Volume 3
Capítulo 31: Caos em Família - Parte 01
— Ragnarok —Resmungou uma voz com rouquidão, parecia que pertencia a um senhor com muitos anos de vida — E não é que aquele louco do Odin estava certo.
O senhor tinha cabelos brancos que batiam um pouco abaixo dos seus ombros, a cor era da mesma tonalidade que a íris dos seus olhos, lembrando os eternos campos de neve dos picos mais altos das montanhas. Em sua face havia uma cicatriz que cobria todo o seu rosto, como uma trilha de batalhas épicas que começava em sua testa, passava pelo seu olho esquerdo e morria em seu queixo, como as marcas de cicatrizes em antigos pergaminhos de histórias esquecidas. Sua barba branca, densa e sábia, cobria boa parte da marca deixando sua aparência menos assustadora, como um suave manto de neve que amenizava o impacto de sua face marcada. Ele costumava dizer que era um presente que havia recebido do seu pai para não se esquecer dele, como uma relíquia sagrada mantida em um templo secular. Sua barba era trançada e vinha até a altura do peito, sendo amarrada por uma fita dourada que brilhava como o sol poente refletindo-se nas águas de um lago sereno. Seu manto, uma extensão das montanhas gélidas, era de uma tonalidade de creme que lembrava a brancura da neve pura, e cruzava seu dorso deixando metade dele amostra, revelando a imponência de um guerreiro que já enfrentou batalhas lendárias. Havia um medalhão dourado com um raio que fechava suas vestimentas, simbolizando o poder dos céus que ele detinha, como um relâmpago que corta a escuridão da noite.
— Se você ficar falando sobre isso sua vida inteira, tem grandes chances de você acertar, Zeus — A voz que falava isso era muito mais jovial do que a anterior, mas, ao mesmo tempo, bem mais séria do que a voz humorada do rei de Elysium, o que fez o bem-aventurado mais velho gargalhar.
— Você tem razão, Hades, aquele bem-aventurado de tapa-olho é o mais louco de nós e olha que nós não somos nada normais, olha a situação em que estamos hoje em dia? — A voz de Zeus se direcionou aos 10 bem-aventurados que estavam reunidos junto com ele, destacando a grandiosidade da reunião celestial, como estrelas brilhando em um céu noturno ilimitado. A cara de Hades não era nada contente com aquela piada que seu irmão mais novo estava fazendo, mas se era assim que seu irmão dirigiria aquela reunião, então ele jogaria daquela forma, como um deus controlando os fios do destino com ares de mistério.
Se a roupa de Zeus remetia à luz, os trajes de Hades eram um completo breu, seu manto era do mesmo modelo do seu irmão mais novo, mas o medalhão que prendia sua roupa tinha um bidente, símbolo sombrio que representava sua influência sobre o submundo. Boa parte do seu cabelo estava preso naquele dia em um coque acima da sua nuca e dobrado, deixando partes dos fios pretos soltos em seu ombro, como sombras que escapavam para o mundo exterior. Seus olhos eram tão escuros que pareciam a própria manifestação da escuridão, emanando mistérios e segredos profundos, enquanto sua pele era de um branco que parecia estar morto, como um espírito pálido que vagava pela noite.
Mas acima de julgar a loucura do seu irmão, Hades o amava, mesmo sendo o mais velho do Olimpo, ele amava todos os seus irmãos e sobrinhos, e por isso parecia que era o mais preocupado naquela reunião. Sua preocupação era como uma névoa densa e misteriosa que envolvia a sala, pairando no ar como uma sombra inquietante.
— Olha só para você, Hades, raptou a minha filha e sua sobrinha, se isso não fosse uma das loucuras mais marcantes de nós e se já não bastasse isso ainda fez dela sua esposa criando o inverno em nosso reino — A fala de Zeus era de provocar seu irmão sabendo da preocupação que lhe afligia — Eu tive que aguentar Deméter me atormentando por vários dias pra saber onde estava a nossa filha.
Deméter permaneceu em silêncio, fria como o inverno, já que essa era a característica que havia assumido após Hades obrigá-la a ficar 3 meses sem sua filha. Os olhos da bem-aventurada eram castanhos que lembravam as folhas desbotadas que caíam das árvores no outono, carregando consigo o espírito da natureza em constante transformação. Ela era morena e seus cabelos eram enrolados em tom alaranjado, como os raios do sol poente que refletiam na paisagem campestre. Seu traje cruzava seu corpo com uma cor lilás bem clara e que se fechava em seu dorso com um medalhão com uma árvore repleta de frutas, simbolizando sua conexão com a fertilidade da terra e a abundância da colheita.
— Você não fica muito para trás, meu irmão — Dessa vez Hades havia se armado, cruzando as pernas e emendou uma no peito do seu irmão mais novo, sua expressão carregada de astúcia e malícia — Se você não dormisse com qualquer uma que aparecesse na sua frente, talvez não teríamos que lidar com 30% das encrencas que nos metemos nos dias de hoje, como uma teia de intrigas tecida habilmente pelos deuses do Olimpo.
