One Shot

Capítulo 3: O Que Nós Não Queremos Perder. O Que Resta

1

 

“Uau! Mizuki-kun, olha! É tão lindo!”

“É. Não tem nada a ver com a TV.”

   Olhando para a imponente árvore de Natal, Mizuki e Misaki soltaram vozes de admiração.

   Era 24 de dezembro — véspera de Natal.

   Depois de terminarem seus trabalhos habituais de bastidores, os dois fizeram um desvio depois da escola para conferir as iluminações que estavam sendo realizadas no centro da cidade.

“Misaki-san, olha esta árvore. Aparentemente, usaram vinte mil lâmpadas. Quanto será que vai custar a conta de luz de uma noite?”

“Mizuki-kun, não diga coisas que estraguem o clima. É aqui que você deveria dizer algo como: ‘Você é ainda mais bonita que as luzes, Misaki-san.’”

“Dizer isso você mesma meio que anula o propósito, não é?”

[Almeranto: Esses dois KKKKKKK, não me aguento.]

   Eles trocaram brincadeiras e riram juntos sem dar sinal. Isso não havia mudado nada desde o verão.

   Mas certamente havia coisas que haviam mudado.

   Agora oficialmente um casal, Mizuki e Misaki passaram a valorizar ainda mais o tempo juntos.

   Depois das tarefas extracurriculares, voltavam para casa juntos. Passavam os dias de folga juntos também. Não precisavam de nada especial ou sofisticado — apenas estarem juntos já bastava.

   E, no entanto, por mais tranquilos que fossem aqueles dias, um medo persistente sempre pairava dentro de Mizuki.

“Oh! Mizuki-kun, olha ali! Eles ligaram a fonte!”

“Ah, espere um segundo, Misaki-san! Você não precisa me puxar assim — a fonte não vai a lugar nenhum.”

   Misaki o puxou pela mão, e Mizuki a seguiu, perturbado.

   Então, olhou para a mão que segurava a sua com um olhar de dor.

   Ultimamente, Mizuki notara que Misaki havia emagrecido gradualmente. Cada vez que ele segurava sua mão ou a abraçava, seu corpo parecia mais frágil. Provavelmente era um sinal de que sua doença estava progredindo.

   Os médicos haviam dito a Misaki que ela não viveria até os vinte anos. Na verdade, eles alertaram que ela poderia não ter nem um ano inteiro pela frente. Tendo recusado a hospitalização por decisão própria, a vida de Misaki estava se aproximando de um ponto em que poderia acabar a qualquer momento.

“Ei, tem algo errado? Você está fazendo uma careta.”

“Não, não é nada. —Ah, mas Misaki-san, você poderia esperar um momento?”

“Hm? Claro, eu acho?”

   Inclinando a cabeça curiosamente, Misaki observou Mizuki lhe dar um sorriso gentil, escondendo a ansiedade em seu coração.

   Então, ele tirou uma caixa comprida adornada com uma fita de sua mochila.

“Feliz Natal. Este é o meu presente de Natal para você.”

“Uau! Obrigada. O que é? Posso abrir?”

“Claro.”

   Com uma expressão animada, Misaki desfez a fita e abriu a caixa.

   Dentro havia um conjunto de uma lapiseira e uma caneta esferográfica combinando.

“No começo, pensei em comprar algumas joias para você, mas não sabia o que escolher... Então pensei que algo assim seria prático para o dia a dia.”

“Sim! Vou usá-las na escola. Obrigada, Mizuki-kun.”

   Misaki devolveu as canetas à caixa e deu um sorriso radiante.

   Parecia que ela tinha gostado delas, e Mizuki soltou um suspiro de alívio.

“Então aqui está meu presente de Natal para você. Um cachecol... Eu não o tricotei nem nada — eu apenas o comprei, mas mesmo assim, aqui.”

   Misaki tirou o presente da mochila e o entregou a Mizuki.

   Quando Mizuki abriu, encontrou um cachecol azul-marinho — algo que ele poderia usar até na escola.

“Obrigado. Vou cuidar bem dele.”

“Mm!”

   Enquanto Mizuki enrolava o cachecol em volta do pescoço e agradecia, Misaki assentiu alegremente. Aquecia não apenas seu pescoço, mas também seu peito.

   Após trocarem presentes e apreciarem intensamente as iluminações, Mizuki e Misaki deixaram o centro da cidade. Mizuki a levou para casa e então voltou sozinho.

   Enquanto caminhava pela noite fria, instintivamente levou a mão esquerda ao cachecol e olhou para a direita — a mão que segurara a de Misaki momentos antes.

   Quanto mais preciosa Misaki se tornava para ele, maiores eram seus medos. Inúmeras noites sem dormir se passaram com Mizuki deitado na cama, assombrado pelo terror de perdê-la. Ele sabia que não era o que ela queria, mas não conseguia deixar de desejar que ela fosse para o hospital, mesmo que fosse apenas para viver um pouco mais.

   Mas o tempo é implacável. Apesar dos medos de Mizuki, o relógio continuou a avançar sem parar.

   E assim chegou o dia 26 de dezembro. O primeiro dia das férias de inverno revelou-se tão animado e agitado que Mizuki não teve tempo para se deter em sua ansiedade.

“Certo, vamos começar a grande limpeza! Vamos deixar a sala de arquivo inteira brilhando hoje, então vamos trazer a energia!”

   Naquela manhã, eles se encontraram na sala de arquivo, onde Misaki anunciou com entusiasmo o início da limpeza de fim de ano. Era a última tarefa de bastidores do ano — um acordo para limpar a sala juntos.

