Possessão Brasileira

Autor(a): Matheus P. Duarte


Volume 1

Capítulo 13: Entrando na Escuridão

Uma van andava em uma estrada nos arredores de Tóquio. As luzes de seus faróis e da cidade logo atrás era a única coisa visível naquela noite escura. A estada ingrime, construída para atravessar uma montanha, era cercada por árvores a direta de quem saia da capital, com um desfiladeiro grande a sua esquerda.

Depois de cerca de 15 minutos naquele caminho, pararam em um acostamento, onde um carro preto esperava em sentido oposto. Rapidamente, o motorista da van desceu bateu no vidro do outro veículo, que, baixando apenas uma fresta, o atendeu.

Ter certeza que não foram seguidos?

A estrada é bem reta. Com certeza teríamos visto algo.

Entrem.

A janela se fechou e o homem sinalizou para seus comparsas virem até ele. Duas pessoas saíram carregando outros dois encapuzados que foram colocados no banco de trás, então as portas se fecharam com todos dentro e partiram pelo caminho de volta.

A uma distância segura de lá, um drone observava o desenrolar dos acontecimentos.

Você já consegue ver a transmissão?

Sim, Asashio. Despistei eles tem uns 10 minutos

Kasumi estava escondida em um beco, ao lado de uma lata de lixo, com um tablet em mãos.

A polícia toda está atrás de você. Precisa ficar escondida até que um dos nossos contatos possa lhe encontrar.

Não dá tempo. Eu vou agir agora.

Esper…

Antes que completassem estas palavras, ela retirou o comunicador de seu ouvido e o desligou.

Ao se levantar do chão gelado, respirou fundo olhando para o os carros passando na rua, sem que o cheiro de lixo a incomodasse.

Depois de arrumar suas roupas e pegar sua bolsa, rumou para a calçada.

A luz das lâmpadas que atingiu seu rosto chegou junto com o som dos murmúrios da multidão. De um lado para outro passavam pessoas, em sua maioria namorados ou grupos de amigos.

Seus olhos passaram de cenho franzido de uma ponta a outra, como se procurasse por algo.

Uma pessoa logo saltou a vista. Era um homem bem novo, cercado por alguns caras que observam sua moto chamativa, de aparência bastante cara, logo do outro lado da rua. Ela abriu um sorriso e atravessou em direção a ele.

Com a graça de uma pantera, sua maneira de andar logo se transformou junto de seu sorriso em sedução.

O pequeno grupo parou tudo que estava fazendo para observá-la, do mesmo modo que o dono boquiaberto do veículo.

Que moto linda… — falou de maneira sensual.

Ah, pois é, acabei de comprar.

Me deixa ouvir o barulho que ela faz?

Claro, claro…

O rapaz, visivelmente empolgado, tornou-se motivo de alegria até para seus amigos que deram um tapa nas costas dele e uma piscadinha com o olho esquerdo.

Abrindo um sorriso caloroso, ele acenou com o polegar para os outros, então pegu sua chave, ligou o motor da moto sem se sentar e acelerou com o freio.

600 cavalos.

Gostei… — falou se sentado.

Então, ela deu a partida para longe deles, apesar dos gritos e protestos desesperados, principalmente do dono que se atirou entre os carros tentando correr atrás dela.

// — // —

Matheus, Hisen colocou o plano dela em ação. Tanto Kaori quanto Keishi foram levados pelos homens dela — falou Asashio para ele, que se mantinha atrás de sua cadeira acompanhando os monitores.

Não podemos correr riscos. Diga para despachar o drone assim que possível.

Ela voltou a ligar seu transmissor, enquanto ele pegou seu celular, olhando fixamente para um contato. Após alguns segundos, seu polegar apertou a tela. O som da ligação não durou muito, mas seu olhar fixo o fez demonstrar uma apreensão que pareceu estender o tempo.

Amon, preciso de um Helicóptero.

Sua colega parou de digitar após ouvir isso.

Sim, encontramos a Hisen e ela têm dois reféns… Claro, uma hora eu apareço pra beber com você. É um saco ligar só pra dar notícias ruins, né?

A postura séria dele logo foi amenizada com um pingo de serenidade.

