Volume 1
Capítulo 10: Rodeado de Lixo
“Até agora nos tornamos a escória da terra, o lixo do mundo.”
1 Coríntio 4
— Não sei se este lugar é seguro para a nossa conversa. — A criatura de oito patas peludas olhou para cima, era uma vista interminável de janelas, embaixo de cada uma conjuntos infinitos de roupa a lutar pelo seu curto minuto ao sol no meio daquela prisão de concreto, mas o sol nascia lá ao fundo do pequeno céu quadrangular.
— Não há o que temer, neste momento somos mais uma dupla de pobres… — Largou um olhar sobre um vidro espelhado e, estranhando algo, tirou um tempo para recolocar a sua máscara branca. — Não, somos mais como dupla de miseráveis… — Concluiu, mas desta vez com um tom de voz quase sussurrante.
A poucos metros deles passava uma rua, o movimento era sempre contínuo, tornando qualquer atenção nas duas figuras um mero vislumbre rápido pela multidão, poucos perderiam o seu tempo a bisbilhotar em meio a empurrões e gritos constantes.
O homem mascarado, olhando toda a multidão fervorosa, sentou-se sobre um pequeno entulho de materiais eletrônicos velhos: um televisão com tela partida, ao lado um telemóvel que não devia sentir o toque de uma mão há anos, mas o que furtava mais a atenção era uma disquete, quase sem cor, provavelmente estava a navegar pela cidade sem rumo, sem dono.
— Sabia que aqui o tempo mal avançava, mas não esperava encontrar uma coisa destas. Que cidade deplorável. — Pegou no objeto e deu por si, minutos depois, a contemplá-lo. — Deve ter vindo para cá num dos camiões de lixo de Moscovo.
— Muita gente chama-a de Aterro da Rússia, juntaram todas as pessoas das favelas russas aqui e dão-lhes o lixo que sobra em troca de trabalharem nas fábricas da Quatro Cavaleiros.
Palmas preencheram o espaço, o som subia pela chaminé de janelas e saía como fumo para se juntar ao barulho das fábricas.
— Não me lembro de ter feito de ti um animalzinho tão inteligente.
— Eu andei a ler alguns livros, pensei que seria bom entender a sociedade. — respondeu o demónio, desviando os seus olhos, mesmo que sentisse o olhar contínuo do humano a mirá-lo.
— Pois, aí está um problema da tua raça, pensar. Se ficassem calados e obedecessem o mundo era muito melhor. — Pausou o seu discurso para julgar com o vazio da máscara a criatura de cima a baixo. — Mas enfim, eu não estou aqui para te adestrar, disso eu trato depois.
Deixando o poço escuro em total silêncio, começou a tirar alguns papéis do bolso, não estavam com a melhor saúde, mas as letras ainda se mantinham intactas para passar a mensagem adiante.
— Aqui estão as plantas dos prédios da OMD em Luxemburgo, quando decorares queima as folhas. Agora vamos passar ao plano, ouve bem porque eu não vou repetir isto mais nenhuma vez. — Desdobrou cada uma delas e em seguida ordenou-as. — Como membro da Corte Decisória, eu enviei um mandato de prisão ao caçador Michael, a legitimidade do pedido foi aceite por unanimidade no conselho europeu… Resumindo daqui a poucos dias um dos caçadores mais importantes vai ser levado a julgamento e é aí que tu entras. — Colocou a primeira folha sobre a terra batida. — Vais invadir o Tribunal dos Caçadores quando ele estiver a ser levado, tens luz verde para matar quem quiseres, só precisamos do corpo do Michael.
— Ótimo, mas não acho que a segurança deles o vai entregar assim de bandeja.
