Volume 1
Capítulo 2: Expectativa x Realidade
Ao menos o cheiro era bom.
Assim pensava Miguel. Ou melhor, tentava se consolar.
— ...ahh... então, Mia... você chegou a imaginar que nossa jornada terminaria assim tão rápido? E de forma tão... absurda?
Rosa, azul, violeta, amarelo e verde se misturavam em uma espiral hipnotizante. Bela, sim. Mas também nauseante.
— Eu até diria que o cheiro é bom, mas... — Mia choramingou, com a voz fraca — sinto que vou vomitar...
As pás de metal giravam em ritmo constante dentro da enorme panela industrial, misturando líquidos semitransparentes que borbulhavam como se estivessem fervendo uma sopa cósmica.
O vapor que subia trazia um aroma doce, semelhante a açúcar caramelizado, mas também carregava um toque químico, um cheiro pungente, ácido.
Só que, além da espiral, eles também giravam.
— Miguel... eu... acho que não vou aguentar mais... eu vou... eu vou...
Por um instante, a pergunta quase escapou: “Vomitar? Mas vomitar o quê, Mia?”
Tudo que comia ou bebia — e sim, Mia comia — era convertido em energia pelo seu sistema digestivo artificial. Nada era desperdiçado. Nada era expelido.
Mas ele engoliu a provocação.
Sarcasmo não ajudaria naquela situação.
Eles estavam pendurados de cabeça pra baixo sobre a caldeira. Braçadeiras de nylon prendiam seus tornozelos e cabos os amarravam ao redor do peito, colando suas costas uma na outra, girando num sentido, enquanto as pás lá embaixo giravam no oposto.
— Isso me faz refletir — Miguel balbuciou, com a voz arrastada pela vertigem. — Provavelmente não somos os primeiros a virar caramelo por aqui. Parece que esse pessoal já tem prática com isso.
— Eu não quero morrer! — chorou Mia, desesperada. — Eu não quero morrer de uma forma tão humilhante! Vomitando em mim mesma!
Ela chorava por dentro do capacete, se debatendo — o que só piorava tudo. A cada movimento, giravam mais rápido, e a sensação de náusea escalava.
Quão absurdo.
Quão ridículo.
Como... como é que as coisas terminaram assim?
♦♦♦
Uma névoa de poeira invadiu o elevador assim que as portas se abriram.
Miguel balançou a mão à frente do rosto, tentando afastar a neblina amarronzada. Dentro do capacete, seus olhos se estreitaram.
— Mia, consegue ver alguma coisa?
A visibilidade era quase nula. Além da poeira densa no ar, tudo ali estava mergulhado em escuridão.
— Não tô vendo quase nada — respondeu Mia, também gesticulando na frente do visor. — E que cheiro horrível!
Ela cobriu o filtro da máscara com o braço.
— Pois é... é horrível — murmurou Miguel, fazendo uma careta. — Mas o cheiro de urina indica que alguém — ou alguma coisa — costuma passar por aqui. De qualquer forma, só nos resta seguir em frente. Cuidado.
O casal puxou as lanternas dos bolsos laterais das mochilas. Ligaram-nas e deixaram o elevador.
Seguiram por um pavilhão escuro e silencioso, tateando o caminho com a luz. Não andavam ao acaso — guiavam-se pela linha de uma das paredes.
O ambiente era úmido, frio. Gotejavam pingos distantes, e ruídos esparsos de insetos ou ratos vinham de vez em quando, ecoando pelos cantos.
Quando finalmente chegaram a uma espécie de saída, depararam-se com escombros bloqueando a passagem. Vigas de aço e placas de concreto haviam desabado, formando uma barreira irregular.
Miguel olhou a sola do coturno, coberta de barro. Concluiu que algum cano estourado causara aquilo. O piso já não estava alagado — dava para ver que fazia tempo desde a última inundação.
— Precisamos tirar isso do caminho.
Ele passou a lanterna para Mia e se aproximou dos destroços. Tentou levantar uma das pedras com as mãos, mas franziu a testa ao sentir o peso.
— Sabíamos que não seria fácil.
Alongou os ombros. Vasculhou entre os entulhos e encontrou um cano de ferro. Fincou-o em uma fenda entre as rochas e tentou forçar para a direita — sem sucesso. O metal quase entortou. Tentou outro ângulo. Melhor.
— Se afasta um pouco, Mia.
— Hm.
Respirou fundo. Firmou as mãos no cano. Empurrou para a diagonal esquerda. Sentiu alguma resposta. As pedras começaram a ceder.
Mia mantinha o foco da luz. Seu corpo artificial não fora projetado para trabalhos pesados — tudo o que podia fazer era observar e iluminar.
Miguel suava. Os músculos tremiam. Gemidos abafados escapavam enquanto ele prendia a respiração e rangia os dentes. Estava ficando tonto.