Desligando a chamada, voltou-se para sanar os olhares de dúvida.

Nosso patrocinador. Talvez um dia conheça ele… — falou guardando o celular de volta no bolso e continuou — Vou colocar as meninas de prontidão. Partiremos em 30 minutos.

Ele deu as costas e caminhou para a saída, mas parou pouco antes.

Mais uma coisa… Não fale pra Mutsuki sobre o irmão dela.

Isso é cruel… — falou se virando para vê-lo com o canto dos olhos.

O pior é ela se descontrolar durante a missão. Não só não salvará ninguém como também poderá colocar todos nós em risco

Asashio respirou fundo, olhando para o chão, então, ele saiu sem dizer mais nada.

Andando com ombros para trás e a cabeça erguida, ainda com o som de seus passos ecoando pelos corredores de maneira uniforme, logo encontrou as risadas das garotas vindo de seus quartos.

Esse mangá é muito engraçado! A Ponko é tão fofa!

Eu falei que você ia gostar, Mutsukinha…

Matheus olhou para dentro do quarto de Yuudachi que estava com a porta aberta e ambas sobre a cama conversando calorosamente.

Ele bateu na porta para chamar sua atenção, mudando sua expressão para um tanto melancólica com o canto da boca torto para cima.

Preciso que se preparem, equipamento completo. Vamos atrás da Hisen…

Ele deu as costas sem dar tempo de ver a expressão de espanto no rosto delas, mas tendo um vislumbre de Satsuki que o observava de braços cruzados encostada em sua porta, confirmando suas intenções.

Quando chegou de volta em seus aposentos, jogou sua gandola sobre a escrivaninha, retirou seu coldre e o largou sobre a mesa.

Um armário no canto da sala foi aberto. Dentro estava um fuzil, munição, colete aprova de balas, facas e outros itens de combate.

Pouco a pouco ele foi se vestindo, até estar com o uniforme completo, mas um último item se destacou.

Era uma máscara de polímero que cobria a boca e o nariz, com a mandíbula de uma cobra mostrando as presas e fumando um cigarro, cor verde-oliva com detalhes em preto.

Ele a colocou em sua face, respirou fundo em um som semelhante a uma máscara de gás, colocou seu revólver em um outro coldre na sua perna, segurou seu fuzil e bateu a porta.

// — // —

Kasumi estava a cerca de meia hora perseguindo os suspeitos, longe de seu campo de visão, apenas com o uso do drone.

Sua rota era em direção oposta à de onde abandonaram a van, do outro lado da floresta que circundava Tóquio.

Uma estrada muito discreta, feita de com uma pequena trilha de asfalto, sem qualquer sinalização, em meio a grandes arbustos, foi seguida por eles que rapidamente desaparecerem por ela.

A densidade da mata impedia de seguirem sendo acompanhados sem que o drone se aproximasse e seu som ficasse evidente, então, ela o colocou ainda mais alto para ver o que existia nas redondezas.

Um casarão muito bem cuidado, mas muito discreto, imergiu do matagal, com muros altos e um jardim de proporções modestas em seu interior. Nenhuma luz podia ser vista, assim como nenhuma movimentação, dando um aspecto de quase abandono.

Um dos homens saiu do carro e abriu o portão manualmente, depois o fechou assim que cruzaram. Após chegarem em frente a entrada todos desceram e caminharam para dentro, enquanto o carro era escondido nos fundos.

Kasumi pousou o drone, guardou seu tablet e deu partida novamente em sua nova moto para percorrer o pouco caminho que lhe faltava.

Ao passar pela estrada principal, saiu dela antes de chegar a seu destino para percorrer o restante dele através das árvores, a pé. A vegetação serviu muito bem para esconder seus rastros, somado a baixa visibilidade, tomando cuidado apenas para não fazer barulho entre os arbustos.

Quando chegou a lateral do muro, ativou o drone mais uma vez para checar o que estava por trás dele e descobriu que alguns homens rondavam o jardim, em especial um que estava caminhando do se lado oposto.

