Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 3

Capítulo 33: Um mundo para meu filho

— Para onde você vai, meu garoto? — A voz que ecoou ao lado de Hércules o fez olhar de relance no momento exato para desviar da lança que veio em sua direção. Contudo, a arma logo retornou para seu adversário quando ele fez um sinal para puxá-la — Sua batalha não é ao lado do seu pai, sua batalha é aqui comigo.

Hércules sabia que não tinha tempo a perder com aquele titã, mas não havia outra opção a não ser derrotá-lo para seguir seu caminho.

Este era o primeiro adversário que encontrava em meio às batalhas assombrosas que se desenrolariam ao longo do dia. A armadura do titã não permitia que se visse nada de seu rosto, tornando-o um enigma oculto. Seu traje de couro, antes majestoso e protetor, mostrava agora sinais de desgaste, mas ainda possuía a imponência de um guerreiro formidável. Descendo em forma de camisetão até a altura dos joelhos, suas ombreiras eram feitas de escamas metálicas, protegendo seus ombros. Suas pernas eram cobertas por uma armadura semelhante, conferindo-lhe uma aparência temível.

— Palas, ao seu dispor, meu garoto. Apenas me entretenha enquanto matamos seu pai —.

Ele juntou a lança junto ao corpo, curvando-se com sarcasmo, mostrando a Hércules que, se não se preparasse, sofreria o primeiro golpe.

— Se você insiste tanto em querer morrer, por mim, tudo bem — Hércules suspirou, pois sabia que levaria tempo para chegar até seu pai. No entanto, tinha convicção de que, mesmo envelhecido, Zeus ainda emanava aquela aura que uma vez havia derrotado as sombras, e agora não seria diferente.

Com um movimento rápido e preciso, Hércules bateu punho com punho dos braceletes em suas mãos. Como se fosse um mecanismo autorreconstrutivo, pedaços de metal surgiram em resposta, de uma forma quase miraculosa, cobrindo toda a extensão de suas mãos. O metal brilhava intensamente, refletindo a luz que vinha dos piras ao redor, dando um aspecto impressionante à cena.

Na mão direita, a figura de um leão era claramente delineada, com suas garras afiadas prontas para o combate. Cada detalhe esculpido com maestria, do focinho ao crânio majestoso, transmitia uma sensação de força e poder imensuráveis. Já na mão esquerda, podia-se admirar a representação de um cachorro extremamente raivoso, suas presas à mostra e olhos ferozes, pronto para atacar a qualquer momento. A riqueza de detalhes nas garras e pelos do cachorro conferiam uma autenticidade surpreendente àquela criação divina.

Os braceletes em suas mãos pareciam se fundir com seu próprio ser, como uma extensão natural de sua personalidade e força. A cada movimento, o metal emitia um brilho reluzente, como se estivesse vivo. Era como se Hércules tivesse o poder de invocar essas criaturas mitológicas para auxiliá-lo em sua luta contra Palas, o titã arrogante.

Agora, o filho de Zeus estava preparado para enfrentar seu adversário. As criaturas de metal em suas mãos pareciam ansiosas para entrar em ação, prontas para proteger tudo que Hércules havia construído e amava. Ele estava determinado a fazer o que fosse preciso para garantir a segurança de seu pai, de Elysium e, acima de tudo, de sua família. Seu olhar destemido revelava a determinação e coragem de um verdadeiro herói divino.

— Vamos ver se terás essas palavras estampadas em seu rosto depois que eu terminar com você — Disse Hércules, socando suas duas mãos, fazendo todo o chão ao redor deles tremer.

Em outro lugar, Ares já parecia ter levado alguns golpes enquanto tentava entender para onde tinha sido levado. Observou que não estava mais no palácio de seu pai. Enquanto tentava recuperar sua visão, percebeu que já estava sob ataque. A última coisa que se lembrava era de ter pegado sua lança e seu capacete antes de correr para a saída do palácio.