“Uso este lugar há muito tempo, mas esta é a primeira vez que o limpamos direito.”

“Devemos muito a esta sala. Vamos dar uma boa esfregada, de cima a baixo, para demonstrar nossa gratidão.”

“Sim. Vamos fazer o nosso melhor.”

   Concordando com as palavras de Misaki, Mizuki olhou ao redor da sala de arquivo.

   Ele havia começado a usar o espaço em seu primeiro ano naquele mesmo dezembro — exatamente um ano atrás. Pensando bem, a primeira vez que ele falou com Misaki foi ali também. E foi lá que ele se confessou a ela.

   Assim como Misaki disse, Mizuki também queria fazer uma limpeza profunda e sincera na sala pelo menos uma vez. Era a única maneira de retribuir tudo o que ela havia lhe proporcionado.

   Cheio de determinação, Mizuki amarrou o avental e prendeu uma faixa triangular de limpeza na cabeça.

“Desculpe por fazer você esperar. Vamos começar?”

“Certo! Então vamos começar limpando as estantes.”

“Entendido.”

   Carregando o conjunto completo de produtos de limpeza, os dois se posicionaram entre as prateleiras.

   Usando esfregões de microfibra, começaram a tirar o pó dos livros alinhados nas prateleiras. Com tantas prateleiras na sala de arquivo, era uma tarefa bastante trabalhosa.

“Como estão as coisas do seu lado, Mizuki-kun?”

“Acabei de terminar a terceira fileira.”

“Ahh, ainda temos um longo caminho a percorrer.”

   De extremidades opostas das prateleiras, eles conversavam enquanto limpavam fileira após fileira.

   Apesar de ser inverno, ambos estavam encharcados de suor de tanto se mexer. Mesmo assim, no início da tarde, conseguiram terminar de limpar as estantes.

   Depois de tirar o pó da última prateleira, Misaki girou os ombros em um círculo.

“Finalmente terminei as prateleiras! Vamos almoçar e depois continuamos.”

“Parece bom, mas... Misaki-san, você está se sentindo bem? Você tem se mexido muito. Se for demais, por favor, não hesite em me dizer. Eu cuido do resto.”

   Preocupado com o coração, Mizuki perguntou, preocupado, ao ver o quanto estava suada.

   Em resposta, Misaki o cutucou levemente na testa com um brincalhão “Tei-ya!”

“Obrigada por se preocupar comigo. Mas se você me tratar como se eu fosse feita de vidro, na verdade, é mais exaustivo. Eu ainda sou uma estudante do ensino médio, sabia? Se ficar muito difícil, eu digo ‘Chega!’ — então, até lá, apenas cuide de mim, okay?”

   Vendo Mizuki pressionar a testa em surpresa, Misaki sorriu tranquilizadoramente.

   Mizuki pareceu um pouco envergonhado, corando levemente enquanto coçava a bochecha.

“Certo... Claro. Desculpe. Só me preocupar com você não é suficiente, não é?”

“Exatamente! Não estou em condições de falar, considerando a quantidade de problemas que causo, mas vamos ser justos.”

“Sim.”

   Mizuki sorriu de volta para ela.

   No final, demorou quase a noite para terminarem a limpeza.

   Mesmo durante a tarde, Misaki não disse uma única vez que estava com dor. Ela estava totalmente focada em limpar a sala de arquivo — como se acreditasse que não teria outra chance.

   Então Mizuki também se absteve de demonstrar preocupação excessiva.

   A verdade era que Mizuki estava incrivelmente preocupado o tempo todo. Mas ele fez o possível para esconder esses sentimentos superprotetores.

   E assim, depois de agradecer à sala de arquivo recém-limpa com um sincero “Obrigado por tudo neste ano,” Mizuki pôde saudar o ano novo com o espírito renovado.

 

   Então chegou o Ano Novo — e na manhã de 1º de janeiro, Mizuki se deparou com a maior provação de sua vida.

“Gostaria de vos apresentar. Este é meu namorado, Mizuki Akiyama!”

“O-Olá. E-Eu sou M-M-Mizuki Akiyama. M-muito obrigado p-por me receber hoje...”

   Sua voz falhou de nervosismo, as palavras gaguejando de um lado para o outro. Mizuki curvou-se rigidamente, como um soldadinho de chumbo, para o casal de meia-idade parado à sua frente.

   Esta era a casa de Misaki. E o homem e a mulher que ele encontrou na porta da frente não eram ninguém menos que os pais de Misaki.

   Então, sim — logo no primeiro dia do ano, Mizuki estava lá para cumprimentar os pais de Misaki.

   A propósito, sua mãe tinha as mesmas feições de Misaki, só que mais velha. Seu pai não se parecia tanto com ela. Ele tinha um rosto severo, mas gentil, e uma constituição sólida que sugeria que ele já havia praticado esportes.

“Não precisa ficar tão tenso. Prazer em conhecê-lo, Mizuki-kun. Sou o pai de Misaki, Kensuke Fujieda. Obrigado por terem vindo hoje.”

[Almeranto: Pelo menos o pai é gente boa.]

“E eu sou a mãe dela, Izumi. Deve estar frio aí fora. Entre, entre — sinta-se em casa.”

“S-Sim! Muito obrigado!”

   Acolhido calorosamente pelos pais de Misaki, Mizuki curvou-se novamente com o mesmo movimento rígido.

   Por que Mizuki acabou visitando a casa de Misaki no Ano Novo? Porque ele havia sido convidado — pelas mesmas pessoas que estavam diante dele.

“Ei, Mizuki-kun, você está livre no Ano Novo, certo?”

