Príncipe de Olpheia Brasileira

Autor(a): Rhai C. Almeida


Volume 1

Capítulo 15.5

Antes que Nadye pudesse articular uma resposta, Thayrin, incapaz de conter sua angústia, questionou:

― Minha mãe está ciente disso? ― Sua voz era baixa, quase um sussurro, enquanto olhava para o chão para impedir que os demais em sua volta percebessem as lágrimas que caíam de seus olhos rubros.

― O quê? ― A pergunta de Elard soou com uma ignorância; uma máscara que apenas servia para inflamar ainda mais a indignação de Thayrin.

― Qual é seu problema, afinal? ― A fúria se acumulava nela, suas mãos se fechando em punhos cerrados. ― Por que essa aversão a ele?

Uma dúvida atrás da outra.

Era ódio? Desprezo? Que força obscura moveria um pai a relegar seu filho a anos de isolamento em um convento, sob o pretexto frágil de proteção contra rebeldes?

Não, é uma desculpa ― pensou Thayrin. ― Você não consegue ver que eu também sou sua filha? Que Raygan, também é o seu herdeiro? ― Ela olhou para o rosto indiferente de Elard. ― Por que você só tinha olhos para ele?

― Por que você insiste em mantê-lo distante? ― Os olhos de Thayrin se arregalaram, ferozes e desafiadores, prontos para confrontá-lo se não fosse pelo risco de sofrer com as consequências desastrosas que, num desejo inflamado, a boca da princesa desejava proferir. 

Elard, no entanto, permaneceu em silêncio.

E no momento que Thayrin ponderou avançar na direção de seu pai, Raygan segurou sua mão, dizendo:

― Eu escolhi isso. ― Seu rosto estava marcado com um leve traço de seriedade, embora seus olhos demonstrassem empatia por Thayrin. ― É o que eu quero. ― Ele pousou as mãos nos ombros dela.

― O quê…? 

As lágrimas deslizaram pelo rosto dela, e Raygan, ao erguer o indicador, as secava com o mesmo carinho que ela sempre dedicou a ele. ― Eu preciso que você fique bem, por nós dois. ― Ele acariciou a bochecha dela. ― Cuide da nossa mãe por mim.

― Como poderei ficar bem? Você não me disse nada. Ela ficará triste. ― Thayrin lutava para conter as lágrimas que ameaçavam cair outra vez.

― Não posso vê-la agora.

― Por que não?

― Já não disse antes? Pare de fazer tantas perguntas! ― Ele sorriu, erguendo os braços para ela. ― É a sua última chance antes que meus braços cansem. 

Ao ver os braços do irmão estendidos no ar, Thayrin depositou toda a sua força em um abraço que não permitia que ele se afastasse.

― Escreverei cartas, todos os dias. 

― Sim, sim. Você é assim. ― Ele afagou as costas da irmã. ― Um tanto instável. ― Por um momento, Raygan pôde relembrar o doce aroma de rosas que emanava dos cabelos dela.

Na visão de Henryk, que observava a despedida dos irmãos, era comum que príncipes partissem, viajassem para treinar e aprimorar suas habilidades para se tornarem futuros reis respeitáveis, mas havia algo que o incomodava com a situação; como se a ausência dele despertasse uma solidão que ela já havia experimentado.

Como perder alguém importante… ― Ele apertou as mãos.

Raygan, saindo do abraço quase impossível de Thayrin, caminhou em direção à carruagem, ao tempo que Mardô, com plena disposição, abriu a porta para sua alteza real.

― Quantos anos o jovem príncipe tem? ― sussurrou Halcan para Henryk.

― Doze ― respondeu Elard, olhando para as madeixas de Raygan.

― Onze ― corrigiu Raygan, avançando para a carruagem sem olhar para trás. 

Era como uma mancha que somente ele conseguia ver. Um pai que carregava apenas o título de monarca.

Não há necessidade de se despedir de alguém que já o abandonou mais de uma vez, afinal, seu filho morreu há muito tempo.

Raygan sentiu a brisa ruborizar suas bochechas. 

Que assim seja, Majestade. ― Ele encarou Elard pela última vez antes de adentrar o veículo; sua barba e os olhos inconfundíveis de alguém que também enfrentava noites insones.

E no momento em que o príncipe se acomodou, Halcan, à frente de Elard, expressou: 

― Obrigado por confiar em mim, Majestade.

