Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 1

Capítulo 16: Sem Aberturas!

— Sétima vez e contando —Disse Lucas ao ver Gael derrotado novamente por Vinícius, tendo seu corpo completo de areia como se fosse um empanado.

O garoto investiu sete vezes contra o guardião de Elysium e, em todas elas, caiu de costas no chão, sem conseguir prosseguir em nada na sua batalha.

— Mas tu não havia dito que tinha nascido pronto, rapaz? — Lucas mais uma vez provocou Gael sobre como não estava conseguindo fazer nada contra Lubu — O mestre nem está usando seus elementos contigo, vamos, levante e tente de novo.

— Falar é fácil, ele não tem nenhuma abertura — Gael exclamou sua indignação para Lucas, que, mesmo provocando o garoto, tentava ajudar a achar um caminho para vencer aquele desafio.

— Quando você estiver pronto, pode começar de novo —Disse Vinícius, que estava de braços cruzados, agora mais perto da água. Aquele era seu território, mas mesmo assim, não havia utilizado nada da sua energia elemental para derrotar Gael.

Lucas se aproximou do garoto e começou a falar algo para tentar incentivar Silva:

— Contando nos anos de vocês, há uns 5 mil anos, Vinícius me escolheu para ser seu aprendiz — Gael olhou para Lucas assustado ao ouvir aquela afirmação:

— Você tem mais de 5 mil anos de vida?

— Isso é até tranquilo comparado à quantidade de anos que meu pai e minha mãe possuem. Para vocês, eles são chamados de deuses, mas como Vand explicou, eles são apenas bem-aventurados com a manipulação da energia elemental. Meus pais são Afrodite e Hefesto — Informou Lucas, dando mais um ponto para que Gael ficasse chocado, mas o garoto não podia perder a piada.

— Pelo jeito, você puxou toda a beleza do seu pai — Gael retrucou pela primeira vez as provocações que o aprendiz estava lhe dirigindo durante todo aquele treinamento.

Lucas se sentou na areia, enquanto Gael recuperava o fôlego deitado ainda no chão. Não conseguia movimentar seu corpo mais, pelo menos não por agora.

— É, eu mereci isso — Riu Lucas pela primeira vez, agora que Gael havia retrucado suas provocações — Como dizem por aí, toda lenda tem um pouco de verdade, e sim, meu pai não é a pessoa mais bela que existe na face da terra, mas ele me criou muito bem. Já a minha mãe, sempre aturou a união dos dois como um castigo, já que foi forçada por Zeus a isso, pois ela causava muita confusão pelo reino por causa de sua beleza — Lucas estava contando um pouco de sua história para Gael para ele entender como superar aquilo — Então já sabe como cresci, mas em uma seleção para aprendiz de guardião de Elysium, Vinícius mudou minha vida.

— Sinto muito por toda essa desgraça — Lamentou Gael sobre o passado de Lucas — Mas por que você está me contando isso?

— Como disse, minha vida mudou quando a seleção veio. De vários filhos e filhas de bem-aventurados, sejam eles bem-aventurados puros ou mesclados com seres humanos, eu fui o único que passei no teste — Lucas olhava para Vinicius quando falava aquilo. O garoto com cabelos alaranjados que aparentava ter a mesma idade dele olhava para o oceano como se aquele lugar pertencesse a ele — Eu consegui encostar um dedo na testa do meu mestre e fui aceito como seu discípulo. Aquele recusado pela mãe e com um pai muito complicado podia ter algo especial. Você também conseguirá achar uma abertura.

— E como você conseguiu? — Perguntou o garoto curioso sobre o que conseguiria com aquela informação.

— Como você falou, ele não tem pontos fracos, é você que precisa criar um — Respondeu Lucas sobre como Vinícius lutaria— Eu vi você falando sobre alguns personagens, são os mangás e animes que alguns humanos acompanham, certo? Pense em uma forma como eles conseguiram derrotar seus adversários, veja se encontra um jeito nessas obras que você acompanha.

