Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 1

Capítulo 15: Aquele Episódio na Praia

Gael sentiu o corpo coberto de água quando abriu os olhos e percebeu que alguém havia jogado o líquido nele. O límpido líquido escorreu por sua pele, destacando o brilho do sol que refletia na superfície. A brisa marinha tocava suavemente o rosto do jovem, misturando-se ao aroma salgado do oceano que preenchia o ar ao seu redor.

— Vai ficar dormindo o dia inteiro? — Perguntou o jovem que estava abaixado ao lado de Gael, ele que havia molhado o garoto — Achei que você fosse dormir o dia todo.

Silva o reconheceu, o jovem era um dos garotos que estava de pé na sala quando ele havia conversado com os guardiões. As roupas do rapaz se moviam graciosamente com o vento, denotando sua juventude e vitalidade. O olhar curioso do garoto revelava uma expressão vivaz.

— Onde eu estou? — Perguntou Gael cerrando os olhos, tentando abri–los para ver onde se encontrava — Onde está o Vinícius? —

Os olhos de Gael procuravam captar os detalhes da paisagem ao seu redor. A praia estendia-se majestosamente diante de seus olhos, com areia dourada e ondas brilhantes que dançavam na orla. Ao longe, avistava-se uma formação rochosa imponente que se erguia majestosamente contra o céu azul, pintando um cenário de tirar o fôlego.

— Você está em uma praia na Grécia e infelizmente Vinícius foi morto pelo ciclope — Disse o garoto que estava ouvindo a pergunta de Gael — Agora eu sou o guardião no lugar dele.

As palavras ecoavam nos ouvidos de Gael, ecoando como as ondas quebrando suavemente na costa. A Grécia, berço da civilização antiga, agora era seu cenário de desafios e mistérios. Gael sentiu um misto de surpresa e choque diante da notícia sobre Vinícius.

Gael estalou os olhos sobre as informações, Vinícius morto? E como assim ele estava na Grécia? Mas a surpresa durou pouco porque Vinícius chegou dando um tapa na nuca do rapaz que estava assustando Silva. O som do tapa ecoou no ambiente, e um sorriso travesso surgiu no rosto de Vinícius.

— Pare de assustar o Garoto, Lucas — Disse Vinícius se aproximando de Gael para conversar com ele — Vejo que você já melhorou das porradas que tomou daquele ciclope?

A figura de Vinícius era imponente, suas feições maduras e experientes contrastavam com a expressão de travessura, como se fosse um sábio de espírito jovial. Ao se aproximar, o calor que irradiava de seu corpo era como um abraço acolhedor, envolvendo Gael num sentimento de segurança.

Gael olhou para aquele garoto com aparência de alguém mais ou menos da sua idade, mas, mesmo assim, suas expressões pareciam de alguém extremamente mais velho, como se fosse seu avô. O cenário da praia grega se tornou palco de um encontro entre gerações distintas, mas unidas por um propósito maior.

— Sim, a primeira pancada que recebi dele quase destruiu o meu corpo — Informou ao guardião o que havia acontecido na luta.

— Sua situação só não ficou mais complicada, graças à energia elemental em seu corpo, que segurou os maiores danos —Informou Vinícius sobre o que poderia ter deixado Gael vivo depois daquele encontro entre o garoto e o porrete do ciclope.

— Então foi isso que aconteceu na batalha, quando eu tentei cortar ele e não consegui — Concluiu seu pensamento sobre os golpes inúteis que havia desferido no monstro de um único olho.

— Isso mesmo, a energia elemental em cada um de nós funciona como uma armadura natural no nosso corpo, quanto mais fortes ficamos, mais resistente ela se torna — Complementou Lubu sobre a conclusão de Gael.

— Quando você atacou o ciclope e não conseguiu ferir ele, sua energia elemental era muito inferior se comparado com a dele, afinal você ainda não havia despertado a verdadeira forma da sua espada — O guardião se sentou ao lado de Gael na areia e, pela primeira vez, ele pode prestar atenção no lugar em que eles estavam. Não era mais o Brasil, mas era um lugar na terra ainda; eles estavam de frente com um mar azul como o garoto nunca havia visto. Montanhas cheias de árvores fechavam o lugar onde eles estavam, dando uma paisagem ainda mais inacreditável. O lugar era lindo, nem em seus sonhos mais otimistas, o garoto pensou que em algum momento da sua vida poderia visitar um local tão incrível. Assim que Vinícius se sentou de um lado de Silva, Lucas sentou do outro.