Hades se permitiu sorrir para seu irmão enquanto o mesmo gargalhava na presença de todos os irmãos e sobrinhos, e o ambiente foi tomado pela alegria, exceto por dois bem-aventurados.
A primeira era a esposa de Zeus, uma das mulheres mais bonitas que os olhos de alguém podiam presenciar. Olhar para ela era como sentir a natureza envolvendo cada parte do corpo, sua pele branca como a neve contrastava com seus cabelos castanhos escuros quase vermelhos, parecendo tingidos pela madeira da árvore pau-brasil. Seus lábios, vermelhos como morangos colhidos em época farta, acrescentavam uma doçura singular ao seu rosto. Era impossível não admirar a beleza estonteante de Hera, e, ao mesmo tempo, perceber a raiva contida em seus olhos, tornando-a ainda mais fascinante. Não se sabia se o rei fazia isso de propósito ou não, mas era algo que não tinha como não reparar.
Apesar de sua posição, Hera acreditava que a família estava acima de qualquer postura ridícula do seu marido, e assim ele estava a salvo de suas condenações. No entanto, o mesmo não se podia dizer sobre os filhos de Zeus que não foram concebidos por ela, e entre eles, sentado naquela sala junto com os bem-aventurados que regiam Elysium, estava Hércules, um dos que sofreram muito em suas mãos. A presença desse bem-aventurado fez com que alguns se abstivessem de rir da piada de Zeus.
Hércules era de fato imponente, tanto em tamanho quanto em músculos, com quase 2 metros de altura, exalava uma aura poderosa. Seus cabelos vermelhos e olhos castanhos avermelhados pareciam chamas ardentes, como se suas pupilas estivessem em constante brasa. Um medalhão dourado com um punho fechado adornava seu peito, simbolizando sua força indomável, e seu traje na cor roxa destacava-se em meio aos outros. Sua feição carregava características de sua mãe, mas eram as marcas de Zeus que tornavam Hera furiosa com o bem-aventurado. As contradições em sua aparência refletiam o turbilhão de sentimentos que circulavam ao seu redor.
E no meio daquelas piadas, Zeus e Hades perceberam que haviam provocado o rapaz sem a intenção, não só pela fala sobre a mãe do garoto, mas sim por uma restrição que Hera havia colocado sobre ele. Hércules só não matou a bem-aventurada porque ela era a rainha de Elysium, e para matá-la, teria que matar seu pai e seus tios também, o que seria uma loucura. Aquele lugar não era um jogo de videogame onde um filho mata o pai e todos os tios em busca de vingança. Não, Hércules sabia que não era daquele jeito que quebraria a restrição que a esposa do seu pai havia imposto para ele. O rei de Elysium ficava triste pela situação do filho, tão triste que derramava lágrimas por ele, mas ele estava vendido para sua esposa e nada podia fazer para ajudá-lo.
— Vocês vão continuar com essas piadas sem graça até quando? — Dessa vez era o outro irmão que dirigia as palavras para Zeus e Hades.
— Que que foi, tio Poseidon? O sal do fundo do mar fez você perder o senso de humor? — Dessa vez a pergunta veio de um que estava sentado à mesa ao lado de Hércules.
Poseidon apenas ignorou a pergunta feita pelo seu sobrinho Hermes. O bem-aventurado que governava as águas de Elysium, e se tivéssemos uma versão jovial de Zeus, poderia, com certeza, ser vista em Poseidon. Seus cabelos eram loiros, lembrando o brilho do ouro, seus olhos eram azuis-turquesa, brilhando como as profundezas do mar, sua pele era morena, como se tivesse sido tocada pelo sol das praias paradisíacas de suas águas. Seu manto era azul de cima a baixo, em harmonia com o oceano que ele governava, dando destaque ao medalhão dourado em seu peito que ostentava o símbolo de seu tridente, símbolo de seu poderoso reinado.
Já Hermes possuía cabelos de um alaranjado muito liso, mas que não passavam da altura das orelhas, enquanto seus olhos eram verdes-claro como a tonalidade de um céu que raramente podia se ver, como uma rara visão da natureza. Sua aparência lembrava um pouco a de Hércules, puxando as feições de Zeus, mas o bem-aventurado não tinha o corpo monstruoso do seu irmão, sendo ágil e esguio como a brisa que corta os campos.
— Vejo que ainda faltam dois dos meus sobrinhos, onde estão Ares e Athena? — Poseidon tentava levar a conversa a sério, mesmo com Hermes interrompendo-o.
— Ares está reforçando as nossas defesas e Athena está em missão fora de Elysium — Respondeu Zeus, um pouco cansado com Poseidon querendo cortar suas piadas. Os encontros entre eles eram raros, e quando aconteciam, o bem-aventurado dos mares sempre buscava dar um ar mais sério às reuniões — Digamos que a nossa bem-aventurada da sabedoria está no começo de sua missão para recuperar algo que um dia foi nosso.
Poseidon apenas assentiu, compreendendo o significado oculto nas palavras de seu irmão. Hades, por sua vez, estava um tanto preocupado com essa mudança, pois poderia mexer com o equilíbrio estabelecido, mas sabia que precisava apoiar a decisão de Zeus.