Uma segunda folha foi sobreposta à anterior, mostrava a planta de todo o complexo sistema de defesa de Luxemburgo, um dos mais avançados do ocidente. A cidade, ao que parecia ser revelado pelos rabiscos, contava com dezenas de batalhões armados por entre as centenas de prédios, no meio deles alguns grupos especializados em neutralizar todo o tipo de ameaças, sem falar no conjunto de artilharia que era revestido das mais caras invenções militares, realmente uma verdadeira fortaleza, um paraíso para quem procurava fugir das urbanizações inseguras aos perigos das bestas.
— A artilharia não vai ser um problema se estiver desativada e os homens vão estar ocupados com outras coisas. Diria que vai ser muito divertido. — O homem levantou-se ainda com as palavras a vazarem e avançou para junto da criatura. — Mal posso esperar para ter o Demónio da Escuridão no meu arsenal. — Parou em frente dele, envolvendo o pescoço felpudo com as mãos cobertas com luvas de couro. — Tenho ansiado muito por isso, prometes-me que vai correr tudo bem? — Apertou o máximo que conseguiu, tanto que os dedos deram a volta e cruzaram-se.
O demónio, notando a ausência do ar, deu pela sua mente a contemplar uma pequena gota que escorria por uma das suas patas, uma gota caída de algum vazamento. Ela descia a passo lento, segundo por segundo, aperto por aperto, aflorando os seus sentidos, mostrando, ao passar pelos seus músculos tensos, que nada podia fazer a não ser obedecer…
—Eu… prometo…
Quando se deu conta, elas não estavam mais lá a asfixiá-lo, todavia a sensação de opressão continuava a pairar à sua volta. Aquele homem era a prisão, os seus dedos grandes que o impediam de sair, os seus olhos holofotes que o vigiavam e os ouvidos as suas escutas que deduravam cada passo dado.
"Pelo menos consigo ver a luz." Olhou para cima, vislumbrando os curtos raios que lhe tocavam as faces. "Podia ser pior... ser como antes."
No céu um helicóptero decorado com a sigla da Organização Mundial dos Demónios, cortava o vento com as suas hélices. Por baixo, estava Paris, entulhada no lixo e sufocada até ao topo por prédios.
— Odeio esta cidade… — O caçador suspirou, enquanto retirava a franja de cima dos olhos. — Lembra-me da Rússia…
Maria estava sentada à sua frente, olhava-o de relance, contudo o que lhe cegava mais a atenção era o interior da máquina de metal, os fios soltos, o painel a borbulhar de luzes…
— Maria! Estás a ouvir-me?
A jovem sentiu aquelas palavras como um balde de água fria atirado para a acordar. O efeito foi imediato, quando se apercebeu estava presa aos olhos verdes de Michael.
— Não me digas que nunca andaste de helicóptero?
— Ah… Bem… Não é exatamente uma coisa comum… — Maria apercebeu-se do tablet que ele mexia, parecia tão focado que deixou as palavras dela desaparecem soltas na caixa de metal.
Segundos depois, inclinou o corpo para junto da companheira, mostrando o ecrã coberto por centenas de palavras.
— O nome do homem é Mikey Wilson, portador do Demónio da Raposa. O processo foi todo feito legalmente pela Demons Company, o certificado estava em dia, mas algumas das análises estão em falta.
Confusa, Maria ia pescando algumas palavras, aquelas que tinha ouvido falar durante o tempo em Roma. Do lado de fora, pela janela, viu os prédios da cidade a engolirem como se caísse num chão tomado por lanças.
— Para a tua primeira caçada está ótimo. — Viu a curta confirmação que ela deu com a cabeça e mirou para o que ela contemplava. — Parece que vamos aterrar. — Ergueu-se do seu assento, colocando o tablet sobre ele, e carregou num dos botões do painel.
—Senhor, talvez fosse melhor abrir só a porta quando pousarmos. — retrucou o piloto.
Michael não esboçou reação, limitou-se a ir embora sem largar uma única palavra de despedida. Maria seguiu-o até junto da vista que a falta da porta revelada, ruas e mais ruas desertas, sem qualquer vida, restava apenas o ruído das sirenes e alguns sons dispersos de passos.
