Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 1

Capítulo 4: Os Guardiões

Anthony avançou agressivamente contra Gael, ignorando totalmente as palavras de Miguel e seu pedido para dar uma chance ao garoto. O rosto de Silva estava no chão, vulnerável diante do ataque iminente. Enquanto isso, Eduardo sorria, sabendo que estava prestes a se livrar do algoz de Rick e resolver mais um problema.

No trajeto em direção a Silva, a mão direita de Anthony começou a se transformar em gelo, ganhando tamanho e poder a cada instante. O garoto, com os olhos fechados, aguardava o impacto que o levaria à morte certa. Justo quando Anthony estava prestes a desferir seu golpe, as palavras de Gael ecoaram de sua boca:

— Falar o nome de quem? — Naquele momento, Anthony percebeu que agira impulsivamente. Era tarde demais para interromper seu ataque, mas as palavras de Gael evocaram memórias esquecidas há muito tempo, fragmentos apagados de sua mente. No entanto, não havia como recuar enquanto seu soco se aproximava rapidamente. Foi então que ele ouviu o grito inaudível de Gael:

?????!!! — Uma parede de fogo subiu rapidamente de um lado ao outro da sala. As chamas envolveram a mão de Anthony, mas estava protegida pelo gelo que evitou que fosse consumida imediatamente. Porém, o poder abrasador de Gael logo derreteu o revestimento congelado.

A intensidade da parede de fogo não apenas derreteu a mão de gelo de Anthony, mas também o arremessou para trás, como se tivesse levado um soco poderoso. Prestes a cair violentamente sobre a mesa, um arbusto brotou do nada, suavizando o impacto da queda de Eduardo.

Miguel, ao usar seus poderes, desencadeou uma reação em cadeia. Num instante, os outros seis que estavam de pé ao redor da mesa avançaram rapidamente em direção a Gael. Cada um manipulava habilmente algum elemento como Silva: água, gelo, terra, vento, eletricidade e até um galho que se transformou em uma espada apareceram nas mãos dos garotos.

Enquanto Gael permanecia paralisado, ele percebia a aproximação iminente dos demais, prontos para contra-atacar qualquer reação que Silva pudesse manifestar, caso se lançasse novamente contra alguém naquela sala.

— Chega de conflitos. Recuem para seus lugares, Kelvin, Daniel e Kira — Miguel afirmou com calma, mesmo após ter evitado um desastre iminente.

— Vocês também, Dave, Roberto e Lucas, recuem agora! — Essa última frase veio de um homem que estava sentado à mesa, que se manteve em silêncio até então. Seus cabelos negros e longos caíam com elegância, enquanto seus olhos escarlates brilhavam como rubis intensos. Sua pele pálida exalava um mistério fascinante, com uma franja delicada escorrendo suavemente sobre parte do rosto. Na testa, repousava um par de óculos de aviador.

Após a ordem de Miguel, este se aproximou de Gael com uma fluidez que cortava o ar. Por um instante, a respiração do garoto, que ainda jazia com o rosto no chão, vacilou, e então a parede de fogo se dissipou, desaparecendo como uma ilusão passageira.

— Erga-se, filho do homem — Disse Miguel, estendendo a mão ao garoto — Peço-lhe desculpas pela abordagem brusca, mas temos muito a discutir. Eu sou João Miguel. Você deve ter ficado tremendamente assus—

— Caracaaaaa!!! Eu sou o Ace!!! — Miguel fitou Gael com uma expressão perplexa, sem compreender a essência das palavras proferidas pelo jovem. No entanto, percebeu que qualquer vestígio de medo que o garoto pudesse ter sentido anteriormente foi superado pela empolgação contagiante.

À mesa, um dos indivíduos que estava sentado soltou uma risada ao ouvir o que Gael disse. Era um homem idoso, provavelmente o mais velho do grupo. Seus cabelos brancos caíam pelos ombros, e uma cicatriz marcava seu olho esquerdo, lembrança de uma queimadura no passado. Sua pele morena e seus olhos semicerrados revelavam uma herança oriental que atravessava gerações.

— O que há de tão engraçado, Karumo? — Questionou Miguel, perplexo.

— Ele está se comparando a um personagem de anime e mangá — Respondeu Karumo, ainda rindo diante da situação.

Miguel continuava a olhar para Gael, incapaz de compreender o motivo de tamanha empolgação ao se comparar com um personagem fictício.

— Hum — Murmurou aquele que tentava conduzir a reunião — Não compreendo como isso está relacionado ao filho do homem, mas precisamos retornar ao assunto em questão.

Miguel era um homem centrado em seus objetivos, dotado de precisão em suas palavras e buscando sempre o equilíbrio em todas as situações.

— Por favor, sente-se na cadeira vazia, filho do homem — Indicou ele, apontando para a cadeira na ponta da mesa, para que Gael pudesse se acomodar.

Enquanto caminhava em direção ao seu assento, o garoto observou Anthony lutando para se libertar dos arbustos que o envolviam, resultado do poderoso impacto da parede de fogo que havia surgido na sala.

Gael estava tão empolgado que até esqueceu de verificar o que estava entalhado na cadeira onde ia se sentar. Logo que ele se acomodou e Anthony terminou de se limpar, Miguel começou a conversa com uma pergunta direta:

— Então, você confirma que um indivíduo com as características descritas perfurou seu abdômen com uma espada? — Sem rodeios e sem prolongar as apresentações dos outros membros da mesa, Miguel foi direto ao ponto. A abordagem franca do jovem à sua frente não foi falta de educação, mas sim objetividade. Gael sentiu sua empolgação desvanecer. Ele se sentia como Ace, o personagem principal da saga atual de One Piece que ele acompanhava. O garoto hesitou por um momento, mas acabou confirmando.:

— Sim, confirmo!

