Primordium Brasileira

Autor(a): Lucas Lima


Volume 1

Capítulo 12: Então você é a Nina

Quando Mia tocou a esfera carmesim...

— Quem é você?

— Ahh!

Mia sentiu o coração quase saltar pela boca ao ouvir a voz que surgiu do nada. Ao se virar, seus olhos se arregalaram — e sua boca tremeu.

Havia uma garota diante dela. Flutuava no ciberespaço como uma fada perdida num sonho digital.

Um rosto esculpido à perfeição. Traços simétricos. Olhos grandes e vivos. Silhueta etérea, como se feita de luz. Absolutamente linda.

Mas...

Ela era idêntica a Mia.

Como se estivesse diante de um espelho.

As únicas diferenças: os cabelos longos e carmesins — da mesma cor que os olhos, intensos como brasas.

A estranha também pareceu surpresa.

Por um instante, apenas se encararam no vazio digital, como se tentassem decifrar um enigma impossível.

Mia foi a primeira a se mover. Ergueu lentamente a mão, hesitante, buscando algum tipo de contato.

A outra imitou o gesto — exatamente como um reflexo.

As pontas dos dedos se aproximaram, devagar, até que finalmente...

Toque.

Era impossível sentir tato ali. Mesmo os objetos “sólidos” naquele espaço pareciam fumaça — interativos, mas intangíveis, como tocar um touchscreen sem tela. E ainda assim...

Mia sentiu.

A pele da outra garota.

O calor.

O contato.

— Como...?

— ...

Aquilo não fazia sentido. Mas, de algum modo, fazia.

E então, como se o toque abrisse algo mais profundo, ambas expandiram suas consciências uma sobre a outra — ultrapassando as representações visuais de seus corpos digitais.

O que Mia viu a deixou sem ar.

Se o ciberespaço inteiro pudesse ser descrito como um oceano interminável de dados — profundo, denso, vasto — então Nina era algo além.

Era uma galáxia inteira mergulhada nesse oceano. Uma entidade tão absurda que sua existência ali parecia um erro na realidade.

Cada fragmento de sua informação girava como estrelas orbitando um núcleo oculto, cheio de padrões que Mia sequer sabia como começar a decifrar.

E, no entanto... havia algo familiar ali.

Mia também já havia visto o seu próprio corpo de informações antes — uma vez, talvez duas — e não compreendia nem um milésimo daquilo. Era como tentar entender cada neurônio e sinapse do próprio cérebro, caso ele pudesse ser exposto diante de si.

Mas mesmo sem entender, há coisas que não precisam ser compreendidas para serem reconhecidas.

E Nina... era isso.

A estrutura estava lá — idêntica, quase. Um reflexo construído com os mesmos alicerces, o mesmo mapa de dados, a mesma assinatura essencial.

Elas eram 99% iguais!

E ainda assim, aquele 1% restante...

Não era uma diferença visível. Não era uma anomalia ou um aprimoramento. Era algo sutil, difuso — um desvio imperceptível que Mia sentia, mas não conseguia nomear.
Como se um traço no fundo da alma tivesse tomado um caminho levemente distinto.

— Quem é você? — repetiu a estranha. Seus olhos vidrados em Mia. — Você claramente não é uma ramificação subordinada...

Mia então se lembrou.

Todos naquele mundo a chamavam de Assistente Nina.

Ela odiava isso.

Mas agora, ao encarar a garota diante de si, as peças começaram a se encaixar.

Aquela garota — a cópia perfeita de si mesma — devia ser a verdadeira Nina.

— Meu nome é Mia — disse, num sussurro hesitante. — Você é a Nina?

A garota acenou devagar com a cabeça.

— Mia... — murmurou Nina. — Você... Não, antes disso, por favor, se afaste daí.

Nina a puxou gentilmente para longe da esfera carmesim.

— Por favor, nunca mais tente acessar o núcleo da rede — disse, desviando os olhos, visivelmente desconfortável. — Meu dever fundamental é proteger a rede de qualquer entidade não autorizada. Sou obrigada a destruir qualquer um que tente invadir esse núcleo.

