Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 1

Capítulo 6: Pode me chamar de mestre

— Sentem-se aqui, garoto — Apontou Karumo para o local onde Gael deveria se acomodar, ao lado dele e de Kira Gayami. Com a paisagem deslumbrante ao redor, o trio se acomodou próximo a uma árvore majestosa, cuja sombra proporcionava um alívio refrescante.

Flores coloridas enfeitavam o ambiente com sua diversidade de formas e cores. Pétalas delicadas dançavam suavemente no ar, enquanto o perfume suave e doce enchia os sentidos de Gael. Borboletas de todas as cores deslizavam graciosamente entre as flores, espalhando ainda mais beleza pelo cenário. Ao longe, pássaros cantavam melodias encantadoras, acompanhando a sinfonia natural que preenchia o ar.

O céu era um verdadeiro espetáculo à parte. Nuvens brancas e fofas flutuavam dispersas, contrastando com o azul profundo do céu. O sol brilhava com intensidade, espalhando seus raios dourados sobre a paisagem, criando um jogo de luz e sombras encantador. Os raios solares se infiltravam entre as folhas das árvores, criando padrões de luz e dando um toque mágico ao lugar.

Uma brisa suave soprava, acariciando gentilmente a pele de Gael e trazendo consigo o frescor e a tranquilidade do local. Era como se o ar estivesse impregnado de paz e serenidade. As árvores ao redor balançavam suas folhas ao ritmo da brisa, criando um sussurro suave e reconfortante. O ambiente era um convite para relaxar, para se deixar levar pela magia e encanto da natureza.

Gael sentia-se como se tivesse sido transportado para um verdadeiro paraíso. A beleza e harmonia daquele lugar eram simplesmente deslumbrantes, preenchendo sua alma com uma sensação de admiração e encantamento. Era um momento de conexão com a natureza e de contemplação diante da grandiosidade e perfeição do mundo ao seu redor.

Diante de tamanha beleza, o jovem não conseguia entender como havia chegado a esse lugar mágico, mas sabia que estava relacionado às habilidades de Miguel. Embora a sala em que estavam não possuísse portas nem janelas, o guardião havia aberto um portal que os conduziu até aquele cenário deslumbrante. Era como se Gael estivesse visitando o próprio Éden, um lugar de uma beleza incomparável.

Agora, sentado ao lado de Karumo e Kira, Gael aguardava as instruções do guardião. Eles estavam ali para aprender sobre os elementos e a energia elemental que permeava todas as coisas. Aquele momento prometia ser uma jornada de descobertas e aprendizado, em meio a um ambiente tão esplêndido e envolvente.

— Agora cruze as pernas e permaneça respirando pelo nariz e soltando pela boca — Instruiu Karumo, sua voz calma e suave ecoando pelo ar.

Gael seguiu as instruções com devoção. Enquanto realizava o exercício, seus olhos vagaram pelo cenário que os cercava. As cores quentes do entardecer se fundiam em um espetáculo de tons pincelados.

Em meio à contemplação da beleza da natureza, Gael aproveitou para confirmar algo com Karumo:

— Seu nome é Karumo, certo? — Perguntou ele, buscando a confirmação.

Karumo, o guardião de cabelos brancos, sorriu com doçura diante da pergunta de Gael.

— Sim, mas pode me chamar pelo meu primeiro nome — Respondeu ele, despertando a curiosidade do jovem aprendiz.

Intrigado com a resposta, Gael não resistiu em perguntar:

— Qual seria seu primeiro nome, então? — Um brilho divertido reluziu nos olhos de Karumo, enquanto ele revelava o seu segredo.

— Mestre. Você pode me chamar de mestre Karumo — Respondeu com um sorriso, quebrando o clima solene e provocando uma risada contagiante em Gael.

— Mestre Karumo, você tem um senso de humor peculiar — Comentou Gael, divertido com a brincadeira do seu mentor. No entanto, uma dúvida persistia em sua mente — Mas por que estou respirando pelo nariz e soltando pela boca, se não estou correndo?

— Em todas as coisas deste mundo, existe uma energia chamada elemental — Começou ele, cativando a atenção de Gael — Enquanto Karumo explicava, o jovem não conseguia desviar o olhar do cenário ao redor.

A paisagem exuberante ganhava vida diante dos seus olhos, como se cada elemento se revelasse em sua plenitude. As folhas das árvores dançavam ao ritmo do vento suave, enquanto os raios do sol acariciavam a superfície dos rios e lagos próximos. Era uma sinfonia natural que ecoava em perfeita harmonia.