— Esta é a influência que um único demónio tem sobre as nossas vidas, um aeroporto inteiro paralisados.
O vento entrou pela caixa de metal adentro como se fosse uma onda, naufragando-os numa ventania sem fim, os seus cabelos rodopiavam, mas as roupas permaneciam quase paradas.
— Passei aqui muitos anos e garanto que poucas vezes vi a cidade assim… — Apoiou-se numa barra, que descia desde o teto até ao chão, para não cair.
— Vamos pousar em poucos segundos, estejam preparados! — gritou o piloto do fundo, mas o vento diminuiu a sua intensidade, cessando qualquer som quando chegou aos ouvidos dos dois caçadores.
No teto do aeroporto, homens caminhavam de um lado para o outro, todos envoltos em trajes militares pretos, só se notava os olhos no meio daquela escuridão e algumas cicatrizes que saltavam da cara. Junto de algumas caixas estava um deles, porém não usava qualquer roupa negra, servia-se antes de uma jaqueta castanha de couro, que ao ver Michael surgir do metal voador gritou:
— Quando me disseram que iam enviar dois caçadores, nunca pensei que pudesses ser tu… — Caminhou a passos largos para junto do lugar de pouso.
Maria, ao seu lado, observou que reação lhe florescia nas faces. Foi um misto entre olhos arregalados e um sorriso matreiro de ouvido a ouvido.
— Pietro!? — exclamou espantado, interrompendo o homem abaixo de si — Desde quando é que tu estás em Paris? Da última vez que nos encontramos estávamos…
— Numa missão em Espanha, bons tempos…
O ruído dos motores a desligarem finalizou qualquer pedaço de conversa que pudesse nascer. Michael deu um salto para fora do helicóptero e correu para envolver o velho amigos nos seus braços.
— Os superiores mandaram-me para cá há umas semanas. Estavam a precisar de ajuda, ao que parece a segurança aqui não era das melhores
Terminado o longo abraço, recuou um pouco, questionando em seguida:
— Como está a Lucy?
— Está aqui em Paris também, dedicou-se à escrita desde que nos mudamos para cá. — De sorriso no rosto, Pietro colocou a mão sobre o ombro do antigo companheiro e olhou além dele, para uma jovem mulher de cabelo ruivo e olhos banhados de esmeralda, as calças justas de látex preto a realçar as curvas, sobre os peitos havia apenas um top fino branco que deixava toda a barriga exposta ao vento. — Arranjaste uma boa companhia, amigo.
As palavras voaram até aos ouvidos de Maria e fizeram o seu rosto virar um tomate, as suas bochechas ardiam em fogo, não sabendo a hora de parar.
— Não… Não é nada disso… — falou ela num tom baixinho enquanto procurava um lugar para afundar a cara.
— Somos apenas colegas de trabalho. — Olhou, antes de continuar, na direção das caixas. — Enfim, não estamos aqui para falar da vida, temos trabalho a fazer.
Pietro concordou com a cabeça e acompanhou-os para junto dos restantes homens, eles olhavam para um caixote que improvisava de mesa, em cima dele algumas informações.
— Peço a atenção de todos, a missão não será fácil, não sabemos ainda em que estágio está o demónio, se já tiver atingido a Possessão pouco nós podemos fazer, por isso mandaram-nos dois caçadores. — Olhou para ambos. — Eles vão seguir para a zona norte do terminal um, segundo algumas testemunhas que saíram do prédio, foi lá onde tudo começou. Já vocês, os dois batalhões táticos da polícia Parisiense, vão para a parte sul, devem existir ainda muitas pessoas presas no edifício. Entendido?
Como uma orquestra, os homens concetiram ao mesmo tempo e correram até ao vidro partido. Cordas desciam para tocarem o chão, nessas cordas eles escorregaram para o meio do átrio principal sem perder tempo.