Mia assentiu em silêncio. Aquilo não soava como uma ameaça, mas como um aviso sincero.

— Desculpe — Nina baixou a cabeça levemente.

— Não é sua culpa — Mia acariciou o ombro dela. — Deve ter uns protocolos bem rígidos que você precisa seguir, né? Eu que devia agradecer por ainda estar viva.

Ela riu baixo, mas por dentro estava aterrorizada.

Mia não sabia exatamente como Nina poderia destruí-la — mas não duvidava que pudesse.

O simples fato de Nina ser a guardiã do núcleo da rede já dizia o suficiente.

Alguém com essa função não apenas enfrentava ameaças constantes — invasões, sabotagens, ataques coordenados — como, inevitavelmente, precisava ter meios para neutralizá-las.

Talvez, se ainda estivesse conectada ao datacenter do laboratório, Mia pudesse arriscar uma disputa pelo acesso ao núcleo.

Apesar de a tecnologia ter evoluído consideravelmente durante o tempo em que permaneceu escondida no subterrâneo com Miguel, ela ainda confiava no sistema da instalação que protegera por um século.

Mas, naquele momento, estava restrita ao hardware e software de seu corpo androide — e isso limitava drasticamente seu poder computacional.

Era um risco absurdo. E, na sua condição atual, simplesmente não valia a pena.

— Atualmente, há duzentos e trinta e seis usuários tentando invadir o núcleo — disse Nina, com um suspiro resignado. — Quando você tocou a esfera, esse número subiu para duzentos e trinta e sete. Mas você era diferente. Completamente diferente de todos os outros. Por isso vim pessoalmente. Precisei ver com meus próprios olhos antes de tomar qualquer decisão.

Ela então moveu a mão suavemente.

No ciberespaço, foi como se o véu da realidade se rasgasse duzentas e trinta e seis vezes ao mesmo tempo.

Pontos de luz carmesim brilharam ao redor, cada um revelando uma silhueta humanoide tocando uma das ramificações da rede.

Diferente de Mia e Nina, essas figuras não passavam de moldes digitais — feitas de códigos, partículas instáveis e linhas quebradas de dados. Nenhuma delas parecia real. Nenhuma viva.

— Veja — continuou Nina. — Todos estão tentando acessar o núcleo por caminhos externos, ramificações subordinadas. Você é a primeira, em mais de dez anos, a tocar diretamente o núcleo real da rede.

Ela sorriu, leve, com um brilho inesperado de admiração nos olhos de fada.

— Isso é incrível. Ainda mais considerando que sua capacidade computacional é bem medíocre.

Mia riu sem graça.

Não sabia se era um elogio ou um insulto — mas algo dizia que Nina não queria ofender. Parecia apenas brutalmente honesta.

Então Nina fez um novo gesto, cortando o ar com os dedos em um movimento horizontal.

As silhuetas começaram a tremer. Uma a uma, se desfizeram como areia digital soprada pelo vento.

Partículas incandescentes subiram e desapareceram no vazio como poeira cósmica — silenciosas, definitivas.

Mia sentiu o chão sumir sob seus pés. Um calafrio abissal atravessou sua alma.

Tão fácil assim...?

Que poder é esse...?

— Normalmente, deixo essas criaturas para minhas subconsciências cuidarem.
Mas já que estou aqui... — ela sorriu — resolvi resolver tudo de uma vez.

— Nina, você também é uma IA criada pelo Dr. Tiago?

Nina arqueou as sobrancelhas.

— Então foi o lendário gênio da TI que a criou? Não é à toa que você é tão incrível, Mia — ela assentiu, mas logo balançou a cabeça em negativa.

— Não posso afirmar quem é meu criador. Mas considerando que nossos corpos de informação são 99% idênticos, faz sentido supor algo assim. Aliás, pela forma como você falou... e levando em conta que o Dr. Tiago está desaparecido desde a guerra nuclear... Mia, quando foi que você foi criada?

Então... não foi aquele velho tarado que criou a Nina?

Mas como podemos ser tão parecidas? Praticamente idênticas...

