Volume 1
Capítulo 17: Posicionando as Peças
O dia iniciou-se com o som dos martelos batendo e escombros sendo revirados. Pedreiros, arquitetos e profissionais no ramo de construção enviados da capital transitavam rapidamente pela vila.
— Ai, ai… Minhas costas… — Kurone murmurou enquanto observava os trabalhadores correndo de um lado para o outro.
— Já está de pé, Nakano?
— Que susto! Ah, é só você, Sophia…
— Desculpe, tem um momento?
— S-sim...
— Vamos para fora, não quero acordar as pessoas que ainda estão dormindo.
Moradores que perderam as casas foram abrigados na guilda. Não tinha espaço suficiente para acomodar todos ali e o frio da noite adentrava pelas janelas quebradas.
De fato, não era um local apropriado para servir de abrigo, mas era tudo o que tinham à disposição naquele momento.
— Fiquei impressionada com a maneira que você e Rory lutaram… Como posso dizer, hmmm… era uma maneira tão… única!
"Você quer dizer esquisita, não?", pensou Kurone enquanto olhava para os escombros do prédio do que costumava ser uma farmácia.
— Onde tá o Edward?
— Saiu cedo para a mansão, aparentemente, foi buscar mantimentos. — Sophia parou de andar. — Nakano…
— Hã?
— É sobre isso que quero falar… — Após uma pausa, ela continuou: — Tenho um conselho para você. Não confie muito no Ed, ele não é o que parece. — A jovem falou com um olhar sério.
— C-certo… ele tem cara de quem curte umas coisas estranhas mesmo, vou ficar de olho nele.
— Era só isso mesmo! Vou voltar para a minha mansão para pegar outros suprimentos também, gostaria de vir comigo?
— Não sei… se bem que não tenho o que fazer aqui e eu poderia ajudar com os suprimentos. — O garoto fez uma pausa para suspirar. — Tudo bem, vamos lá. Vou chamar a Rory e volto já.
— Espere, Nakano! Sua companheira saiu cedo com o Ed para a mansão dele.
“Por que aquela nanica não me avisou? Aquela loli arrogante sempre faz o que quer”, ele amaldiçoou a garotinha em seus pensamentos enquanto acompanhava Sophia de volta à guilda.
Ao chegar no local em questão, Kurone percebeu que não foram apenas Rory e Edward que saíram cedo para a mansão Soul Za.
— Vou acompanhar Sophia até a mansão dela, pode dar esse recado a Rory e ao Edward quando eles voltarem?
— Isso é algum tipo de traição? — Brain falou de forma sarcástica. — Sabe que a mulherzinha de cabelos rosados é inimiga do meu mestre, não sabe? Acho que precisamos de outro interrogatório.
— N-não é nada disso!
— Só estou brincando, mas… — Brain aproximou-se de Kurone e sussurrou em seu ouvido: — Não confie muito na lady Sophiette, ela não é o que parece…
“Eu não ouvi isso há pouco?”, pensou em ignorar o conselho de Brian, mas lembrou de algo, na noite anterior, durante a reunião. Edward falou algumas coisas que fez o jovem repensar sua ideia sobre a nobre Sophiette.
— Ei, bunda mole, anda logo, já tá tudo pronto aqui! — Ana, a aventureira, gritou do lado de fora da guilda.
A marquesa recrutou a bruxa para ajudar no transporte de mantimentos e escolher os mais necessários.
— Pera aí, eu já tô indo! — gritou de volta e olhou uma última vez para a empregada ruiva: — Obrigado pelo conselho, Brain, vou ser cauteloso. Até logo, Edgar!
— Até logo, senhor Nakano. — O mordomo acenou de volta.
De todos os empregados da mansão que vieram à vila, apenas Edgar e Brain ficaram para trás, com a missão de ajudar Linda. Edward, Amélia, Elsie e até Rory retornaram a mansão enquanto Kurone dormia. Mas ainda estava com uma pulga atrás da orelha: por que não o acordaram? Talvez sabiam que ele seria mais útil na vila do que na mansão?
Os conselhos da marquesa e da empregada deixaram o jovem com certa desconfiança de ambos os nobres. Se realmente um deles estava envolvido no ataque à vila e no sequestro de crianças, tanto Kurone quanto Rory estavam com problemas, já que eram inúteis quando distantes um do outro.
— Se apresse, Nakano! — Dessa vez foi Sophia que gritou da carruagem.
— Ei! Anda mais rápido, eu já tô ficando sem paciência aqui.
— Cheguei, não precisam gritar tanto... Huh? Cadê o cocheiro?
— Ah... o Raul teve que ir até a capital para receber meu pagamento...
— Isso não deveria ser algo que você devia fazer? — a bruxa perguntou.
— Não, não. Eu não gosto daquele pessoal da capital, com exceção da princesa. Mas não importa! O Raul tem meu brasão, é o suficiente para entregarem a recompensa a ele.
Kurone não chegou a ver esse “Raul”, mas pelo que Amélia contou, era alguém com a mesma força de um soldado da guarda real, e também um empregado de confiança da marquesa Sophiette. O que aquela jovem dava para os empregados comerem?
— Mas não se preocupem, eu vou conduzir a carruagem! — A nobre apontou o dedão para si enquanto tomava as rédeas.
“Droga, espero que ela saiba mesmo como conduzir isso, mas que seja, mansão da Sophia, lá vamos nós…”
A carruagem com o trio tomou o caminho que levava às terras de Sophiette, com a missão de buscar mantimentos, sem terem ciência do tabuleiro que era preparado por onde passavam.