Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 3

Capítulo 32: Caos em Família - Parte 02

A voz de Hefesto ecoou por toda a sala, mesmo ele mal conseguindo falar por ser tão retraído. Os olhos de todos se fixaram nele, curiosos e expectantes, mas ao vermos sua fisionomia, percebemos que ele não se encaixava nos padrões divinos do Olimpo de Elysium. Sua fisionomia destoava, desprovida de beleza, marcada por queimaduras resultantes do árduo trabalho em forjas para criar as mais incríveis armas para seus irmãos e parentes. Arco de Apolo, lança de Athena, luvas de Hércules – todas geradas por suas mãos inchadas e repletas de cicatrizes.

Seus olhos castanhos revelavam a intensidade de sua alma, mas havia um detalhe peculiar que atraía a atenção de todos: eles não eram nivelados. Enquanto o globo ocular esquerdo repousava na altura do nariz, o direito ocupava o lugar onde um olho normalmente estaria. Tal anomalia era visível ao observar o filho de Zeus, acrescentando singularidade à sua aparência.

Apesar de sua condição física, Hefesto não se importava com a própria imagem, desde que pudesse continuar forjando armas formidáveis para seus entes queridos. Seu talento era reverenciado por todos, e isso o preenchia de orgulho, exceto por uma bem-aventurada: sua esposa, Afrodite.

Embora acostumado a atrair olhares inadvertidamente, Hefesto sentia uma pontada no coração toda vez que sua esposa o ignorava em público. Afrodite se recusava a encarar o filho de Zeus, o que machucava profundamente o bem-aventurado ferreiro.

— Isso mesmo, filho — Respondeu Zeus, levantando-se da cadeira com fúria contida — A última vez que tivemos alguma notícia de Ismael foi quando ele debandou dos guardiões, levando sua discípula.

Sua mão socou a mesa com força, e faíscas irromperam, refletindo a raiva que dominava o líder do Olimpo.

— Aquele egoísta disse para nós, na época, que éramos uma farsa em proteger a humanidade, que não ligávamos para eles, por isso nos abandonara.

— Mas você não nos trouxe aqui para reclamar do passado, certo irmão? — Poseidon foi direto ao assunto, sua figura imponente refletia o poder que comandava sobre os mares de Elysium. Já estava claro a quem Zeus dava mais atenção, não por preferência, mas porque Poseidon sempre fora o mais reservado entre os irmãos.

— Sim, eu já ia chegar nesse assunto —.

Respondeu Zeus, demonstrando leve irritação pela impaciência de Poseidon.

— A missão de Athena é de suma importância, ela está sendo aguardada por todos os líderes das dimensões, mas ela não está sozinha, ela partiu em missão com Gilgamesh, com o poder do garoto e da garota, podemo–

Entretanto, antes que Zeus pudesse continuar sua fala, Ares irrompeu na sala com uma entrada arrebatadora, chamando a atenção de todos os presentes. As portas foram estraçalhadas com o impacto, ecoando o poder do bem-aventurado líder de toda a frota de guerra de Elysium.

— Pai, de alguma forma, o selo do Tártaros foi quebrado, os titãs estão marchando contra nós nesse exato instante. —

Ares declarou, sua voz carregada de urgência e determinação.

O bem-aventurado líder da frota de guerra de Elysium era quase uma cópia de seu irmão Hércules. No entanto, em vez de cabelos ruivos, Ares ostentava uma cabeleira loira, complementada por seus olhos verdes penetrantes. Seu traje, equivalente ao de seu meio-irmão, era de um vermelho intenso como sangue, uma cor escolhida para evitar lembranças do sangue de seus inimigos respingando sobre ele. O fecho de suas vestimentas era adornado com um medalhão dourado que ostentava uma espada, posicionada com orgulho no lado esquerdo de seu peito.

Zeus se levantou da sua cadeira e foi até a janela mais próxima de seu assento. Enquanto ele ficava de pé, todas as tochas que deveriam iluminar o salão à noite foram acesas repentinamente, lançando um sinal claro de perigo. Ao chegar à janela, o rei do Olimpo observou em apreensão enquanto piras e mais piras começavam a arder em chamas por toda Elysium. Cada uma dessas piras elevava-se majestosamente, lançando fagulhas brilhantes que dançavam no ar como estrelas cadentes. A luz das chamas refletia-se nas paredes do palácio, pintando-as em tons quentes e intensos, envolvendo a atmosfera com um espetáculo ardente.

Soldados se moviam freneticamente, suas armaduras reluzindo à luz das piras, como guerreiros flamejantes em meio ao caos iminente. A agitação era palpável, cada um ciente do peso de sua responsabilidade em proteger Elysium e o Olimpo dos titãs que se aproximavam. Algumas tochas foram erguidas pelos soldados, criando uma barreira elemental que parecia pulsar com poder.

Enquanto isso, o horizonte, antes sereno, agora se tingia de escuridão, anunciando a chegada iminente dos titãs. A visão daquele exército colossal avançando em uníssono, suas sombras se estendendo ameaçadoramente, fez com que o coração de Zeus acelerasse. Era uma imagem que ecoava tempos ancestrais, uma lembrança dos confrontos épicos travados em eras passadas.

O rei do Olimpo manteve-se na janela, observando a batalha iminente que se desenrolava diante de seus olhos. Sua expressão séria e determinada refletia a gravidade do momento. O destino de Elysium e do Olimpo estava prestes a ser moldado, e Zeus, com seu olhar penetrante, sabia que a responsabilidade recaía sobre seus ombros divinos.

