Príncipe de Olpheia Brasileira

Autor(a): Rhai C. Almeida


Volume 1

Capítulo 39: Um Desenho Inacabado

KANARIS, ACAMPAMENTO IMPROVISADO

 

Alguns estudiosos afirmam que os antigos aprenderam a contar os dias de formas distintas. Cada povo desenvolveu seu próprio método, criando calendários para marcar a passagem das horas, semanas e meses. Contudo, contar o tempo nunca foi uma exigência para sobreviver. Muitos viviam sem precisar realizar cálculos complexos, mas essa não era a realidade dos mercadores, especialmente dos pais dos jovens que, que conversavam entre si, aguardavam as próximas ordens do guia mais novo — um rapaz instruído pelo próprio general.

— O que eu devo dizer? — sussurrou Joellis, inclinando-se próximo ao velho que repousava em um assento improvisado feito de madeira cortada de uma árvore derrubada pelos soldados mais experientes.

Halcan, com os braços cruzados sob o peso da capa escura que pendia até tocar a neve alva, manteve os olhos fechados por um instante antes de responder:

— Diga que está na hora do almoço.

Joellis franziu o cenho, confuso. Olhou para o céu encoberto por nuvens densas e ergueu a mão diante do rosto, tentando enxergar algum vestígio do sol entre os dedos entreabertos.

— Como o senhor sabe? — inquiriu, intrigado. — Não dá para ver o sol.

Halcan abriu um olho, divertindo-se com a pose do sobrinho, e depois tocou gentilmente seu pulso, abaixando a mão do jovem.

— Não precisas guiar-se pelos céus, rapaz. O instinto de sobrevivência dirá quando e como conseguirás comida. — Sua voz tornou-se grave ao puxá-lo para mais perto. — Mas diga a eles que chegou a hora de aprenderem o primeiro mandamento.

Joellis piscou, confuso.

— “Amarás ao Senhor, vosso Deus, de todo o coração e alma?” — indagou, recitando com precisão.

— Deuteronômio seis, versículo cinco — confirmou Halcan, um leve orgulho transparecendo em sua voz.

— Uau, o senhor sabe mesmo — disse Joellis, admirado.

— Posso não ser religioso, mas meu irmão era devoto. Por respeito a ele, estudei um pouco das escrituras sagradas. — Um sorriso nostálgico surgiu em seus lábios. — Mas não me refiro a esse mandamento. Recordas-te quando Circaz lhe ensinou sobre os mandamentos do bom guerreiro?

Joellis ajustou a postura, engoliu em seco e recitou com firmeza:

— Primeiro mandamento: resistência. “Suportarás a dor, pois a batalha é longa.”

— “Com força…” — incentivou Halcan.

— “Com força e coragem, empunharás tua lâmina. Mover-te-ás como o vento, sem jamais seres atingido. Com sabedoria, guiará teu coração pelo caos, e com perseverança, lutarás até o último teu último suspiro. Pois a vitória pertence a Deus, e com Ele, nosso Senhor, serás vitorioso.”

Halcan assentiu, analisando a postura altiva do sobrinho.

— Resistência, força, agilidade, sabedoria e perseverança. É assim que lidamos com a guerra. Houve outras tréguas no passado, mas nenhuma tão curta quanto esta. Não temos mantimentos, saúde ou treinamento adequado para nossos homens. E envolver crianças da tua idade é um fardo pesado demais para carregar sozinho. Entendes isso, filho?

— Sim, senhor. Mas o que pode fazer? Foram ordens diretas do imperador.

Halcan suspirou profundamente.

— Deverias estar preocupado em seguir os passos do pai, cuidando de sua irmã e da criança que logo nascerá. Se dependesse de mim, esses garotos não estariam aqui. Quando recebi a carta com o selo real, não consegui pensar em nada que pudesse reverter uma ideia tão perigosa.

