Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 1

Capítulo 17: O Segundo Elemento

— Como disse, você conseguiu! — Disse Vinícius, sentando na areia completamente seco, o que chamou a atenção de Gael, já que ele estava ensopado dos pés à cabeça de uma forma que ele não tinha previsto.

— Como é que você consegue ficar seco, sendo que estava agora a pouco rodeado por água? — Perguntou Gael, que agora a pouco havia sido atropelado por uma onda.

— Isso tem a ver com o que vou te ensinar, vou te ensinar o controle de um segundo elemento — Respondeu o guardião, sobre porque estava tendo aquela conversa com ele.

— Então vamos levantar dessa areia, já está na hora de você desgrudar desse lugar — Disse Lucas, estendendo a mão para Gael.

Silva se sentou ao lado de Vinícius e de Lucas, com Lubu mostrando para o garoto que o treinamento começaria ali mesmo e ele começou com uma simples questão:

— Quando Karumo estava te treinando e você disse o nome do fogo pela primeira vez sabendo o que estava fazendo, qual foi a sensação daquele momento? — Gael pensou naquela situação, a respiração que vinha pelo nariz e soltava pela boca, e a forma como aquilo crescia dentro dele:

— Eu senti que a cada inspiração e expiração meu pulmão queimava, era algo que vinha de dentro, algo que nunca senti na minha vida e nunca achei que pudesse sentir — Disse o garoto, se lembrando dos ensinamentos de Karumo.

— Você reparou que a sensação que descreveu é interna? —

Indagou Vinícius, sobre a perspectiva de Gael, que confirmou a pergunta com um balançar positivo com a cabeça.

— O segundo elemento é ao contrário do primeiro e não existe um gatilho para ele. — O guardião se preparou para mudar de posição, ficando de frente com Gael para mostrar um exemplo para o garoto de como o segundo elemento funcionava, o ambiente havia mudado apenas com a movimentação do seu corpo.

O cenário à beira-mar, banhado pela luz dourada do sol, proporcionava uma atmosfera quase mística para aquela lição. O som suave das ondas quebrando na costa se misturava ao sussurro do vento, criando uma harmonia natural ao redor dos três guardiões.

— ????? — Disse o guardião, as palavras desconhecidas para manifestar a água em sua mão — Depois que você tem o manifestar do elemento pela primeira vez, não existe a necessidade de dizer o nome original dele, apenas quando se tem a intenção de lutar para valer contra um adversário. A manifestação da água em minha mão veio de dentro para fora por causa da minha respiração, quando inspiro pelo nariz e expiro pela boca. Mas o que acontece se invertermos essa lógica?

Vinicius fez da pergunta algo retórico, já que sabia que Gael não teria a resposta, e também entendia que Lucas não interromperia sua explicação. Assim que terminou a questão, algo começou a mudar em sua mão.

O olhar atento de Gael seguia cada movimento de Vinicius, e seu coração pulsava com a curiosidade sobre o segundo elemento. No momento exato, algo mágico aconteceu em sua mão, enquanto a água parecia responder à sua respiração, fluindo com uma conexão intensa.

— Gelo? — Indagou Gael, com surpresa e encanto, ao ver a água, até então na mão do guardião, se transformar em gelo.

A natureza ao redor parecia sussurrar palavras de admiração, conforme a manifestação se desdobrava diante deles.

— Quando se inverte a respiração, o elemento em vez de vir de dentro pra fora, começa a vir de fora pra dentro. No caso, meu segundo elemento é o gelo — Explicou Vinicius, a forma como Gael conseguiria manifestar o seu segundo elemento — Lucas também consegue manifestar essas duas matérias, mas sem o total poder da água, já que o bestoj pertence a mim.

Completou o guardião, revelando detalhes sobre os dons elementares de seu colega.

Lucas, por sua vez, realizou sua demonstração com graciosidade. A água surgia em sua mão direita, e pequenos raios começavam a brotar da superfície líquida, formando uma cena impressionante, quase como se raios de luz estivessem dançando em meio à água.

— Todos os elementos estão dentro do seu corpo, mas também estão na atmosfera, e a combinação deles pode fazer seu poder de combate aumentar bastante — Vinícius finalizou a explicação de como o garoto poderia ficar mais forte. O cenário ao redor deles permanecia sereno e acolhedor, com a brisa marinha sussurrando segredos sobre o poder dos elementos — Pode ser estranho no começo, mas da mesma forma como seu corpo se habituou a andar e mexer os braços ao mesmo tempo, você terá capacidade de usar seus dois elementos conjuntamente em uma luta!