“Não posso deixar de me sentir um pouco ofendida com a sua presunção... mas sim, completamente livre.”

“Então venha para minha casa. Meus pais disseram que querem te conhecer... então me disseram para trazê-lo.”

“Ah, os seus pais Misaki-san… —Espera, o quê!?”

   Foi assim que a conversa transcorreu na véspera de Ano Novo.

   Aparentemente, quando os pais dela descobriram que o tio de Mizuki não voltaria e que ele passaria as férias sozinho, sugeriram: “Por que não o convida?”

   Após a breve conversa na entrada, Mizuki foi conduzido para a sala de estar. A pedido do anfitrião, sentou-se em frente a Kensuke. Sentado cara a cara com o pai da namorada — que tipo de pressão era essa?

   Apesar de ser inverno, o suor escorria pelas costas de Mizuki como uma cachoeira.

“Pense aqui como se fosse sua própria casa. Fique à vontade.”

   Sentindo o nervosismo de Mizuki, Kensuke ofereceu um sorriso caloroso enquanto falava.

   Claro, se isso realmente ajudasse, ninguém teria dificuldades com isso. Mizuki permaneceu sentado em uma postura seiza perfeitamente ereta e conseguiu dizer apenas um firme: “Muito obrigado”.

   Então veio a segunda tentativa de Mizuki.

“Bem, então vou fazer um chá.”

“Eu te ajudo, mãe.”

   Para o desânimo de Mizuki, não apenas a mãe de Misaki, mas a própria Misaki havia saído da sala para ajudar na cozinha.

   O que significava que agora eram apenas Mizuki e Kensuke no quarto. Mizuki... estava tão nervoso que sentiu que ia desmaiar.

   Mas a voz de Kensuke o ancorou de volta à realidade.

“Quem diria que chegaria o dia em que eu estaria cara a cara com o namorado da Misaki... Honestamente, por volta dessa época no ano passado, eu não poderia ter imaginado.”

   Aquelas palavras nostálgicas trouxeram Mizuki de volta à razão por um instante.

   Por volta dessa época no ano passado, Misaki ainda estava hospitalizada. Para seus pais, talvez até mesmo tê-la de volta em casa já tivesse parecido inimaginável.

   Não importa como tenha acontecido, passar um tempo com Misaki novamente naquela casa deve ser algo insubstituível para eles.

   E só agora Mizuki percebeu completamente: ele estava roubando aquele tempo precioso deles. Ele estava priorizando seus próprios sentimentos, sem nunca realmente pensar nas outras pessoas que amavam e se importavam com Misaki.

“...Sinto muito.”

   Antes que percebesse, Mizuki curvou a cabeça em direção a Kensuke. Quanto mais pensava nisso, mais suas ações pareciam uma indulgência egoísta e possessiva — e ele não pôde deixar de se desculpar.

“Por que você está se desculpando?”

“Bem... de repente me ocorreu que eu poderia não ser nada mais do que um estorvo, alguém roubando o tempo de vocês dois com a Misaki-san...”

   Kensuke perguntou gentilmente com um sorriso, e Mizuki respondeu honestamente com o que lhe ia na alma.

   Mas Kensuke balançou a cabeça. “Isso não é verdade.”

“Claro, o tempo que temos com a Misaki é precioso. Mas, mais do que isso, o que queremos é que ela seja feliz. Se ela conseguir continuar sorrindo até o fim... então minha esposa e eu não poderíamos pedir mais nada. Se o tempo que ela passa com você é importante para ela, então isso é mais do que suficiente para nós.”

   Ele falou calmamente, mas com uma convicção inabalável.

   Mizuki estava sobrecarregado. Respirou fundo.

   Dizer que você não se importa em não passar tempo com alguém, contanto que essa pessoa esteja feliz... Mizuki não conseguia dizer algo assim — nem mesmo como uma mentira. Ele não podia reprimir seu próprio desejo de estar com Misaki.

   No entanto, o homem à sua frente havia escolhido priorizar os desejos e a felicidade de sua filha em detrimento dos seus próprios sentimentos. Ele podia dizer isso por causa do quanto a amava e porque havia se preparado para o futuro.

   Diante daquele tipo de força e determinação, Mizuki não conseguiu dizer uma palavra.

   Então Kensuke continuou, dirigindo-se ao silencioso Mizuki:

“A Misaki me disse — você a salvou há dois anos, não foi? Obrigado. Era isso que eu realmente queria dizer hoje.”

“Não, sério... Eu só fiz o que pude.”

   Mizuki curvou-se, perturbado, enquanto Kensuke o agradecia.

   Mas Kensuke ainda não havia terminado.

“Para ser sincero, ainda não posso dizer que confio plenamente em você. É simplesmente porque não sei o suficiente sobre você. Mesmo assim... quero confiar em você. Não sei o que me espera, mas, por favor, cuide da minha filha.”

“Sim. Claro.”

   Mizuki respondeu com sinceridade ao pedido sincero de Kensuke.

   Kensuke sorriu gentilmente com a resposta de Mizuki.

“Obrigado. Fico feliz por ter ouvido isso. —Ah, e desculpe por começar com uma conversa tão pesada. Vamos aproveitar o Ano Novo como deve ser daqui em diante.”

   Assim que ele disse isso, toda a expressão de Kensuke se suavizou.

   Mizuki, já tendo relaxado um pouco graças à conversa, permitiu-se relaxar um pouco mais.

   Então Kensuke se inclinou para a frente sobre a mesa.

“A propósito, Mizuki-kun... Tem uma coisa que eu queria te mostrar hoje. Acho que você vai gostar...”