Elard apenas acenou para Halcan, que também entrou na carruagem. O cocheiro agarrou as rédeas dos cavalos, e a carruagem partiu a galope pelos portões, levando-os consigo.

Ao ver o irmão partir, Thayrin verificou o rosto de Elard, contendo a raiva pulsante diante dos olhares dos servos e da corte que fuxicavam pelas janelas do segundo andar.

Na sacada, Ahoneu, com seus braços apoiados nos balaústres, ouvia cada comentário enquanto um aglomerado de pessoas se formava para comentar sobre a partida inesperada, onde várias vozes que se misturavam ao seu redor.

― O príncipe se foi? ― perguntou uma mulher.

― Deus…, o que ele fez dessa vez? ― questionou outro homem.

― Certamente algo que arruinará a imagem de nosso soberano ― exprimiu uma velha.

O burburinho se intensificava, e entre as vozes, os óculos de um homem brilhavam com a luz que entrava pela janela. Tendo em vista que, pelo caminho do jardim, Saône junto de seus passos rápidos e as mãos firmes no vestido, era acompanhada pelas mulheres da alta sociedade.

Ao chegar no local, a rainha avistou sua filha próximo à parede. Ela soluçava sem parar, como um bebê separado de sua mãe. 

― O que aconteceu? ― ela perguntou para a primeira figura que hesitou em se aproximar, imóvel enquanto observava Thayrin se desfazer em lágrimas.

― O príncipe…

― Raygan será um soldado, minha rainha ― comentou Elard.

Instantaneamente, Henryk recuou, permitindo a passagem do homem de postura e voz ameaçadoras o suficiente para fazer qualquer um fugir de sua presença. 

― O que você fez? ― Ela franzia o cenho.

― Estou educando meu filho. ― Ele encontrou o olhar dela, com a ponta do nariz levemente erguida. ―  Já era hora de aplicar meus métodos. E quanto a você… ― Ele observou a expressão atônita de Henryk. ― Siga-me.

Elard, com seus passos constantes para o palácio, deixou mãe e filha à margem da neve que repousavam sobre seus finos tecidos amassados no chão. A soberana, ao erguer os olhos, notou a presença de Ahoneu, seus olhos fixos nela, observando-a seguido de um sorriso dissimulado que se formava em seus lábios.

Acima dela; de sua autoridade. Acima de seu poder. 

E apesar da pequena janela estar coberta pela cortina, Raygan conseguia ouvir as vozes alegres da população, desde o latido de um pequeno cachorro para os cavalos, até a voz altiva do jovem jornaleiro. 

Era um trajeto familiar, com as mesmas calçadas e tijolos alinhados do caminho, onde as rodas passavam sem dificuldade. As casas, decoradas com plantas e outras marcadas pelo tempo, eram tão entediantes como desviar o olhar do velho, sentando no banco da carruagem, que evitava o contato visual num silêncio constrangedor.

Na mesma jornada, algumas horas adianta de seu general, Dae, na carroça que transportava os outros recrutas pela estrada de pedras amareladas e desalinhadas, observava uma ave planar sobre as copas das grandes árvores. Como se a neve não conseguisse detê-la de seguir seu fiel companheiro pelo céu cinza.

Era o mesmo céu acinzentado que Joellis, com os olhos vidrados nas grandes embarcações ancoradas na encosta do porto, via o vento balançar os cabelos de Ayanna, que brincava ao tentar capturar uma gaivota pela ponte de madeira que a guiavam para o grande mercado de Fordwel.


Aviso

Olá, pessoal.

Gostaria de comunicar que a obra “Príncipe de Olpheia” terá uma breve pausa.

Como escritora iniciante, almejo que a obra alcance cada vez mais leitores, mas é importante entender que isso requer tempo. Nesse pequeno recesso, estarei me dedicando ainda mais para garantir que a história continue com um bom desenvolvimento.

Assim, irei me concentrar em oferecer capítulos livres de erros, com uma descrição mais fluída e, claro, espero que confiem no meu trabalho para continuar esse projeto tão especial para mim.

Então, como forma de agradecimento aos leitores que acompanharam um certo príncipe até aqui, estarei compartilhando algumas ilustrações dos personagens principais da história junto de uma curta descrição.

E não se preocupem, não irei sumir. Gostaria de informar que uma obra autoral (finalizada) está com a postagem agendada para a próxima semana ― espero eu.

É uma história curta, porém, espero que gostem. 

Novamente, obrigada a todos.

Com carinho, Rhainah.



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