Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 1

Capítulo 15: Acusações Graves Que Não Deixam de Ser Verdade

Dezessete crianças desapareceram no total, todas meninas, com idades entre doze e quatorze anos. 

Aquele acontecimento deu a Kurone um norte de qual era a sua missão naquele mundo. 

“O ataque dos orcs foi meramente uma distração…” Porém, “meramente” não era uma palavra que podia descrever o evento. Hordas de orcs infindáveis, morte de guardas e aventureiros e ainda o aparecimento do “chefão”.

Alguém planejou tudo aquilo para distrair todos e sequestrar garotinhas sem ser notado. Que tipo de mente maquiavélica planejaria algo assim? 

Claro que Kurone não pensou naquilo sozinho, todos os presentes ali chegaram na mesma conclusão: havia um culpado por trás do sequestro e esse foi a mesma pessoa que, de alguma maneira, atacou a vila com orcs. 

O jovem refletia em silêncio na cadeira de madeira.

Era noite do dia do ataque. 

Naquele momento, Kurone e a loli arrogante estavam no escritório da guilda, as janelas foram destruídas e ainda havia cacos de vidros remanescentes pelo chão. 

Ocupando as outras cadeiras ao redor da mesa, estavam: Sophia, o "cavaleiro negro"; Edward, o marquês daquelas terras; Linda, a mestre de guilda; Orcus, o líder dos guardas e Ana, a aventureira com trabalho de bruxa. 

Uma cadeira estava vazia.

Todos os presentes ali tiveram um papel importante para salvar a vila. O marquês Soul Za mandou um mensageiro à capital, a princesa regente recebeu a mensagem e pagou a Sophia para ajudar na subjugação dos orcs e resgate dos moradores. 

Orcus liderou os guardas trazidos pela marquesa Sophiette, Linda acalmou os moradores refugiados na guilda e Ana empatou com Sophia e Rory no número de hordas abatidas.

— Pensei que fosse uma reunião restrita, por que essa pirralha está aqui? — Rory comentou, olhando para a antiga inimiga.

— Pirralha? Olha quem fala! — protestou Ana.

Se elas estivessem em um desenho animado, poderiam ser vistos raios saindo dos olhos de ambas.

— Pode não parecer — Linda interveio —, mas Ana é a aventureira com a classe mais alta nessa vila.

Rank B. Pelo que Edgar explicou, a classificação dos aventureiros iam de "F" até "S" normalmente, mas, em países mais desenvolvidos, podiam ser vistos raros aventureiros Rank “SSS” perambulando pelas ruas.

— Sem falar de que Ana ajudou muito na luta contra os orcs, sem ela e seu grupo, seria impossível lidar com tantos monstros — Linda acrescentou e sentou-se novamente, satisfeita ao ver Rory voltando ao seu assento em silêncio. 

Na verdade, a garotinha tinha os olhos de quem pretendia dizer algo como “essa pirralha é a mais forte daqui? Como esperado desse fim de mundo”, mas optou por ficar em silêncio.

— Acho que a gente tá fugindo do foco aqui… — Kurone comentou ao ver que as garotas ainda se olhavam como inimigas mortais. Era certo que Ana não esqueceu o que aconteceu há alguns dias, quando Rory atacou a vila.

— Concordo plenamente com o senhor Nakano — Edward disse em seu tom calmo e olhos fechados. — Alguém armou este ataque, a julgar pelo planejamento, o culpado vem trabalhando nesse ataque há muito tempo e a brecha que senhorita Rory e senhor Nakano deram foi o suficiente para conseguir seu objetivo.

A ponte estava sendo reparada e os guardas estavam ocupados com a papelada, a segurança foi negligenciada depois do ataque da dupla, supondo que nada mais poderia acontecer.

 — Para invocar orcs tão poderosos, o culpado teria que ser um demônio ou Invocador Rank A… Não! Rank S! Me pergunto se você não tem nada a ver com isso, Ed? — Sophia misturou em seu tom de brincadeira uma acusação grave. 

Edward estremeceu da cadeira onde estava, mas não esboçou nenhuma reação, apenas continuou com o sorriso e os olhos fechados.

— Lady Sophiette, preciso realmente lembrar que a senhorita foi acusada de raptar uma criança das terras do marquês Guller há alguns anos? — Edward perguntou, apesar do tom em que falava e a postura, as palavras eram verdadeiros ataques verbais carregados com citações de verdades obscuras.

Hã?! Então escuta essa, Ed, ouvi falar que o rei vai arcar com a reparação da vila, o pagamento dos soldados e mais um bom dinheiro pelo “seguro” que os nobres têm… bem conveniente para alguém que teve o pedido de empréstimo negado no mês passado, não?

— Não estamos falando de dinheiro, admito que ultimamente minha situação financeira não é das melhores, mas um ataque que deixou tantas vítimas é algo cruel demais de se fazer. — O marquês suspirou e então continuou: — Mas sua trisavó, Lady Sophiette, era uma invocadora, certo? Uma não-Sophys, será possível a senhorita ter herdado as habilidades dela? Ah, acho que não, se você tivesse poder, aquilo em Nova Canaan não teria acontecido…

— Ed, é melhor parar por aí mesmo se não quiser ter a cara destruída como naquele dia.