   Com isso, ele estendeu a mão para trás do suporte da TV e tirou algo com um ar animado, colocando-o sobre a mesa.

   Assim que Mizuki viu o que era, seus olhos se arregalaram em choque.

“I-Isso é...”

“O que você acha? Gostou?”

   Kensuke sorriu maliciosamente ao perguntar.

   Nesse sorriso, Mizuki viu o mesmo brilho travesso que Misaki às vezes tinha. Parecia que aquele sorriso — e aquela personalidade brincalhona — vinham de seu pai.

   De qualquer forma, Mizuki olhou para a pilha daquelas coisas sobre a mesa e...

“Claro. Estou realmente feliz por ter vindo aqui hoje,” disse ele, com a voz trêmula de emoção enquanto apertava a mão de Kensuke com firmeza. Era o nascimento de uma nova amizade masculina.

   E assim que Kensuke o incitou com um casual “Pode falar,” Mizuki estendeu a mão para um deles — quando...

“Do que vocês dois estão falando? —Espera aí, esse álbum é meu!? Pai! Que diabos você está fazendo tirando isso daqui!?”

   Como se tivesse percebido que algo estava errado, Misaki retornou no momento perfeito e o arrancou — seu próprio álbum de fotos — direto das mãos de Mizuki. Sua reação foi rápida como um raio.

   Além disso, quando Mizuki tentou pegar outro álbum para se esquivar dela, ela o bloqueou instantaneamente. Aparentemente, o simples fato de os álbuns terem sido retirados já a mortificava, mesmo que ninguém tivesse visto as fotos lá dentro ainda.

“Vamos lá, é só um álbum de fotos. Estou muito curioso para saber como você era quando criança, Misaki-san.”

“Não me importo se é você pedindo — isso é um não definitivo! Se você olhar para isso, nós terminamos!”

   Apertando o álbum contra o peito, Misaki gritou como se estivesse pronta para mordê-lo.

   Ela estava claramente perturbada com a aparição repentina do álbum. Mas mesmo sabendo que não era isso que ela queria dizer, “terminamos” ainda doía. Mizuki não conseguia evitar se sentir um pouco deprimido.

   Dito isso, ele também não estava disposto a desistir do álbum. Na verdade, agora que estava sendo escondido, ele só queria vê-lo mais. Era a natureza humana. Nesse ponto, ele se sentiu estranhamente ansioso para dar uma olhada, não importava o que acontecesse.

   Enquanto Kensuke observava com um sorriso preocupado, Mizuki se virou para Misaki com um sorriso — um sorriso que carregava uma certa pressão.

“Misaki-san, por que você não tenta se lembrar de algo? Tipo, digamos, quando você veio à minha casa no início de dezembro...”

“...Não me lembro disso.”

“Então, deixe-me lembrá-la. Misaki-san, enquanto eu preparava o chá, você foi vasculhar meu armário e tirou meu álbum de fotos, não foi?”

“I-Isso foi... eu simplesmente encontrei por acaso... Juro que não estava bisbilhotando...”

   Confrontada por Mizuki com os erros do passado cometidos — e recebendo um olhar de decepção de seu pai, que estava ouvindo por perto — Misaki visivelmente entrou em pânico.

   Nesse ponto, a vitória era praticamente dele. Mizuki desferiu o golpe final em suas desculpas desesperadas.

“Mas você parecia tão feliz vendo aquilo. Eu podia ouvir você gritando da cozinha e corri até lá, me perguntando o que tinha acontecido — só para te encontrar folheando enquanto cantarolava. Quase tropecei em mim mesmo.”

“E-eu não... Eu não estava gritando alto... Eu nem estava cantarolando... Eu acho...”

“Bem, vamos deixar o cantarolar de lado. Mais importante, Misaki-san, tem outra coisa que você precisa lembrar. Durante a grande limpeza do arquivo, você disse: ‘Vamos manter as coisas justas’, não foi? Aquilo foi… uma mentira?”

“Não foi exatamente mentira... É que esta situação é meio... diferente...”

“Vamos manter as coisas justas — incluindo álbuns de fotos.”

“...Tudo bem.”

[Del: O cara batalhou ferozmente! Parabéns, Mizuki. | Almeranto: Palmas de pé para você!]

   Talvez fosse culpa por ser a única que tinha visto o álbum de Mizuki. Misaki finalmente cedeu à pressão.

   Foi a primeira vitória de Mizuki em uma de suas batalhas verbais. Ele cerrou o punho em triunfo silencioso.

   Misaki lançou-lhe um olhar carrancudo.

“Você pode olhar, mas se rir, nunca mais falo com você.”

“Não tenho certeza se você está em condições de dizer isso, Misaki-san... Mas me desculpe. Tenho quase certeza de que vou rir o tempo todo olhando seu álbum. Só sei que ficarei feliz demais para me conter quando vir suas fotos!”

“M-Mff...”

   Diante da confissão sincera de Mizuki, Misaki soltou um sonzinho estranho e congelou. Seu rosto ficou tão vermelho que parecia que ela ia começar a soltar fumaça.

   Em algum momento de sua rotina de comédia de casal, Kensuke e Izumi — que haviam retornado sem serem notados — tremiam de tanto rir.

“Vocês dois são sempre assim?”

“Bem, isso é bem normal. Normalmente, sou eu quem fica sobrecarregado pela Misaki-san… Sinceramente, esta é a primeira vez que consigo vencer uma discussão.”

   Quando Mizuki respondeu a Izumi casualmente, ambos finalmente caíram na gargalhada.

   Envolvido no calor, Mizuki riu junto com eles.