Gael pensou em tantos animes e mangás que havia assistido e lido, deitado naquela areia e ouvindo o som da água batendo na beira da praia. O garoto se lembrou do seu amigo Luis Felippe chegando na sua casa quando eles tinham de 12 para 13 anos. Naquele dia, ele estava ansioso para mostrar algo para Silva. Naquela época, para eles, desenho e animes eram tudo a mesma coisa.

Luis subiu as escadas da casa de Gael junto com o garoto, falando de um anime chamado “Hunter X Hunter”, um tipo de obra com poderes complexos, com uma história incrível e com um simbolismo muito bom sobre a amizade entre o protagonista e um personagem secundário.

O mais interessante para Silva era o apetrecho principal de Gon, o protagonista da obra, que carregava uma vara de pescar e sempre criava estratégias incríveis com ela. Se um garoto de 12 anos conseguia vencer seus inimigos com aquele objeto, ele conseguiria criar uma abertura na defesa de Vinicius.

Gael sentou na areia e olhou para o guardião mais uma vez. Lubu estava na beira do mar apenas com água na altura do calcanhar. Ele havia traçado uma estratégia e dessa vez ele tinha convicção de que daria certo.

O garoto se colocou de pé, bateu a areia do corpo e se dirigiu até uma distância de 5 metros de Vinicius. Gael olhou para o guardião e falou:

— Você está pronto?

— Eu que pergunto se você está pronto, abusado! — Disse Vinícius em um tom humorado, mas com as águas do mar se agitando um pouco mais.

O guardião havia percebido que havia um brilho nos olhos de Gael de um jeito diferente. Ele concluiu que Lucas tinha falado algo para o garoto que havia dado a ele uma nova estratégia para cumprir o termo para o seu treinamento.

Com Silva caindo 7 vezes no chão pelos impactos apenas nos golpes físicos, então não precisa se preocupar com ataques em médio e longo alcance, só seria acertado se se aproximasse demais do guardião com uma guarda incompleta. Vinicius se limitou em não usar elementos, senão seria impossível para Gael cumprir a meta. A estratégia estava pronta, agora era só executar.

O garoto abriu os braços e disse:

— Ignis! — Uma parede de fogo se levantou naquela praia e fechou completamente a visão de Vinicius. Gael pôs na cabeça que se o guardião não tinha pontos fracos, ele criaria um. Diferente da divisão de fogo que o garoto havia criado na sala onde os guardiões se reúnem, essa tinha uma encurvadura que pegava a margem da praia e, inclusive, queimando sobre a água, deixando Lubu cercado pelo elemento de Silva.

— Excelente ideia, Gael. Tentar tirar meu campo de visão — Disse Vinícius ainda com os braços cruzados entre o fogo e a água do mar — Mas o que será que você vai fazer? De qualquer lugar que você decidir sair, eu vou conseguir te ver.

E o guardião estava certo. A meia lua de fogo que Gael havia criado fez todos os pontos daquela parede ficarem de frente para Lubu. De qualquer lugar que o garoto fosse sair, ele conseguiria confrontá-lo. No mano a mano, o garoto ainda estava à anos-luz de ser alguém bom em combate.

— Vamos, será que vem a sua oitava derrota? Eu me lembro que você disse que nasceu preparado, será que esqueceu de como havia nascido? — Vinicius olhava a parede de fogo na sua frente buscando de onde Gael viria, tentando provocar o guardião da terra.

A parede de fogo que Gael havia criado era imponente, com chamas ardentes e crepitantes que se erguiam vigorosamente ao seu redor. As labaredas dançavam em tons de laranja e vermelho, criando um espetáculo de luz e calor. A intensidade do fogo era palpável, tornando o ambiente ainda mais desafiador.

