Possessão Brasileira

Autor(a): Matheus P. Duarte


Volume 1

Capítulo 14: Batalha nas Sombras

Em um pequeno aeroporto há alguns minutos da cidade de Nagasaki, uma van estava parada perto da pista, de luzes desligadas.

Asashio estava no volante, sentada ao lado Matheus, com um notebook e um headset.

A polícia toda está atrás de você. Precisa ficar escondida até que um dos nossos contatos possa lhe encontrar… — disse e deu uma pausa, então continuou — Espera!

Quando retirou sua escuta, balançou a cabeça de um lado para outro, depois respirou e expirou com força.

Então?

Ela desligou.

E o drone?

Ainda está transmitindo. Precisamos ir o mais rápido possível.

Matheus respondeu apontando com a cabeça para um par de luzes vindas do céu, que logo se transformaram em um som alto bem característico.

A pista foi iluminada e o barulho de motores a jato fez todos os ocupantes da van taparem os ouvidos, exceto ele e Asashio.

Com o avião no solo, falou para as demais.

Meninas, se alegrem, pois hoje o passeio é por conta da casa.

Yuudachi brilhou os olhos como uma garotinha, sendo a primeira a sair correndo para embarcar.

Não ficando para trás, Mutsuki saiu junta dos demais, demonstrando sua empolgação.

Eu sempre quis andar de avião! —

Não podemos perder tempo. Peguem seus equipamentos e vamos — respondeu com um sorriso àquela exclamação.

Todos pegaram uma bolsa grande de estilo militar, visivelmente pesadas e caminharam para ele.

// — // —

O sangue ainda escorria pelo chão, quando um choro a fez voltar a si.

Kaori estava em prantos, amarrada sob a mesa fria de aço.

Kasumi limpou o sangue de seus rosto e de sua arma, daí se levantou para socorrê-la.

Vim resgatar vocês — falou retirando a faca de seu cinto — Vou cortar as amarras.

O couro não resistiu a lâmina bem afiada.

Quem te mandou? — indagou Keishi.

Não importa… Não vão sair daqui sem mim.

Ela terminou de soltar Kaori, pegou gaze e esparadrapo de um dos bolsos no cinto e cobriu a ferida dela.

Obrigada… — Agradeceu sussurrando.

Quando foi a vez de Keishi, o mesmo a encarou com ímpeto, em forma de desafio.

Você desconfia até de quem salva sua vida?

Eu preciso desconfiar até de minha sombra.

Kasumi baixou a cabeça e começou a soltá-lo.

Sua resposta veio logo em seguida.

Estou trabalhando junto de sua irmã.

O que disse?!

Ela cortou a última amarra, se colocou em pé e estendeu sua mão antes de continuar.

Nós resgatamos ela antes que a polícia o fizesse. Agora ela é uma de nós…

Ele, ainda que aparentemente confuso, segurou aceitou a ajuda e se levantou da cadeira.

Olhando-o nos olhos, continuou.

Falam sobre os quatro trastes que ela matou, mas ninguém fala sobre quem ela salvou. Sachiko Ogara.

Keishi olhou para o chão de forma pensativa.

Sachiko… A polícia não divulgou o nome da quinta vítima, então era ela…

Nós precisávamos garantir que não sofresse mais nas mãos daqueles bandidos, por isso demos a ela uma nova vida… Confia mais em mim agora?

Ele acenou com a cabeça.

Quando Kasumi se virou, Kaori estava ajoelhada ao lado do corpo de Ishida, limpando as lágrimas de seu rosto.

Ele era meu amigo… Por quê?

Pessoas como ele não enxergam nada além deles mesmo. Pra alguém assim, o mundo é quem está errado.

Keishi colocou seu casaco sobre o corpo trêmulo dela, então a levantou.

O que faremos agora?

Kasumi checou o carregador de sua arma.

Vamos tentar sair sem sermos vistos. Sigam-me.

Eles subiram silenciosamente as escadas, até o hall de entrada.

Um grupo de seguranças caminhava pelo local procurando por algo.

Encontraram alguma coisa?

Nada ainda. Seja quem for, tem culhões pra ter matado um dos nossos.

Vamos nos dividir. Preciso que dois vão ver a senhora Hisen, os outros se devidam pra procurar pelo resto do lugar.

Mas e os clientes?

Não se preocupe, eles já são corpos ambulantes.