— Boa sorte, caçadores. Sinto que vão precisar. — Pietro afastou-se deles, juntando-se a outros policiais que olhavam o interior pelos vidros que cobriam todo o teto.
Michael olhou para Maria no segundo seguinte, ela encarou-o também, a troca de olhares continuou até o homem tomar a dianteira:
— Preparada?
— Acho que sim…
Aproximaram-se das cordas, a queda era longa, por volta de vinte metros, se caíssem ficariam espalmados no chão, com vários pedaços por todos os cantos.
O caçador foi o primeiro a aceitar o desafio, escorregou até ao solo e caiu com os pés sobre o tapete de veludo vermelho que preenchia todo o piso, era confortável de pisar, pensou. No momento seguinte olhou para o céu e viu a cópula de vidro que dominava o azul da atmosfera, centenas de quadrados transparentes que deixavam o sol entrar todos os dias, iluminando todo o requinte de umas das construções mais caras da Europa. A jovem caiu logo depois, mas deixou-se deslizar lentamente pela corda, observando do alto o tamanho do edifício, as paredes cobertas de um castanho claro e os bancos que se estendiam até onde os seus olhos podiam ver, todos com acentos vermelhos como o vinho.
— É lindo — revelou Maria, largando a corda. Ela quase que salivava de tanta vaidade que a rodeava — Nunca tinha pisado aqui antes.
— Geralmente quem usa este terminal são os mais ricos, os outros ficam para as passagens mais baratas. Cheguei a vir aqui umas vezes quando era criança.
Tomando para si a frente, Maria caminhou cada vez mais para dentro do aeroporto, até um dos ecrãs que marcavam as viagens: Dubai, Tokyo, Madrid, New York, a lista era longa, mas todos estavam cancelados.
— Michael, posso fazer uma pergunta?
O homem, poucos metros atrás dela, parou de frente a outro dos ecrãs, um que exibia o mapa do local.
— Claro.
Mesmo que estivesse curiosa, a mulher, antes de soltar qualquer palavra que fosse, corou de vergonha, sentia que a sua pergunta faria que fosse vista como pouco inteligente.
— Como um humano fica quando está descontrolado? — Esfregou o rosto vermelho com as mãos e continuou. — A teoria que me ensinaram deve ser diferente da prática.
Assim que ouviu aquilo, o homem decidiu mirá-la, prestando total atenção nas dúvidas da sua companheira.
— Certo. — Fez uma pausa para pensar um pouco no que dizer. — Na escola ensinaram-te que existem três estágios.
— Sim, a Decaída, o Descontrole e a Possessão.
— O Descontrole, em geral, são humanos que já não conseguem pensar, são mais parecidos com um animal do que com qualquer ser pensante. O ponto fraco deles é exatamente essa falta de inteligência, podes usar isso a teu favor.
Maria, concordou com a cabeça enquanto ele falava, de certa forma era como se ela tirasse apontamentos mentais caso fosse preciso usar a informação numa luta real.
Terminada a curta conversa, decidiram seguir em frente, passo por passo, metro por metro, cada corredor novo era mais estreito que o anterior, em contraste a preocupação sufocava-lhes cada vez mais a garganta, o medo de aquela besta, perdida entre duas mentes, aparecer era enorme. Michael, temendo que algo ocorresse com a sua protegida, andava com uma mão sempre envolta na sua escuridão.
Nessa constante e árdua jornada deram, passados alguns minutos, de cara com um rasto de sangue, uma pista que revelava a proximidade do inimigo. Mais à frente, um braço, uma perna, e mais alguns pedaços, aqui e ali, espalhados pelo chão, arremessados contras as paredes e enterrados no veludo.