O som de uma trombeta ecoou pelo ar, e todos os presentes à mesa compreenderam o que estava acontecendo. Levantaram-se rapidamente, dirigindo-se aos portões do palácio e empunhando suas armas. Hércules entregou o Raio de seu pai a Zeus, e em vez de apenas agradecer, o líder dos bem-aventurados abraçou seu filho. O gesto foi interpretado como um pedido de desculpas e, ao mesmo tempo, como uma despedida.

O palácio de Zeus erguia-se majestosamente no topo da montanha mais alta de Elysium, conhecida por todos como Olimpo. Sua grandiosidade imponente dominava a paisagem, alcançando os céus com torres altas e paredes impenetráveis. A montanha, coberta por um manto verdejante e repleta de árvores centenárias, servia como base sólida para o palácio celestial.

Os degraus que conduziam à entrada principal do palácio eram feitos de mármore branco, polido a um brilho deslumbrante. Ao serem percorridos, cada passo emitia um som suave e melodioso, como se o próprio palácio cantasse uma recepção honrosa aos seus visitantes. À medida que se aproximavam do átrio principal, os convidados eram saudados por estátuas de bem-aventurados e heróis, esculpidas com uma perfeição impressionante.

As colunas que sustentavam o teto do átrio eram adornadas com relevos detalhados, retratando cenas de mitos e lendas que povoavam o imaginário dos bem-aventurados. As sombras projetadas por essas colunas pareciam dançar, ganhando vida própria à luz das tochas que as cercavam.

Ao entrar no palácio, os visitantes eram recebidos por corredores amplos e suntuosos. Revestidos de mármores preciosos, os pisos refletiam os raios solares que penetravam pelas janelas altas, criando um espetáculo de cores que se mesclavam harmoniosamente. Pinturas e tapeçarias decoravam as paredes, retratando os momentos mais memoráveis da história dos bem-aventurados, contando as lendas que permeavam o Olimpo há milênios.

Em cada canto do palácio, encontravam-se esculturas que personificavam a beleza e a grandeza dos bem-aventurados. Suas formas esculpidas com perfeição eram tão vívidas que quase pareciam ganhar vida. Estátuas de mármore, com expressões serenas ou imponentes, pareciam observar cada movimento dos visitantes, como se fossem testemunhas silenciosas dos acontecimentos divinos.

As portas que levavam aos aposentos privados de Zeus eram feitas de ébano trabalhado com detalhes de ouro, cravejadas de joias preciosas que cintilavam ao menor raio de luz. Ao abrir-se, revelavam um interior majestoso, decorado com tapeçarias luxuosas e móveis finamente entalhados.

No centro do palácio, um salão principal se estendia magnificamente, com um trono de ouro maciço situado em seu topo. O brilho cintilante do trono contrastava com o piso escuro do salão, refletindo o poder e a glória de quem ali reinava. Era o lugar de Zeus, o rei dos bem-aventurados, onde tomava suas decisões divinas e governava com sabedoria sobre os destinos de todos os seres que habitavam o Olimpo.

O palácio de Zeus no cume do Olimpo era um verdadeiro santuário dos bem-aventurados, um lugar onde a magnificência e a divindade encontravam sua morada, e sua visão imponente inspirava respeito e reverência em todos que tivessem a honra de adentrar seus salões sagrados.

Ali residiam todos os grandes bem-aventurados, exceto Hades e Poseidon, que preferiam viver em outros locais. O palácio era um espetáculo de mármore branco por todos os lados, resplandecendo sob a luz do sol ao meio-dia. Os habitantes de Elysium que vislumbravam a montanha não podiam deixar de se prostrar perante a magnitude daquele monumento.

No abraço entre pai e filho, Hércules percebeu que, para Zeus, tudo o que construíra parecia ser um castelo de cartas prestes a ser destruído por seu avô. Pelas histórias que ouvira de seu pai e tios, Cronos não pouparia uma única pedra de mármore daquele palácio. Apesar de encontrar Vinícius, o guardião de Elysium, insuportável em algumas ocasiões, o bem-aventurado sabia que podiam contar com ele em momentos como esse, ainda que lidar com ele fosse complicado às vezes.

Os dois se separaram enquanto Zeus foi terminar seus preparativos para a guerra. Hércules cruzou os portões do palácio correndo; portões majestosos de cristais de vidro que se erguiam a quase 4 metros de altura, enquanto o chão era revestido de granito, formando ladrilhos espelhados que refletiam a grandiosidade do castelo.

Contudo, a concentração dos demais irmãos e tios em proteger Elysium e o Olimpo foi tamanha que eles não perceberam o óbvio: as sombras não permitiriam que eles controlassem os rumos da guerra.

Após cruzar os portões do palácio de seu pai, Hércules foi enviado para um canto remoto de Elysium. Nesse instante, o bem-aventurado, que não havia participado da guerra enfrentada por seus tios, sentiu verdadeiramente o arrepio causado pelos poderes daqueles que um dia governaram aquela dimensão.

O jovem herói foi afastado de seu pai e, de alguma forma, sabia que as sombras pretendiam eliminá-lo. Todos os filhos e irmãos foram enviados para longe de Zeus, caindo exatamente na armadilha preparada por Ismael. A única maneira de lidar com tal infortúnio era correr até o Olimpo e torcer para que seu pai ainda estivesse vivo quando chegasse. Afinal, os titãs, libertos após milhares de anos de aprisionamento, estavam livres para caçá-los.

Fim do capítulo!

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