Complementou Lucas, enquanto a luz do sol banhava o grupo, como se quisesse testemunhar aquele momento de aprendizado.

— Todos os nossos poderes são tão elevados assim por causa de uma simples respiração? — Indagou Gael, surpreso com a revelação de que algo tão natural como respirar poderia ser crucial no momento da luta. Ele percebia, agora mais do que nunca, a importância dos detalhes sutis e intrincados do domínio dos elementos.

— A forma como respiramos ajuda o fluxo da energia elemental fluir em nossos corpos, da forma como conseguimos manipular o poder que sai de dentro dele e o poder que entra dentro dele — Dessa vez, quem respondeu foi Lucas, acrescentando sabedoria às palavras de Vinícius — Praticamente funciona como se fosse um canal para a entrada e saída dos nossos poderes. Agora você vai ficar teorizando para sempre ou vai mostrar para nós qual é o seu segundo elemento?

Provocou Vinícius, com um sorriso confiante no rosto, enquanto o cenário à beira-mar parecia acompanhar a expectativa daquele momento crucial.

— Você tem razão — Respondeu um Gael um pouco constrangido — Vamos tentar então.

A expectativa no ar era palpável, como se até mesmo a natureza estivesse em silêncio, aguardando o próximo passo do garoto. Ele juntou as pernas e quando ia fechar os olhos para mudar a respiração, foi interrompido por Vinicius:

— Acredita mesmo que seu inimigo dará a chance de você fechar os olhos para conseguir se concentrar? — Questionou o guardião, enfatizando a importância da preparação adequada em uma batalha real — Terá que fazer isso de olhos abertos, mas primeiro manifeste o fogo em sua mão.

O som das ondas continuava a embalar a cena, como uma melodia em harmonia com o treinamento dos guardiões. Cada gesto, cada palavra e cada respiração agora eram mais do que meros detalhes; eram elementos fundamentais para moldar o futuro do jovem protetor. A jornada de Gael estava apenas começando, e ele sabia que o caminho à sua frente seria desafiador, mas também cheio de possibilidades e crescimento.

Gael percebeu que Vinícius tinha uma forma diferente de ensinar do que a de Karumo, afinal eram dois guardiões que enxergavam o mundo das suas próprias formas. Ele abriu a palma da sua mão e conseguiu fazer uma pequena chama bem no meio dela. Assim, ele começou a inverter a respiração, mas foi então que o grande problema apareceu. Quando ele começou a executar o novo estilo de respiração, suas chamas começaram a se apagar, e então, no ato do desespero, voltou a respirar da forma comum.

— Vendo a sua forma de reagir, já consegui delimitar seus paradigmas que é conhecer e confiar — Disse Vinícius, mostrando saber as palavras que o leão dentro do eixo de Gael havia dito para ele. O cenário ao redor continuava calmo, como se a natureza estivesse observando com atenção o treinamento do jovem guardião — Essas foram as palavras do seu bestoj para você, correto?

— Sim, de uma forma invertida, mas sim, como você soube logo de cara? — Respondeu Gael, intrigado com a capacidade de Vinícius de compreender a essência do seu ser elemental.

— Todos nós temos paradigmas que nos define como seres capazes de manipular a energia elemental, isso é o que define um bem-aventurado, mas somente aqueles que superam esses conceitos colocados em nossas mentes que se tornam aqueles que se destacam com seus elementos — Explicou Vinícius, revelando sua sabedoria sobre o tema. O olhar de Gael se fixou nos olhos do guardião, como se estivesse buscando respostas no âmago de sua alma.

— Eu falei invertido de propósito, o seu bestoj disse que quando aplicasse confiança nele, você ganharia conhecimento, mas como as coisas não ocorrerão como planejado, seguiu o caminho invertido, correu para o seu conhecimento atual para ter confiança, e por isso sua chama quase apagou — As palavras de Vinícius ecoavam como sábias lições, ecoando pela praia.

E a chamada que Gael tomou de Vinicius fez todo sentido para o garoto. Emunn já tinha explicado para ele sobre isso, e mesmo assim, ele ainda permanecia sem confiar nele.

— Você tem razão, vamos tentar de novo — O fogo ainda tremulava na mão direita de Gael, que ainda mantinha sua respiração para controlar seu primeiro elemento. O cenário à beira-mar permanecia sereno, com a brisa marinha acariciando o rosto do jovem guardião enquanto ele se concentrava em sua prática.

Ele respirou fundo e trocou a forma de como o ar adentraria em seus pulmões, e viu as chamas vacilarem em sua mão novamente. Mas dessa vez, manteve a respiração para o segundo elemento. O ar gelado soprando ao redor de Gael trazia uma sensação única, como se o próprio vento quisesse testemunhar o momento crucial.

