Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 1

Capítulo 19: Armadilha em Fallen

 

O olhar dos cidadãos estava fixo no grupo atravessando a praça principal. O grupo era composto por: Ana, a aventureira Rank B, Kurone, o jovem estrangeiro, Noah, a empregada e Sophia, a marquesa. 

Talvez fosse o cabelo estranho de Kurone? O chapéu enorme de Ana ou a própria formação incomum do grupo que chamava a atenção das pessoas? 

— Nunca tinha visto frutas assim antes… 

— São especialidade de Fallen — Sophia respondeu ao jovem admirando as frutas incomuns nas barracas.

Fallen, a cidade vizinha à mansão Sophiette, tinha menos de mil habitantes, de acordo com Sophia, no passado, a população já chegou a marca de cinco mil. Devido à má administração do novo lorde daquelas terras, a população foi obrigada a migrar em busca de melhores condições de vida. 

Os descendentes dos que ficaram para trás vivem na miséria, tendo de trabalhar em dobro na agricultura. Na praça principal, Kurone viu pelo menos dez crianças, com não mais de sete anos, trabalhando. Algumas vendiam flores e outros guiavam os visitantes pela cidade. Noah comprou uma cesta de flores de uma garotinha suja.

— Então vamos nos separar aqui. Noah, você vai comprar roupas e remédios com o Nakano e a Ana vem comigo para comprar frutas e legumes…

Era a melhor opção naquele momento, considerando que Kurone e Ana nunca tinham visitado a cidade. Um grupo grande só iria demorar mais para passar em todas as lojas, e no momento, precisavam ser o mais rápido possível.

— E Noah... Tome cuidado. Se acontecer qualquer coisa, lembre-se que nossa prioridade são as pessoas na vila.

Mesmo sem entender a preocupação de Sophia, a empregada afirmou com a cabeça.

A farmácia na área residencial era o objetivo de Kurone e Noah. A garota sempre encarregada de fazer as compras para a mansão Sophiette conhecia a cidade como a palma da mão.

Diferente da rua principal, onde havia movimento de pessoas, o beco que levava até a farmácia era deserto e sombrio — lembrava as favelas que viu em um documentário sobre o Rio de Janeiro, no Brasil. Algumas caixas velhas e buracos na parede serviam de abrigos para quem não tinha condições de ter uma casa.

Fallen podia ser resumida em três áreas: área comercial na entrada, onde estavam até pouco tempo, uma favela no centro, o beco que atravessavam naquele momento era uma parte dessa favela. Por fim, tinha a área residencial, depois da favela.

— Fica depois daquele outro beco. — Noah apontou para a parte mais iluminada do beco. 

Diferente do jovem, a empregada não demonstrava ter medo do local escuro. Mesmo sendo uma garota, ela ainda era um dos empregados da casa Sophiette, conhecida por ensinar tanto artes marciais quanto artes mágicas aos empregados. Kurone testemunhou essa cena ao sair cedo da mansão: um homem com roupas de guarda lutava de igual para igual contra uma das empregadas.

"Maids de combate… acho que já vi isso em um mangá...” Ele tentou se lembrar um pouco do Japão, mandando sua consciência para longe, até se esquecer do local que atravessava.

Apesar de não demonstrar medo, a expressão da empregada era algo entre ódio e melancolia. Ela olhava com pesar para as paredes sujas e os ratos correndo pelo esgoto no chão.

— N-Noah... você...

— Chegamos. — A empregada ignorou o jovem.

Quando se deu conta, já podia ver a luz do sol e a rua movimentada mais uma vez. 

A farmácia do outro lado do beco era o maior prédio da rua, com dois andares. Na entrada havia uma placa de madeira escrita "Pharmacopolium"— Noah leu em voz alta —, enfeitada com duas cobras esverdeadas mordendo uma folha de planta medicinal. 

O sino tocou com um “plinc” quando a empregada empurrou a porta e um senhor calvo vestindo um jaleco surgiu no balcão. 

— Senhorita Noah, em que posso ajudá-la hoje? — disse o homem gentilmente. 

— Remédios, quanto mais, melhor. Priorize remédios que tratam de feridas graves. 

— É pra já… Huh? Quem é o jovem? — O senhor dirigiu seu olhar para Kurone, esperando na porta. 

— Nem eu sei o que te dizer… 

O senhor da farmácia franziu o cenho e encarou o jovem, mas deu de ombros em seguida. Será que era tão sem graça a ponto das pessoas perderem interesse só de olhar para ele por alguns segundos? 

Já que estava usando uma roupa dada por Sophia — um sobretudo azul —, quase podia se misturar à multidão, apenas seu cabelo de japonês chamava a atenção. Naquele mundo, normalmente as pessoas nasciam com o cabelo colorido, como os fios rosas de Sophia ou os verdes na cabeça de uma aventureira que viu na guilda. Cabelos negros como o de Kurone, Elsie e Ana eram raros.