— Seu covarde! — Disse Ares, abrindo um sorriso por detrás daquele grande elmo dourado. O capacete tinha uma abertura em T no centro, que permitia mostrar um pouco do rosto do bem-aventurado, mas ao mesmo tempo, permitia que seus inimigos vissem a satisfação em seu rosto quando eram mortos por ele — Você nem esperou eu entender o que estava acontecendo.

— Como se você não fosse fazer a mesma coisa se tivesse a oportunidade — A voz de Tártaro arranhou o ar para chegar até os ouvidos de Ares. Essa era a melhor definição para o que o bem-aventurado ouviu da sombra; a sensação de ouvir sua voz era a mesma de escutar alguém arranhando uma lousa. Se o filho de Zeus não tivesse visto coisas piores durante todos esses anos como líder do exército de Elysium, ele teria se espantado com o que ouviu. No entanto, a única coisa que conseguiu fazer foi rir da fala de seu oponente.

Tártaro tinha seu corpo envolto em um tom extremamente escuro, tão profundo quanto a mais obscura das noites sem luar. Careca, as veias avermelhadas e fluorescentes percorriam todo o seu corpo, como se em vez de sangue, fosse o puro magma que circulava por suas veias. Ares podia sentir o calor emanando do corpo sombrio mesmo de longe. Seus olhos eram totalmente negros, como um eclipse sinistro. O mais assustador para Ares era que a cada passo que o titã dava no campo de batalha, a própria terra parecia pegar fogo sob seus pés.

— Muito bem, muito bem — Ares disse, levantando-se do buraco que havia sido feito na parede quando foi arremessado ao chegar ao local. Estavam nas costas de uma montanha, um deserto por todos os lados onde havia sido enviado — Você tem razão, mas apenas fique atento, porque essa será a última vez que me pegará desprevenido.

Ares abaixou a parte de cima de seu traje, revelando seu corpo musculoso. Desprendeu o medalhão do peito, que tomou a forma de um escudo com uma espada cravada nele. O bem-aventurado apenas bateu sua lança em seu escudo, mostrando que estava pronto para a luta.

Em outro canto remoto, uma sombra e uma bem-aventurada travavam uma batalha. Mesmo à distância, as duas mantinham o equilíbrio da luta:

— Vamos ver, a partir de hoje, quem será a representante da lua aqui em Elysium, Ártemis —

Quem falou isso para a bem-aventurada era uma criatura com a personificação de uma mulher humana. Seus cabelos eram brancos como a cor da lua, com uma coroa de louros em volta da cabeça na cor lilás. Carregava consigo uma lança, mas em vez de algo afiado, podia-se ver um fogo na cor branca. Seu traje era um vestido branco na altura dos joelhos, e seus pés estavam descalços. Naquele momento, expressava um sorriso extremamente macabro.

— Isso será ainda melhor, Febe! — Disse Ártemis enquanto o sangue escorria de sua testa. A bem-aventurada tentava limpar o que atrapalhava sua visão, mas o que tinha chegado em seus lábios ela simplesmente havia lambido, mostrando que não era só Febe que estava empolgada com a luta entre as duas. Segurando seu arco e flecha de gelo em suas mãos, ela daria seu ultimato para a titã.

— Vamos ver do que você é capaz de fazer, sua ultrapassada! — Se Ártemis estava empolgada com sua luta, podia-se dizer o mesmo sobre seu irmão gêmeo, Apolo. Seus olhos estavam literalmente pegando fogo de empolgação enquanto travava seu arco no alvo várias vezes, fazendo de Hélio sua mira:

— Que saco! — Murmurou Hélio, reclamando da situação em que estava e procurando um lugar para se esconder.

— De todos os bem-aventurados para enfrentar, eu tinha que encarar logo esse doido do Apolo. —

O titã tinha cabelos ruivos que desciam até a altura de seus ombros. Possuía um cavanhaque e um bigode bem ralo, mostrando que não se importava muito com sua aparência. Suas roupas eram de um couro claro, e suas botas não tinham nada de especial, mas de alguma forma, parecia que aquilo o protegia muito bem.

