Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 1

Capítulo 14: Quem é Você?

O ciclope havia devastado totalmente o lugar onde Gael estava. Uma nuvem de poeira subiu com o impacto do soco que o gigante deu no chão, e destroços estavam espalhados por toda parte, mostrando a força imensa da criatura colossal.
Quando a poeira começou a assentar, o ciclope percebeu que seu soco não havia acertado Gael. Ele havia conseguido desviar, mas não por conta própria. Um jovem um pouco mais velho que Silva, com cabelos alaranjados e um palito de madeira na boca, havia salvado o garoto com uma demonstração impressionante de suas habilidades.
—Você lutou bem! — Disse o rapaz ruivo, levando Gael para longe dali, em meio às ruínas — Mantenha sua respiração para que a energia elemental consiga curar seus ferimentos.
Era Vinícius Lubu que tinha chegado na batalha e estava com cara de poucos amigos. O guardião estava surpreso com o avançar do poder de Gael, que em pouco tempo, já havia conseguido manifestar a verdadeira forma da sua espada.
— M A I S  U M  F R A C O T E  C H E G O U?!! — Gritou o ciclope, querendo provocar o guardião sobre como ele havia derrotado Gael na sua cabeça — S E  V O C Ê  É  T Ã O  F R A C O Q U A N T O  E L E,  S E  P R E P A R E  P A R A  M O R R E R!!!
O guardião saltou da rua e seguiu levando Gael pelas casas, atravessando os escombros da batalha que havia se desenrolado. Ele estava pensando no que Silva havia conseguido fazer naquela luta até ele chegar:
— Um controle excepcional da respiração em tão pouco tempo e a verdadeira forma da sua espada já apareceu, tem alguma coisa diferente nesse garoto.
Conforme seguia seu caminho pelas casas daquela rua, encontrou então a pessoa que procurava. Era um jovem também, que estava na reunião em que Gael havia sido apresentado como substituto de Rick. Ele era um dos que estava de pé ao lado da mesa, sua postura demonstrava uma aura de desleixo, mas, ao mesmo tempo, de confiança em Vinícius. Silva respirava com dificuldade, sua vista estava um pouco distorcida, mas ele conseguiu se lembrar de quem se tratava.
O rapaz careca e de pele morena estava usando uma camisa preta aberta como um colete, uma camiseta branca como conjunto e uma calça preta. Ao ver a chegada de Vinícius, ele correu para se aproximar. Era o mesmo que estava com os braços cruzados e com a cara de poucos amigos na reunião. Agora, ele estava atento e pronto para qualquer coisa que Lubu pedisse, ciente de que a situação era realmente séria.
— Lucas, fique com o Gael por aqui e auxilie-o com sua respiração — Lubu enfatizou o que seu aprendiz deveria fazer — Foque nisso, por favor, não podemos deixar ele morrer, Herhrick!
A resposta do discípulo era carregada de inquietação, buscando entender melhor a situação para garantir a segurança de Gael.
— O que aconteceu com ele?
— O corpo dele ainda não estava preparado para uma sombra desse nível, a pancada feriu muito seu corpo físico — O guardião tentou transmitir as informações que havia deduzido da intensa luta entre Gael e o ciclope, enquanto o olhar de Lucas buscava entender a extensão dos ferimentos do atual colega.
— F I C O U  C O M  T A N T O  M E D O  D E  M I M  Q U E  D E C I D I U  F U G I R,  G A R O T O?!! — Gritou mais uma vez o ciclope tentando provocar Vinícius.
Lubu não se dirigiu a palavra ao ciclope, apenas ignorou o monstro percebendo que Gael já estava conseguindo estabilizar sua respiração.
— O ciclope parece não conseguir manipular a energia elemental diretamente, mas consegue transferi-la para seus golpes físicos. Seu poder está claramente ligado ao elemento terra — disse Vinícius. Sua capacidade de análise era impressionante; em poucos minutos observando a situação em que Gael se meteu, ele conseguiu avaliar e quantificar toda a força da sombra — O bastão dele deve ser feito do seu elemento secundário, o vegue; provavelmente é a única coisa que ele consegue gerar. Por isso, o golpe que Gael levou foi tão forte, mesmo sem mostrar energia elemental visível.