Joellis conhecia a natureza sensata do tio-avô. Cauteloso, mas com o coração sempre disposto a ajudar. Enviar jovens para lutar não fazia parte de seus planos, mas mesmo assim, ele se dedicava a ensinar aqueles que mal sabiam armar uma barraca sem ajuda.

Ainda assim, uma pergunta não lhe saía da mente.

— Tio — disse, hesitante. — Por que o príncipe está sob seus cuidados?

Halcan respirou fundo, ponderando antes de responder:

— Ordens de sua majestade.

— Não acha estranho? — A pergunta pairou como a neblina que envolvia o acampamento. — Ele é um príncipe — disse Joellis, irônico. — Príncipes não saem em missões. Eles enviam pessoas em seus lugares, ainda mais sendo o único herdeiro do trono.

Halcan estreitou os olhos, lembrando-se das vezes em que Raygan, ainda tão jovem, falara e agira como um adulto.

— Sua alteza é um garoto muito esperto. Acredito que Elard tenha considerado isso. 

Joellis, porém, não compartilhava a mesma opinião.

Só por isso? — pensou. Um motivo raso; uma desculpa mal disfarçada. 

Uma incerteza latente. Joellis ainda se lembrava da maneira como Raygan, com a mão trêmula, segurava o cabo de um candelabro. 

— Tio — disse, decidido. — Eu… não confio nele.

Ele queria falar mais, contudo, quais seriam as consequências?

Desde a primeira vez que o viu, Joellis percebeu que o príncipe agia e se expressava de forma diferente da imagem que os membros da corte projetavam dele.

“Honra e glória ao príncipe Raygan, que a cada dia se aproxima mais do trono e da coroa.”

Alguns diziam isso pelos corredores — corredores infinitos, onde o luxo agregava ao descaso. Salas lotadas de risadas abafadas, jogos perigosos e bebidas espalhadas pelas mesas. Era essa decadência que seu pai tanto repudiava? A opulência do palácio, que se esbanjava na riqueza enquanto o poder servia para ferir, não proteger? Tudo sustentado por aqueles que não temiam nem a justiça divina.

As palavras ainda ecoavam na mente de Joellis, mas eram sobrepostas pela lembrança vívida do sangue escorrendo pela testa de Isaac. 

Era difícil imaginar como algo tão inofensivo poderia se tornar uma ferramenta de violência.

Mas o pior não era a cena em si — era o olhar do príncipe. Um olhar sem culpa, sem remorso. 

Um olhar que não buscava apenas Joellis, mas também sua irmãzinha.

Foi então que um arrepio subiu-lhe a espinha, junto do ar quente que escapou dos lábios, ação que Halcan captou sem muito esforço.

 O velho ergueu uma sobrancelha, mas manteve o tom sereno:

— Aqui, todos são iguais. Sangue real ou plebeu, não importa. 

Joellis forçou um sorriso diante da tentativa de conforto.

— O senhor está certo.

Assim, Halcan se levantou, pousando sua capa sobre os ombros do sobrinho.

— Há alguém que quero que conheças.

Alguém que seu sobrinho ficaria muito feliz em ter como amigo, sem dúvida.

Em outro ponto do forte, flocos de neve flutuavam no vento gélido, comprimidos antes de repousarem em galhos despidos, telhados desgastados e nas vestes grossas dos servos que cuidavam das cabanas alinhadas ao longo do pátio coberto por um tapete branco. O caminho conduzia até a morada do general — uma construção simples, erguida diante de um amontoado de pedras antigas que ainda servia de abrigo aos guardiões das ruínas.

Homens e mulheres transitavam por ali, suas silhuetas destacavam-se contra o branco infinito. Para além das cabanas, o acampamento de Kanaris permanecia guardado por soldados vigilantes. Uma mureta delimitava ambos os mundos: de um lado, o centro ativo da fortaleza; do outro, a austeridade militar de Olpheia. 

Um cocheiro experiente, acostumado às mais variadas estradas, talvez estranhasse a ordem rígida daquele lugar.

