Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 1

Capítulo 5: As sombras que nos atormentam

— Sombras? — Questionou Anthony, que ainda se recuperava do impacto das chamas de Gael — Mas as sombras não são separadas em cada dimensão? No plural mesmo?

— Sim, no plural — Afirmou Miguel, respondendo à dúvida de Eduardo. Suas palavras despertaram ainda mais questionamentos na mente de Gael — As sombras são conhecidas como aqueles que se opõem ao sistema estabelecido em cada dimensão. São seres que desejam o poder apenas para se tornarem ditadores de seus mundos. Manter as sombras separadas entre si é uma das nossas principais responsabilidades como guardiões.

— Então você está dizendo que as sombras encontraram uma maneira de se comunicar entre as dimensões? — Indagou Sandor Wahn, buscando confirmar se havia compreendido corretamente as palavras de Miguel — Se for isso, nunca enfrentamos uma situação como essa.

— Exatamente, e é esse grande o perigo. Como se trata de uma força até então desconhecida, talvez essa seja a resposta para a morte de Rick, o que complica ainda mais a situação — Disse Miguel, direcionando sua fala a Gael — Se essas sombras estão trabalhando em conjunto, significa que alguém está restabelecendo a conexão entre as dimensões. —

— Mas quem poderia ser? — Desta vez foi Karumo quem fez a pergunta, seu rosto alegre de momentos atrás agora estava sério e preocupado.

— Ainda não sabemos — Respondeu Vand — Mas pelo que sabemos, o propósito dessa pessoa é reunir as dimensões mais uma vez, como era no passado.

— Como era no passado? — Indagou Gael, buscando compreender como os mundos já estiveram conectados.

A pergunta do garoto fazia todo o sentido. A enxurrada de informações que ele havia recebido era como se uma represa tivesse rompido. Saber que todas aquelas dimensões um dia foram uma só, e que deuses já viveram entre eles, parecia uma ideia completamente insana.

— Sim, todas as dimensões já estiveram interligadas. De onde você acha que os humanos começaram a adorar seres como Odin, Thor, Zeus e outros? — Respondeu Vand, enfatizando a conexão entre os mundos — Todos eles já viveram na Terra como deuses, mas em nossa realidade não os chamamos de deuses, eles são conhecidos como bem-aventurados.

— Por favor, explique ao garoto, Vand, a diferença de classes entre os bem-aventurados e as sombras — Interveio Karumo, preocupado em não deixar Gael confuso demais com a situação.

— É verdade. Nas seis dimensões, todos aqueles que nascem são conhecidos como bem-aventurados. No entanto, existem diferentes categorias dentro desse grupo. Aqueles que possuem pouca energia elemental e não conseguem se destacar são chamados de pequenos bem-aventurados. Os que possuem pouca energia elemental, mas conseguem se destacar, ou os que possuem energia elemental média, mas não conseguem se destacar, são chamados de médios bem-aventurados. Já aqueles que possuem energia elemental média e conseguem se destacar, bem como aqueles que possuem uma grande quantidade de energia elemental, independentemente de se destacarem ou não, são chamados de grandes bem-aventurados. O mesmo princípio se aplica às sombras — Respondeu Vand, tentando transmitir a ideia de forma concisa a Gael — Para os humanos que não possuem a capacidade de manipular a energia elemental, qualquer ser que seja capaz disso se torna divino, como se fosse um deus.

E as palavras de Vand faziam todo sentido para Gael. Os seres com os quais ele estava conversando possuíam um conhecimento profundo sobre um aspecto do universo que poucos haviam descoberto. Qualquer ser humano, seja cientista ou conspiracionista, pagaria uma fortuna por uma conversa como aquela que Gael estava tendo.

— Com o passar do tempo, esses seres foram se fragmentando em grandes hierarquias com o surgimento dos bem-aventurados, passando por mudanças com o surgimento de novos seres, até culminar na consolidação de entidades extremamente poderosas, como Zeus e Odin. — Explicou Vand de forma enfática, abordando o que eram esses seres especiais que, até então, eram conhecidos como deuses no mundo humano. No entanto, essa explicação não apagava da mente de Gael o ponto crucial do início de sua pergunta.