Todos se dispersaram, por entre os vários cômodos da casa, incluindo o segundo andar. Um, entretanto, caminhou em direção a traseira da escadaria.

Kaori e Keishi se encolheram em uma das sombras, depois que Kasumi sinalizou com sua mão.

Preparando sua faca, ela esperou que ele chegasse na esquina para atacar.

Com uma facada no peito, ele agonizou com a mão dela sobre sua boca, encurralado contra a parede.

A ação foi feita com maestria, se não fosse pelo fato da pistola dele cair no chão e disparar.

Imediatamente fez questão de levantá-la e entregar para seu protegido.

Pegue!

Com um movimento lento, pegou a arma.

Kasumi correu pela lateral oposta da escada, encontrando mais um com quem trocou tiros com ela.

A madeira da escadaria foi lascada por uma das balas, soltando farpas em seu rosto, não impedindo, com isso, dele tombar depois do clarão de três disparos iluminar o azulejo branco do chão.

Ela seguiu avançando com os dois, com Keishi mantendo Kaori bem próxima dele, servindo de escudo.

Muitas vozes podiam ser ouvidas ecoando pelos corredores, até mesmos sons de passos no piso acima.

Correndo para a entrada, descobriu ser impossível abrir a porta. Uma grade de ferro se soltou da parte se fechou, assim com o barrulho de várias trancas sendo acionadas, junto de um ascender de luzes repentino.

Por aqui! — gritou correndo para o lado oposto de onde havia entrado, a zona oeste da mansão.

Todos estavam seguindo pelo corredor quando um homem saiu de trás de uma esquina.

Ela chutou sua mão baixa que segurava a arma, depois o golpeou com a coronha no queixo, de modo que o fez levantar os pés do chão e finalizou atirando.

Uma sala lhe chamou a atenção, então ela se arrastou pela parede para espiar o que havia dentro.

Dois inimigos tentavam pegar suas armas de forma cambaleante, cercados por algumas garrafas de bebida, não que isso impedisse se serem alvejados, com um deles caindo sobre a mesa ao seu lado, derrubando e quebrando o que outrora foi sua diversão.

Rapidamente ela correu para a janela ver se conseguia abri-la, só para descobrir que elas também estavam fechadas com grades.

Na sua tentativa de voltar pelo corredor, foi encontrada por um grupo dos homens de Hisen.

Em meio a uma chuva de tiros, deu um salto para trás, caindo de volta na sala onde estava.

Com os dentes cerrados, falou para Keishi, se aproveitando do disparos ainda sendo feitos.

Se escondam! Vou tentar ganhar o máximo de tempo que puder!

Kasumi esperou uma pausa para atravessar para a sala ao lado, descarregando sua arma no processo.

A ação surtiu o efeito pretendido e todos eles seguiram ela para dentro do próximo cômodo, uma espécie de depósito, cheio de caixas, móveis cobertos por panos e um cheiro desagradável de mofo.

Uma escrivaninha foi escolhida para servir de cobertura, sendo a parte também uma boa posição por causa do da falta de material no meio.

Deitada sobre a poeira, recarregou sua arma com o cano esfumaçando, no mesmo momento em que o primeiro entrou pela porta, completamente sem enxergá-la.

Um tiro em cada perna o fizeram deitar, mais dois no peito o silenciaram.

Sem entrarem, dispararam as cegas a partir da porta.

Os tiros acertaram a mobília de as paredes, com a nuvem de pó cobrindo ela. Sua reação foi atirar nas lâmpadas em seu entorno.

Tendo desaparecido, seus atacantes não tiveram escolha se não procurá-la com lanternas, ao menos para saber se foi atingida ou não.

Um deles cobria o nariz e a boca em meio a poeira. Quando parou para tossir, Kasumi saiu de trás de uma cortina que cobria alguma das peças e cortou a garganta dele, no momento certo, de um jeito que o fez se afagar no próprio sangue, sem tempo de gritar, apenas grunhir.

Outros dois foram cegados pela luz da lanterna que rolou pelo chão, quando se viraram depois de ouvirem os últimos momentos de seu amigo.

O tempo foi o suficiente para o fogo da arma de Kasumi brilhar em meio a escuridão.

Outra dupla que estava lá atirou em direção aos tiros, desta vez armados com submetralhadoras.

Ainda que a as coberturas fossem numerosas, o fato da maioria serem móveis de algum tipo não as tornava particularmente eficientes, então ela se jogou no chão, mesmo assim, um tiro passou raspando em suas costas, formando um corte semelhante relativamente fundo.