As botas de Lupin deixavam marcas suaves na neve macia, abafadas pelo cacarejar insistente das galinhas que riscavam o chão em busca de migalhas lançadas por um servo próximo. Cavalos nos estábulos resfolegavam e seus cascos pesados afundavam no feno, enquanto suas crinas brilhantes eram penteadas com cuidado e dedicação.

O jovem manteve o chapéu firme sobre a cabeça, ao tempo que os pequenos flocos de gelo se acumulavam na aba. Parado, ele observou além da cabana até a abertura protegida por guardas. Seus olhos captaram a torre — não tão alta quanto as catedrais que preenchiam os esboços de seus cadernos —, mas sólida e resistente, mesmo desgastada pelo tempo.

Provavelmente uma antiga torre de vigia — pensou.

Deslizando os dedos por entre as páginas amareladas, Lupin encontrou uma folha em branco. Do bolso traseiro da calça, retirou um lápis curto e gasto.

Primeiro, atenção aos contornos. Depois, os detalhes.

O lápis traçou linhas firmes no papel, delineando muros, a torre cilíndrica e janelas espaçadas. Cada espaço em branco ganhava forma até que um desenho rudimentar, mas fiel, emergiu.

— O forte de Kanaris… — murmurou enquanto anotava abaixo do esboço — serviu como abrigo aos inocentes durante a implacável rebelião. Seus muros resistentes protegiam, e a torre, como uma luz em meio à escuridão, guiava os soldados de Olpheia à vitória.

Lupin franziu o cenho, insatisfeito. Caminhou lentamente, murmurando mais notas enquanto analisava o desenho.

— O abrigo está desgastado após tantos anos — escreveu, pausando ao pôr o lápis atrás da orelha. — Embora os servos ainda cuidem dele…

Seus pensamentos vagavam, projetando imagens de garotos treinando nas áreas abertas do forte, meninos que Halcan certamente jamais enviaria para a guerra, não se dependesse dele.

Perdido em devaneios, Lupin não notou a pedra à frente. Pisou em falso, cambaleando. O caderno escapou de suas mãos, caindo na neve, e duas folhas soltas deslizaram suavemente para longe.

— Ah, droga… — resmungou, inclinando-se para recolher o caderno.

Ao dar mais dois passos para pegar as folhas, parou de súbito.

Ali, diante dele, um par de pequenos pés envoltos em longas meias brancas e delicadas sapatilhas repousava sobre a neve, tão silencioso quanto a paisagem ao redor.

Lupin ergueu os olhos, lentamente, seus dedos ainda manchados pelo grafite, e então, diante dele, uma figura coberta por uma capa azul como o céu. 

Era uma garotinha. Porém, atrás dela, deparou-se com uma estátua imponente, marcada por uma cicatriz que reta ao longo de um rosto taciturno. A expressão severa do homem não deixava espaço para sorrisos amistosos.

Mas não foi ele quem chamou a atenção de Lupin por completo. Ao lado do guardião sisudo, a menina pequena, envolta em uma manta espessa que quase roçava o chão, segurava uma de suas folhas soltas entre dedos delicados.

Protegida por um capuz, os longos cílios alvos, acima dos olhos redondos, piscaram para ele.

— O senhor desenha? — perguntou ela, sua voz fina e curiosa como o tilintar distante de sinos em um vale.

“Senhor.” Lupin quase riu. Aos vinte e poucos anos, a designação lhe parecia indevidamente grave.

Ele sorriu contidamente, buscando uma resposta modesta:

— Um pouco. Não sou tão bom. Prefiro escrever.

A garota inclinou a cabeça de lado, como um pássaro curioso, os olhos brilhando.

— Sobre o que o senhor escreve?

— Sobre o que vejo e escuto. Momentos, sensações… emoções. — Ele fez uma pausa breve, seus pensamentos tropeçando diante da presença do severo cavaleiro que pairava silencioso atrás da menina, como uma muralha.

Ela ergueu o queixo e, com um dedo pequeno, apontou para o homem de postura rígida.

— Escreva sobre ele.