— Mas o que era aquele ciclope que me atacou, de onde ele veio? Tem mais deles na terra? — Questionou Gael enquanto as ondas continuavam indo e voltando em direção ao mar.

— Não, não veio da terra. Karumo explicou para ti que os humanos não têm a capacidade de manipular o eixo em seu corpo para controlar a energia elemental, então esses seres não têm interesses nos seres humanos — Respondeu Vinícius a pergunta de Gael que ia estava preparando a sua próxima.

— Então de onde ele veio?

— Veio da minha terra, Elysium — Respondeu Vinícius deixando as coisas um pouco mais interessantes — Eu sou o guardião daquilo que ficou conhecido para vocês como a mitologia grega, senhor da água e protetor do bestoj Sarko.

Vinícius mostrou seu braço, e uma tatuagem de um tubarão foi revelada para Gael, mostrando que, assim como Lubu, tinha uma tatuagem de um dos maiores predadores dos mares. Silva tinha uma de um dos maiores predadores da terra.

— Esse ciclope escapou do nosso domínio para a terra, isso seria impossível, se alguém não tivesse conectando essas sombras — Vinícius respondeu, explicando sua teoria sobre o que estava acontecendo — Como supostamente eles já estão com a joia da terra, não tinham motivos para eles estarem aqui.

— Karumo havia me falado que nenhum inimigo viria mais para a terra por causa da joia não estar mais aqui, mas, mesmo assim, quase morri para algo que não devia acontecer — Afirmou Gael que estava tentando processar os motivos do ciclope ter aparecido na terra, logo no seu bairro.

— Realmente não havia motivos para o ataque, mas não sei quais motivos poderiam ser se não fosse a joia — Desconversou Vinicius, mas ele sabia o motivo das sombras estarem indo atrás de Gael, quanto mais cedo eles eliminassem um novo guardião, menos trabalho eles teriam — Acho que existe algo interessante também para te falar é que cada joia existe uma quantidade de núcleos de poder, a da terra tem 7, a das demais dimensões tem 6, 5, 4, 3, 2 e 1.

Vinícius tentava explicar para Gael os objetos que os guardiões tanto protegiam.

— Na dimensão de Takaamahara, o lugar que vive os seres que você conhece como mitologia japonesa, existe um receptáculo que aceita essas 7 joias e concede um desejo para o portador das pedras, só que existe um porém para usá-las.

— Seria a soma dos núcleos, mestre? — E dessa vez a pergunta de Lucas para Vinícius era em tom de respeito.

— Sim, a soma dos núcleos, para se colocar as pedras no receptáculo, em suas posições sempre tem que dar 7, então a joia 1 tem que ser colocada junto com a 6, a 5 com a 2, a 4 com a 3 e depois a 7, se não for dessa forma, o receptáculo simplesmente se romperá e as joias sumirão por todas as dimensões — Vinicius tentava reforçar para Gael a importância daquelas pedras — Como a da terra já foi levada pelas sombras, não sabemos em qual dimensão elas atacarão, o que nos coloca em uma situação complicada.

— Nesse tempo que vocês me deixaram sozinho, eu fiquei pensando em algo — Gael começou a demonstrar um pouco mais o seu raciocínio — Se os guardiões são os seres mais fortes de todos, por que todo esse alvoroço por causa das sombras? Existe algo que não está batendo em meus pensamentos.

Lucas olhou para Vinícius, vendo os questionamentos que Gael estava fazendo. Seu mestre acenou positivamente com a cabeça e então Herhrick começou a explicar:

— Quando os guardiões foram criados, o balanceamento de poder exigiu que algo fosse originado também para compensar essa proporção de energia elemental nos universos, nessa condição, as portas das bem-aventuranças foram geradas e qualquer um que chegasse a esses locais teria um poder quase equiparado ao de um guardião — Lucas envolveu Gael em suas explicações sobre esse novo poder — Quase, porque a quantidade de energia elemental que os bestoj fornecem para os guardiões é gigantesca e a energia elemental gasta com os poderes das portas das bem-aventuranças é dissipada do seu próprio usuário.

Agora Gael estava começando a encaixar um pouco as coisas em sua cabeça, as peças estavam se formando e dando sentido a esses pensamentos:

— Então é daí que vem os poderes das grandes sombras? —Questionou Gael, levando Lucas a seguir com suas explicações.

— Sim e não — Respondeu Lucas fazendo Gael ficar confuso novamente — Sim porque existem nove portas das bem-aventuranças e precisa de apenas dois requisitos para acessá-las: ter o mesmo elemento dos poderes delas e cumprir o desafio que o emissário do portão passará.