Droga... mal saí e já vou precisar usar aquilo?
Mas então, uma fresta se abriu. Um feixe de luz vazou por entre as pedras. Isso o motivou. Empurrou com tudo que tinha.
Só mais um esforço. Só mais um empurrão.
Sentia que, se parasse, não teria forças para tentar de novo, exceto se usasse aquilo, mas queria evitar desgastar seu corpo ainda em recuperação.
Por isso forçou ainda mais.
Com um último impulso, Miguel sentiu o concreto ceder. O cano vibrou entre suas mãos enquanto as pedras rangiam umas contra as outras.
Um bloco inteiro deslizou para o lado, e a abertura aumentou. Pedaços de ferragem e poeira desabaram em seguida, criando uma brecha de pouco mais de um metro de altura.
— Consegui... — arfou, os joelhos quase falhando.
Do outro lado, imensos maquinários industriais se erguiam como carcaças esquecidas, enferrujados e cobertos por uma fina crosta de poeira e tempo.
— Vamos — disse ele, pegando a lanterna. — Fique atrás de mim.
— Parece uma fábrica — comentou Mia, após passar pelos escombros.
O galpão era iluminado por rachaduras no teto. Os feixes solares, no entanto, não traziam calor — eram pálidos, quase esbranquiçados. Tinham um tom fraco de cinza, como se a própria luz natural tivesse sido corrompida por algo antinatural.
O chão estava gelado. Estilhaços de vidro cobriam o piso ao lado de placas de telhado de alumínio retorcidas e vigas de aço corroídas. À frente, uma seção do teto havia desabado parcialmente. Em algumas paredes e máquinas, percebeu marcas de bala cravadas no concreto e no metal, aquilo foi o que mais chamou atenção.
Fora do galpão o céu era de um cinza quase homogêneo, como tinta diluída. Não havia sol visível. Não era apenas um céu nublado — era como se o próprio céu tivesse mudado de cor. As nuvens, densas e escuras.
— O clima sofreu uma alteração drástica — comentou Miguel.
Mia assentiu. — Agora está fazendo seis graus.
— Como está o nível de radiação no ar? — perguntou ele.
Mia levou alguns segundos para responder.
Miguel sabia o motivo. Ela estava processando os dados captados pelos sensores espalhados por seu corpo artificial.
— Doze por cento mais alta do que cem anos atrás. Não é letal, mas pode causar problemas a longo prazo.
Tirou a máscara. Miguel imitou o gesto.
— O mais preocupante, no entanto, é o nível de poluição — continuou. — Está quase o dobro do que era naquela época.
Em seguida, arregalou os olhos, como se tivesse lembrado de algo óbvio.
— Ah! Mas no seu caso, algo assim não faz a menor diferença.
Miguel franziu o cenho.
Estranho... Eu entendo o nível de radiação elevado. Mas a poluição... Não deveria ter diminuído com o tempo por falta de atividade industrial?
O pensamento se dissolveu enquanto avançavam por entre as estruturas enferrujadas. O vento frio carregava um cheiro metálico, quase ácido, como se o próprio solo ainda estivesse exalando os resíduos de uma era morta.
Ao longe, novos galpões se perfilavam no horizonte — sombras metálicas cobertas por musgo seco e camadas espessas de poeira.
— Devemos estar em um antigo setor industrial — murmurou Miguel, mais para si do que para Mia.
O caminho que seguiram foi silencioso — exceto pelo rato sem pelos, do tamanho de um gato, que passou por eles, nada parecia fora do lugar.
Mas Miguel sentiu algo. Uma vibração quase imperceptível no ar, tão sutil que parecia um sussurro no silêncio, um presságio que escapava à razão.
Antes que pudesse entender o que era, agiu — empurrou Mia com força para o lado.
Um segundo depois, uma explosão silenciosa estourou atrás dele, reverberando como um trovão preso dentro do crânio.
O mundo girou. A luz estourou em branco e depois se apagou. Miguel caiu de joelhos, sangue escorrendo pelo nariz. Tentou se levantar, mas o chão cedeu sob ele — ou talvez fosse seu corpo.
♦♦♦
O interior do galpão era úmido e quente. Ventiladores industriais giravam lentamente no teto, rangendo com cada volta, mais decorativos do que úteis.
No ar, pairava um cheiro agridoce, químico, que grudava na garganta e deixava um gosto metálico na boca. As paredes eram manchadas por respingos endurecidos de alguma substância translúcida.
Tubulações enferrujadas serpenteavam pelas vigas, cuspindo vapor esporadicamente. Em uma das extremidades, caldeiras antigas zumbiam, exalando um calor constante que fazia o suor brotar mesmo sem esforço.
