de mana estava no limite, mas precisava se esforçar.
O muro se aproximava.
— Ei, parada aí!
— Casa Soul Za! — gritou apontando para o brasão ruído na lateral da carruagem. O sinal foi o suficiente para fazer o guarda abrir passagem. Ele não queria cometer o mesmo erro de antes.
Da entrada, Amélia conduziu a carruagem o mais rápido que sua mana ainda permitia para chegar ao prédio no centro da capital: a catedral. Os pedestres pularam para evitar serem atropelados pela carruagem que destruía tudo à sua frente. Após alguns minutos, a cocheira parou em frente à catedral, onde um amontoado de sacerdotisas oravam do lado de fora.
Amélia agarrou com força o objeto embrulhado e subiu as escadas de pedra da catedral, ignorando as sacerdotisas ajoelhadas.
— E-espere! — Uma das mulheres tentou impedir a estranha, mas foi tarde demais; a jovem adentrou a construção.
O ar sagrado presente na nave da igreja provocava repulsa no sangue demoníaco de Amélia, mas ela ignorou isso e prosseguiu a passos rápidos.
— KURONE! — O grito rouco ecoou por toda a nave da catedral. A jovem cambaleou e caiu próxima à estátua da deusa Cecily. A mana estava se esgotando.
— Droga… Preciso me esforçar mais… — praguejou enquanto tentava se manter de pé.
— Não precisa se esforçar tanto. — Outra voz ecoou na nave.
A voz calma pertencia ao jovem vestido em um manto branco, cobrindo do pescoço aos pés, ao lado dele estava uma sacerdotisa de cabelos loiros.
Aqueles raros cabelos negros na cabeça do jovem, cobrindo ambos os olhos, eram familiares para a cocheira.
— Kurone… — Amélia se esforçou para ficar sentada e suspirou aliviada. Era impressão ou ele ficou mais alto naquele manto?
— Pensei que estivesse morta…
— Eu estou no meu limite, então escute atentamente tudo que eu vou dizer… — Amélia resumiu toda a história para Kurone com as forças que ainda lhe restavam.
— Isso é seu. — Ela entregou o embrulho que tinha em mãos.
Era o fuzil da loli arrogante. Amélia desobedeceu às ordens do mestre e o guardou dentro da carruagem.
— Você tem todo o direito de me odiar pelo que fiz…
— [Heal]. — Uma luz verde envolveu o corpo da cocheira e o restaurou em instantes. A sacerdotisa havia curado a garota.
— Se levante, vamos precisar da sua ajuda. — Kurone estendeu a mão.
— Hã? Você escutou o que eu falei? Eu sou um demônio que ajudou o marquês e…
— Amélia, não posso dizer que não estou irritado, mas o verdadeiro vilão aqui é o Edward. Precisamos de sua ajuda para chegar onde ele está.
— É verdade — A sacerdotisa concordou.
— Tsc! Vocês humanos são estranhos… A propósito, por que está usando esse manto da igreja?
— Eu, Inri, a sacerdotisa chefe, acabo de eleger o irmão Kurone Nakano ao cargo de Santo.
— Eh? Santo? Tipo aquele tipo de Santo? Sério? Não brinca…
— Enfim, vai nos ajudar?
— Não, não vou ajudar vocês.
— Entendo... então...
— Você não entendeu. Eu não vou ajudar vocês! Eu vou ajudar você, Kurone. Bem egoísta, não? Quer minha ajuda ainda assim?
Um aperto de mãos firme foi a resposta de Kurone, ele ajudou a jovem a ficar de pé e voltou o rosto para a sacerdotisa ao lado.
— Inri… Tudo bem? — Ele olhou preocupado para a sacerdotisa ofegante com o rosto vermelho.
— P-perfeito… Vocês são o casal mais perfeito que eu já vi!
— Q-QUÊ!? — Ambos gritaram em uníssono.
— Não adianta negar… Vamos lá, dêem um beijo… Hahaha!
— I-Inri… P-pare com isso!
— Não precisam esconder, eu sei que um casal gay nesse mundo é incomum, mas por favor, apenas um beijo… — A sacerdotisa se contorcia enquanto falava.
— Ca-casal gay!?
— N-Não precisam ter vergonha… Eu estou acostumada a ver essas coisas nos yaoi que lia… Vamos! Apenas um beijinho!
— Inri… Ca-calma aí! A Amélia é mulher!
— Quê?
— Sim, eu sou garota! — gritou indignada.
— Entendo… Não precisa ter vergonha de admitir que "Amélia" é homem…
— Eu já disse, sou mulher!
— Eu não vou contar o segredo de vocês, podem até se pegar aqui, não vou me importar...
— Haja como uma sacerdotisa chefe! Mais importante — Kurone se recompôs —, você é uma reencarnada, não é?
— Então você percebeu, caro irmão. — "E tinha como não perceber?" — Todos temos nossos segredos, como seu relacionamento com esse homem que alega ser uma mulher.
— Eu sou mulher!
— Eu entendo, eu entendo. Você é uma mulher por dentro… Ahhh, esse relacionamento me lembra a história de "Boku no Pic*".
— Eu já disse que sou MULHER! — A cocheira de aparência masculina se irritou com Inri.
Após alguns minutos de discussão, o grupo formado por Kurone, Amélia, Inri e algumas outras sacerdotisas se dirigiu à entrada do prédio onde acontecia o julgamento de Sophia.
— Está pronto?
— Sim — Kurone respondeu sacando o fuzil. — Eles vão nos escutar nem que eu tenha que atirar em todos.
E assim, Kurone invadiu o julgamento, atirou contra o nobre e a princesa Elisabella ao lado do rei e exigiu a liberdade de Sophia.
Porém, não era apenas o jovem que estava próximo de encontrar Edward. Um monstro classe Calamidade faminto se aproximava cada vez mais da vila Grain...