— Mas pai, qual é o planejamento que temos para lidar com esse Ragnarok que Odin tanto fala em seus últimos encontros? — A fala agora era de Ártemis. Ela buscava compreender a mente de seu pai em relação às milhares de vezes que o bem-aventurado de Asgard falou sobre esse tema com Zeus. No entanto, o rei de Elysium nunca havia levado as palavras do velho caolho a sério, tratando o assunto com seus irmãos e filhos como se fosse uma piada.
— É pai, o senhor precisa falar disso conosco, pois o velho de Asgard anda nos atormentando cada vez mais, falando muito sobre esse assunto. Será que existe algo verdadeiro como o crepúsculo dos bem-aventurados acontecendo mesmo? — Dessa vez, quem perguntava era Apolo, irmão gêmeo de Ártemis e um dos filhos mais fortes de Zeus.
Os olhares dos bem-aventurados estavam fixos em Zeus, esperando pelas respostas que moldariam o futuro de Elysium, como estrelas brilhando no céu noturno, iluminando o caminho incerto que se estendia diante deles.
Eles eram gêmeos, mas suas aparências eram completamente opostas. Ártemis tinha uma pele branca como a lua, com olhos totalmente brancos e apenas um contorno castanho em suas pupilas, lembrando a forma da lua nova. Seus cabelos brancos, trançados e longos, chegavam até a altura da cintura, e uma túnica cruzava seu corpo, formando um vestido elegante. Um medalhão com uma lua fixava sua vestimenta na altura do dorso, simbolizando sua conexão com a noite e os astros celestiais.
Por outro lado, seu irmão tinha a pele morena, cabelos castanhos quase como brasas ardentes e olhos completamente brancos, com o contorno alaranjado de suas pupilas, como se pudesse manifestar o sol em sua própria visão. Seus músculos imponentes rivalizavam apenas com os de Hércules na sala, revelando sua força sobrenatural.
A cobrança dos filhos fazia sentido, e o tempo das brincadeiras com os irmãos deveria ser encerrado para dar lugar ao centauro branco que estava no meio da sala. Hades e Hera olharam para ele e assentiram; já estava na hora de contar para todos o que estava acontecendo.
— Meus filhos, irmãos e esposa, vocês sabem que nos últimos 2000 anos, nossos poderes enfraqueceram como nunca. Não só isso, os poderes das sombras também aumentaram, e o nosso mundo só não entrou em um caos absoluto por causa da existência dos guardiões — Zeus falava com uma voz ressoante e preocupante — Mas a morte de um deles colocou Odin em um estado alarmado como nunca, e mesmo ele surtando dessa forma com esse nome Ragnarok, eu tenho que dar o braço a torcer, ele está certo.
Os bem-aventurados na mesa se agitaram perante a fala de Zeus, e seus filhos também se mostraram inquietos com as palavras de seu pai.
— Um poder maior que o dos guardiões? Isso é impossível! — Quem afirmava aquelas palavras era Afrodite, a única bem-aventurada na mesa que não era irmã nem filha de Zeus, mas sim tia do rei de Elysium. Sua beleza era incomparável, com cabelos ruivos caindo em cascata sobre seus ombros e olhos azuis como o mar em um dia calmo. Sua presença irradiava charme e elegância, como uma deusa da beleza em sua forma mais pura.
Não existia nada de especial em Afrodite em sua aparência, mas, mesmo assim, quando você colocava seus olhos na bem-aventurada, nunca mais se conseguia tirar. Não dava para explicar se isso era algo ligado à sua energia elemental ou se era algo que havia nascido com ela, mas uma vez cativado por Afrodite, nunca mais voltava a ser o mesmo.
Seus lábios eram tão vermelhos que pareciam um morango maduro, e seus olhos tinham um tom de vermelho claro, realçando sua beleza enigmática. Com seus cabelos ruivos, encaracolados e longos, descendo até o chão, Afrodite irradiava uma aura de magnetismo irresistível.
— Realmente, Afrodite, as sombras não são mais fortes que os guardiões, nem com os poderes das portas das bem-aventuranças alguém é capaz de passar por cima deles. Mas alguém que um dia já foi protetor de uma das dimensões, agora lidera-as, e o caos poderá reinar entre nós mais uma vez — Zeus tentava justificar a fala de Afrodite, mesmo parecendo algo impossível, era algo que estava acontecendo
— Jonathan Ismael — A voz de Hefesto fez com que todos da sala se virassem para ele, exceto uma bem-aventurada, Afrodite. O ferreiro tinha uma aparência única, com seus cabelos negros e pele coberta de cicatrizes resultantes do trabalho com metais. Seu semblante era sério e determinado, refletindo sua habilidade em manipular o fogo e forjar armas poderosas.
Hefesto havia acabado de invocar o nome do maior traidor dos guardiões. Aquele que um dia quase criou uma revolta contra os reis dos bem-aventurados, agora culminava em deixar o ambiente ainda mais agitado.
Fim do capítulo!
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