Ela largou a bolsa no chão, retirou um cinto com alguns porta carregadores dela, o vestiu e pegou o coldre de seu revolver de dentro de sua calça e o colocou por cima dela. Quando passou a bandoleira de sua submetralhadora nas costas, pegou uma faca de sua cintura em mãos e pulou o muro cuidadosamente.

Andando sorrateiramente, passou a mão sobre a boca do homem, o puxou para trás e enfiou a lâmina em seu peito, fazendo-o agonizar e se debater até finalmente se silenciar.

Escondendo o corpo entre os arbustos, restava caminhar até a janela mais próxima. Obviamente, estava fechada, mas a faca que carregava era fina o bastante para entrar pelas frestas e destrancá-la.

Uma vez dentro, estava completamente sozinha, atrás das linhas inimigas.

// — // —

Andem! — ordenou um dos capangas.

Os dois sequestrados estavam descendo uma escadaria que dava para a parte mais baixa da mansão, um lugar abafado e úmido.

Com suas mãos atadas, tentavam de algum modo se guiarem pelas paredes e não caírem nos degraus.

Um corredor surgiu no final das escadas, muito semelhante a uma prisão. Várias portas com pequenas janelas que podiam ser usadas para espiar seus interiores estavam em ambos os lados. Nenhum som, além do eco dos passos, podia ser ouvido, mas um cheiro nauseante que se assemelhava a ferrugem, amônia e produtos de limpeza baratos inundou as narinas deles, de modo a se contorcerem.

Eles caminharam mais um pouco até serem jogados em uma das tantas celas, ajoelhados, desencapuzados e desamordaçados.

Boa noite, meus queridos.

Sua anfitriã era ninguém menos que Hisen.

Fico feliz que tenham vindo para nosso jantar.

Jantar?! — exclamou Keishi.

Mas é claro e vocês são os pratos principais — falou apontando para uma sombra do lado oposto da sala.

Se revelando da penumbra, Ishida surgiu.

A primeira a reagir foi Kaori, enchendo os olhos de lágrimas e cerrando os dentes, fazendo uma fatídica pergunta.

Por quê?

Tremendo o punho cerrado da mão esquerda, ele começou respondendo em um tom relativamente baixo.

Desde de pequena eu te recebia em minha casa. Você comia do bom e do melhor, brincava com meus brinquedos, ia a lugares caros comigo, tudo com meu dinheiro. O que eu ganhei com isso? Você me trocou pelo irmão de uma assassina! — gritou chutando uma cadeira de ferro que se entortou violentamente com o impacto.

Ishida… Você… Você só pensa em si mesmo. Têm noção do que ele passa todos os dias? Têm noção do que as pessoas que você humilha passam? Eu não conheci você desse jeito!

Um tapa estalou do lado do rosto dela.

É assim que mostra gratidão?!

Keishi tentou se levantar, mas foi chutado, caindo sobre o chão frio de concreto.

Ora, pelo entusiasmo acho que podemos começar.

Hisen acendeu as luzes para iluminar aquilo que permanecia oculto. Uma cadeira de ferro gasta, com tiras de couro no braços e nas pernas, gaiolas suspensas do tamanho de uma pessoa com marcas de queimado e uma mesa cirúrgica com vários encaixes para amarras só serviram dar um vislumbre do que poderia ser feito com a infinidade de facas, alicates, serras, agulhas e outras ferramentas inomináveis.

Com todos os olhos voltados para aqueles itens, Ishida olhou para Kaori e disse.

Eu vou fazer você se arrepender.

Keishi foi levado para uma das cadeiras e amarrado sob a mira de uma arma.

Kaori tentou se soltar, resistindo mais que seu companheiro, ainda que completamente em vão. Arremessada com força para cima da mesa, ela ainda esperneou, mas no fim acabou imobilizada.

Ambos podiam ver um ao outro, mas não havia palavras que quisessem trocar.

A entrega está feita, senhor Ishida. Isso me traz lembranças…

Hisen caminhou até as diversas ferramentas de tortura, observando-as com certa nostalgia.

Eu era muito pobre, andava descalça, passava com fome, as vezes roubava um pãozinho pra comer… Passava o maior tempo que podia fora de casa, mas ás vezes precisava voltar, só pra ser espancada pelo meu pai bêbado, quando não estava de mau humor e me queimava com uma bituca de cigarro.