— Então por que não existe mais essa conexão? — Indagou Gael, observando o horizonte à sua frente, que se estendia em uma vastidão impressionante.

— Com o descobrimento da América, os seres humanos começaram a se misturar ainda mais, consolidando novas culturas. Não havia mais necessidade de manter todos conectados. Com o tempo e a falta de interação da humanidade com os bem-aventurados, eles passaram a ficar cada vez mais fracos, menos nós, os guardiões — Respondeu Vand, com um olhar melancólico, enquanto admirava o cenário ao seu redor — E à medida que enfraqueciam, as sombras se fortaleciam. Isso poderia colocar todos os seres em perigo. Foi então que nós, os guardiões, decidimos separar os seres viventes em sete dimensões.

Gael sentiu uma mistura de fascínio e perplexidade enquanto absorvia as palavras de Vand. Tudo o que havia estudado sobre mitologias na escola e como esses seres místicos, tão presentes nas narrativas antigas, haviam aparentemente desaparecido. Agora compreendia que eles nunca haviam desaparecido, apenas decidiram se ausentar do mundo humano.

— Quando dividimos o mundo em sete dimensões e desconectamos todos os seres, adquirimos as marcas que carregamos — Continuou Vand, apontando para o leão tatuado no braço de Gael — Essas marcas são símbolos representativos de cada um de nós.

O garoto sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao perceber o peso do que estava envolvido. Ele estava prestes a enfrentar seres mitológicos, em uma batalha onde, até pouco tempo atrás, era apenas um humano comum.

— Como expliquei anteriormente, nem todos os seres se consolidaram como os maiores bem-aventurados de suas dimensões, quando foram criados. Alguns travaram guerras contra seus próprios pais em busca de poder e glória, como aprendeste nas mitologias — Vand prosseguiu, encarando o teto com uma expressão séria — Dessa maioria de seres que sucumbiu à ambição, surgiram as sombras. Quando o ódio puro e cego toma conta de seus corações, eles se tornam incapazes de manipular a verdadeira essência da energia elemental, utilizando-a apenas para seus próprios desejos e objetivos egoístas.

Como as palavras de Vand ecoavam na mente de Gael, ele se via imerso nas histórias mitológicas que tanto havia estudado. Contos épicos de disputas de poder entre pais e filhos, perseguições implacáveis de madrastas, rivalidades entre irmãos pelo trono do pai, e injustiças cometidas por imperadores contra seus próprios servos. O que antes eram apenas lendas, agora se revelava como uma realidade concreta, proferida pelos lábios daquele guardião.

— Assim nos tornamos guardiões, perpetuando a luta para evitar que os mundos se choquem novamente, pois a força dos bem-aventurados enfraqueceu ao longo do tempo — Explicou Vand, expondo cada detalhe com um tom solene, consciente de que aquela oportunidade única de falar com Gael estava prestes a se dissipar — A perda de Rick, sendo o mais poderoso de nós, foi um golpe duro para todos os guardiões.

As palavras de Vand reverberaram através da sala, fazendo com que todos se movessem inquietos em suas cadeiras. Com aquela revelação, o grupo passou a contemplar a iminente pergunta: qual dimensão seria o próximo alvo das sombras nos próximos dias? Quem estaria em perigo se aquele ser decidisse atacar o lugar que juraram proteger?

Gael, sentindo-se impotente pela primeira vez desde que tomou conhecimento de seus poderes, se questionava por que Rick, o mais poderoso dos guardiões, havia escolhido justamente ele como seu sucessor. Por que, entre todas as pessoas presentes naquela manhã fatídica, apenas Gael fora capaz de testemunhar o corpo inerte de Rick?

— E as coisas tendem a se tornar ainda mais sombrias, pois, com a morte de Rick, sem dúvida, a joia do poder da terra foi subtraída — Comentou Vinícius, com uma seriedade imersa em sua voz — Se ele perdeu a vida ao proteger a joia, quem seria o indivíduo detentor de tamanho poder, Miguel?