— Nas plantas, encontramos água, terra e ar. No fogo, o ar se faz presente — Continuou Karumo, enquanto a brisa soprava suavemente, como se concordasse com suas palavras. Gael assentiu com a cabeça, envolvido pela magia das palavras de seu mestre — Somos seres vivos conectados a diversos elementos que existem na natureza — Refletiu Karumo, seu olhar perdido na vastidão da paisagem. Gael percebeu a verdade por trás dessas palavras, sentindo-se parte de algo muito maior do que ele próprio.

Consciente da compreensão de Gael, Karumo prosseguiu com sua explicação.

— Todas as coisas estão interligadas em um ciclo de sete elementos, dos quais tudo se origina e se encerra. São eles: fogo, água, vento, terra, raio, vegetação e gelo. Cada um desses elementos está intrinsecamente ligado a um dos sete guardiões — Revelou Karumo, a voz ressoando com um tom sagrado.

O cenário magnífico ao redor testemunhava a importância desses elementos, como se a própria natureza venerasse essa harmonia universal. Gael, agora ciente de seu papel como aprendiz para guardião, sentiu seu coração se encher de determinação e reverência diante dessa revelação transcendental.

Karumo, com sua sabedoria inabalável, mergulhava nas profundezas da compreensão, iluminando Gael sobre os eventos que haviam ocorrido momentos atrás. A água escorrendo de uma das mãos dos guardiões denotava sua habilidade de manipular esse elemento, enquanto o outro, que quase havia congelado a cabeça de Gael com uma mão gigantesca de gelo, dominava a arte do frio.

No entanto, uma questão permanecia envolta em um véu de mistério para Gael.

— O que seria o vegue? — Indagou ele, perplexo com o único elemento que ainda não havia compreendido.

Karumo, com serenidade, elucidou o significado do vegue.

— Vegue é o elemento que concede aos seus usuários a capacidade de manipular plantas e árvores — Explicou ele, alimentando a curiosidade de Gael.

No entanto, o mestre sábio optou por não se aprofundar naquele assunto naquele momento, desejando conduzir a conversa gradualmente:

— Vamos por partes — Disse Karumo, apontando para a direção que pretendia seguir — O que aconteceu contigo quando você invocou o fogo? Qual foi a sensação que você teve?

Karumo, com seu olhar penetrante, fez uma pergunta que trouxe à tona lembranças vívidas em Gael. O jovem guardião revisou mentalmente a cena, mas quanto mais ele se aprofundava naquelas memórias, mais confuso se sentia.

— Eu senti uma sensação óbvia de perigo, uma iminência de morte e… — Gael começou a explicar, mas então se lembrou de algo importante. Ao olhar para o rosto do mestre Karumo, de cabelos brancos, diante dele, percebeu um sorriso brincalhão adornando os lábios do sábio guardião.

— Você ouviu uma voz, não é mesmo? — Perguntou Karumo, guiando Gael exatamente para onde desejava chegar desde o início daquela conversa.

— Sim, como você sabia? — Gael ficou surpreso com a aparente “adivinhação” de seu mestre, por um breve instante esquecendo-se de que aquele senhor à sua frente era um guardião, detentor de conhecimentos além do comum.

— Eu sou um guardião, meu jovem. Não se esqueça disso — Afirmou Karumo, recordando a Gael da grandiosidade de sua posição — Aquilo que você ouviu em sua mente foi a voz de seu bestoj. É deles que vem nossa fonte primordial de poder. O que a voz lhe disse?

Gael ponderou sobre as palavras que ecoaram em sua mente, recordando-se de que a voz havia lhe apresentado um enigma, mas de alguma forma ele havia compreendido.

— A voz me pediu para revelar um nome, mas na primeira vez não entendi. Foi quando tudo desacelerou ao meu redor, permitindo-me ouvir a voz mais uma vez, instruindo-me a sondar meu coração e pronunciar o verdadeiro nome do fogo — Respondeu Gael, mal acreditando na veracidade de sua experiência.

Karumo prosseguiu, curioso para saber qual nome Gael havia descoberto em seu coração.

— Qual foi o nome que você encontrou dentro de si? — Questionou o mestre.

— Ignis — Afirmou Gael, com convicção — Essa palavra fluiu em minha mente e escapou por meus lábios.

Karumo notou algo intrigante e chamou a atenção de Gael.

— Deve ser uma palavra encantadora. É uma pena que eu não possa compreender sua pronúncia — Comentou o mestre sorrindo.

 

— Como assim? É apenas uma palavra simples: I-G-N-I-S — Respondeu Gael, confuso ao tentar mostrar a Karumo que não havia nada de especial naquela palavra.

— Como mencionei, cada um dos guardiões tem um elemento que permeia sua vida, conforme escolhido por seu bestoj — Explicou Karumo, observando o rosto de Gael se encher de ainda mais confusão — Se eu tentar pronunciar o nome de meu elemento ??????, consegue perceber como é indecifrável?

