Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 1

Capítulo 18: Mansão Sophiette

 

Grande, enorme, gigantesco, colossal. Talvez essas palavras ainda fossem pouco para descrever o tamanho das terras de Sophiette. 

A entrada do jardim ficava a quilômetros da mansão, perto daquilo, a mansão Soul Za parecia um casebre humilde. 

O jardim de Sophia certamente era mais verde, vivo e tinha mais espécies de plantas. Alguém que nunca visitou o local, como Kurone e Ana, provavelmente acabaria se perdendo ali.

— Incrível… é exatamente como dizem! — Ana, a aventureira, gritou olhando pela janela da carruagem.

— É enorme mesmo...

— Alguns dizem que essa mansão é maior até que o próprio castelo do rei demônio.

— O castelo do rei demônio!?

— Não passam de lendas — a marquesa gritou do banco de condutor. — Ninguém nunca chegou a ver o castelo do rei demônio e voltou vivo para dizer qual o maior... Não se sabe nem se esse tal de Belzebu existe.

— Como assim?

— De acordo com lendas antigas, Belzebu foi morto ainda quando os deuses viviam na terra, e, quem governa os demônios, na verdade, são os “Conselheiros do Inferno”, que passam o governo a cada geração para seus descendentes.

— Entendo...

— Essas terras pertenceram ao meu tataratatara, e mais algumas vezes tatara, avô. Dizem que, na era dos deuses, ele era um mago incrivelmente poderoso que ajudou o rei da época, como compensação, recebeu um pouco dessas terras. Conforme o tempo passou, os decentes dele também se dedicaram a ajudar a família real, e as terras só aumentaram. 

— Por isso você foi a primeira escolha para ajudar o Edward? — Kurone concluiu. 

— Tem isso também… mas acontece que o Edward não é bem-visto pelos nobres da capital, sabe, por apoiar os ideais da princesa regente. Logicamente, só poderia ser ajudado por alguém que concorde com seus ideais. 

— Entendo…

Após quase doze horas, o trio chegou as terras de Sophia. Tal feito só foi possível graças aos cavalos, alimentados com poções especiais. Eram animais usados apenas em emergências, como aquele momento.

Uma fila de empregados aguardava o retorno da mestra em frente à entrada da mansão colossal.

— Bem-vinda de volta, Lady Sophiette. — Todos saudaram em uníssono. 

— Podem vir. — Sophia chamou a dupla que estava dentro da carruagem. — Esse é Nakano, e essa é Ana, são meus convidados. 

— É um prazer recebê-los! — Os empregados falaram em uníssono novamente.

— C-claro… — O jovem acenou com a mão esquerda, claramente com vergonha.

— É ainda maior de perto. — Ana olhou admirada para a construção pintada de rosa-claro, pensando em como o pintor sofreu para dar conta de uma mansão tão grande.

— Por favor, entrem. — Sophia seguiu os empregados que empurraram a porta de madeira enorme e mostraram o interior luxuoso da mansão. 

Em pé, no centro, contrastando com o piso brilhante, havia alguém de vestes negras, aguardando o retorno de sua mestra. 

A garota trajava um uniforme diferente dos outros empregados, aparentemente, foi feito exclusivamente para ela. Os longos cabelos castanhos eram adornados por uma fita vermelha. A jovem tinha um rosto brilhante, tão limpo que uma pinta preta tão pequena podia ser vista ao longe.

— Bem-vinda de volta, Lady Sophia. 

"Essa garota é uma empregada de elite ou algo assim?"

— Eu fico fora por um dia e você já esquece de meu rosto! — Sophia falou em tom de brincadeira.

— O q-quê… C-como… L-Lady Sophia…! — A empregada entrou em pânico ao ver que estava fazendo reverência a um jovem desconhecido ao invés de sua mestra, que estava do outro lado da porta.

— Isso me lembra os tempos em que eu frequentava Maid Cafés… Que nostálgico… — Kurone suspirou enquanto aproveitava a sensação de ser tratado como um nobre chegando de viagem.

— P-Perdão!!!

— Tudo bem, tudo bem...

— Essa é Noah, que, na verdade, está mais para minha filha que uma empregada. — Sophia apresentou a garota.

— Por favor, n-não diga isso, Lady Sophia... — a empregada protestou com o rosto vermelho. 

— Esse é Nakano, um bravo desconhecido, e essa é Ana, uma aventureira Rank B.

— Uau! Eles não parecem ser bem fortes… — A garota falou sem má intenção. 

— Noah, quantas vezes tenho que falar sobre esse seu mau hábito de falar o que pensa.

— Desculpe, Lady Sophia! — A empregada baixou a cabeça inúmeras vezes, pedindo desculpas a Sophia e a dupla supostamente ofendida.

— Nós viemos pegar alguns mantimentos, peça aos empregados que preparem algumas caixas com roupas, comida, remédios e água.

