Volume 1
Capítulo 6: Pode me chamar de mestre
— Sentem-se aqui, garoto — Apontou Karumo para o local onde Gael deveria se acomodar, ao lado dele e de Kira Gayami. Com a paisagem deslumbrante ao redor, o trio se acomodou próximo a uma árvore gigantesca, cuja sombra proporcionava o alívio daquele grande sol.
Agora, sentado ao lado de Karumo e Kira, Gael aguardava as instruções do guardião:
— Agora cruze as pernas e permaneça respirando pelo nariz e soltando pela boca — Instruiu Karumo, com sua voz calma e suave ecoando pelo ar.
Gael seguiu as instruções com devoção. Enquanto realizava o exercício, seus olhos vagaram pelo cenário que os cercava.
Em meio à contemplação da beleza da natureza, Gael aproveitou para confirmar algo com Karumo:
— Seu nome é Karumo, certo? — Perguntou ele, buscando a confirmação.
Karumo, o guardião de cabelos brancos, sorriu diante da pergunta de Gael:
— Sim, mas pode me chamar pelo meu primeiro nome — Respondeu ele, despertando a curiosidade do jovem aprendiz.
Intrigado com a resposta, Gael não resistiu em perguntar:
— Qual seria seu primeiro nome, então? — Um brilho divertido reluziu nos olhos de Karumo, enquanto ele revelava o seu segredo.
— Mestre. Você pode me chamar de mestre Karumo — Respondeu com um sorriso, quebrando o clima solene e provocando uma risada contagiante em Gael.
— Mestre Karumo, seu humor é único! — riu Gael, achando engraçada a piada do mentor. Mas uma coisa ainda o intrigava — Por que é que estou respirando pelo nariz e soltando pela boca, se não estou fazendo exercício físico?
— Em todas as coisas deste mundo, existe uma energia chamada “Energia Elemental” — Ele começou, capturando totalmente a atenção de Gael. Enquanto Karumo falava, a mente do garoto se expandiu, como se ele pudesse estar conectado a tudo ao seu redor naquele lugar, ao mesmo tempo.
Flores coloridas enfeitavam o ambiente com sua diversidade de formas e cores. Pétalas delicadas dançavam suavemente no ar, enquanto o perfume suave e doce enchia os sentidos de Gael. Borboletas de todas as cores deslizavam graciosamente entre as flores, espalhando ainda mais beleza pelo cenário. Ao longe, o canto dos pássaros criava uma trilha sonora para o momento.
O céu exibia um espetáculo único: nuvens brancas flutuavam dispersas no azul profundo, enquanto o sol espalhava seus raios dourados sobre a paisagem. A brisa acariciava a pele de Gael, trazendo frescor e tranquilidade ao ambiente. As árvores balançavam suas folhas ao ritmo do vento, criando um sussurro reconfortante.
Gael sentia-se transportado para um verdadeiro paraíso, onde a harmonia e a beleza eram deslumbrantes, preenchendo sua alma de admiração. Era um momento de conexão profunda com a natureza, diante da grandiosidade e perfeição do mundo ao seu redor.
— Nas plantas, encontramos água, terra e ar. No fogo, o ar se faz presente — Continuou Karumo, enquanto a brisa soprava suavemente, como se concordasse com as palavras do guardião. Gael assentiu com a cabeça, envolvido pelas palavras de seu novo mestre — Somos seres vivos conectados a diversos elementos que existem na natureza.
O olhar perdido de Karumo na vastidão da paisagem, guiava Silva sobre como a natureza era ainda mais importante do que ele imaginava. Gael percebeu a verdade por trás dessas palavras, sentindo-se parte de algo muito maior.
Consciente da compreensão de Gael, Karumo prosseguiu com sua explicação.
— Todas as coisas estão interligadas em um ciclo de sete elementos, dos quais tudo se origina e se encerra. São eles: fogo, água, vento, terra, raio, vegue e gelo. Cada um desses elementos está intrinsecamente ligado a um dos sete guardiões — Revelou Karumo.
