Volume 1
Capítulo 24: Traição
Vamos voltar um pouco no tempo...
Cinco dias antes do julgamento de Sophia. O local era a guilda de aventureiros, um dia depois da reunião desastrosa no escritório de Linda. Após a reunião, um grupo suspeito apareceu na guilda. Um daqueles homens encapuzados chamou a atenção de Rory, por isso ela seguiu o grupo, mas acabou dando de cara com Edward.
"Vamos conversar amanhã", foi o que o marquês disse. Mas onde ele estava?
Kurone e os outros dormiam profundamente naquele momento.
— Esperou-me muito, senhorita Rory?
— Já ia entrar aí e te puxar pelo colarinho.
— Desculpe, desculpe por fazê-la esperar demasiadamente. A senhorita Linda disse que alguns dos moradores estão adoecendo, então vamos até à mansão para buscar mantimentos. Não queria adiar a nossa conversa, então, se importaria em nos acompanhar até a mansão, senhorita Rory?
— Não me importo… — Rory estreitou os olhos para a sugestão do marquês. Não era algo incomum, Edward era um homem tão suspeito que constantemente era alvo do olhar afiado da garotinha.
— Onde está seu companheiro, o senhor Nakano?
— Dormindo, eu acho.
— A relação de vocês parece complicada…
— Mestre Edward, a carruagem está pronta.
Quem interrompeu a conversa entre Rory e Edward foi a cocheira com aparência masculina, Amélia.
— Perfeito. Vamos indo, senhorita Rory?
— O idiota…
— Ah, não se preocupe. Com a Amélia na carruagem, vamos retornar antes do senhor Nakano acordar.
Quem também aguardava na carruagem era a empregada de óculos que frequentemente se esfregava em Rory, Elsie. A reação da loli ao ver a empregada com um ar de fujoshi era sempre de repugnância e naquele momento não foi diferente.
— Roryjinha também vai para a manshão?
Aquela maneira de falar era irritante. Quantos anos ela acha que tinha?
— Sim, sim. Vamos, senhorita Rory?
A carruagem saiu logo cedo da vila Grain em direção à mansão Soul Za. O caminho era percorrido ligeiramente e todos do interior balançavam de um lado para o outro. Além de Edward, Elsie, Rory e Amélia, também estavam na carruagem dois aventureiros que se voluntariaram para ajudar com os mantimentos: Alan, o espadachim e Ari, a arqueira.
— Roryzinha, shegure em mim para não she mashucar!
— Encoste um dedo em mim e você morre.
— D-deshculpa!
— Como esperado da senhorita Rory, sempre sendo sincera.
— Estamos nos desviando do assunto principal, quem eram aqueles homens encapuzados?
— Ai, como sempre, a senhorita é direta, isso chega a doer no meu peito. Mas ouça, há certas coisas que ainda não podem ser divulgadas…
— Como o fato de um daqueles homens ser um demônio?
— E-eh?
— Não se faça de idiota, acha que eu não consigo sentir a presença de demônios como a sua empregada?
O olhar frio da garotinha caiu sobre a empregada de óculos ao seu lado. Como sempre, apesar daqueles serem apontamentos graves, Rory os falava com se não fossem nada.
— Oh... Então a senhorita percebeu.
— Desde o nosso primeiro encontro. Fiquei curiosa e queria saber por que um nobre como você, que supostamente devia servir o rei, tem um demônio como empregada. Será, que por um acaso, você tem envolvimento com o rei demônio?
— Não vamos nos precipitar, isso é uma longa história…
— N-não penshe errado, Roryjinha, na verdade…
O alvo dos olhares tanto do marquês quanto da loli tentou se explicar.
— O que estão escondendo de mim?
— Estamos sendo atacados!
O grito de Amélia interrompeu a conversa no interior da carruagem.
Eles foram cercados rapidamente. Os monstros vinham de dentro da floresta.
— São orcs!
Novamente. Orcs não tinham inteligência, então por que esperaram um momento oportuno para atacar a carruagem?
— Vamos continuar nossa conversa depois.
— Certamente.
Em um salto, Rory saiu do interior da carruagem pela janela e subiu até o teto.
— Vocês não passam de monstros idiotas!
A cena da vila se repetiu mais uma vez. Os monstros eram eliminados um por um pelos tiros precisos da garotinha com um fuzil. Amélia, Alan e Ari também ajudavam no combate. Na verdade, apenas Ari com seu arco colaborava. A mira da arqueira era impressionante, o espadachim não podia atacar diretamente e Amélia — segurando uma besta — não tinha precisão.
— T-tudo bem com vo-você, senhorita Rory?
A arqueira, Ari, perguntou preocupada ao ver o cansaço visível da garotinha.
— Sim. É melhor acabar com isso rápido. Vão todos para dentro da carruagem.
A maneira mais fácil e rápida para eliminar os monstros era uma rajada ininterrupta… Porém, Isso custaria muita mana, algo precioso para a garotinha que estava longe de sua fonte abundante de energia vital.
— Tsc! O idiota só não está aqui na hora que eu preciso.
Era uma decisão extrema, mas extinguiria todos os monstros.
— Não saiam da carruagem.
Quando foi mesmo que começou a se preocupar com humanos? O sentimento que sentia naquele momento não era preocupação, na verdade, sentia apenas nojo de si mesma por fraquejar, passar muito tempo com um humano a fez sentir empatia novamente por essa raça.
"Se você é forte, deve proteger aqueles mais fracos." A frase preguiçosa e nada original daquele delinquente invadiu a mente da garotinha.
— Espere, senhorita Rory, temos um problema!
— Hã?
— É o marquês!
— Ele não eshtá aqui! — Elsie completou a fala da cocheira.
Como ele desapareceu? Até alguns minutos, ele conversava com Rory. Não estava pelos arredores nem na carruagem. Só havia monstros verdes ao redor.
"Algo está errado." O fiapo de cabelo na cabeça de Rory balançava de um lado para o outro. Não era um bom sinal. "Para onde o idiota foi?" Forçando a visão pelo campo verde, a garotinha procurou pelo marquês.
— Droga.
Os orcs já estavam muito próximos da carruagem. Edward ficaria para depois, o foco naquele momento era exterminar os monstros. O cão do fuzil foi puxado e Rory preparou-se para iniciar o clímax do massacre.
Gritos ecoaram por toda a floresta. Um por um, os monstros eram eliminados pela loli com um fuzil militar.
— Morram, morram, morram, morram.
Entre todos os gritos, o mais horripilante dali era o da garotinha que se divertia com o extermínio das criaturas.
"Apenas um monstro pode matar outro", essa frase descrevia bem a situação de Rory.
Os ouvidos das pessoas dentro da carruagem estavam tampados devido aos tiros, por isso não podiam escutar a risada diabólica da garota — se bem que Ari e Alan já viram o sorriso horripilante de perto. Em alguns minutos, tudo o que restou no chão foram os corpos sem vida dos monstros.
— Meu trabalho está completo.
Rory caiu sobre o teto da carruagem. Custou tanta mana quanto pensava, mas pelo menos acabou… Ou assim pensou.
Um estalar de dedos vindo do outro lado da floresta chamou a atenção da garotinha deitada.
Claro. Não podia ser diferente. Humanos eram nojentos, não importava a era. Covardes, fracos, gananciosos e acima de tudo...
— Edward, Filho da…
Traidores.
A voz fraca da garotinha foi cortada por um raio de luz despencando do céu.