— Sim, Lady Sophia! Mas, temos poucas roupas e remédios...

— Droga... Amanhã vamos ter que passar em Fallen.

A cidade mais próxima da mansão Sophiette se chamava Fallen. No caminho até a mansão, Kurone pôde ver toda a cidade pela janela. Era uma cidade que vivia da exportação de produtos da terra e aparentemente, não tinha muitos habitantes — as poucas pessoas que encontraram tinham uma expressão infeliz no rosto.

— Por enquanto, vou guiar vocês até o quarto de visitas. — Sophia apontou em direção à escada que levava ao segundo andar. A propósito, a mansão tinha cinco andares. Era uma verdadeira fortaleza luxuosa.

O quarto de visitas tinha capacidade suficiente para acomodar uma família com quatro integrantes e ainda sobraria espaço.

— Divirtam-se! Mas não exagerem, tá?— Sophia se despediu da dupla.

“Isso foi desnecessário!”

— Tudo nessa mansão é enorme… — Ana checou a qualidade dos lençóis, primeiro sentindo a textura e depois cheirando profundamente. — Mas não me sinto confortável dividindo um quarto com você. — A bruxa olhou com desdém para o garoto.

— Por favor, pare de me olhar como se eu fosse um pervertido. 

— Humpf… Vou confiar, mas por garantia, não esqueça que eu posso usar magia para te incinerar em segundos. — A garota se jogou em cima da cama confortável e ignorou o jovem que tinha um livro em mãos.

Por sorte, o livro que pegou na cômoda era repleto de ilustrações, algo que o ajudava a ter uma ideia do conteúdo escrito nas páginas amareladas.

— Você nunca vai esquecer do que aconteceu na vila? 

— Não pense que guardo rancor… Não tenho nada contra você… Mas eu ainda vou acabar matando aquela garotinha irritante. 

— Não tem como discordar que ela é irritante… — Kurone colocou o livro sobre a cômoda e foi até a janela. — Olhando daqui, o jardim parece com uma floresta. 

— Ahhh... A vida dos nobres é algo inalcançável para nós… Comer três vezes por dia, tomar banho, trocar de roupa, dormir a noite toda… São tantas coisas incríveis!

"Como diabos você vive então?", pensou enquanto olhava para a garota que encarava o teto se imaginando como uma nobre da capital. 

— E quanto a você… Kuroto, não é? 

— Como pode esquecer de meu nome? Eu vou chorar!

— Vamos concordar que você não tem muita presença sem a sua companheira e seu nome é esquisito. — Ana apontou os fatos de maneira fria. 

De fato, se estivesse em uma light novel como as que costumava ler, o jovem não seria nada mais que um simples figurante, ou no máximo, um personagem de apoio para Rory.

— Suas roupas… — A bruxa retomou a conversa. — Nunca vi roupas como essa, mas você não têm cara nobre... Também têm habilidades estranhas e anda com aquela garotinha irritante…

A aventureira olhava cada vez mais para os olhos aflitos de Kurone, um apontamento levava a outro e esses apontamentos geravam suposições em sua mente. O ataque, a ignorância do jovem, as roupas estranhas, a loli com um fuzil… 

— E-eu vou ao banheiro… —  Ele tentou ir em direção à porta, mas foi impedido por Ana que segurou seu braço. 

— Eu quero explicações! Você pode ter provado ao marquês que não é um espião de outro país, mas isso não quer dizer que não tenha segundas intenções em nossas terras… Eu não vou deixar um suspeito retornar para a minha vila. — A garota olhou seriamente para o jovem que continha várias gotas de suor no rosto.

— S-sério mesmo! Se eu não for agora vou acabar fazendo nas calças… V-você não vai querer um colega de quarto fedendo a…

— Já entendi! Vai logo, mas não pense que nossa conversa acabou! 

Ana abriu caminho para o jovem, que atravessou as portas, o corredor e a escada em um instante.


"Agora… onde fica o banheiro?"

Não era apenas uma desculpa para escapar das perguntas afiadas de Ana, se tivesse ficado por mais algum tempo naquele quarto, o tapete caro de Sophia estaria arruinado.

"Talvez eu deva perguntar para algum funcionário…" Escaneou todo o corredor à procura de algum empregado que pudesse o ajudar nesse momento de necessidade.

"Ninguém! Tantos empregados, mas nenhum disponível… Droga! Se continuar assim vou ter que usar isso…" Ao seu lado, estava um jarro que enfeitava o corredor. Havia vários como esses, todos embaixo de uma pintura diferente. Tanto o jarro, a flor dentro e o quadro aparentavam ser caros. 

"Isso vai ter que servir!" 

Após aliviar-se em um local que não era relevante no momento, Kurone enfrentava outro problema: lembrar do caminho de volta ao quarto.