Equipamentos improvisados ocupavam mesas de aço escurecido, com formas cilíndricas e mangueiras trançadas por todos os lados, lembrando uma cozinha industrial.
— Mia, está mais calma?
— Hm. Um pouco. Mas estou enjoada.
Já era um alívio, pensou Miguel.
— Conseguiu ver quem nos atacou? — perguntou.
— Só vi que vestiam amarelo — murmurou Mia. — Aquilo não era uma granada de concussão comum. Você não teria desmaiado daquele jeito.
Miguel pensava o mesmo. A explosão ao seu lado tinha todas as marcas de uma granada de concussão — clarões violentos, onda de choque, um estampido que reverberava no osso. Mas havia algo mais.
— E tem outra coisa — continuou Mia. — Antes de apagar, senti um pulso eletromagnético estranho invadindo meus circuitos. Eu já lidei com PEM antes, e não é exatamente agradável, mas esse específico, não era pra danificar, era pra desligar.
O silêncio entre eles pesou.
Nenhum dos dois esperava uma caminhada tranquila ao sair daquele laboratório. Mas um ataque assim? Tático, preciso e com equipamentos tão sofisticados? Isso ia além do acaso.
— Bom, vamos conseguir algumas respostas em breve — murmurou Miguel.
Mesmo girando suspenso, ele forçou a cabeça na direção da entrada. As portas duplas foram empurradas para dentro, abrindo com um ruído áspero de metal contra concreto.
Quatro figuras atravessaram a soleira.
Três usavam macacões amarelos e máscaras de gás penduradas no pescoço. A quarta — uma mulher ruiva — vinha atrás com um ar despreocupado demais para a situação.
Devia ter uns vinte e poucos, traços do leste asiático e um visual que destoava completamente dos outros: calça de couro sintético, justa até o tornozelo, camiseta holográfica que se moldava ao busto, e um jaquetão branco aberto, casual e estiloso demais para aquele ambiente.
— Hm? Já acordaram? — resmungou ela, soprando uma névoa roxa dos lábios. Deu outra baforada no vaper antes de enfiá-lo no bolso da jaqueta. — Ei, Mike, cê comprou equipamento zoado com o aquele russo de novo?!
Um dos amarelos, provavelmente o tal Mike, gesticulou dramaticamente.
— Quê? Claro que não! Eu disse que nunca mais ia voltar naquele desgraçado!
— Então por que esses dois já estão acordados?! Eles deveriam estar babando até amanhã, seu inútil!
Ela avançou sem cerimônia, os passos pesados ecoando no chão como se quisesse acordar o prédio inteiro. As botas brancas reverberavam num compasso firme, quase militar. Fez um leve aceno de cabeça para um dos Amarelos — que, sem hesitar, foi até um painel com três botões. Pressionou um deles, e o casal parou de girar.
Pontos de interrogação flutuavam na mente de Miguel e Mia.
O que os incomodava, além é claro de estarem suspensos sobre uma panela fervendo caramelo colorido — eram essas pessoas.
Os caras de alguma forma ainda pareciam em sincronia com um mundo pós-apocalíptico, mas a mulher quebrava completamente essa visão.
Além disso, Miguel notou ainda mais peculiaridades nessas pessoas.
A começar pelo tal Mike, parecia só um pouco mais velho que a mulher. Metade da cabeça raspada, a outra coberta por uma franja verde caída sobre o lado direito. O olho esquerdo era claramente um implante — cibernético, brilhando em azul com um leve ruído de foco automático.
À sua direita, um velhote com cabelo lambido até demais. Aquilo não era natural. Provavelmente um implante capilar barato, tentando driblar a calvície. Mas o que chamava mesmo atenção era a mão direita. Metálica. Oito dedos cromados, finos como agulhas, encaixados em juntas expostas.
O terceiro homem era o que mais parecia normal, exceto pelo seu corpo enorme, deveria ter quase dois metros de altura, ombros largos e musculatura aparente, parecia um gorila.
— E aí? São mesmo da narcóticos? — perguntou a mulher.
— Sei lá. Nenhum dos dois possui ID e nas mochilas deles só tinha isso aqui — respondeu o cabelo lambido, já abrindo os zíperes.
Ele despejou tudo no chão: roupas, cantis, kits de primeiros socorros, cápsulas de ração militar e algumas armas e facas.
— Que merda é essa? — murmurou a mulher, inclinando-se. — Eles tavam brincando de escoteiros aqui ou o quê?
Cutucou os objetos com a ponta da bota, espalhando ração, cápsulas e carregadores pelo chão. Levou a mão à boca e começou a mordiscar a unha do polegar, parecendo pensativa e muito confusa.
Ao se abaixar, puxou uma das pistolas — uma Glock 9mm. Sondou a arma por um instante, as sobrancelhas franzidas, o olhar cheio de dúvida.
