Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 1

Capítulo 14: Sequestro de Crianças

A clava de madeira cortou o vento e tocou o chão, produzindo um som estridente. Sem magia ou técnicas, tudo que o monstro tinha ao seu favor era a sua força descomunal.  

O orc levantou o rosto, em uma expressão de vitória, mas seus olhos focaram-se no local onde o cavaleiro esmagado estava — ou deveria estar.

Como alguém com uma armadura tão pesada desviou daquela investida poderosa? Todos se questionavam, olhando incrédulos para a cratera, até o “chefão” ficou imóvel, o olfato aguçado parecia não funcionar.

— Aqui, grandão! — Uma voz aguda, abafada pela camada metálica, veio do alto.

Olhando para cima, à procura do seu oponente, o orc deparou-se com o brilho intenso do sol, reluzindo na armadura. Ficou cego por alguns instantes, esses ínfimos instantes foram o suficiente…

Com um “plac”, a espada foi ao encontro da carne do monstro que tentava proteger os olhos da luz ofuscante — se não tivesse colocado a mão, teria sido o seu crânio que encontraria a lâmina mortal naquele exato momento.

Sangue jorrou nos olhos da criatura e, na tentativa de um contra-ataque, investiu com a mão segurando a clava. 

O som seco irrompeu o ar; madeira chocou-se contra metal. A clava pereceu, farpas e pregos espalharam-se pelo ar seco. Sem outra escolha, sacrificar o seu outro braço foi a única maneira de se proteger da investida do cavaleiro.

“As leis de Newton não se aplicam a porra desse mundo?” Era a impressão de Kurone, apenas para ele parecia que se passaram minutos que o cavaleiro permanecia no ar, como se estivesse flutuando com uma armadura tão pesada, mas isso era resultado de seu Aprimoramento Físico dado por Cecily. 

Na verdade, aquilo tudo aconteceu em questão de segundos para os outros. 

Hyaaaaa! — o orc gritou em agonia ao ter seus dois membros cortados pela lâmina negra.

A poeira levantou quando as botas metálicas tocaram e afundaram o chão. 

O cavaleiro impulsionou-se, agachando as coxas no tornozelo metálico até o limite, e arremessou-se para a frente, como se houvesse uma mola em suas botas. 

Dessa vez, nem mesmo Kurone pôde acompanhar a velocidade dos movimentos da armadura negra. Quando se deu conta, ele já estava do outro lado e a perna do orc jazia no chão.

Hyaaaaa! — Outro grito agonizante invadiu os ouvidos de todos. Sem sua perna esquerda, o monstro perdeu o equilíbrio, escorregou no próprio sangue arroxeado e caiu no chão de bruços. Contorcendo-se como uma minhoca, tentou avançar em direção à guilda.

O peso pressionando suas costas largas, como um prego, fê-lo parar. 

O cavaleiro negro pulou em cima do monstro e, sem perder tempo, penetrou a espada no pescoço e a arrastou até perto dos quadris, arando as costas do gigante com a lâmina negra.

— Acabou!

Como golpe de misericórdia, pulou de onde estava até a nuca do orc. Usando a ponta dos pés como uma furadeira, ele girou e destruiu o crânio do monstro, assim como ele fizera aos seus companheiros. Em instantes, ao ver que o seu líder estava morto, os outros monstros começaram a correr desesperados.

O olhar dos espectadores foi voltado ao cavaleiro que fazia uma oração aos seus companheiros falecidos. 

Rory desceu do prédio da guilda com um salto e foi em direção a Kurone. Os moradores saíram de dentro do salão e procuraram seus familiares. 

Amélia apareceu com um braço machucado, ela foi arremessada pelo monstro e, por sorte, caiu em cima de uma barraca de legumes. "Ah, as manchas vermelhas são de tomate…"

O som do metal pesado indo em direção a eles interrompeu o reencontro. Rory ficou em guarda quando o cavaleiro ameaçou aproximar-se.

— Como pode apontar uma arma para o homem que salvou a nossa vida, loli desgraçada?!

— Não sabemos o que ele pretende fazer — Rory disse em tom frio.

O cavaleiro parou ao ver a garotinha arisca apontando uma arma estranha para ele. O homem largou a espada gigante no chão e colocou as mãos no elmo, tirando-o lentamente.

 — Ehh!? — os três gritaram em espanto.

Debaixo do elmo negro e pesado, não estava um homem barbudo mal-encarado com cicatrizes ou um feiticeiro morto-vivo, na verdade, era uma jovem, em torno dos seus vinte e poucos anos, cabelos rosa-claros curtos e um sorriso tingido de batom vermelho. 

Naquele momento, a cabeça da jovem sem o elmo parecia minúscula em meio a vasta armadura negra.

Ela colocou o capacete debaixo do braço e continuou a andar em direção ao trio. Rory baixou o fuzil, o que indiretamente deu a entender que a jovem podia se aproximar, mas se tratando da garotinha, significava mais algo como: “Hmpf, é só uma mulherzinha, consigo matar sem problemas.”

Amélia estremeceu ao ver o rosto da jovem que se aproximava e se pôs de joelhos no momento em que ela chegou onde estavam. 

— V-você conhece ela? — perguntou Kurone.

— Ela é...

Yo! Permita que eu me apresente. — A jovem, ainda um pouco distante, disse em uma voz energética antes que Amélia pudesse apresentá-la. — Eu sou Sophia! Sophia Sophiette Sophys III.