— Nakano? O que faz por aqui? — Sophia chamou o jovem passando em frente ao seu escritório com a porta aberta.

— Voltando do banheiro… —

"Espero que ninguém perceba…" Qual seria a reação da empregada que troca a água dos jarros quando cheirasse aquela flor?

— Certo… Não vá dormir tarde. — A marquesa acenou com a mão e voltou a assinar papéis. 

Apesar de curto, o período que passou fora acabou fazendo ela acumular trabalho.

— Então, boa noite. — O garoto despediu-se e tentou se lembrar novamente do caminho para voltar ao quarto. 

Durante a corrida desesperada a procura do banheiro, ele mal teve tempo para memorizar o caminho. Nesse momento, todos os corredores pareciam iguais.

"Não quero encontrar uma empregada segurando um jarro fedido no corredor…"

— Ei Nakano!

— S-Sim!

— Venha aqui...

O jovem adentrou no quarto — com cuidado, pois o local era uma zona repleta de papéis importantes. Pisar ou rasgar algo ali por descuido poderia resultar em uma guerra entre nobres ou algo assim.

— Pode parecer estranho o que vou te falar, por isso, apenas me escute.

— Umm...

— "Cuide daquilo que é importante para você."

— Hã? Desculpa, eu não entendi muito bem...

— Uma vez meu mestre me falou isso e eu também não entendi, mas senti como se ele estivesse me orientando a te dar esse conselho.

— Entendo...

— Você não parece alguém habituado à batalha, mas mesmo assim, em um acesso de fúria, conseguiu proteger sua irmã dos orcs. Eu também tenho duas pessoas importantes, mas eles só estão vivos porque uma vez precisei sacrificar algo e sujar minhas mãos de sangue...

— Foi um conselho...

— Você não hesitou em matar. — O tom de vez da marquesa mudou repentinamente e ela encarou o jovem.

— Hã?

— Os outros podem não perceber, mas eu conheço os olhos de alguém que já tirou a vida. Os outros subestimam você, mas a verdade é que... Ah, pela grande deusa! Por que estou te contando isso? Esse excesso de trabalho está me matando.

— De qualquer forma...

— Hã?

— Obrigado pelo conselho, vou cuidar bem da Rory, era isso seu conselho, certo?

— Sim...

O jovem saiu do escritório, se preparando para a continuação de sua busca ao quarto perdido.

— Nakano! O seu quarto fica do outro lado.

— C-certo! Obrigado mais uma vez.


Quanto mais andava, mais respeitava o trabalho dos empregados daquela mansão. Todas as portas e corredores eram iguais, os jarros e flores eram repetitivos… "Deve dar um trabalhão limpar isso tudo."

Para a sorte do jovem, alguns aposentos eram exceção e tinham uma porta de cor diferente das demais, e um desses aposentos era seu quarto…

— Voltei… Hã!? — Deixou escapar o som ao ver sua colega de quarto.

— Hã — A garota olhou com espanto para a porta que se abriu repentinamente.

— Hã…?

— Hã…

— Hã….?

— Hã…

— Hãã....?

Ana estava se trocando para dormir, o pijama era um presente de Sophia que um dos empregados havia levado ao quarto. Kurone também ganhou um pijama, que estava ao lado do livro que lia mais cedo.

Isso aconteceu há alguns minutos...

Em sua mente, Ana não achou que o garoto retornaria tão cedo do banheiro e decidiu se trocar para dormir. Enquanto vestia seu pijama, olhou para o espelho do quarto para verificar seu desenvolvimento e acabou se sentindo inferior ao ver seus seios e lembrar do tamanho do busto da empregada que entregou o pijama. Eram gigantes, mas a empregada parecia ter menos de dezoito anos.

Se deixando levar pela inveja, A aventureira começou a massagear os seios modestos enquanto olhava para o espelho, esquecendo que seu colega de quarto podia retornar a qualquer momento… e ele retornou.

— O-o q-que d-diabos você tá encarando?! — Ana piscava os olhos sem parar e uma veia surgiu em sua testa.

— São muito pequen—… — Kurone Deixou escapar.

Chamas começaram a emergir da mão esquerda de Ana enquanto a direita segurava um lençol branco caro para censurar o corpo.

— ME DESCULPA! AHHHHH!

O pedido de desculpas foi engolido pelas chamas. A mão flamejante de Ana conseguiu atingir o rosto do jovem que fugia desesperadamente — a queimadura no rosto ficou com a marca de uma mão aberta.

No escritório, Sophia foi acordada pelos gritos vindo do quarto de visitas, os papéis assinados que serviam de travesseiro caíram no chão e se misturaram aos que ainda tinha que assinar até o outro dia.

— Esses jovens de hoje são tão selvagens… — Pegou os papéis do chão e voltou a assinar os mesmos. — Espero que eles não se empolguem demais e quebrem a cama do quarto.



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