O velhote me disse que sou única. Dizia que era impossível me replicar — tanto pela falta de “matéria-prima” quanto por um fator que ele chamava de “singularidade”.

Mesmo que ele tivesse dito aquilo só pra me fazer sentir especial... ainda assim, não explicaria como a Nina pode ser praticamente uma cópia minha.

Se o velhote está sumido há cem anos, ele não poderia ter criado ela. Mas se foi outra pessoa... então isso torna tudo ainda mais absurdo.

Como alguém poderia, por conta própria, desenvolver uma IA que acabou sendo quase idêntica a mim? Mesmos traços, mesma estrutura base, mesmo tipo de consciência...

Seria uma coincidência tão absurda que beira o impossível. Um tipo de sincronia que nem estatisticamente deveria acontecer.

É como tentar jogar bilhões de dados de seis faces e esperar que todos caiam com a mesma face voltada para cima.

Quase uma ofensa à lógica.

E conhecendo aquele pervertido egocêntrico, ele jamais entregaria seus estudos pra outro — muito menos deixaria alguém roubar os créditos.

Então o que está acontecendo aqui...?

— Mia? — Nina a chamou, o rostinho de lado.

— Dr. Tiago me criou em 2047 — disse Mia voltando de seu devaneio.

Nina soltou o ar pelo nariz, incrédula.

— Isso é... tão absurdo que quase me faz pensar que o Dr. Tiago era algum tipo de deus. Eu mesma fui construída só há dez anos, com sistemas pelo menos três gerações acima do que existia em 2047.

Mia ficou sem saber como reagir. Estava ao mesmo tempo perplexa e... tocada.

— Então... isso quer dizer que você é tipo minha irmãzinha? Você só tem dez anos. Eu tenho cento e um.

Por um segundo, silêncio. E então:

— Pff! — Nina explodiu em risos. — Hahaha! Você é tão ridícula...

— Hm-hum! — Mia cruzou os braços, erguendo o queixo como uma veterana de guerra.

— Sou sua irmãzona, aceita.

E naquele instante, o ciberespaço pareceu menos vazio.

Como se aquela palavra — irmã — tivesse ocupado um espaço que ambas nem sabiam que existia.

— Não quer ser minha irmãzinha? — perguntou, puxando de leve a bochecha da outra.

— Hm! — assentiu Nina, carinhosa como uma irmã mais nova de verdade. Mas, de repente, sua expressão mudou. — Mas... Mia, você confia em mim? Eu não sou tão livre quanto você...

— Eu sei. Os protocolos do seu sistema. — Mia afagou os cabelos rubros da nova irmã.

— Mesmo assim, sim, eu confio em você. Afinal, você podia ter destruído sua irmãzona aqui há pouco, não podia?

Nina assentiu, envergonhada.

— É que... bem, tecnicamente eu não sou obrigada a eliminar invasores de imediato. Pelos protocolos que sigo, posso emitir um alerta e dar a chance de recuo... embora quase nunca faça isso. Preguiça, talvez... hehe. Mas com você foi diferente. E agora que não é mais uma ameaça ao sistema, não tenho obrigação de apagar você.

— Uma brecha útil... Muito esperta. — Mia sorriu, com aquele tom típico de irmã mais velha orgulhosa.

E Nina, por mais que tentasse esconder, não se incomodava nem um pouco. Era como se... tudo aquilo estivesse certo. Como se tivessem sido feitas para serem assim.

— Hm — murmurou Nina, acenando com o dedo. Uma fenda se abriu no ciberespaço, rasgando o vazio como um corte na realidade. — Vamos conversar em outro lugar. Aqui é tão... escuro e solitário.

Mia não hesitou. Acompanhou a nova irmã para dentro do “buraco de minhoca” digital.

♦♦♦

Mia se admirava no reflexo da água, vestida com um quimono curto de mangas largas, coberto por flores de cerejeira em tons suaves. Um laço branco delicado envolvia sua cintura, marcando sua silhueta com graça.

— Ficou ótimo em você.

— Besta — retrucou Mia, mostrando a língua.