Gael estava quieto e não respondia a nenhuma das provocações que Vinicius havia feito, o que havia aprendido nas primeiras vezes quando foi enviado diretamente para comer areia. Lubu olhava em todas as direções buscando de onde o ataque de Silva viria, e ele veio.

Vinicius ouviu o barulho de algo atravessando a barreira, olhou para seu lado esquerdo e de lá, não estava vindo Gael, mas sim a espada do garoto que vinha em sua direção em parábola. Lubu sorriu ao entender o que Silva estava tentando fazer.

Quando Lubu olhou para a espada vindo em sua direção, entendeu que Gael estava usando ela para tentar encontrar sua posição. O guardião olhou a arma de Silva vindo na sua direção, ele só teria o trabalho de se desviar dela em vez de defender o golpe, se defendesse, o garoto descobriria sua posição pelo lado de fora da barreira.

A lâmina negra brilhava com o reflexo do fogo, Vinicius apenas deu um passo para o lado, desviando da espada. Não daria essa colher de chá para que o garoto conseguisse saber sua localização. Ele criou aquela barreira, ele tinha que se virar para descobrir um modo de derrotá-lo, mas o que o guardião não imaginava era que cairia na armadilha que Gael havia criado do outro lado do muro de fogo.

Ao tomar a iniciativa de não defender o golpe com energia elemental, Vinicius deu tempo para que Gael atravessasse a barreira e viesse para cima dele em velocidade extrema, a cada passo que o garoto dava na areia secava a água que vinha do mar, quando o guardião percebeu o que havia feito ao dar o passo para o lado, já era tarde, o protetor da Terra estava na frente dele como se fosse um leão perante uma presa.

Silva esticou o braço, seus pés estavam envoltos em chamas, conferindo-lhe uma aparência imponente enquanto se preparava para alcançar uma grande velocidade. Vinicius olhou para o lado e, por reflexo, ao ver Gael voando em sua direção, ele jogou toda a força do mar no garoto. A água ergueu-se como uma parede colossal, ameaçando engolir tudo em seu caminho.

Mas, antes que a onda viesse, Gael, com determinação e destreza, conseguiu tocar de leve a testa de Lubu e foi empurrado para longe da margem da praia pelo mar. O poder do oceano ressoou ao redor deles, criando um cenário impressionante, com gotas de água brilhando como diamantes suspensos no ar.

Gael foi lançado uns 10 metros de distância pela onda criada por Vinícius, voando pelo céu temporariamente até alcançar o fim da força da água. O garoto, então, pousou na areia, tossindo o líquido que havia entrado em seus pulmões. A textura da areia era áspera sob suas mãos, lembrando-o da realidade concreta de sua batalha.

O cenário ao redor vibrava com a intensidade do confronto. O sol brilhava intensamente, iluminando a praia dourada com sua luz cálida, enquanto as ondas azuis e brilhantes quebravam suavemente na costa. Ao fundo, os gritos das gaivotas completavam a atmosfera serena e majestosa do ambiente.

Lubu correu em direção a Silva, preocupado com a besteira que havia feito por reflexo. O cenário em torno deles ganhou ainda mais vida com o som das ondas se chocando na costa, como uma trilha sonora épica para o embate entre os guardiões.

— Você está bem? — Exclamou o guardião, espantado com a burrice que havia cometido.

Gael terminou de tossir a água que havia aspirado, e sua tosse se transformou em risada ao ver o feito que acabara de realizar. Seu coração transbordava de emoção, e um sorriso brilhante adornava seu rosto. Ele sabia que, mesmo diante dos desafios, estava crescendo e se tornando mais forte, pronto para enfrentar o que viesse pela frente.

O sol continuava a brilhar no céu, as ondas a beijar a praia, e os dois guardiões, em meio a esse cenário magnífico.

— Sim — Respondeu o garoto depois de terminar de tossir a água que havia engolido, encostando a cabeça na areia mais uma vez, mas com uma sensação de vitória em seu coração e com um sorriso brilhante em seu rosto exclamou — Eu consegui!!!



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