Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 1

Capítulo 16: Essa Loli é Roubada pra Caramba!

Milagrosamente — ou talvez fosse pela expressão assustadora dela —, Linda acalmou os ânimos no escritório. 

Nesse momento, apenas Sophia, Edward e um mensageiro da capital estavam discutindo lá dentro. A mestra de guilda, Kurone, Ana e Rory atravessavam o corredor repleto de cacos de vidro para a recepção, no térreo.

— Edgar? Há quanto tempo, meu velho amigo! — A mulher acenou para o mordomo vindo na direção oposta, a caminho do escritório.

— Conhece o Edgar? — perguntou Kurone. Linda conhecia muita gente.

— Éramos do mesmo grupo de aventureiros quando mais novos.

Ah, então vocês foram aventureiros da mesma party… 

Isso explicava o físico de guerreiro do empregado, devia haver um abismo de diferença entre a força do mordomo e a sua.

— Sim, o Edgar era um espadachim e eu uma maga… A propósito, Kurone, não é?... Qual a sua Classe?

— Minha “Classe”?… — O jovem olhou para o chão, pensativo. A falta de senso comum desse mundo o pegou. — Não sei, acho que não tenho nenhuma.

— Impossível! Todos herdam ou despertam uma Classe ao nascer, vem grudada na alma e é impossível se livrar dela por mais que não goste. 

“Isso não se aplica a japoneses”, Kurone pensou, mas não podia levantar suspeitasl. — Então, como posso saber qual minha “Classe”? 

Hmmm… tem uma máquina na guilda que pode fazer isso, além de mostrar seus atributos. Me sigam! — Linda gritou, indo em direção à escada. 

— Então, se me dão licença, eu vou indo. — Edgar acenou com a mão e foi em direção ao escritório. 

— Até mais, Edgar.

No caminho para a parte mais baixa, Linda pincelou sobre os “atributos” citados antes. Atributos ali eram os mesmos dos jogos onlines, com a exceção de que não podiam ser aumentados com pontos. Eles funcionavam como multiplicadores.

Se uma pessoa possuía trinta pontos em “Força”, isso significava que a sua força seria multiplicada por trinta, ou seja, quanto mais forte ficasse, mais o multiplicador faria efeito.

Foi apenas uma pincelada, mas foi suficiente para aumentar o senso comum do nove.

Plac Plac.

Caminharam por alguns minutos ao som da doce voz de Linda falando sobre trivialidades.

O salão no andar térreo estava quase deserto, já que os moradores abrigavam-se no porão por conta do frio. 

Brain e Amélia, de rostos sonolentos, aguardavam o grupo em uma das mesas. 

Elsie dormia com a cabeça apoiada no balcão, ela ficou exausta após curar tantas pessoas, ou pelo menos foi isso que ela disse, apesar de Kurone ter a impressão que ela estava sempre com muita energia. 

Segundo a empregada, o mais difícil foi curar o braço de Amélia, por sorte, ela contou com a ajuda de Kurone — alguém com conhecimento em medicina para criar um gesso improvisado e fazer recomendações médicas.

— Kurone! Rory! — Amélia os saudou com o braço engessado.

— Roryjinha! — Ao escutar o nome da loli arrogante, Elsie levantou-se rapidamente, despertando de seu sono profundo. Foi ao encontro da garotinha, como um cão após perceber seu dono chegando em casa. 

— Um segundo… — Linda pegou um objeto do outro lado do balcão. — Normalmente, os novatos pagam para saber qual a sua Classe e ver seus atributos, mas hoje vou fazer uma consulta de graça, como agradecimento pela ajuda na batalha.

“Agradecimento”? Os orcs não teriam atacado a vila se Kurone e Rory não tivessem destruído o portão, mas isso não importava mais.

O objeto dourado nas mãos da mulher se assemelhava a uma máquina de tipografia, no centro, havia um espaço para pôr a mão e ao lado, uma alavanca. O que adornava o alto era uma esfera azul.

— Você primeiro.

Kurone pôs a mão em cima da máquina. A mulher abaixou a alavanca e o som das engrenagens começando a funcionar foi ouvido. 

Um papel saiu por baixo da máquina, escrito em caracteres desconhecidos para o jovem — pareciam caracteres romanos. Era similar a um recibo que saia da maquininha de passar cartão no fim da compra. Linda apanhou o papel e começou a ler correndo os olhos, com a naturalidade de quem fazia isso todo dia. 

— O seu trabalho é… — A mestra de guilda olhou de relance para o garoto e depois voltou a atenção para o papel. 