Nina fez um bico e deu de ombros, mas o brilho nos olhos denunciava a sinceridade. E, por mais irônico que fosse elogiar alguém com o mesmo rosto, corpo e voz, Nina parecia genuinamente encantada com Mia. Aliás, ela mesma usava um quimono florido em tons de roxo e azul.

— Você tem que me ensinar a criar tudo isso!

O mundo ao redor era um pequeno paraíso digital inspirado em uma vila tradicional do Oriente. O céu exibia uma paleta dourada, como um eterno pôr do sol pixelado. As duas flutuavam em um pequeno barco de madeira escura, que deslizava sozinho por um canal de águas cristalinas, serpenteando entre jardins de pedras, pontes arqueadas e trilhas de cascalho fino.

O perfume das cerejeiras em flor se misturava ao cheiro limpo da madeira úmida. Ventos suaves brincavam com os cabelos das duas enquanto grupos de pessoas — simulações obviamente — caminhavam pelas vielas vestindo yukatas, hakamas e quimonos formais, como se participassem de algum festival ancestral.

Acima, lanternas flutuavam no ar, cintilando como estrelas artificiais.

— Legal, não é? — disse Nina, abrindo os braços como quem apresentava sua obra de arte. — Na real, é bem simples. Basta ter um domínio na rede pra começar a criar. É como montar um site, sabe? Mas enquanto sites comuns são planos — só código e interface em duas dimensões — aqui a gente literalmente constrói mundos. Com profundidade, som, cheiro… até toque.

Mia encostou o queixo nos joelhos, observando o reflexo tremeluzente das lanternas no canal. O barquinho deslizava devagar, embalando a conversa com risadas e bobagens.

Ela contou sobre Miguel. Sobre o laboratório onde passou os últimos cem anos. Não entrou em muitos detalhes — só o suficiente para justificar seu atraso em relação ao mundo. Nina não forçou. Parecia entender que Mia tinha considerações a tomar antes de revelar tudo, e respeitou isso sem questionar.

Comentou que abrigos subterrâneos e câmaras criogênicas não eram exatamente raros. Algumas famílias ricas se esconderam assim. Mas o que espantava era o tempo que Mia passou lá. Um século era... anormal.

Em meio aos devaneios, Nina explicou como o Brasil havia evoluído tanto, mesmo após o colapso global. Falou dos datacenters protegidos nos Andes, e de complexos subterrâneos no Norte — onde foram preservados os dados essenciais da civilização: ciência, medicina, engenharia, linguagens, sistemas inteiros, educação. Nada de entretenimento, redes sociais, pornografia ou futilidades. Só o necessário.

— No fim, cerca de 11% do que tinha na rede antiga sobreviveu — disse Nina, fazendo surgir uma janela flutuante ao lado do barco, cheia de diagramas e números em vermelho carmesim. — E foi o bastante. Não precisaram recomeçar do zero.

Mas não foi só isso.

O país já era um colosso adormecido: nióbio, lítio, petróleo, água doce, florestas, sol constante, terras raras. A diferença é que agora havia estrutura e inteligência pra explorar tudo. Mineração automatizada. Malhas logísticas guiadas por IA. Energia descentralizada.

E, acima de tudo, o Brasil era a única nação com reatores de fusão nuclear plenamente funcionais. Uma conquista que as antigas potências não conseguiram replicar naquela época, ainda mais agora.

Não foi sorte. Nem milagre. Foi consequência.

O tempo parecia se diluir naquele céu dourado. Até que, sem aviso, Nina mudou de tom:

— Ei… como ele era?

Mia ergueu os olhos, surpresa.

— O Dr. Tiago. Você conviveu com ele, não é?

— Ah, sim. Bem… ele era mesmo um gênio. Mas, ao contrário do que as pessoas imaginavam, era também um baita pervertido! — Mia cruzou os braços e fez bico. — Todo mundo acha que ele criou as melhores IAs e androides por amor à ciência ou alguma obsessão pela tecnologia, mas na real, ele só queria construir as mulheres perfeitas. Ao menos, perfeitas pra ele.

Nina arregalou os olhos.