E Karumo estava completamente certo. Era uma sensação peculiar, como se houvesse uma conexão intrínseca naquela palavra, no entanto, o cérebro de Gael não conseguia processá-la. Ela se tornava impronunciável, inaudível e impossível de ser escrita.

— Você é o único capaz de ouvir o verdadeiro nome do elemento de seu bestoj, assim como eu sou o único que pode ouvir o verdadeiro nome do elemento do meu — Respondeu Karumo, de forma precisa, percebendo como Gael estava assimilando aquelas informações.

Apesar de estarem discutindo todos esses detalhes e Karumo ainda não tinha respondido à pergunta de Gael, o jovem continuava atento, respirando pelo nariz e soltando pela boca, como lhe fora instruído.

— Nós possuímos a capacidade de manipular dois elementos dos sete, um relacionado ao nosso bestoj e outro que fortalece nosso principal — Prosseguiu Karumo em sua explicação — No entanto, hoje vamos focar no treinamento do seu elemento principal. Mostre a ele, Kira.

Kira abriu a palma de sua mão direita e uma esfera de vento surgiu dela. Ao fazer o mesmo, Gayami abriu a mão esquerda e conseguiu criar uma bola de gelo do tamanho de uma bola de sinuca. Contudo, houve uma pequena diferença na execução dos poderes:

— O meu principal elemento é o vento; eu consigo manipulá-lo para auxiliar nas minhas batalhas ou tarefas. Além disso, eu utilizo o gelo como poder secundário para fortalecer meus golpes.

A partir daí, Karumo retomou a fala:

— Entretanto, há uma distinção crucial entre os guardiões e os bem-aventurados, como no caso de Kira: estes últimos não possuem bestoj — Gael compreendia que a origem de seus poderes estava mais conectada a seu bestoj do que aos próprios elementos. Porém, onde estaria esse ser que havia conversado com ele e não se manifestara desde então? — Os bestojs são verdadeiramente singulares entre os guardiões, é o que nos diferencia das sombras e dos bem-aventurados. É graças a eles que podemos proteger todos os mundos e impedir que as sombras assombrem todas as dimensões. Como Vand explicou lá dentro, é por causa dos bestojs que não ficamos mais fracos com o passador dos anos, diferente dos grandes rei das dimensões — Karumo concluiu seu raciocínio, explicando a importância dos bestojs para os guardiões e agora, vamos prosseguir com o treinamento.

— Tudo bem, mas você ainda não respondeu à minha pergunta — Disse Gael, intrigado com o fato de Karumo ainda não ter lhe respondido.

— Ah, é mesmo? Achei que já tivesse respondido — Karumo coçou a cabeça, agindo como se não tivesse entendido, mas continuou perguntando — Qual foi sua pergunta? — Questionou o velho tentando disfarçar o embaraço.

— Por que estou respirando desse jeito?

— Certo, certo. Você manteve o exercício da respiração?

— Sim — Respondeu o garoto, confirmando.

— Muito bem, era necessário para avançarmos em seu treinamento — Começou o mestre a explicar o propósito da forma como Gael estava respirando — Agora, mantenha sua respiração e preste atenção em mim. Feche os olhos e continue respirando da mesma maneira, mas não os abra de forma alguma. Quando sentir que seus pulmões estão queimando, pronuncie o verdadeiro nome do fogo.

Gael fechou os olhos e manteve sua respiração. Inspirou lentamente pelo nariz e soltou o ar devagar pela boca, repetindo esse processo mais cinco vezes. Gradualmente, começou a sentir algo diferente percorrendo seu corpo. Não era apenas uma sensação ardente, mas também um suave ronronar em seus ouvidos.

A cada inspiração e expiração, os ronronados ficavam mais altos, e uma sensação de ardor no peito se intensificava. No entanto, ainda era suportável. No entanto, a curiosidade de descobrir a origem daqueles sons em seus ouvidos era irresistível. A cada minuto, os sons pareciam se mover de um lado para o outro, como se estivessem circulando ao redor do garoto.

O calor continuava a crescer em seu peito, envolvendo-o cada vez mais. A pressão se intensificava, tornando-se insuportável. Não era uma dor aguda, como se o coração fosse parar, mas sim uma sensação de algo que estivera selado por muito tempo, prestes a se libertar e alcançar o que sempre desejara.

Gael se preparou para pronunciar a palavra, sem ter ideia do que estava prestes a acontecer. Seus pulmões queimavam como nunca antes havia sentido. E então, gritando com todas as forças, proferiu:

— IGNIS!!!

Ao abrir os olhos, deparou-se com um leão de fogo encarando-o diretamente nos olhos. Era uma visão arrebatadora. Incapaz de reagir, tudo o que pôde ouvir foi o rugido majestoso da criatura:

— ROOOOOOAAAAAAR!!!

Fim do capítulo

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