Brain e Amélia esperavam a resposta ansiosamente. Ao nível de curiosidade, algo que Kurone conheceria no futuro, as Classes das duas eram respectivamente: Encantadora e Cocheira. Diferente de “cocheiro”, “empregada” não era um tipo de classe naquele mundo, era simplesmente um trabalho comum. Os condicionantes para algo ser considerado Classe ou não eram desconhecidos.

— A sua Classe é… Missionário?!

Ehh? — os três gritaram, até Linda parecia confusa. 

— O que seria “Missionário”? É tipo uma Classe rara?

Hmmm… digamos não é uma Classe que se vê todo dia, normalmente você encontra Missionários entre as autoridades religiosas da capital, também conhecido como os “Emissários da Deusa”. Pegue.  — A mulher entregou um cartão que saiu da máquina e Kurone passou esse objeto para Brain. A empregada traduziu os caracteres para o jovem, nele estavam listados seus status, o papel era rudimentar, mas se fosse para colocar os dados em um cartão de personagem de RPG, ficaria assim:

Nome: Kurone Nakano 

Idade: 20 anos

Sexo: M

Classe: Missionário 

Atributos: 

Força: 69             Mana: ???

Defesa: 81             Resistência: 115 

Técnica: 10           Velocidade: 15 

Habilidades: 

[Oração], [Fortalecimento de Corpo], [Exorcismo], [Compartilhamento de Mana], [AutoRecuperação], [Fé]

— Algo que me chamou a atenção… — começou a mestra da guilda — é que, pelo que sei, “Fortalecimento de Corpo” e “Compartilhamento de Mana” não são habilidades naturais de um Missionário. 

— Quantas habilidades inúteis — Rory comentou. 

— Consegue ler esses garranchos? 

— Claro. Agora sai da frente que é minha vez. — A loli arrogante empurrou o jovem de espírito abatido e pousou a mão sobre a máquina. Linda abaixou a alavanca e outro papel saiu de dentro do objeto, dessa vez maior que o de Kurone.

— Quanto papel...

— E-espera! — a mestra de guilda gritou.

O som de engrenagens intensificou-se, a qualquer momento aquela máquina provavelmente explodiria. O papel não parava de sair. Linda levantou a alavanca rapidamente antes de queimar a máquina — o objeto não parecia ser tão barato e fácil de se conseguir.

— Então, qual a minha Classe? — Rory falou, sem se importar com a quantidade de papel que saiu da máquina e espalhou-se pelo chão. 

— S-sua C-Classe é… Mercenária?!

— Mercenário? Que droga, não parece legal, só estou decaindo a cada vez… — comentou a garotinha.

Mercenário. Nos jogos, era uma classe de guerreiros que prestavam serviços partindo de um valor ou salário previamente combinado. Tendo dinheiro envolvido, eles topavam tudo. Resumidamente: eram ladinos de elite. 

Era de se esperar algo assim vindo de Rory. 

O cartão da garotinha era quase ilegível na parte de habilidades e quase todos os atributos tinham três dígitos, exceto por um:

Nome: Rory Nakano 

Idade: ??? Anos 

Sexo:

Classe: Mercenário 

Atributos: 

Força: ???              Mana: 50

Defesa: 999             Resistência: ???

Técnica: 999           Velocidade: 999 

Habilidades: 

[Compartilhamento de Mana], [Invocação de Armamento], [Bolso Espacial], [Magia Explosiva XVI], [Flutuar], [Visão Distante], [Furtividade], [Invasão Mental], [???], [Drenar Vitalidade], [Persuasão], [Resistência a Debuffs], [Magia Demoníaca], [corpo Resistente XXX], [???], [Tradução III], [Detecção de Inimigo II], [Drenar Mana V], [Precisão IX], [???], [???], [Magia de Cura II], [Ocultar Aura], [Intuição ???], [???], [???]/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/[Erro???]

— “Rory Nakano”? Vou ter que discutir com aquilo sobre esse sobrenome… — Rory olhou para Kurone com o canto dos olhos.

— Caralho, você é roubada demais! — gritou o jovem. 

Todos no salão ficaram surpresos. 

— I-isso é impossível! Nunca vi ninguém tão forte assim na vida! — Amélia exclamou, lendo e relendo os atributos da garotinha. — Nem os membros do clã Sophiette…

— E-essas habilidades, eu nunca ouvi falar nem de metade, e tem algumas que nem a máquina consegue identificar. — Linda comentou. 

“Droga, essa loli vai estragar tudo.” A preocupação tomou conta do jovem. 