O cenário magnífico ao redor testemunhava a importância dos elementos, como se a natureza venerasse essa harmonia universal. Gael, agora ciente de seu papel como aprendiz para guardião, sentiu seu coração se encher de determinação e reverência diante dessa revelação. Karumo mergulhava em suas explicações, iluminando Gael sobre os eventos recentes. A água escorrendo de uma das mãos dos guardiões mostrava sua habilidade de manipular o elemento, enquanto o outro, que quase congelara a cabeça de Gael com uma mão gigantesca de gelo, dominava a arte do frio.
No entanto, uma questão permanecia envolta em um véu de mistério para Gael.
— O que seria o vegue?
Karumo, com serenidade, elucidou o significado do vegue:
— Vegue é o elemento que concede aos seus usuários a capacidade de manipular plantas e árvores.
No entanto, Karumo preferiu não entrar em detalhes naquele momento, querendo guiar a conversa aos poucos.
— Vamos por partes — Disse Karumo, apontando para a direção que pretendia seguir — O que aconteceu contigo quando você invocou o fogo? Qual foi a sensação que você teve?
Karumo, com um olhar intrigante e um sorriso provocador, fez tal pergunta que trouxe à tona lembranças vívidas em Gael. O jovem guardião revisou mentalmente a cena, mas quanto mais ele se aprofundava naquelas memórias, mais confuso se sentia.
— Eu senti uma sensação óbvia de perigo, uma iminência de morte e… — Gael começou a explicar, mas então se lembrou de algo importante. Ao olhar para o rosto do mestre Karumo diante dele, percebeu um sorriso brincalhão adornando os lábios do sábio guardião.
— Você ouviu uma voz, não é mesmo?
— Sim, como você sabia? — Gael ficou surpreso com a aparente “adivinhação” de seu mestre, por um instante esquecendo-se de que aquele senhor à sua frente era um guardião, detentor de conhecimentos além do comum.
— Eu sou um guardião, meu jovem. Não se esqueça disso. Aquilo que você ouviu em sua mente foi a voz de seu bestoj. É deles que vem fonte primordial de poder dos guardiões. O que a voz lhe disse?
Gael ponderou sobre as palavras que ecoaram em sua mente, recordando-se de que a voz havia lhe apresentado um enigma, mas de alguma forma ele havia compreendido.
— A voz me pediu para revelar um nome, mas na primeira vez não entendi. Foi quando tudo desacelerou ao meu redor, permitindo-me ouvir a voz mais uma vez, instruindo-me a sondar meu coração e pronunciar o verdadeiro nome do fogo — Respondeu Gael, mal acreditando na veracidade de sua experiência.
Karumo prosseguiu, curioso para saber qual nome Gael havia descoberto em seu coração.
— Qual foi o nome que você encontrou dentro de si?
— Ignis — Afirmou Gael, com convicção — Essa palavra fluiu em minha mente e escapou por meus lábios.
Karumo notou algo intrigante e chamou a atenção de Gael sorrindo.
— Deve ser uma palavra encantadora. É uma pena que eu não possa compreender sua pronúncia.
— Como assim? É apenas uma palavra simples: I-G-N-I-S — Respondeu Gael, confuso ao tentar mostrar a Karumo que não havia nada de especial naquela palavra.
— Como mencionei, cada um dos guardiões tem um elemento que permeia sua vida, conforme escolhido por seu bestoj — Explicou Karumo, observando o rosto de Gael se encher de ainda mais confusão — Se eu tentar pronunciar o nome de meu elemento ??????, consegue perceber como é indecifrável?
E Karumo estava completamente certo. Era uma sensação peculiar, como se houvesse uma conexão intrínseca naquela palavra, no entanto, o cérebro de Gael não conseguia processá-la. Ela se tornava impronunciável, inaudível e impossível de ser escrita.
— Você é o único capaz de ouvir o verdadeiro nome do elemento de seu bestoj, assim como eu sou o único que pode ouvir o verdadeiro nome do elemento do meu.