Ela se ergueu de novo e, sem hesitar, apontou a arma direto pra cabeça de Miguel.
— Quem são vocês?
— Meu nome é Miguel. E ela é a Mia.
A resposta foi tão simples e direta que a mulher, e até os homens atrás dela, ficaram sem reação.
— Heh… você parece bem despreocupado, hein?
— É só impressão — ele respondeu, sorrindo cinicamente. — A verdade é que tô bem apavorado com essa situação. Por isso tô sendo tão cooperativo.
Miguel escutou um ruido abafado atrás dele, provavelmente Mia controlando o riso.
Os homens trocaram olhares, desconcertados.
A mulher piscou algumas vezes, tentando processar o descaramento. Por um instante, pareceu prestes a dar um tiro — mas ao invés disso, caiu na gargalhada.
— Hahaha! Gostei de você! Por isso não vou te matar... ainda — disse ela, apoiando o cano da pistola no ombro. — Então, Miguel... por que diabos você e sua assistente Nina estavam zanzando no nosso território? Com certeza há lugares melhores... ou piores, sei lá qual a fantasia de vocês, pra uma transa maneira.
Miguel franziu o cenho.
"Assistente Nina?" Ela tá falando da Mia?
— ...
— O que foi? O gato comeu sua língua?
— Foi mal... — Miguel murmurou, desviando o olhar por um instante, avaliando suas opções.
Ele estava quase certo: se a mulher os quisesse mortos, já teria dado o tiro ou mergulhado eles no caramelo borbulhando. Ela queria informações. Precisava saber quem eles eram antes de tomar uma decisão mais drástica.
Miguel suspirou e decidiu que iria improvisar, seguir por um caminho mais arriscado, mas que poderia render bons frutos.
No pior dos casos, Miguel ainda tinha uma carta na manga capaz de tirar ele e Mia dali.
— Bem... então... não. Antes disso, qual é o seu nome? E o que é uma “assistente Nina”?
— Ahn? — A mulher pareceu ficar levemente irritada. Talvez achou Miguel estivesse tirando sarro de novo. — Você tá brincando... não... não tá, né?
O olhar franzido dela denunciava a confusão. Ela fixou os olhos em Mia, ali atrás dele, como se dissesse sem palavras: "é dela que estou falando.".
A mulher começou a andar de um lado pro outro, mordendo a unha do polegar, o olhar revezando entre Miguel e Mia.
— Talvez uma assistente Nina seja... parecida com a Mia? Pela forma como se referiu a ela, enquanto a encarava, posso supor isso? — Miguel arriscou. — Eu realmente não sei o que é uma assistente Nina.
— "Assistente Nina" é o modelo mais avançado de androide da atualidade — a mulher respondeu, ainda hesitante, sem tirar os olhos de Mia. — Consciência artificial que simula um ser humano perfeitamente. E o corpo... bom, é projetado pra ser igual ao nosso, só que melhor. Muito melhor. Tsc... o Mike sabe mais dessas merdas.
Mike tirou um cigarro do bolso do macacão, acendeu, tragou devagar. Encarou o casal de cabeça pra baixo com desprezo.
— Humpf! Impossível você não saber disso. Tá tirando uma com a gente, né? Porra... cara, qualquer um já viu nos comerciais essa bonequinha aí — ele apontou com o queixo para Mia. — Processador neural quântico, consciência artificial que imita um cérebro humano até nos erros.
Seu tom aumentou, talvez excitado pelo conteúdo da conversa. Devia ser seu assunto preferido.
— Estrutura interna feita com uma liga de titânio e grafeno, leve pra se mover rápido, forte o bastante pra esmagar um crânio com uma mão. Músculos sintéticos combinados com aço nióbio, flexíveis e resistentes. E a pele... pele híbrida de silicone e nano tecido biológico. Temperatura corporal regulada, com poros, veias falsas e até cheiro de gente.
— A assistente ideal: "bonita, calibrada pra te agradar de todos os jeitos, e capaz de virar um tanque de guerra se a coisa apertar" — disse a mulher, cortando Mike no meio da empolgação. A fala saiu como se estivesse repetindo um anuncio decorado.
Mike estalou a língua, como se incomodado por ter sido interrompido. Deu outra tragada, depois completou com um olhar de desprezo:
— Mas você é bem sem graça. Nem customizou o rosto ou o corpo da sua, só mudou a cor do cabelo. Que desperdício.
— O que foi...? O que há com vocês?
A mulher percebeu a mudança imediata. Algo havia quebrado o clima. Miguel estava com o olhar sombrio, pesado.
— Mia...
Miguel a chamou, baixinho.
Nada. Nenhuma resposta.
Ela apenas tremia. Silenciosa. Inalcançável.
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