Ao nível de curiosidade, para aliviar a tensão, Sophia deixou a armadura negra em sua carruagem e, naquele momento, ela usava uma camisa branca e uma calça negra simples, mas no corpo avantajado da garota, até mesmo aquelas peças comuns a deixavam sensual — Kurone “examinava” cuidadosamente a vestimenta.

— Por favor… — Linda tentou acalmar os ânimos.

— Isso é um desrespeito ao senhor Edward!!! — Orcus gritou.

— Até você? — a mestra de guilda suspirou, colocando a mão no rosto em frustração.

— Desrespeito?! Será que desrespeito não é o que os guardas fazem com os civis? Ignorar um pedido de ajuda, fazer o que bem entendem, abusar da autoridade... — Apesar da aparência nobre e delicada, Sophia tinha a língua afiada e uma posição informal em relação a seu título de marquesa.

— Sua…

— Lembre-se que você está na frente da líder do clã Sophiette! Não vou tolerar qualquer ofensa de um reles guarda, que ainda por cima não passa de um capacho do Ed! — Sophia disse irritada. A voz estava alterada, as maçãs do rosto vermelhas e a posição dela era de quem, a qualquer momento, poderia dar um soco em Orcus.

“Ela tá em desvantagem” Kurone sabia, todos os presentes viviam nas terras de Edward e conheciam a dedicação que ele tinha para proteger o povo, ser acusado de fazer qualquer coisa contra esse povo era…

— Por que está irritada, Lady Sophiette? Não me diga que eu a ofendi quando citei aquelas crianças de Fallen que você raptou? Ou talvez seja o que aconteceu com o pobre Aqua naquele dia, em Nova Canaan?...

Sophia deu um soco na mesa, produzindo um “plac” e abrindo um buraco na madeira.

— Ed… lembre-se que essa não é a primeira vez que isso acontece em suas terras.

O garoto olhou para jovem, surpreso com seu apontamento. Já tinha escutado alguém mencionando um ataque de orcs uma vez. Vendo a expressão dele, a nobre continuou:

— Um ataque de orcs há dez anos. Foi a mesma coisa, mas em escala menor. “O povo foi salvo graças ao marquês Edward”, foi o que me disseram, mas quem garante que você não fez de propósito para levar o crédito, na época você também estava em uma situação crítica e recebeu muito apoio do rei… — Sophia declarou, ela estava claramente irritada.

Um silêncio mortal tomou conta da sala. Sophia e Edward encaravam-se, Rory e Ana também, enquanto Orcus olhava feio para a marquesa. 

“Como o clima ficou tão hostil?”

— Isso sempre acontece quando o Edward se encontra com a Sophia… Ahhh... — Linda suspirou.

Os dois ficaram de pé e afastaram-se da zona de guerra verbal.

— Eles já brigaram feio ou algo assim?

— O pai do senhor Edward queria arranjar um casamento para unir as duas casas, na época o marquês ainda tinha dezessete anos e Sophia doze. Ahhhh… se não bastasse rejeitar ele, Sophia o desafiou para um duelo e venceu, pegou as roupas do marquês como prêmio e o coitado teve que voltar para casa pelado…

Pfff… desculpa, mas isso foi hilário… Você conhece muitas histórias dessas terras, não é?

Apesar da aparência jovial, Linda era mais velha que Edward, já estava na casa dos quarenta e poucos anos. Kurone sentiu-se culpado por um momento, ele olhava para a mulher — precisamente para as coxas e busto — de um jeito obsceno.

A pseudojovem mestra de guilda tinha longos cabelos castanhos que chegavam à altura da cintura — de frente, cobria o olho esquerdo —, seios fartos que se destacavam no corpo magro, olhos negros afiados e um sinal preto no queixo.

Diferente dos empregados, mestres de guilda não usavam uniforme. Linda vestia apenas roupas casuais: um vestido branco que parava na altura das coxas grossas e meia-calças. No busto, o vestido tinha um decote com babados que mostravam os flancos dos seios.

— Garanto que ela ganharia facilmente de qualquer jovem da minha cidade… — Kurone murmurou baixinho.

— Ora, ora, safadinho, sou solteira, mas se os rapazes da guilda descobrirem isso, eles podem querer te linchar, já tive que rejeitar tantos pedidos de encontros…

Kurone ficou vermelho como um camarão. 

Ela estava perto, muito perto.

— Se você insiste… eu poderia fazer uma exceção e sair em um encontro com você. — Linda apoiou o dedo indicador no nariz do jovem e aproximou o rosto, sentindo o calor que emanava do rosto dele. Era emoção demais para alguém que até pouco tempo não tinha quase contato com uma mulher fora de sua família.

— Brincadeirinha… — Ela deu peteleco no nariz do garoto. 

"Não brinca com isso, eu quase infartei, desgraçada!"

— Mas quem sabe algum dia desses... — Linda disse em um tom descontraído, mas, ao mesmo tempo, sério.

— Vai se foder! — O grito do guarda chamou a atenção da dupla que flertava no canto da sala.

Orcus levantou-se fumegando de raiva e bateu a porta, Edward encarou Sophia e Rory... estava com o fuzil apontado para bruxa, que por sua vez apontava o cajado para a garotinha.

"Não posso tirar meus olhos de você por um momento que isso acontece…”

— Pronto, pronto, vamos parar com isso — disse Linda enquanto batia palmas, seu rosto ganhou uma expressão assustadora de repente.



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