Apesar de estarem discutindo todos esses detalhes, Karumo ainda não tinha respondido à pergunta de Gael, o jovem continuava atento, respirando pelo nariz e soltando pela boca, como lhe fora instruído.
— Nós possuímos a capacidade de manipular dois elementos dos sete, um relacionado ao nosso bestoj e outro que fortalece nosso principal — Prosseguiu Karumo em sua explicação — No entanto, hoje vamos focar no treinamento do seu elemento principal. Mostre a ele, Kira.
Kira abriu a palma da mão direita e uma esfera de vento apareceu. Gayami fez o mesmo com a mão esquerda e criou uma bola de gelo do tamanho de uma bola de sinuca. No entanto, houve uma pequena diferença na forma como usou seus poderes:
— O meu principal elemento é o vento; eu consigo manipulá-lo para auxiliar nas minhas batalhas ou tarefas. Além disso, eu utilizo o gelo como poder secundário para fortalecer meus golpes.
A partir daí, Karumo retomou a fala:
— Entretanto, há uma distinção crucial entre os guardiões e os bem-aventurados, como no caso de Kira: estes últimos não possuem bestoj — Gael compreendia que a origem de seus poderes estava mais conectada a seu bestoj do que aos próprios elementos. Porém, onde estaria esse ser que havia conversado com ele e não se manifestara desde então? — Os bestojs são verdadeiramente singulares entre os guardiões, é o que nos diferencia das sombras e dos bem-aventurados. É graças a eles que podemos proteger todos os mundos e impedir que as sombras assombrem todas as dimensões. Como Vand explicou lá dentro, é por causa dos bestojs que não ficamos mais fracos com o passador dos anos, diferente dos grandes rei das dimensões.
— Tudo bem, mas você ainda não respondeu à minha pergunta — Disse Gael, intrigado com o fato de Karumo ainda não ter lhe respondido.
— Ah, é mesmo? Achei que já tivesse respondido — Karumo coçou a cabeça, agindo como se não tivesse explicado, mas continuou perguntando — Qual foi sua pergunta?
— Por que estou respirando desse jeito?
— Certo, certo. Você manteve o exercício da respiração?
— Sim.
— Muito bem, era necessário para avançarmos em seu treinamento. Agora, mantenha sua respiração e preste atenção em mim. Feche os olhos e continue respirando da mesma maneira, mas não os abra de forma alguma. Quando sentir que seus pulmões estão queimando, pronuncie o verdadeiro nome do fogo.
Gael fechou os olhos e manteve sua respiração. Inspirou lentamente pelo nariz e soltou o ar devagar pela boca, repetindo esse processo mais cinco vezes. Gradualmente, começou a sentir algo diferente percorrendo seu corpo. Não era apenas uma sensação ardente, mas também um suave ronronar em seus ouvidos.
A cada vez que ele respirava, os ronronar cresciam em intensidade, e um calor no peito aumentava. Ainda assim, conseguia aguentar. Mas a curiosidade de descobrir de onde vinham aqueles sons era irresistível. A cada minuto, os ruídos pareciam se deslocar de um lado para o outro, como se circulassem ao redor do garoto.
O calor continuava a crescer em seu peito, envolvendo-o cada vez mais. A pressão se intensificava, tornando-se insuportável. Não era uma dor aguda, como se o coração fosse parar, mas sim uma sensação de algo que estivera selado por muito tempo, prestes a se libertar e alcançar o que sempre desejara.
Gael se preparou para dizer a palavra, sem saber o que ia acontecer. Seus pulmões ardiam como nunca. E então, gritando com toda a sua energia, disse:
— IGNIS!!!
Ao abrir os olhos, deparou-se com um leão de fogo encarando-o diretamente nos olhos. Era uma visão arrebatadora. Incapaz de reagir, tudo o que pôde ouvir foi o rugido majestoso da criatura:
— ROOOOOOAAAAAAR!!!
Fim do capítulo
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