O sobretudo azul abotoado dado pela marquesa estava por cima da roupa que usava quando foi reencarnado. A roupa estava suja, mas essa era a única lembrança que tinha de seu mundo.

— Pegue. — Noah entregou duas cestas cheias para o garoto.

Estavam repletas de frascos de remédios coloridos, chás medicinais, comprimidos, ervas e outras variedades de medicamentos.

— Deve ser o suficiente para uma semana. — A empregada falou enquanto verificava as duas cestas que também carregava.

Em momentos de crise como o que acontecia na vila, o importante era manter as pessoas saudáveis e evitar uma epidemia que podia se alastrar rapidamente em um espaço apertado como a guilda.

— Percebeu algo? — Noah parou em frente ao beco escuro, o caminho mais curto para chegar à praça principal.

— O que foi?

— As pessoas… Não tem mais ninguém por aqui… 

A rua que até há pouco repleta de pessoas estava deserta. Algumas lojas fecharam e não parecia que os moradores entraram em casa.

— Eles devem ter ido para a praça principal.

— Talvez… Vamos logo, não estou com um bom pressentimento sobre isso. — Noah apressou o passo no beco, deixando o jovem para trás.

Os frascos de vidros batiam uns contra os outros, produzindo eco no beco, conforme as passadas rápidas da garota atravessam a escuridão.

— E-espera! — Kurone gritou, mas a garota não escutava. O que ele não conseguia entender?

As pessoas desapareceram da rua… Algo aconteceu? Uma evacuação de emergência ou talvez Sophia e Ana tivessem arrumado uma briga enquanto compravam frutas e todos tenham ido observar?

"Falando em Sophia... ela disse algumas coisas bem suspeitas para a Noah mais cedo, não, desde ontem de noite...”, refletia enquanto atravessava o beco sujo tomado pelas trevas. Só saberia o que aconteceu se chegasse à praça principal, isso se houvesse alguém lá…

A luz já estava próxima, dessa vez, demorou menos tempo para atravessar o beco que quando foram até a farmácia. Era hora de saber se algo aconteceu ou se era apenas paranoia de Noah.

— Ahhh! 

O jovem foi puxado pelo colarinho antes de pôr o pé para fora do beco, sendo obrigado a segurar as cestas com força para não derrubar nenhum medicamento.

— Shhhhh! — Noah tapou a boca do garoto.

A sensação macia e fria da mão fina da garota o acalmou.

Havia uma multidão de pessoas com as costas viradas para o beco. Assim como Kurone chutou, todos estavam na praça principal porque algo aconteceu.

— Não posso ver nada daqui. — Noah tirou a mão da boca do jovem. A concentração na multidão acabou fazendo a garota não perceber que havia algo pegajoso na mão.

Kurone não pôde evitar passar a língua em algo tão macio, mesmo sabendo que ali não era lugar para fazer isso.

"Quando tiver tempo, vou me desculpar.”

Sem outra opção, a dupla teve que deixar as cestas no beco e perguntar a pessoa mais próxima o que estava acontecendo.

— Ah, vocês chegaram agora? A Lady Sophiette está sendo presa... parece que ela é acusada de tentativa de assassinato e sequestro… — O homem que foi questionado por desconhecidos virou o rosto para ver a dupla de jovens. — Hã!?

Não havia mais ninguém lá.

Dessa vez foi o jovem quem puxou Noah para o beco. Ao ouvir o "Lady Sophiette", a garota perdeu toda a razão, e, por um momento, Kurone pensou que ela sairia correndo a toda velocidade até onde Sophia estava — sabendo-se lá onde era isso.

— Calma, não vai adiantar nada se nós também formos presos.

Ele tentou acalmar a empregada que se debatia no beco. Alguns moradores passavam por perto e viravam o rosto ao ver dois jovens fazendo “aquilo” em plena luz do dia, mesmo que ali fosse a entrada do beco, não era um local apropriado.

A dupla rolava no chão de um lado para outro, e, graças ao fortalecimento, Kurone conseguiu subjugar Noah, enquanto a garota dava mordidas e batia a cabeça dele na parede. 

Se aproveitando de algumas brechas, Kurone apalpou locais suspeitos do corpo da jovem, cada vez mais a atenção das pessoas se voltava para a cena de dois jovens fazendo "aquilo" — Pelo menos essa era a impressão deles — em local público.

Uma sombra apareceu sobre a dupla rolando pelo chão. Era uma garota de cabelos negros com uma expressão de desgosto no rosto e um chapéu enorme que tapava o sol.

— Então, enquanto a Lady Sophia está sendo presa, vocês estão aqui? — Ana falou em um tom frio.



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