— Ainda não temos essa resposta, mas não adianta se preocupar com isso agora — Afirmou Miguel, tentando dissipar a sensação de impotência que envolvia o grupo — Estamos prestes a enfrentar uma força com a qual nunca lutamos antes. A única certeza que possuo é que alguém está reunindo as sombras e está indo atrás das joias do poder.

— Mas afinal, o que são essas joias do poder? — Indagou Gael, interrompendo o clima apocalíptico evocado por Miguel na sala.

— Miguel é sempre assim, garoto — Cutucou Karumo — Vamos, Vand, sei que você quer explicar ao garoto o que são as joias.

— Muito bem — Disse Vand, reacendendo sua empolgação ao compartilhar aquele novo mundo com Gael — Eu já lhe contei que tivemos que separar os mundos devido ao surgimento das sombras, mas não foi somente por isso.

— Então, o que era mais importante do que a união das sombras? — Questionou Gael.

— As joias do poder — Respondeu Vand — Cada um desses mundos abriga uma joia que é protegida pelos bem-aventurados. Com o enfraquecimento de seus poderes, se esses objetos caíssem nas mãos das sombras, o universo entraria em colapso.

— Mas qual é a importância dessas joias para que as sombras as cobicem mais do que dominar esses lugares — Insistiu Gael.

— Por si só, as joias não possuem poder algum, mas juntas elas são capazes de conceder qualquer desejo ao seu portador, seja algo benevolente ou malévolo, como a destruição dos mundos ou até mesmo o fim dos guardiões — Respondeu Vand, deixando claro para todos ali que o caos já havia se instalado, quando perceberam que a primeira joia já havia sido roubada.

— Então, esse é o motivo pelo qual você nos convocou até aqui, Miguel? — Questionou Sandor Wahn.

— Sim, não esperava que Rick estivesse morto, mas isso apenas confirma minhas suspeitas sobre as sombras em movimento pelos mundos — Respondeu Miguel — Agora, precisamos prosseguir com o treinamento do filho do homem para que ele compreenda seus poderes. Alguém se voluntária para treiná-lo?

— Garoto, sei que você caiu de paraquedas, mas está tudo bem para você? — Indagou Anthony, segurando ainda a mão que quase fora queimada.

— Se eu treinar com vocês, serei capaz de ajudar? — Questionou Gael.

— Sim — Respondeu Miguel à pergunta do garoto — Karumo, você se dispõe a treinar o filho do homem?

— Eu? — Karumo perguntou, surpreso com a proposta — Bem, se fosse uma dama, eu poderia considerar, mas não tenho nada a oferecer a esse garoto.

— Não? Imagina, você é o principal condutor de energia elemental do grupo — Provocou Sandor Wahn, apontando que Karumo estava evitando suas responsabilidades.

— Então, vamos lá, garoto, já que estão insistindo — Concordou Karumo, caindo na armadilha de Sandor e inflando seu ego.

— Muito bem, Karumo, guie o filho do homem em seu treinamento. Nós ficaremos aqui, planejando nossos próximos movimentos. Vand irá atualizá-lo sobre tudo posteriormente — Disse Miguel, referindo-se à continuidade dos planos.

— Rick era o mais forte entre vocês, certo? Questionou Gael, interrompendo a fala de Miguel no último instante.

— Sim, ele era o mais forte de todos nós — Respondeu Anthony, referindo-se à força do antigo guardião.

Era estranho aquela sensação, o poder daquele que era o mais forte de todos os guardiões estava dentro dele agora. Para Gael aquilo parecia mais uma história dos seus animes favoritos, já tinha ouvido falar do “Quero me tornar o rei mago mais forte”, ou “Eu vou me tornar o rei dos piratas” ou até mesmo “Eu serei o hokage um dia” e assim, do nada, sentiu um ímpeto dentro de si:

— Então, hoje começa meu treinamento para tomar meu lugar de direito como o leão — Declarou Gael para todos ali presentes e com um sorriso no rosto desafiou a todos — Eu me tornarei mais forte do que todos vocês!

— Fica quieto, garoto — Disse Karumo dando um leve tapa na cabeça de Gael — Vamos ver até onde vai essa sua coragem.

Fim do capítulo

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