Lupin arregalou os olhos, surpreso. Em seco, engoliu a saliva. Não era a sugestão que esperava. Ele lançou um olhar cauteloso para o cavaleiro, cujo rosto severo não oscilava.

— Eu não escrevo sobre como as pessoas são, senhorita. — Sua voz suavizou. — Escrevo sobre como alguém se sente em relação a elas.

A menina franziu o cenho, confusa. Lupin viu a dúvida tomar forma em seu rosto jovem, como nuvens cobrindo o céu claro.

— Vou explicar melhor. — Ele abaixou o tom, confidencial. — Você é sobrinha-neta do senhor Halcan, certo?

— Sim.

— Então me diga: como você vê o senhor Halcan?

— Hmmm… ele é incrível! Ele me levanta no ar, me joga no céu, como se eu fosse um pássaro! — A voz dela saltou com alegria. — Ele também é muito gentil com a mamãe e com meu irmão! E, como o papai, ele é honesto e bondoso!

Lupin abriu o caderno com cuidado, alisando as páginas desalinhadas.

— Certo, senhorita — começou a escrever, as palavras tomando forma em sua mente.

— “O general Halcan é um verdadeiro guerreiro, não pelo peso da espada que empunha, mas pela coragem que pulsa em seu coração forte e indomável. Os fios prateados que coroam sua cabeça, refletem um brilho tão jovem e vibrante quanto o da senhorita…”— Ele hesitou, com um leve sorriso. — Desculpe, como é mesmo seu nome?

— Meu nome é Ayla Annaliese! — corrigiu ela com entusiasmo.

Todavia, antes que Lupin pudesse responder, a voz grossa e cortante do cavaleiro ecoou como o retinir de uma lâmina desembainhada:

— Ayanna.

O jovem cocheiro congelou por alguns segundos, os dedos ainda pressionados no lápis. Ele ergueu o olhar novamente, um tanto nervoso, mas também curioso.

Circaz, com seu manto pesado parcialmente cobrindo uma espada embainhada, manteve-se impassível.

— Mas…! — A menina tentou protestar, mas Circaz não cedeu:

— Ayanna é o nome de batismo que seus pais lhe deram ao nascer. 

— Desculpe-me, senhor, mas poderia falar um pouco mais sobre o “nome de batismo”?

Circaz permaneceu imóvel, como se a pergunta tivesse sido uma ordem proibida.

Lupin ajustou o caderno em suas mãos, tentando disfarçar o desconforto.

— Eu sou apenas um cocheiro e um escritor amador — explicou, rindo nervosamente. — Viajo para muitos lugares, sempre curioso para aprender sobre coisas que não compreendo.

Ele lançou um olhar para Ayanna, que mantinha os olhos em Circaz, silenciosamente insistindo para que ele contasse mais. 

A doçura em seu olhar parecia quebrar qualquer resistência, ou mais perigosa que enfrentar dez homens sanguinários.

Circaz suspirou, vencido.

— Em algumas casas, especialmente nas antigas linhagens de nobres, há uma tradição peculiar. A criança recebe dois nomes: o primeiro une figuras importantes da família, representando tanto o passado quanto o futuro.

— Então, Ayla e Annaliese são nomes de duas pessoas diferentes? — perguntou Lupin, interessado.

— Exatamente — confirmou Circaz com um aceno sério, percebendo a luz nas íris da garota de bochechas tingidas de um vermelho cálido pelo frio.

 — E o irmão da senhorita Ayanna também herdou essa tradição? — buscou Lupin, anotando rapidamente. 

— Correto — afirmou o cavaleiro.

— Joe! — anunciou a pequena com um sorriso encantador. — Joellis! Ele vai ser um guerreiro forte como o vovô!

— Joellis — repetiu Circaz, afagando a cabeça dela.

Lupin anotou tudo, ainda mais empolgado.

— Fascinante! Nunca ouvi falar de algo assim em Olpheia. De onde vem essa tradição?