   E finalmente, até Misaki, percebendo o quão boba era ficar sentada ali, envergonhada e sozinha, cedeu e riu também. A sala inteira ecoou com suas risadas.

   Depois daquele momento de alegria, o grupo transitou naturalmente para uma sessão de visualização de álbuns.

   Os pais de Misaki narraram cada foto, e Misaki gritava de vergonha a cada vez.

   Como havia dito que faria, Mizuki continuou sorrindo o tempo todo, aprendendo todo tipo de coisa sobre a infância de Misaki.

   Ele não sabia o que os pais de Misaki realmente sentiam por ele lá no fundo — mas o fato de o terem acolhido em sua família daquela forma, aquele calor, lembrou Mizuki de seus próprios pais falecidos. Experimentar algo assim novamente em sua vida — ele estava verdadeiramente grato.

 

   Depois de terminar o álbum de fotos de Misaki e ser presenteado com um luxuoso banquete de Ano Novo com os tradicionais osechi e ozoni, Mizuki foi com Misaki em sua primeira visita ao santuário do ano.

   O santuário local estava lotado de outros fiéis de Ano Novo.

“...Por favor, que Misaki-san permaneça saudável o máximo possível.”

   Com as mãos juntas, Mizuki rezou com todo o coração. Ele não era médico. Não havia muito mais que pudesse fazer além de confiar nos deuses. Essa impotência o atormentava.

   Depois de ficarem na fila por quase trinta minutos para completar suas orações, os dois compraram crepes em uma barraca de comida e foram para casa.

“Comer toda essa comida boa durante as festas de fim de ano é como as pessoas acabam engordando no Ano Novo, sabia?”

“Eu acho isso ótimo! Coma bem e construa um corpo forte o suficiente para vencer a doença!”

   Mizuki assentiu entusiasmado, encorajando-a enquanto Misaki suspirava e agarrava sua embalagem de crepe pronta. Ele queria que ela comesse mais.

“Mmm... É, eu preciso comer direito para ganhar força, mas... quando seu namorado sorri e diz que não tem problema você ganhar peso, é... meio complicado...”

   Aparentemente, a resposta de Mizuki errou um pouco o alvo. Misaki franziu a testa, claramente em conflito.

   O coração de uma mulher era realmente um mistério — Mizuki ainda não fazia ideia de como funcionava.

“Bem, tanto faz. Está frio — vamos logo para a sua casa.”

“Concordo. O frio não faz bem para a saúde.”

   Caminharam lado a lado, conversando sobre nada em particular.

   E quando chegaram à porta da frente de Mizuki, Misaki de repente começou a rir.

“O que foi?”

“Desculpe, não é nada.”

   Ela balançou a cabeça com um sorriso quando Mizuki perguntou.

“É que... eu estava caminhando ao seu lado assim e de repente me senti tão feliz que não consegui conter o riso. Acho que sou estranha, né?”

“Você não é nada estranha. Se está feliz, por favor, ria o quanto quiser. Quando você sorri, eu também me sinto feliz.”

“...Sim. Obrigada.”

   Com isso, Misaki pegou a mão de Mizuki. Ela ainda era preocupantemente fina, mas o calor que ela carregava o tranquilizou.

   Entraram juntos em casa, ligaram o kotatsu na sala e enfiaram as pernas debaixo do cobertor. Envolto em seu calor, Mizuki finalmente se sentiu verdadeiramente em paz.

   Então, Misaki, que também estava sentada sob o kotatsu, puxou levemente a manga de Mizuki.

“Ei, Mizuki-kun.”

“O que foi?”

“Quero dar uma olhada no seu álbum de fotos.”

“Esperou até que estivéssemos acomodados e confortáveis ​​para dizer isso? Além disso, você já viu antes.”

“Sim, eu vi. Mas quero ver de novo — com você.”

   Quando Mizuki respondeu com um tom de exasperação, Misaki sorriu docemente ao responder.

   Perguntar com aquele tipo de sorriso e dizer: “Quero ver com você” — isso é trapaça. Não havia como ele dizer não a isso como seu namorado. Completamente derrotado pelo sorriso de Misaki, Mizuki se levantou do kotatsu e foi para o seu quarto buscar o álbum.

   Ele colocou o álbum sobre a mesa, e os dois se aconchegaram enquanto começavam a folhear as páginas lentamente.

   Como o pai de Mizuki faleceu cedo e sua mãe estava sempre ocupada com o trabalho, não havia muitas fotos de sua infância e adolescência. Mas Misaki olhou para cada uma delas com ternura, sua expressão suavizando-se com carinho.

“Você era um garoto tão honesto e adorável naquela época, Mizuki-kun — fazendo sinais de paz e tudo mais.”

“Você está insinuando que eu me tornei um esquisito rabugento?”

“Ah, olha só esta — você está com os olhos semicerrados. E aqui está você fazendo pose de herói tokayusatsu. Tão fofo!”

“Por favor, não aponte as coisas assim.”

   Misaki comentava em todas as fotos, deixando Mizuki envergonhado e inquieto. Era a mesma sensação que sentira mais cedo naquela manhã.

   Mesmo assim, um sorriso permaneceu nos lábios de Mizuki o tempo todo.

   Provavelmente porque a pessoa ao lado dele, alguém preciosa para ele, também estava sorrindo. Enquanto Misaki estivesse sorrindo, Mizuki também poderia continuar sorrindo.

“…E a Youko-san também está sorrindo brilhantemente nessas fotos.”

   Mas então, o comentário repentino de Misaki mudou o clima. Sentindo algo diferente, Mizuki desviou o olhar da foto e olhou para ela.