No instante em que pararam de atirar, deixaram o silêncio se manter por alguns segundos, depois recarregaram.

Este momento foi bem aproveitado por ela para revidar, descarregando a arma em sua direção a eles.

De repente, o silenciador de Kasumi explodiu, lançando alguns estilhaços em sua bochecha.

No chão, ela levou a mão ao rosto, com os dentes cerrados, se contorcendo um pouco.

Usando o lado direito, que não estava machucado, pôde ver que sua mira foi certeira, mesmo que um deles estivesse tentando fazer pressão na ferida. O sangramento dizia que não duraria muito.

Seu olhou esquerdo estava entreaberto e com várias escoriações, coberto de sangue. A expressão de dor estava bem discreta, como se não quisesse mexer muito os músculos da face.

Sua mão livre pegou de volta a arma, entretanto, seu cano estava destruído, bem na parte do encaixe do silenciador.

Havia sobrado apenas seu revólver.

Um tiro foi ouvido vindo de trás dela, vindo em cheio na parte de baixo das costas.

Ainda caindo, se virou de forma a cair em direção a ele, com a arma em mãos. Seus disparos foram dados em direção a um vulto, que sumiu como se nunca tivesse estado lá.

Você é bem bonitinha, em?

Caída atrás do que parecia ser um sofá tapado, a voz ecoou pela sala como se não viesse de nenhum lugar específico.

E você me chama pra sair com um tiro, é isso? — respondeu fazendo pressão na ferida.

Eu sei que estou apressando as coisas, mas resolvi pular logo pra parte em que faço você gemer.

Que abusadinho…

O sofá foi lançando para longe. Quase na mesma hora, um chute correu pelo seu rosto, forte o suficiente para arrastá-la.

Quando parou, em algum momento, a sombra se revelou como sendo um homem por volta dos trinta, de barba baixa e cabelos feitos sob medida.

Ele já estava ajoelhado sobre ela, com ambos os joelhos por cima de suas mãos.

Sabe, não sou tão assanhadinho assim. Gosto muito de rostos, tenho uma coleção deles — disse pegando um canivete de seu bolso — Só cortar a pele é chato, então gosto de fazê-lo com a pessoa contribuindo; mais desafiador… Emocionante.

O reflexo de Kasumi sobre a lâmina a fez tomar uma postura de espanto, mas, ao mesmo tempo, estagnada, se movimento.

Se você gritar, só vai fazer as coisas serem mais devagar.

Pouco antes de alcançar o rosto dela, sua mão foi mordida com tanta força e velocidade que um pedaço de carne foi retirado.

Seu grito desesperado foi seguido de um soco de uma das mãos que ela conseguiu livrar, jogado-o com violência para o lado.

Mesmo ferida, se apressou em continuar atacando.

Antes de atingi-lo mais uma vez, seu semblante desapareceu como uma sombra.

Então você é como nós — falou com uma voz visivelmente tentando controlar sua dor.

Kasumi pegou lentamente sua faca e permaneceu parada. As gotas de seu próprio sangue caiam como água no final de um dia chuvoso. Seu cheiro de ferrugem se misturava com o dos outros corpos conforme ia escorrendo pelo chão.

Com certeza têm alguma coisa que você queira… Dinheiro, poder, fama? Todos gostamos disso.

Tem algo sim… O que eu mais quero nesse momento é você — a voz sussurrava como no ouvido de um amante — Seus olhos são lindos.

Diz isso pra todos os homens que conhece?

Só pros que eu mato.

A faca dela foi lançada logo acima de uma arma caída. O inesperado era o fato dela ter ficado cravada em alguma coisa entre o ar e a parede.

Kasumi levou a mão a uma lanterna próxima, sem se importar com o fato da luz estar vermelha de sangue.

Seu inimigo estava ali, com sua mão presa. O corpo dele oscilava entre visível e não visível, conforme a luz era distribuída.

Um demônio… Não esperava menos.

Com o revólver, atirou uma vez no braço ainda bom, e uma em cada perna.

Ele gritou, tanto quando foi atingido quanto quando a faca cortou a carne de sua mão ao cair de joelhos.

Ao aproximar-se, ela jogou a arma fora, agachou para ficar na sua altura e então colocou suas mãos em seu rosto.

São muito lindos…

Com os dedões perto de seus olhos, os encarou com um sorriso no rosto.