A resposta hesitou no rosto de Circaz por um breve momento, como se o questionamento refletisse um perigo oculto. Para surpresa dos dois homens, Ayanna ergueu a cabeça com altivez e respondeu alegremente:

— Vem de Jighal! Porque meu pai nasceu lá!

Lupin arregalou parcialmente os olhos, enquanto Circaz colocou uma mão firme no ombro da menina, conduzindo-a com suavidade. 

— Vamos, senhorita. Está na hora de comer.

— Mas eu não estou com fome!

— Ordens são ordens — exigiu o cavaleiro, lançando um olhar penetrante para Lupin. — Vá primeiro.

Contrariada, Ayanna chutou a neve antes de seguir obedientemente. Lupin a observou, a lã grossa de sua capa arrastando levemente no chão gelado. Então, percebeu a sombra de Circaz se aproximando. 

A presença era opressiva, sufocante.

— Qual é exatamente sua relação com o senhor Halcan? — questionou, a voz séria, mas paciente.

Lupin sentiu o frio apertar seu peito. Engoliu em seco, consciente de que uma resposta errada poderia selar seu destino.

— M-Meu tio é amigo dele. Comecei a conversar com ele apenas alguns dias antes de receber ordens para escoltá-lo em segurança para Kanaris.

Circaz analisou o jovem com olhos afiados. Apesar da postura rígida, os ombros retraídos e a hesitação em sua fala indicavam inexperiência; um peixe fora d'água em meio ao mundo brutal dos soldados.

— A senhorita Ayanna é uma criança especial — começou Circaz, desviando o olhar momentaneamente para ela. — Sua educação é a honra de sua família. Mas ela não sabe nada sobre Jighal, nem sobre a guerra de Lorist.

Circaz voltou seu olhar  perscrutador para Lupin.

— Tudo que ela sabe é que seu pai nasceu em Jighal, o marquês de Fordwel, sobrinho do general de guerra Halcan Winder.

Lupin permaneceu imóvel, tentando não tremer.

— Harley Winder, ou melhor, Harl Winder, é o meu mestre — continuou Circaz, limpando a neve acumulada nos ombros do jovem. — E essa criança está sob minha proteção.

Ele deu um passo à frente, sua voz baixa e letal:

 — A senhorita não deve saber nada sobre os problemas envolvendo a ascendência de seu pai. É meu dever garantir que ninguém, com boas ou más intenções, seja uma ameaça para ela e para o jovem mestre.

Lupin, com o rosto pálido como a neve sob seus pés, assentiu rigidamente. O frio impedia que o suor traísse seu nervosismo, mas o peso gélido pressionando sua nuca era suficiente para petrificá-lo. 

A tensão que pairava foi interrompida por um brado distante, rasgando o ar gelado:

— Lupin! Está na hora da grande caçada!

O chamado reverberou próximo aos portões de madeira. Ele se virou bruscamente, avistando um soldado montado em um cavalo robusto, acenando com energia. Outros dois cavaleiros, montados em seus corcéis, passaram galopando logo atrás, as ferraduras lançando fragmentos de neve pelo caminho.

— Ah, tudo bem! Boa sorte! — gritou Lupin, forçando uma animação repentina.

Após isso, Circaz, silencioso e vigilante, escoltava a menininha. Seus pés delicados deixavam marcas quase imperceptíveis sobre a neve, que cintilava sob o céu sem vida.

Pensativa, a menina ergueu as pequenas mãos para Circaz, pedindo para ser erguida.

— O que é a grande caçada?

Circaz, compreendendo o pedido, a tomou nos braços, como um pai protegeria sua filha do frio cruel.

— É o primeiro desafio que separa os moleques dos futuros soldados de Olpheia — respondeu com a voz grave, mas gentil.

Ayanna olhou mais atentamente para ele, suas pequenas mãos entrelaçadas num aperto suave.

— O que eles irão caçar?

Circaz sorriu, os cantos de seus lábios se erguendo levemente.

— Um animal valioso. — Olhou para o horizonte coberto pela vastidão branca. — Está na hora deles encontrarem sua própria comida.


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