“No verão passado, quando conversamos sobre o nosso passado, você disse algo. Que mesmo que a morte leve embora alguém precioso, isso não significa que nada fique para trás. Os sentimentos que semearam permanecem e florescem naqueles que ficam.”

“Sim, eu disse isso. Ainda acredito que os sentimentos da minha mãe vivem em mim.”

   Instigado pela pergunta, Mizuki assentiu seriamente. Ele percebeu que Misaki estava prestes a dizer algo importante.

   Então Misaki continuou.

“Então… se eu partir um dia, algo permanecerá em você também? Deixarei algo para você?”

“Misaki-san…”

   Pensar em um futuro sem ela lançou uma sombra sobre o rosto de Mizuki.

   Mas não era isso que Misaki queria. Então Mizuki se endireitou e respondeu com confiança.

“Durante a preparação para o festival cultural, alguém me disse que eu tinha mudado um pouco desde o início do segundo semestre. Que era mais fácil conversar comigo.”

“Seus colegas?”

“Sim. Aparentemente, eu cresci um pouco além da minha fase solitária. E esse crescimento... tudo porque eu te conheci. Foi você quem me tirou da minha concha.”

   Isso mesmo. Se ele não tivesse conhecido Misaki, ninguém teria dito isso a ele. E mais do que isso, ele nunca saberia o que significava se apaixonar.

“Não se trata apenas de algo que foi deixado para trás. Você me mudou completamente, Misaki-san.”

“...Entendo. Então fico feliz. Isso significa que viverei dentro de você para sempre.”

   Misaki se encostou nele, parecendo aliviada.

   Sentindo o peso e o calor dela contra si, Mizuki sentiu uma profunda calma no coração.

“A propósito...”

   A voz de Misaki trouxe Mizuki de volta ao presente. Ele olhou para ela e a viu espiando-o.

“Não temos uma única foto juntos, temos?”

“Agora que você mencionou... você tem razão.”

   Relembrando os últimos seis meses desde que se conheceram, Mizuki assentiu lentamente.

   Ele nunca teve o hábito de tirar fotos, então a ideia nem lhe ocorreu.

“Quer tirar uma agora?”

“...Claro. Vamos.”

   Mizuki não se opôs à sugestão de Misaki.

   Para Mizuki, tirar uma foto significava correr um risco.

   Depois que Misaki se fosse, ter uma foto dos dois só poderia aprofundar a tristeza.

   Mas, mais do que isso, ele queria realizar todos os desejos de Misaki. E acima de tudo, mesmo que isso significasse luto, ele queria uma prova de que eles haviam vivido juntos.

   Misaki pegou o celular e abriu o aplicativo da câmera. Eles se aproximaram, e Misaki disse: “Diga xis!” enquanto apertava o botão do obturador.

   Um clique suave soou e a foto deles apareceu na tela. Misaki tocou na tela e olhou para a foto recém-tirada.

   Então, com um sorriso de orelha a orelha, ela se virou para Mizuki e disse animadamente:

“Mizuki-kun, você realmente não sai bem nas fotos! Seu rosto está meio pálido.”

“Olha!”

   Ela mostrou a foto em seu celular. Ao lado do sorriso radiante de Misaki estava um menino com cara de bebê e aparência sombria.

   Mizuki rapidamente desviou o rosto.

“...Eu sei. Me deixa em paz.”

   Atingido em cheio em sua insegurança, Mizuki murmurou em um tom mal-humorado.

   Talvez isso refletisse sua personalidade introvertida, mas com o passar dos anos, as fotos de Mizuki foram piorando cada vez mais. Esse era outro motivo para haver tão poucas. Ele não suportava olhar para si mesmo. Como resultado, além do álbum de formatura, não havia uma única foto dele do ensino fundamental em diante.

   Então Misaki, rindo baixinho, estendeu a mão e tocou delicadamente a bochecha de Mizuki.

“Mizuki-kun, você deveria ter mais confiança em si mesmo. Claro, talvez você pareça um pouco com cara de bebê, mas não é nada feio. Se você apenas mantiver a cabeça erguida, tenho certeza de que começará a ficar melhor nas fotos.”

“Você acha mesmo?”

“Acho. Confie nas palavras da sua namorada. Eu sei melhor do que ninguém o quão bonito você é.” Misaki disse isso com uma confiança inabalável.

   Ela era tão adorável que Mizuki achou que ele poderia surtar. Ele sentiu que poderia passar uma hora inteira falando sobre como sua namorada era fofa.

   E então, sem aviso, Misaki não se inclinou apenas sobre ele — ela gentilmente descansou a cabeça no ombro de Mizuki.

“Ei, Mizuki-kun. Sabe... Ultimamente, tenho pensado: ‘Queria poder ficar ao lado do Mizuki-kun um pouco mais.’”

 “Misaki-san...?”

“Antes de começarmos a namorar, eu achava que um ano seria suficiente. Imaginei que poderia fazer tudo o que quisesse nesse tempo... Mas estar com você me fez tão feliz. Me faz querer ficar com você por mais tempo.”

   Ela riu fracamente, com a cabeça ainda apoiada no ombro dele.

“Mas sabe... mesmo que seja egoísmo, eu só quero viver mais. Não quero morrer tão cedo. É errado me sentir assim...?”

“Não há nada de errado nisso! Eu me sinto exatamente da mesma forma.” Enquanto Misaki soltava uma risada indefesa, Mizuki retribuiu o sorriso revelando seus próprios sentimentos.

   Conforme suas emoções vinham à tona, Mizuki pensou no rosto de Kensuke.