Precisava mudar o foco do assunto rapidamente, mas era difícil ignorar os status monstruosos de sua companheira. Por que ela fez isso mesmo sabendo que algo assim aconteceria? Ela gostava do caos?

— Essa máquina não está quebrada? — Brain perguntou, sem acreditar no que seus olhos presenciavam. 

— Eu garanto que não! — Linda disse, segurando a máquina. — Tenho que notificar isso à guilda da capital.

“Ferrou!” 

Se ela notificasse algo tão extraordinário à capital, seria questão de tempo até Rory tornar-se alvo das elites. Uma arma militar? Um herói que poderia derrotar o Rei Demônio ou um subordinado dele? Eram infinitas as possibilidades e, na melhor das hipóteses, a dupla teria que fugir do reino até a poeira baixar. 

Por sorte, até onde sabia, aquele não era um mundo globalizado como a Terra, não se tornariam trend no twitter ou notícia principal do plantão da meia-noite.

O som da materialização do fuzil já era reconhecido pelos ouvidos do jovem. Rory apontava o fuzil em direção à mestra de guilda.

— Vamos manter isso em segredo, certo, peituda?

— Q-quê?! — Linda congelou instantaneamente. Os olhos bonitos arregalaram-se. — C-calma, não precisamos ser tão precipitados… E-escute… eu não posso ignorar o que acabou de acontec…

Bam! Um tiro do fuzil passou zunindo pelo cabelo volumoso da mulher e acertou a quina do balcão. Era um aviso, não haveria outro.

— Vamos manter isso em segredo, e não estou aberta a negociação — Rory disse em tom sério, ainda apontando o fuzil para Linda.

A mestre de guilda tentou manter-se firme, mas sabia que era impossível persuadir a garotinha. Estava em um impasse, mas, de preferência, preferia sair viva dessa negociação. 

A mulher olhou para Kurone, em busca de ajuda, mas ele virou o rosto para o outro lado. O garoto estava do lado de Rory, não podia arriscar expor a companheira para o mundo e desviar-se ainda mais de seu objetivo, que ficou um pouco mais claro.

E daí que ela poderia matar o Rei Demônio com um único headshot?

Desde o início, só concordou em vir para esse mundo a fim de cumprir sua missão e retornar ao Japão. 

O Rei Demônio não era um nobre lolicon — não que ele soubesse —, logo não era alvo do jovem. 

Brain, Elsie e Amélia também concordavam com a ideia de não relatar nada à capital. Ninguém de lá gostava daquelas terras ou do marquês que as governava, seria bom ter Rory só para eles, a garotinha seria útil em batalhas como o ataque dos orcs.

— De qualquer modo, será questão de tempo para ela ser descoberta, e a guilda capital vai cair em cima de mim quando isso acontecer! Há um histórico bem grande sobre talentos sendo ocultados e mestres de guildas decapitados por isso! — Linda gritou com os olhos lacrimejando.

— Não se preocupe, podemos subornar todos — Rory disse de maneira arrogante, esquecendo-se do fato de não ter um tostão. O jovem tentou falar isso, mas uma olhada furiosa da garotinha fez ele ficar em silêncio.

— Tudo bem... não vou notificar nada… — A mulher amassou o papel que estava no chão.

— Acho bom. — A loli delinquente desmaterializou o fuzil.

— Ei, quem são eles?! — Kurone gritou ao ver “eles”.

Antes de outra conversa iniciar-se, seis pessoas adentraram à guilda, todos de mantos pretos com capuz, passaram direto pelo balcão da guilda, sem falar nada aos que os observavam. Rory franziu o cenho para os estranhos.

— Ei, estão tendo uma reunião lá em cima — Linda tentou avisar, mas parou ao ver Edgar, da escada, sinalizando que podiam subir.

— Quem eram aqueles?

O silêncio foi a resposta de todos, nem mesmo a mestra de guilda esperava estranhos encapuzados no prédio, porém eles tinham postura de nobres.

◈◆◇◆◇◆◈

Quatro horas depois, Edward e Sophia estavam de volta. 

Os homens encapuzados saíram em fila sem dizer mais nada e o marquês os acompanhou até o lado de fora da guilda. Nesse momento, eram sete homens encapuzados — um deles tinha chegado atrasado e usava um manto diferente.

Todos no andar de baixo dormiam em sono profundo. 

Os homens passaram vagarosamente, com cuidado para não acordar ninguém, mas nada passava despercebido dos sentidos aguçados de Rory. A garotinha levantou-se e acompanhou os nobres pelas sombras.



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