Ela levou a mão a um alicate, aproximando de seu rosto.

Comecei cortando os dedos dele, pra nunca mais me tocar… Se precisar de ideias para sua obra de arte, é só me chamar.

Largando de volta a ferramenta sobre a mesa, deu de costas e saiu da sala com seus capangas, batendo a porta de aço reforçada.

// — // —

Kasumi se esgueirou pelos corredores o mais lento que pôde, para evitar o ringir do chão de madeira.

Algumas rizadas podiam ser vista aqui e ali, som de conversas, de passos no piso superior, mas as luzes se mantinham estrategicamente desligadas, de modo que os corredores permanecessem quase no escuro

Da sala lago a sua frente, surgiram duas pessoas meio cambaleantes com um forte cheiro de fumaça e as roupas tão desarrumadas que ameaçavam cair do corpo. Estavam entorpecidos demais para ver ela, escolhendo ficar atirados no chão.

Kasumi caminhou entre eles e pôde enxergar o que estava dentro daquela sala.

Diversos vultos balançavam entre as sombras, regados a bebidas, drogas, mijo e outras que coisas fariam um pessoal normal vomitar, todos como animais sem nenhuma noção de pudor ou moral.

Era algo repulsivo, mas não de seu interesse, com ela continuando a caminhar para dentro do local.

No hall principal iluminada apenas a luz de velas e do lustre, de atrás de uma longa escadaria levando aos andares superiores, Hisen apareceu vindo com seus capangas, completamente sem noção de que estava sendo observada.

Eu vou pro meu quarto descansar um pouco. Se o pequeno Hayashi chamar, me avise.

Seu guarda-costas acenou positivamente com a cabeça enquanto via ela subir os lances de escada. Depois que despareceu de vista, um cochichou para outro.

Já não tem um cara lá em baixo? Vamos tomar uma… Quase morri hoje…

Seu colega respondeu com um dar de ombros, então os dois caminharam juntos para o outro lado da mansão.

Kasumi aproveitou a oportunidade para checar de onde tinham vindo. O que encontrou foi uma porta com grades de ferro que dava para uma escadaria, que foi por onde continuou silenciosamente.

No final dela estava o corredor por onde haviam trazido Keishi e Kaori, com um único guarda sentado do lado de fora da porta com um livro em mãos.

Ela apoiou o cano da arma contra parede e entre seu polegar e o indicador, depois disparou. Não havia como errar e a têmpora de seu alvo foi atingida em cheio.

O pequeno eco do som abafado pelo silenciador por instante foi alto, mas rapidamente o local pareceu ficar ainda mais silencioso que antes.

Ao avançar pelo corredor, um par de olhos a observou de uma das selas, sem qualquer emoção, em completo vazio.

Do lado da porta que estavam guardando, lentamente abriu uma pequena fresta dela.

Hayashi estava com um alicate sobre Kaori, lhe dizendo algo.

Eu vou começar com um dedo de cada vez… Sempre gostei de como suas mãos são macias.

Ela reagiu fechando a mão esquerda onde estava sendo tocada, virando seu rosto em repulsa.

Irritado com sua atitude, ele apertou o alicate contra seu dedo indicador, retirando um pedaço de carne fora.

Ela gritou, se contorcendo de dor, mas estava totalmente imóvel.

Seu canalha! — gritou Keishi

Cale a boca! Logo será a sua vez… Eu falei que ia começar por seus dedos, mas não se preocupe, logo terei suas mãos, seus lábios, seus seios e sua dignidade — disse se aproximando da orelha dela, baixando o tom até se transformar em um sussurro.

Então, ela virou seu rosto em direção ao dele e o cuspiu.

Sua fúria explodiu, mas quando tentou levantar sua ferramenta para bater nela, Kasumi o empurrou para longe com uma esmagadora força.

Antes que pudesse ver quem o havia atingido, uma coronhada vei em direção a sua testa, depois outra, outra e outra. Quando acabou, ela estava ofegante, mas ainda com um olhar odioso, apesar de estar diante do crânio esmagado dele.

Sua possessão havia sido trazida a tona.

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