— Venha, Hélio! Por que se esconder de mim? Os antigos não diziam que você era a manifestação do sol no meio de nós? Por que está correndo de mim agora? — Apolo dizia aquilo, debochando de Hélio sobre as histórias contadas sobre a sombra, enquanto flecha atrás de flecha chovia em sua direção.

— Vamos, ó grande sombra, eu mostrarei para você o que é a verdadeira manifestação do sol — Em outro canto de Elysium, Hera olhava para seu duelo de uma forma desprezível. Não reconhecia a pessoa na sua frente, nem como uma parente e nem em força.

— Se você sair da minha frente e me permitir juntar-me ao meu marido, eu, como a representante da família de Elysium, prometo que sua morte não será dolorosa, Têmis — Essas foram as únicas palavras que Hera conseguiu enfatizar para a titã que estava à sua frente desde que havia chegado até aquele local e dado de cara com a sombra.

— Nossa, como ela é ousada! Quem te ensinou isso? A raiva acumulada de todas as vezes que Zeus te traiu? — A voz de Têmis soou como um chicote, atingindo a moral de Hera, que estava naquele momento mais para desestabilizar a bem-aventurada do que para causar dano físico.

Têmis era uma figura ainda presente dos tempos remotos, quando os titãs governaram Elysium, e ainda permanecia como uma bem-aventurada desde que os titãs caíram perante os poderes de Zeus. Mas agora que eles estavam livres e mais fortes do que nunca, ela mostrou suas garras, voltando atrás e ficando ao lado das sombras.

A sombra tinha cabelos platinados que desciam até sua cintura, usava um vestido branco e carregava uma espada para lutar, além de uma balança como escudo. O mais surpreendente em Têmis era que ela era cega; no lugar da visão em seus olhos, havia um véu da mesma cor de seu vestido branco. Ela também usava um cinto na cintura onde colocava sua espada quando não estava lutando, mas como representante da justiça em Elysium, ela era afiada em todas as formas.

Hera, fria como o gelo, nem reagiu às provocações de Têmis. Ela simplesmente pegou seu pequeno cetro em sua mão e o lançou ao chão. Subitamente, um pavão azul surgiu, revelando um poder específico que apenas a bem-aventurada conseguia utilizar. Sem se importar com as provocações da sombra da justiça, Hera disse:

— Você se arrependerá de ter tido essas palavras — Em plenos vulcões de Elysium, um senhor e um jovem travavam uma batalha intensa.

— Não acredito que meus pais me colocaram para lutar contra uma aberração como você — A voz do jovem tentava ferir os sentimentos de Hefesto, mas para o bem-aventurado, aquilo era apenas mais um dia ao lado de sua esposa Afrodite — Sua feiura estraga esse dia que era para ser especial. Ver você na minha frente torna este grande dia um verdadeiro desprazer para mim.

Ao contrário do filho de Zeus, o titã que estava à sua frente parecia ser mais filho de Hera e do rei do Olimpo do que ele próprio. Seus cabelos loiros se iluminavam com o reflexo do sol, e naquele ambiente, seus olhos verdes ganhavam ainda mais destaque. Seu corpo era todo definido, parecido com o de seus irmãos Hércules e Ares, enquanto Hefesto, por outro lado, também era forte, mas não tão musculoso como seus irmãos.

— Sabe de uma coisa, Eos? Eu sou tudo isso mesmo, e por mais que seja uma pessoa completamente omissa perante minha esposa, meus pais e irmãos, quando se trata de inimigos tentando destruir aquilo que construí com as minhas próprias mãos, as coisas começam a tomar outro rumo para mim — Hefesto tirou um dos anéis de seu dedo, e o mesmo se transformou em uma máquina com a aparência de um fole — Você pode tirar sarro de mim o quanto quiser, mas jamais deixarei que destrua aquilo que construí para meu filho!

Fim do capítulo!

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