O homem respirou ofegante, assutado, com dor. Tudo piorou ainda mais no momento em que Kasumi começou a enfiar seus dedos neles.

Suas tentativas fúteis de se soltar foram completamente frustradas pelo completa falta de mobilidade em seus membros.

Eles foram mais e mais fundo, pouquinho a pouquinho, e quando começaram a sangrar, Kasumi lambeu seus lábios e saltou suspiros de excitação.

Lenta e dolorosamente, seus últimos momentos de angustia não foram rápidos, mas vieram.

Parada em silêncio, ofegando com muita força, de repente mudou seu olhar para um de pavor, sua garganta começou a pulsar e ela vomitou no chão ao lado, várias vezes. A quantidade era tão grande, que seu estômago, se esvaziou, ao ponto de ser visível as contrações em seu abdômen, mesmo que não conseguisse colocar mais nada para fora.

Ela caiu, se encolhendo como uma criança; gemendo, tremendo.

Keishi saiu de onde estava escondido, andando de vagar após longos minutos de quietude.

O que descobriu foi sua salvadora naquele estado deplorável, iluminada pela cor vermelha. Seu corpo estava embebido em sangue, embora não desse para saber se vinha dela ou dos outros.

Kaori! — gritou enquanto corria para ajudá-la — Vamos, deixe me ver.

Ele a fez deixar sua posição fetal, colocando-a de costas para rasgar sua camiseta.

Kaori chegou, levando as mãos a boca ao ver aquela cena de violência.

Preciso que me ajude!

Somente essas palavras a fizeram dar um passo adiante, ainda que precisasse engolir a seco para isso.

Faz pressão, eu vou tentar arrumar alguma coisa pra estancar.

Ela revirou o rosto e fechou os olhos, mas conseguia fazer o que lhe foi pedido.

Keishi pegou do cinto dela a bolsa com os matérias de primeiro socos, com uma pequena garrafa de álcool entre os intens.

Vai doer — falou apertando ela com uma mão, ao mesmo tempo que despejou o líquido sobre a ferida.

Sua reação foi morder os lábios com força e raspar as unhas no chão de madeira. Depois disso, eles enfaixaram a ferida.

E agora? — perguntou Kaori, segurando a mão dela que continuava gemendo.

Não podemos carregar ela por ai, talvez aja mais deles….— então sussurrou encarando o piso e apertando seu punho — E agora…?

De repente, a terra tremeu ao som de explosões.

// — // —

Que merda tá acontecendo? Um dos nossos aparece morto, a mansão tá fechada e tá tendo uma porrada de tiros lá dentro.

Não somos pagos pra fazer perguntas. Se não nos chamaram, então não é problema nosso.

Olha, não sei quanto a você, mas eu gosto de minha cabeça presa no corpo!

Os dois bandidos estavam no jardim da frente, quando o mais calmo deles colocou seu indicar sobre os lábios.

Ambos observaram a escuridão da floresta a frente, tentando entender do que se tratava.

O barulho parecia um assobio que ia aumentando progressivamente, até se tornar realmente alto.

Em um piscar de olhos, uma rajada de vento atingiu eles, junto da luz de um holofote.

Antes que pudesem baixar aos mãos sobre seus olhos, uma rajada de tiros os perfurou como faca na manteiga.

Matheus e sua equipe haviam chegado no local em um helicóptero.

Concentre o fogo em qualquer um que não pareça um civil e exploda o que for necessário pra ninguém fugir!

Ordenou ele ao piloto a partir da metralhadora na lateral direita.

Eles deram uma olta pela parte externa, atirando em todos os alvos que surgiam: Carros, pessoas, janelas da mansão usados como coberturas, destruindo vidros, arbustos, cerâmicas e tijolos. Para completar, o piloto disparou foguetes na parte traseira da mansão, começando um incêndio em um galpão, com alguns carros em sua frente, forte o suficiente para não ser necessário o uso de lanternas no exterior.

Eles começaram a pousar.

Boa sorte — disse ele olhando nos olhos de Asashio, que assumiu a metralhadora.

Quando olhou para as outras, todas devolveram seu olhar, com Mutsuki sendo a última a levantar a cabeça.

Ao se colocar de pé, segurou-se em um encaixe na parte de cima da fuselagem, dai estendeu sua mão para ela, que aceitou, se pondo de prontidão como a primeira a descer.

O tocar no chão marcou em definitivo sua entrada em cena.

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