Herhrick tentava deixar as coisas bem mais claras para Silva com essa explicação:

— Mas além dos desafios e da compatibilidade elemental, ainda existe a capacidade de precisar ser muito eficiente com a energia elemental para conseguir encontrar as fendas dimensionais onde cada uma dessas portas se encontram.

— E o não? — Questionou Gael não deixando nada passar daquela explicação.

— O não existe para o dom. Há muito tempo, com a criação dos bem-aventurados, antes que tivesse a separação entre o dia e a noite, dons foram separados para alguns deles. Esses poderes estão além da manipulação comum que alguém normal pode ter — Os olhos de Gael seguiam a explicação do que Lucas estava querendo dizer sobre aquilo — É comum conseguirmos manipular a energia elemental, até mesmo fundirmos nossos poderes, mas os abençoados com o dom podem fazer coisas foras do comum. Manipular o tempo, falar com animais, se transformar no próprio elemento, ter visões do futuro, manipular os sentidos. Tudo isso usando seus dons. Mas existem 3 poréns para ter essa habilidade: você precisa encontrar alguém que possuí um dom, coisa extremamente rara hoje em dia, esse bem-aventurado precisa querer te ensinar e você precisa ter o mesmo elemento daquele que possui a benção.

Com a explicação de Lucas, Gael entendeu claramente que não conseguiria encontrar essas fendas dimensionais agora e muito menos aqueles que possuíam o dom; sua energia elemental precisava evoluir muito ainda antes de conseguir encontrá-los, e ele não quereria ajuda. Ele havia decidido que evoluiria suas habilidades ao ponto de encontrar um dos portões sozinho, assim poderia buscar alguém com o dom do fogo para lhe ajudar.

As palavras do guardião e de Herhrick fizeram Gael pensar como devia melhorar ainda mais seus poderes, mas mesmo tendo uma conversa para entender o buraco em que havia se enfiado, Silva pressentia que estava sendo testado por Vinicius. Até que ele se lembrou de algo que havia visto na batalha do garoto ruivo ao seu lado com o monstro em seu bairro.

— Na batalha contra o ciclope, eu percebi que meu fogo não teve poder de ataque suficiente para criar algum dano no monstro — Gael emendou outro assunto porque ele havia percebido que com a abordagem antiga não chegaria no lugar que queria com o guardião — Por mais que eu tenha levado algumas pancadas e estava lutando para permanecer vivo, eu vi que você usou sua energia elemental para criar gelo no ciclope.

Vinícius apenas sacudiu a cabeça de forma positiva, concordando com a fala de Gael. Ele realmente havia usado gelo, o que levou o garoto a ligar os pontos com o próximo raciocínio:

— Com você controlando o gelo e tendo a marca de um tubarão no braço, o seu bestoj nada tem a ver com o elemento usado — Gael estava conseguindo chegar a uma conclusão clara sobre o assunto — Você, além do gelo, seu principal elemento seria a água?

— Sim — Disse Vinicius sorrindo pelo raciocínio rápido que o garoto teve, ele permaneceu quieto apenas observando onde que Gael chegaria com aquilo.

— Se você pode usar dois elementos, eu também posso? Se sim, poderia me treinar? — Gael fez as duas perguntas já sabendo a resposta e havia entendido o recado de que precisava ficar mais forte.

Por mais que Vinícius não tivesse falado para Gael que o ciclope veio para a terra para matá-lo, Silva entendeu por conta própria o recado. Não precisava que ninguém desenhasse, ele só queria saber se Lubu o treinaria.

— Irei te treinar, foi uma falha minha o ciclope ter chegado à terra e quase ter te matado — Vinícius confirmou que seria o novo mestre de Gael — Karumo não deve ligar sobre esse treinamento, mas tenho uma condição para te treinar.

— Qual seria? — A curiosidade do garoto transfigurou-se em palavras.

— Você, com sua força atual, vai ter que encostar um dos seus dedos em minha testa — Vinicius fez o desafio, mostrando qual era sua condição para o treinamento, tocando seu dedo indicador direito em sua própria testa.

— Estilo o que o Sasuke fez com o Naruto no vale do fim? — Pensou em voz alta Gael, mas quando percebeu já havia falado.

— Que? — Questionou um confuso Vinícius a pergunta de Gael — Quem é esse?

— Perdão, acabei pensando em voz alta novamente — Gael mais uma vez havia deixado suas lembranças com animes e mangás influenciarem em suas comparações e agora lhe deixando extremamente sem graça.

— Você está pronto? — Vinicius se levantou da areia perguntando para Gael sobre o que ele decidiria.

— Eu nasci pronto!

Fim do capítulo

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