A garota colocou a mão esquerda sobre o peitoral da armadura e baixou a cabeça, reverenciando os três. 

Um nome comprido, aquilo era sinal de que provavelmente era alguém importante como um nobre, percebendo isso, Kurone ficou de joelhos ao lado de Amélia, apenas a loli arrogante permaneceu de pé, sem demonstrar qualquer respeito à hierarquia daquele mundo — ela fazia o mesmo com Edward. 

Sophiette, aquele sobrenome serviu de gatilho para o jovem relembrar uma memória recente. Foi quando estava preso em interrogatório, Edward perguntou se fora enviado pela “marquesa Sophiette”.

Então, ela era uma pessoa que não devia confiar? Uma inimiga de Edward? Mas por que aquela garota foi ajudar as terras do marquês?

— Pelos deuses, por favor, fiquem de pé! — Sophia disse, o rosto pálido tinha se tornado vermelho.

Kurone se pôs de pé e ajudou a cocheira a levantar-se. Diferente dele, a garota não tinha um fortalecimento de corpo dado por uma deusa, ela não sairia ilesa ao ser arremessada de um local alto, a prova disso era seu braço fraturado. 

Rory olhou de relance para Kurone e levantou mais uma vez o fuzil, era como se ele tivesse dado ordem a ela apenas com o olhar. 

Um frio tomou conta do corpo do jovem, seu coração pareceu parar e, em seguida, voltou a bater incessantemente. “Loli desgraçada, ela pode ler meus pensamentos!”

O jovem confirmou a suspeita que tinha há algum tempo. Sophia levantou as mãos, sem apresentar nenhum sinal que iria lutar. 

— Para com isso, Rory! — gritou, segurando a ponta do fuzil e puxando ele para cima. 

Ambos entreolharam-se por alguns segundos, como se estivessem em uma conversa telepática e, por fim, a loli arrogante cedeu, desmaterializando o fuzil, tudo o que restou foram apenas partículas azuis no ar. 

— Não precisa se preocupar, eu não vou fazer nada com vocês — Sophia disse, balançando as mãos. 

Ao invés de ira, a garota respondeu em um tom um tanto melancólico, talvez por que a garotinha não confiava nela? Seria ainda pior se ela descobrisse que Rory só fez aquilo porque leu os pensamentos do companheiro.

— NÃO! Por favor, não! — Uma voz chorosa chamou a atenção deles de repente.

Era o grito de uma mulher desesperada saindo de dentro do salão da guilda, ela dava socos sem parar no guarda que não esboçava nenhuma reação. O quarteto seguiu em direção ao local instintivamente.

— O que aconteceu aqui?! — Kurone gritou para a mulher chorando.

Ela olhou para o jovem, a expressão desespero em seu rosto vermelho coberto por lágrimas era de cortar o coração. 

— Minha filha, ela desapareceu! — a mãe chorosa berrou.

“Minha filha desapareceu!” A frase ressoou na mente de Kurone. Onde foi que viu essa cena mesmo? Sim, foi quando Raika — a irmã mais velha entre as três — perdeu-se no shopping. 

A mãe de Kurone entrou em desespero à procura de sua filha naquele dia, os seguranças do shopping a ignoraram completamente e aquilo gerou uma revolta no jovem, que passou a tarde toda procurando a garotinha.

Quando estava prestes a desistir, ele encontrou-se de repente, uma mulher tentava acalmá-la com um sorvete, mas a menina não parava de chorar. Ao ver o irmão, ela o abraçou forte e não largou até chegar em casa. 

Foi naquele dia também que conheceu a senhorita Kanade — a mulher que ofereceu o sorvete a Raika para acalmá-la.

— Ei, escuta, senhora, ela pode estar debaixo dos destroços, só vamos começar a busca depois de amanhã, pare de nos encher — o guarda falou à mãe que olhava para o jovem incessantemente. 

Kurone via nos olhos marejados o desespero, e ela via nele uma esperança. 

— Por favor… eu sei que minha filha está viva… — a mulher choramingou numa voz rouca.

— Não brinca, hyahyahya! 

— Q-quê?

— É impossível! Vai ser uma perda de tempo! Como já disse, todos os sobreviventes estão na guilda… se sua filha não estiver lá, ent—...

“De novo esses oficiais de merda desrespeitando o sentimento alheio!” O jovem cerrou o punho.

— Soldado! — Sophia gritou furiosamente. 

Estava prestes a socar o guarda. Sophia, percebendo a intenção de Kurone, interveio.

— Ei, idiota, não nos cause problemas. — Rory, que assistia toda cena, repreendeu Kurone. 

“Olha quem fala...”

— Nós vamos mandar uma equipe para procurar sua filha. — Sophia tentou acalmar a mulher.

— Senhor Kurone! — Uma voz chamou o jovem. Daquela vez, era Edgar, o mordomo que ficou para ajudar na luta da ponte e, ao lado dele, estava um dos moradores da vila.

— P-por favor, s-senhor... ihhh... me ajude, eu n-não consigo encontrar minha filha… ela estava ao m-meu lado quando o senhor Edgar me salvou… 

“Que diabos é isso?” Dois desaparecimentos, aquilo não era mera coincidência. 

— Kurone, temos problemas! — Brain gritou. 

Ao lado da empregada, estavam duas mulheres com os olhos inchados de tanto chorar. Já suspeitava o que elas tinham a dizer: “Minha filha desapareceu.” 

Após aquelas mães, apareceram mais treze moradores desesperados com a mesma história.



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