— Rick está morto, e esse filho do homem foi escolhido para ocupar seu lugar, daí a tatuagem em seu braço e a manifestação poderosa do fogo — Miguel pronunciou o veredito, validando as palavras de Gael.

— Espere, você está dizendo que um zumbi com uma espada perfurou meu estômago, me matando, e agora sou capaz de controlar o fogo? — Questionou Gael.

— É mais complicado do que isso — Na sala, uma pessoa que até então tinha falado apenas uma vez, interveio.

— E quem seria você? — Indagou Gael ao jovem que acabara de falar.

— Peço desculpas pela falta de educação — Respondeu o homem que havia instruído os garotos a se afastarem de Gael enquanto ele estava caído — Me chamo Vand Xavier e, pela forma como Miguel está guiando essa reunião, acho que é minha vez de esclarecer a confusão em que você se meteu. Como João disse, você foi escolhido para assumir o lugar de Rick como guardião, e é por isso que está aqui. Quando aquele corpo inanimado o apunhalou com a espada, transferiu para você os poderes ancestrais que possuía.

— Mas por que fui escolhido? — Perguntou Gael a Vand.

— Sinceramente, não sabemos a resposta — Afirmou Vand — Enquanto Anthony te avaliava mentalmente, eu considerava que, quando morremos, nossos corpos talvez entrem em dormência até encontrarmos alguém compatível com nossos poderes. Esta é a primeira vez que vemos algo assim, então talvez seja o seu caso. Mas quando se trata de Rick, as coisas costumam ser ainda mais complicadas.

— Por que só eu vi o corpo caído ali aos pés do poste? E mais importante, quem são vocês afinal? — Gael perguntou, começando a perceber que estava encrencado até o pescoço.

Vand sorriu ao ouvir as perguntas. Mal conseguia lembrar quando foi a última vez que teve que responder algo assim. Séculos? Não, talvez até milênios desde a última vez que discutiu esse assunto. Por isso, ele sorriu:

— Somos os Guardiões, responsáveis por manter os mundos em ordem. Representamos esses lugares — respondeu Vand a Gael, aproveitando para instigar ainda mais a curiosidade do garoto — E sinceramente, não sabemos porque você foi o único a ver o corpo inerte de Rick.

— Mundos? — questionou o garoto, deixando claro que a primeira informação dada por Vand havia anulado a segunda em sua mente.

— Sim, mundos. Então você acreditava que, em um universo tão vasto como este, os humanos seriam os únicos habitantes? — Indagou Vand, com um sorriso sarcástico estampado em seu rosto.

— Uma pergunta digna de um filho do homem — Disse Miguel, demonstrando que conhecia bem a natureza humana.

— Mas por que nunca descobrimos isso antes? — Perguntou Gael, percebendo que tudo aquilo em que acreditava estava prestes a ser abalado.

— Bom, essa é uma das funções dos Guardiões: evitar que todos esses mundos entrem em conflito novamente, desencadeando uma nova guerra. Mas essa é uma história para outro momento. Cada um de nós aqui protege um desses mundos. O problema é que a Terra sempre acaba sendo o palco dessas guerras, por isso vocês não sabem da nossa existência — explicou Vand a Gael sobre os múltiplos universos.

Vand, entre os Guardiões, era considerado o mais inteligente. Alguns até afirmavam que, dentre todos os universos, Xavier poderia ser o mais astuto. Essa questão, porém, permanecia em aberto, gerando diversas discussões sobre quem seria o mais perspicaz: o Guardião ou Ginko, o cientista excêntrico. Por ora, deixemos esse debate sem resposta.

— Além do mundo humano, existem mais seis dimensões que os Guardiões protegem: Elysium, Asgard, Duat, Takaamahara, Eterna Juventude e Dilmum. Esses reinos coexistem simultaneamente, e nossa função é garantir que jamais se cruzem — Explicou Vand, enfatizando a importância crucial do trabalho dos guardiões para manter a paz nesses lugares.

— Agora que o novato está atualizado, por que nos convocou aqui, Miguel? — Perguntou o único cavaleiro que até então havia permanecido em silêncio.

O jovem era notável pela sua altura impressionante, chegando a um metro e noventa e cinco. Ele exalava uma presença marcante. Seus cabelos negros, com reflexos azulados, eram lisos e caíam até os olhos, mas estavam presos em um coque por causa da boina azul que ele usava. Seus olhos, de um azul vibrante, eram cativantes, e ele exibia um pequeno curativo no rosto, que não parecia ser sério.

— Viram os ferimentos no rosto de Sandor? — apontou Miguel, referindo-se ao cavaleiro — Eles começaram a se movimentar. Seres que estiveram adormecidos por milênios, sem qualquer sinal de rebelião, despertaram. Tudo indica que estão conectados com o que está acontecendo nesta sala agora.

Miguel iniciou a resposta que o guardião pediu, indicando que o caos mal começara a se manifestar.

— Convoquei vocês aqui, Sandor Wahn, porque suspeito que as sombras estão agindo e que a era das trevas está prestes a começar.

Fim do capítulo

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