Ao saltar da rua onde o confronto estava ocorrendo, Vinícius já tinha coordenado com Lucas o local onde cuidariam de Gael. O telhado de uma das casas vizinhas, gravemente danificado pelo combate, tornou-se um abrigo temporário para o grupo. Entre rachaduras e telhas quebradas, o espaço oferecia uma visão estratégica do campo de batalha e protegia do caos lá embaixo. A estrutura instável, porém segura o suficiente, era o ponto de encontro onde eles preparariam o próximo passo para garantir a segurança de Gael.
— Vou resolver isso agora, Lucas. Mantenha-se atento e lembre-se de agradecer a Stef por ter corrido para nos avisa — Vinícius se dirigiu a Lucas passando suas últimas instruções e em seguida, dirigindo-se a Gael, que estava caído no telhado, acrescentou — Fique aqui e concentre-se apenas em recuperar seus ferimentos.
Antes de se afastar de Gael, o jovem teve a oportunidade de observar os olhos de Vinícius de perto, mais de perto do que no último encontro. O que viu fez com que Silva compreendesse que Lubu não era apenas um garoto. A aparência juvenil do jovem parecia ser apenas uma fachada, uma casca que escondia algo muito mais profundo. Nos olhos do guardião, Gael percebeu uma aura que revelava uma sabedoria imensa, acumulada ao longo de muitas eras.
Lubu se afastou rapidamente de onde Gael estava, lançando-se em direção à rua com uma velocidade impressionante. No salto, ele cortou o ar, passando entre escombros de asfalto rachado e paredes quebradas que marcaram a destruição ao redor. Desceu sobre uma paisagem de árvores derrubadas, cujas folhas e galhos estendidos cobriam quase o chão por completo e atravessou portões amassados e carros dilacerados pelo caminho.
O guardião fixou o olhar no monstro e liberou sua energia elemental, fazendo o ambiente ao redor mudar instantaneamente. O clima começou a esfriar rapidamente, com a temperatura despencando. O ciclope, ao sentir a queda brusca na temperatura, viu sua adrenalina diminuir, enquanto a dor em seu corpo intensificava. O desconforto se tornou insuportável, especialmente no local onde seu braço havia sido decepado.
Vinícius avançou com calma em direção ao monstro de um olho só. Ergueu o braço direito e fez um movimento sutil com a mão, fechando os dedos e canalizando sua energia diretamente para o centro do ciclope.
O monstro ficou imóvel, como se tivesse sido petrificado. Incapaz de se mover ou falar, o gigante estava sob o controle do recém-chegado guardião. Vinícius abaixou o braço, e o ciclope caiu de cara no chão.
Com uma postura casual e despojada, Lubu colocou as mãos nos bolsos, como se estivesse apenas dando um passeio despreocupado. Ele caminhou em direção ao ciclope caído, parecendo um adolescente despretensioso voltando para casa após a escola. Saltando do chão, se posicionou para sentar-se no ombro do gigante como se estivesse em um banco de praça. Vinícius finalmente dirigiu a palavra ao ciclope:
— Quem te mandou aqui? — Perguntou o guardião, e gotículas de água se manifestaram no ar, criando um ambiente úmido e propício para Lubu.
Enquanto a água flutuava no ar, as pernas de Vinícius balançavam, transmitindo uma aura de calmaria mesmo em meio aquele caos. Com a mão direita, ele manipulava as gotículas como se fosse uma criança explorando novas habilidades, transformando-as em pequenas esferas de gelo que giravam suavemente em seus dedos.
— Grrr — Murmurou o ciclope, tentando dizer alguma coisa, mas incapaz de se expressar completamente.
— Mil perdões — Disse Vinícius, abrindo um pouco os dedos da mão direita de forma sarcástica — Agora você pode falar.
— P O R  F A V O R, P O R  F A V O R, N Ã O  M E  O B R I G U E  A  I S S O! — Implorou o ciclope, em uma tentativa desesperada de apelar por compaixão a Lubu. Porém, ao encarar o rosto implacável do guardião, compreendeu que aquilo não surtiria efeito, e um riso zombeteiro escapou de seus lábios — KIKIKI, V O C Ê  A C H A  M E S M O  Q U E  T E  C O N T A R I A?
— Não, eu já imaginava que você não me contaria, mas pensei que tivesse algum amor pela sua própria vida — Retrucou o guardião — Só que pelo jeito, não existe nenhum sentimento dentro dessa sua podridão chamada de corpo.