   Kensuke provavelmente já havia enfrentado e superado esses mesmos sentimentos ao tomar sua decisão. Mas Mizuki ainda não havia chegado lá — ele não conseguia aceitar um mundo sem Misaki.

   Ele queria estar com ela para sempre. Queria que ela continuasse viva. Não queria ser deixado para trás.

   Esses sentimentos, uma vez liberados, transbordavam sem fim.

“Ei, Mizuki-kun... Posso perguntar mais uma coisa?”

   Em meio a tudo isso, a voz de Misaki chegou aos seus ouvidos. Mesmo em meio à torrente de emoções, sua voz soou clara como o toque de um sino, atingindo profundamente seu coração.

“Claro. O que é desta vez?”

“Quero ouvir sua gaita.”

“Entendi. Isso é fácil.”

   Dizendo isso, Mizuki gentilmente pediu a Misaki que movesse a cabeça e se levantou.

   Quando ele retornou, Misaki se encostou nele novamente.

   Ela parecia um pouco mais carente do que o normal hoje. Como ele geralmente era quem se agarrava a ela, essa foi uma mudança revigorante para Mizuki.

   Depois de preparar tudo, Mizuki levou a gaita aos lábios e começou a tocar uma melodia clara e suave.

   Naturalmente, era a mesma melodia que ele havia tocado na primeira vez que Misaki visitou sua casa. Uma melodia preciosa, passada de seu pai para sua mãe e depois para ele.

   Misaki, encostada nele, fechou os olhos pacificamente enquanto ouvia.

“Toque de novo.”

“Claro.”

   Assim que Mizuki terminou, Misaki pediu um bis. Ele assentiu e tocou a mesma melodia mais uma vez.

   A melodia suave preencheu a casa silenciosa. Era quase como se a própria casa estivesse cantando junto — como se tivesse absorvido o som de Mizuki ao longo dos anos e agora estivesse se unindo em harmonia.

   Simplesmente assim, Mizuki tocou a música mais três vezes a pedido de Misaki. A cada vez, a casa parecia um grande instrumento, apoiando sua música.

“...Obrigada, Mizuki-kun. Já chega. Já decorei tudo — a seu som e a música desta casa.”

   Respirando um pouco mais pesado após a quinta apresentação, Mizuki ouviu Misaki agradecê-lo.

   Em resposta, balançou a cabeça lentamente.

“Não precisa mencionar. Toco para você quantas vezes quiser. Então, por favor, ouça quantas vezes quiser.”

“Certo. Obrigada.”

   Misaki sorriu brilhantemente enquanto o agradecia mais uma vez.

   Ver aquele sorriso fez o coração de Mizuki se encher de alegria.

   Por quanto tempo mais ele conseguiria ficar ao lado de Misaki? Por quanto tempo mais ele a veria sorrir?

   Um profundo e atormentador mal-estar começou a crescer dentro dele.

“Misaki-san...”

“Nn...”

   Quase como se para se certificar de que ela estava realmente ali, Mizuki se inclinou e a beijou.

 

2

 

◆◇◆◇◆

 

 

   Mizuki estava sonhando.

   Era o mesmo quarto de hospital que ele vira em seus sonhos antes.

   Mais uma vez, ele compartilhava as sensações de alguém deitado na cama.

   As luzes estavam apagadas. Tudo o que ele conseguia ver era o teto fracamente iluminado pela noite.

   Enquanto olhava para cima, pensamentos começaram a invadir a mente de Mizuki.

     Naquele dia, me disseram quanto tempo me restava — se eu tivesse dado um passo à frente naquela época, o que estaria fazendo agora? Provavelmente teria viajado primeiro. Depois, agradeceria aos meus pais. Teria enfrentado meu destino e me preparado da maneira certa. E... eu gostaria de voltar à escola. Eu já sei qual escola escolheria.

   E então — ela definitivamente iria ver aquela pessoa. Só para dizer “obrigada”.

   Aqueles eram dias que nunca poderiam se tornar realidade. Literalmente, algo com que só se poderia sonhar. Ao imaginá-los naquele teto branco, uma única lágrima escorreu pelo rosto da pessoa deitada ali.

   Mizuki, sentindo uma estranha sensação de déjà vu devido aos sonhos daquele alguém sem nome, mergulhou em um sono ainda mais profundo.

 

 

◆◇◆◇◆

 

 

   Assim que o Ano Novo passou, o terceiro semestre começou num piscar de olhos.

   Não — antes que ele percebesse, o fim do semestre já se aproximava. Já fazia quase dois meses desde o início do ano. Para Mizuki, este era provavelmente o tempo mais rápido que já passara em sua vida.

“Mizuki-kun, o livro já está todo consertado.”

“Obrigado. Vou devolvê-lo à biblioteca junto com este.”

“Certo. Por favor, devolva.”

   Recebendo o livro consertado de Misaki, Mizuki saiu da sala de arquivo.

   Enquanto caminhava para a biblioteca, ele se pegou — já havia perdido a conta de quantas vezes — pensando no Ano Novo.

   A expressão no rosto de Kensuke quando ele disse: “O que queremos é que ela seja feliz.”

   A expressão no rosto de Misaki quando ela disse: “Eu quero viver mais.”

   Por quase dois meses, essas expressões estavam gravadas na mente de Mizuki.

   O que ele poderia fazer por Misaki? Que tipo de determinação ele precisava encontrar? Ele ainda não tinha uma resposta. Tudo o que sabia com certeza era que começara a sentir a morte de Misaki se aproximando cada vez mais como algo real e inevitável.