A energia não se dissipou, e quando Gael olhou para sua mão direita, seu fogo tinha se estabilizado, ou melhor dizendo, a chama em sua mão havia ficado maior. O garoto percebeu a diferença de ter um segundo elemento.

— É o vento, meu segundo elemento, é o vento e ele consegue deixar o fogo mais forte — Disse Gael, demonstrando sua surpresa com o vento. O garoto tinha uma expressão de espanto e admiração diante da harmonia entre os elementos.

— Na maioria dos casos, o segundo elemento vem para reforçar o primeiro, o oxigênio aplicado em seu fogo por causa do vento aumentou o tamanho da chama na sua mão, da mesma forma que os raios no elemento aquático do Lucas aumentam o seu poder de ataque — Vinícius sabia que a química dos elementos era essencial para melhorar cada um dos golpes — Agora você começou a trilhar o caminho para ser um grande guardião.

Acrescentou o guardião, enquanto o cenário ao redor parecia aplaudir em silêncio a conquista de Gael.

Os três se levantaram do chão e Gael virou-se para se despedir de Lucas e Vinícius, mas o guardião apenas sorriu, balançou a cabeça e colocando a mão na testa do garoto:

— Você acha que seu treinamento acabou? A gente só fez o básico, vamos começar. O verdadeiro treinamento começa agora — Disse Vinícius, surpreendendo Gael com sua perspectiva desafiadora. A praia testemunhava o próximo capítulo da jornada de Gael como guardião, com o horizonte refletindo possibilidades infinitas.

— Vamos, Lucas, ????? — Vinícius chamou o nome do seu elemento, invocando apenas a água em sua mão direita. O ambiente ao redor dos guardiões se transformou, ganhando vida com a presença do elemento aquático. A luz do sol refletia nas gotas de água que dançavam em suas mãos, criando um cenário sereno e encantador.

Lucas, por sua vez, combinou a água com a eletricidade, formando uma mistura poderosa de raio e água. Seu sorriso confiante revelava sua satisfação ao dominar o controle do elemento.

— Ruja, Emunn! — O fogo tomou a mão de Gael, trazendo à tona a espada do garoto. O ambiente pareceu ganhar um brilho ainda mais intenso com o poder do fogo, enquanto Lucas e Gael se chocavam com suas habilidades.

Vinícius, observando os dois lutarem, foi transportado para um lugar especial, cercado pelas águas do mar. Era o seu eixo, o local onde encontrava respostas e conexões com seu próprio ser.

— Olá Sarko, há quanto tempo? — Questionou Lubu, demonstrando sua astúcia, mesmo sem virar para trás para ver quem se aproximava.

Sarko, o ser que se aproximava sorrateiramente por trás do guardião, possuía a aparência imponente de um tubarão-branco, cuja pele reluzia em tons prateados e azulados. Suas nadadeiras majestosas cortavam o ar com elegância, revelando uma destreza singular.

Seus dentes afiados, como lâminas, estavam à mostra, conferindo-lhe um aspecto intimidador e selvagem. No entanto, sua postura era surpreendentemente tranquila e equilibrada, não indicando qualquer sinal de ameaça. A aura que envolvia Sarko era serena e misteriosa, como se escondesse segredos profundos sob sua forma de predador.

Apesar da aparência do grande predador do mar, Sarko possuía uma característica humana que intrigava Vinícius. Seus olhos expressavam uma sabedoria ancestral, como se tivessem testemunhado séculos de história e evolução. O olhar do tubarão-branco era penetrante, como se pudesse enxergar além das aparências e adentrar a essência das almas.

Aquela singular combinação de características entre a ferocidade do predador e a sabedoria, despertava a curiosidade e o respeito do guardião. Vinícius sentia-se envolvido por uma aura de mistério e poder, e a presença de Sarko trazia consigo uma sensação de que algo grandioso estava prestes a acontecer.

— Astucio como sempre, Vinícius, mas você realmente acredita no que está fazendo? — Indagou o ser que se aproximava sorrateiramente por trás do guardião.

— Sim, se o Rick confiou nele, devo colocar minha vida nas mãos desse garoto se necessário — Respondeu Vinicius, ainda sem olhar para trás, mantendo sua convicção naquele momento importante.

— Mas mesmo assim, você acredita que ele ficará do nosso lado na guerra? — Sarko perguntou, colocando em pauta a incerteza sobre a lealdade de Gael durante a futura guerra que se aproximava.

— Ainda não sei, mas devemos nos preparar, Sarko!

Fim do capítulo

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