Vinícius se levantou do ombro onde estava sentado, deu um salto usando os braços e então voltou a colocar as mãos nos bolsos da bermuda. Mudou a direção do palito de madeira na boca e caminhou com determinação até a perna esquerda do ciclope.
— N Ã O  I M P O R T A  O  Q U E  V O C Ê  F I Z E R  C O M I G O, S A I B A  Q U E  E L E  V A I  S E  V I N G A R  P E L O  O  Q U E  V O C Ê  F A Z E R, S E  N Ã O  F O R  E U, O U T R O  V I R Á  E  A S S I M  P O R  D I A N T E!!! — O ciclope proferiu tais palavras com a face pressionada contra o chão, exalando sua fúria.
Lubu estendeu a mão em direção à perna esquerda do monstro gigante. Ao tocar a superfície áspera, um frio intenso surgiu dos seus dedos. O gelo se espalhou rapidamente pela perna do ciclope, como se o inverno tivesse chegado de repente. Uma bruma gélida tomou conta do ambiente, e o ar parecia congelar com a poderosa manipulação elemental do guardião.
Vinícius não hesitou em exercer sua força sobre o membro petrificado. O som de estalos ecoou enquanto a perna do ciclope se fragmentava em milhares de pedaços de gelo, espalhando-se como estilhaços ao vento.
— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! — O ciclope urrou em agonia, mas nada podia fazer diante da implacável fúria do guardião e do domínio espetacular sobre o elemento congelante.
O chão estava agora coberto por cacos de gelo, brilhando sob a luz difusa do entardecer.
A perna congelada do ciclope estilhaçada lançou fragmentos de gelo por toda a atmosfera. À medida que os cacos se espalhavam, o brilho suave da luz do sol poente iluminava o campo de batalha, refletindo um brilho cintilante nas pequenas partículas. O pó de gelo flutuava no ar, criando uma nuvem reluzente que dançava com o vento. Gradualmente, ele foi perdendo força e começou a descer, cobrindo o chão com uma camada de pequenos fragmentos, que brilhavam e reluziam sob a luz difusa do entardecer.
O ciclope soltou um urro ensurdecedor, fazendo o ar vibrar ao seu redor, porém, para Vinícius, nenhuma compaixão foi despertada. Ele seguiu em frente, em direção à próxima perna do gigante, repetindo o mesmo processo impiedoso: tocar, congelar e espatifar. O grito de dor do monstro ecoou novamente, testemunhando o implacável poder do guardião.
— O  Q U E  V O C Ê  E S T Á  F A Z E N D O? — Gritou o ciclope, sua voz reverberando pelas ruínas do campo de batalha, enquanto a imensidão de seu corpo ferido se destacava contra o cenário destruído — O  Q U E  V O C Ê  A C H A  Q U E  G A N H A R Á  C O M  I S S O?
— Eu? Eu não ganharei nada — Disse o guardião, emergindo da parte de trás do ciclope e avançando com confiança em direção à cabeça do ser de apenas um olho. Seus passos eram firmes, e sua expressão permanecia inabalável — Estou te dando a chance de reconsiderar sua decisão. Sua morte poderia ser rápida e limpa, mas você escolheu um fim doloroso.
— S A I B A  Q U E  V O C Ê  P A G A R Á  P O R  I S S O! — Cada palavra do ciclope estava carregada de raiva, e sua voz ecoava com uma fúria crescente enquanto Vinícius se aproximava implacavelmente de sua cabeça. A tensão era palpável no ar — E L E  V I R Á  A T R Á S  D E  V O– Antes que o ciclope pudesse concluir sua ameaça, o guardião agiu com uma velocidade surpreendente. Como uma luz ágil, Vinícius posicionou sua mão na cabeça do gigante caído, e em um instante, o impacto foi devastador. A cabeça do ciclope congelou e instantes se espatifou em pedaços, fragmentando-se em uma chuva de destroços que se espalhou pelo entorno. O som reverberou todo o local, preenchendo o ambiente com uma aura que demonstrava claramente a diferença de seus poderes.
Após o ato, o guardião suspirou, soltando uma respiração quente e controlada, e disse:
— Então esperarei!

Fim do capítulo

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