Maria parou em frente ao líquido vermelho, sentiu algo revirar o seu estômago e, em seguida, uma tontura pairar na sua cabeça. Para resfriar um pouco o seu espírito olhou para o lado, contudo em cima de um banco viu um dedo mordido, talvez fosse uma alucinação, mas jurava que se tinha mexido.
— Às vezes eu esqueço-me que é a tua primeira vez. — Michael ao ver o mal estar de sua colega levou-a até um dos inúmeros acentos. — Devia ter previsto que algo assim podia acontecer, foi um erro meu.
— Não, não é culpa tua, eu estou um pouco enjoada desde que saí do helicóptero. Devia ter tomado algum medicamento antes de sair de casa.
Os dois, esperaram um pouco sobre as cadeiras forradas a couro, que eram bastante confortáveis. Michael, foi o primeiro a recompor-se, Maria logo o seguiu, colocando-se ao lado do caçador experiente.
O passo retomou, não muito tempo depois, agora com mais calma, já que a destruição a cada metro era maior, e o mínimo barulho chamaria a besta. Porém, não foi preciso tanto cuidado, duas salas à frente, a criatura revirava algo, provavelmente um cadáver, mas não dava para perceber muito bem, já que a luz era impedida de entrar.
— E agora? — sussurrou Maria, enquanto olhava a figura grotesca.
O caçador, por um tempo, ficou em silêncio, apenas observando o ser. Quem tirou todos os detalhes necessários olhou para a jovem e respondeu:
— As informações parecem estar certas com as que nos deram. — Parou para olhar mais um pouco para a criatura. — Ainda não chegou à Possessão, isso é bom.
— Mas, o que vamos fazer?
Limitou-se a sentar-se, foi essa a resposta que o caçador lhe deu após ouvir aquele comentário. Maria encarou-o, estranhando a situação, estaria ele à espera de algo?
— É a tua avaliação, podes matá-lo da forma que bem entenderes. Eu vou estar aqui para intervir se for necessário. — Encostou-se à parede e cruzou os braços.
A mulher ficou perplexa com a atitude do seu colega, milhares de dúvidas começaram a saltar na cabeça dela em sequência.
— Acho que sei o que fazer — falou para si própria, já que sabia que ele não a ouvia.
Logo que a última palavra foi expelida pela sua boca, o seu corpo levantou-se do chão, onde ela estava agachada, e começou a correr na direção do monstro. O seu passo era mais rápido que o de um humano comum, provavelmente até mais que muitos dos caçadores experientes.
O demônio ouvindo as pisadas aceleradas dela ficou alerta, virando-se e abrindo a boca num tom de provocação. Estava sobre quatro patas, por todo o corpo uma pelagem laranja saía da pele do homem, contudo era mais longa e mais espetada do que a de qualquer outra raposa, parecia um tapete de verdadeiras lanças prontas a perfurar.
— Nunca é bom atrair o inimigo, devias ter atacado pelas sombras.
— Eu tenho um plano, só espero que funcione. — Quase junto da aberração, Maria puxou o braço atrás para ganhar impulso para o soco, as veias quase que saltavam da pele com a força com que ela fechava a mão. Assim que viu a oportunidade, lançou-a à cara da besta acertando-lhe com o punho.
Porém, não foi o demônio que berrou de dor, e sim Maria, tocar com a mão nua nele era como bater no metal mais duro que podia existir.
Aquele ataque em vão fez a jovem perder o completo foco na luta, gritando para o céu revoltada:
— Eu nunca consigo ativar isto quando eu quero.
Do outro lado, uma voz percorreu a sala numa onda estridente, parando tudo na cabeça da mulher:
— Maria!!! Cuidado…
Voltando a atenção para onde estava a besta, ela viu a sua pata cheia de garras percorrer o ar que a separava da sua cara a alta velocidade. Sentiu um arrepio subir por todo o corpo no mesmo instante e refugiou-se no pensamento, na primeira frase que lhe saltou: "De tantos lugares para morrer, nunca esperei que iria ser na minha cidade…"