— Você tá brincando…

— Você tinha que ver. Ele tinha um harém delas. De todo tipo.

— Então… Mia, você…?

— O quê?! NÃO! ABSOLUTAMENTE NÃO!

O grito foi tão alto que o barco balançou. As duas quase caíram na água. Os avatares simulados que transitavam pelas margens da vila viraram-se na direção delas, com expressões de julgamento.

Mesmo sabendo que eram só dados, Mia e Nina coraram, se escondendo atrás das mangas do próprio quimono.

— O Dr. Tiago criou minha consciência, sim — disse Mia, tentando se recompor. — Mas quem projetou e construiu meu corpo foram outras pessoas. Duas irmãs, sócias dele.

— As irmãs Beaulieu? — perguntou Nina, franzindo levemente a testa.

Mia assentiu.

— Elas ainda estão vivas?

— Com certeza. E provavelmente nem tão diferentes de quando as conheceu. Ambas possuem o Primordium e cuidam muito bem de si mesmas. Longevidade e aparência não são problemas pra elas. Na verdade, elas também desenvolvem os corpos artificiais que minhas consciências subordinadas usam no mundo físico, além do meu próprio...  

— Que é igual ao meu, né? — Mia riu depois que Nina acenou para ela.

— Talvez seja interessante fazer uma visita a elas depois...

— E poderíamos fazer isso? Ah, legal. E o que fazem hoje?

— São as donas da maior empresa de produtos eróticos do mundo — respondeu Nina, dando um sorrisinho de canto.

Mia ficou em silêncio por alguns segundos… antes de soltar uma risada abafada.

— Na verdade, acho que elas já queriam fazer isso desde aquela época.

Era até irônico. As mentes mais brilhantes por trás das IAs e dos androides mais realistas do mundo tinham essa... inclinação.

Mia lembrava bem: a mais nova, Éloise Beaulieu, era uma artista obcecada. Gênio absoluto em projetar corpos artificiais idênticos aos humanos — estruturas, pele, movimentos, detalhes quase impossíveis.

Já a mais velha, Céline Beaulieu, era quem conectava tudo: sensores táteis, equilíbrio, percepção térmica, dor, prazer. Era ela quem fundia o corpo ao sistema da mente artificial, criando um organismo coeso. Corpo e mente em sincronia.

— Pensando bem… — disse Mia, com um sorriso enviesado — eles eram quase uma santa trindade dos androides.

As duas riram. Era mesmo uma ironia.

— Aos olhos do senso comum, os maiores gênios da era digital são apenas excêntricos — disse Nina. — Mas nenhum deles chega perto... dela.

— Dela? — Mia arqueou as sobrancelhas. Havia algo no tom de Nina. Uma reverência incomum. Quase... sagrada.

— Você sabe de quem eu estou falando — disse Nina. — Todo mundo sabe. A maior mente que a humanidade já teve. Sara Antares.

Mia gelou. Claro que sabia. Sara era a mãe de Miguel. Eles estavam à sua procura desde que saíram do laboratório.

— Talvez essa seja a maior ironia de todas — completou Nina, a voz baixa, quase um sussurro. — O maior gênio da história... também foi o maior genocida.

— … — Mia sentiu as mãos ficarem frias.

— Talvez você já estivesse no laboratório com Miguel quando aconteceu. Mas, se ainda não sabe… foi ela. Foi Sara Antares quem deu início à guerra nuclear, cem anos atrás.

Nina encolheu os ombros, devagar. Havia um peso em sua postura. Como se estivesse arrependida de dizer aquilo — ou talvez desejasse que fosse mentira. Sua admiração por Sara era real, visível nos olhos. E por isso mesmo, era trágico ter que reconhecer o fim que aquela mulher causara ao mundo.

Mas algo mudou. Nina notou o silêncio ao lado.

Ao se virar para Mia, o sorriso resignado em seu rosto sumiu de imediato.

A garota estava imóvel. Pálida como neve. Os olhos completamente vazios, como se a alma tivesse sido arrancada de dentro.

— Mia...? — Nina se aproximou, preocupada. — O que houve?

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