   Até então, Misaki não parecia diferente do que durante o segundo semestre. Mas Mizuki não tinha certeza se isso era realmente verdade.

   É por isso que, desde aquele dia, Mizuki passou cada momento valorizando o presente — mais do que nunca. Era a única coisa que alguém como ele, ainda sem determinação, conseguia fazer.

   Quando você se torna consciente da aproximação do fim, começa a realmente apreciar o valor de cada momento passado com quem ama. Você começa a viver cada dia ao máximo. Começa a ver o mundo mais abertamente, com mais honestidade.

   E, como resultado, até os dias comuns se tornam radiantes, cheios de luz. Para Mizuki, agora diante de uma despedida inevitável, este exato momento da vida foi o momento mais gratificante que ele já viveu.

   Mas essa vida plena viera acompanhada de uma ansiedade crescente. Quanto mais gratificante cada dia se tornava, mais pesado ficava em seu peito o fato de que Misaki o deixaria.

   Agora, o mundo inteiro de Mizuki girava praticamente em torno de Misaki.

   O que aconteceria se ela desaparecesse do seu lado...? Só de imaginar isso o deixava enjoado. A ideia de que a vida continuaria mesmo depois que Misaki se fosse o aterrorizava.

“Bem-vindo de volta, Mizuki-kun. Obrigada por fazer o recado.”

“Não mencione isso. Não foi nada.”

   Quando Mizuki voltou da biblioteca, Misaki, que tinha acabado de terminar de limpar os suprimentos, o cumprimentou com um sorriso.

   Os dois se prepararam para sair, devolveram a chave do arquivo e saíram da escola.

   Depois de acompanhar Misaki até sua casa, Mizuki voltou para casa, acendeu a luz do quarto e largou a mochila. Foi então que seus olhos pousaram no calendário pendurado na parede.

   O calendário estava coberto de X desenhados à mão. Desde o que aconteceu no Ano Novo, ele desenvolveu o hábito de marcar um X no final de cada dia.

   Aquele momento de desenhar um X — sempre o marcava. Lembrava-o de que mais um dia com Misaki havia passado e, se baixasse a guarda, perderia todas as forças. Mesmo assim, não conseguia parar. Marcar cada dia era sua maneira de preservar o tempo que passaram juntos.

   Conhecendo o verdadeiro valor do “agora,” saboreando dias que brilhavam com significado. Passando as horas do dia aproveitando ao máximo o tempo que lhes restava e chorando à noite pelo destino que não podia mudar. As emoções de Mizuki oscilavam descontroladamente a cada dia que passava e, às vezes, ele se pegava derramando lágrimas em frente ao calendário.

   O número de Xs continuava aumentando.

   Antes que percebesse, fevereiro estava quase cheio deles, e na semana seguinte já seria março. O inverno estava acabando. A primavera se aproximava.

“Por favor... que esses Xs durem para sempre.”

   Olhando fixamente para as marcas no calendário, Mizuki rezou.

 

 

◆◇◆◇◆

 

 

   Sábado, 5 de março. As celebrações do Hinamatsuri haviam terminado, e na casa de Mizuki — Misaki ocupava a cozinha com afinco, preparando a comida diligentemente.

   E não era qualquer comida. Ensopado de carne, gratinado, salada Caesar e bolo de chocolate — uma seleção luxuosa.

   Por que Misaki decidiu de repente fazer uma refeição tão elaborada? Porque hoje era o aniversário de Mizuki.

[Del: Óh, quem diria, no meu aniversário também. | Almeranto: Dois dias antes do meu.]

“A partir de agora, vou preparar um banquete para o seu aniversário, Mizuki-kun! Estive praticando com a minha mãe só por hoje, então saia da cozinha. Meninos não podem entrar na cozinha!”

“Essa... provavelmente não é a maneira certa de usar essa frase. Quer dizer, se for para mim, eu deveria ajudar. Vamos cozinhar juntos.”

“De jeito nenhum! Você é o aniversariante, então eu mesma vou fazer isso. Relaxe e espere!”

   Aquela conversa havia acontecido cerca de duas horas antes, quando Misaki apareceu de repente com os dois braços cheios de compras, logo após dizer ao telefone naquela manhã: “Passo aí por volta das duas, depois de resolver algumas coisas?” Mizuki foi pego completamente de surpresa.

“Não acredito que meu aniversário teve que cair em um momento como este...”

   Observando Misaki do lado de fora da cozinha — mexendo na comida, um pouco desajeitada, mas claramente se divertindo — Mizuki murmurou baixinho.

   Claro que ele estava feliz por Misaki estar comemorando seu aniversário.

   Mas, ao mesmo tempo, não conseguia esquecer: em fevereiro passado, Misaki fora informada de que talvez não vivesse nem mais um ano.

   E agora é março. Daquele momento em diante, tudo poderia acontecer a qualquer momento. Pensando assim, quase parecia que havia coisas mais importantes que ele deveria estar fazendo.

   Ele deveria estar feliz? Ou ansioso? Até Mizuki não sabia bem como se sentir.

   Mas...

“Oh! Perfeito! Simplesmente perfeito! Como esperado de mim!”

   Ouvindo Misaki se elogiar depois de provar o ensopado, Mizuki não pôde deixar de sorrir.

   Misaki entendia melhor do que ninguém o pouco tempo que lhe restava. Mesmo assim, foi ela quem insistiu em fazer isso — em fazer isso pelo bem de Mizuki, nada menos.

   Nesse caso, respeitar os desejos dela era a escolha que Mizuki tinha que fazer. No fundo, ele queria conversar mais com ela, mas se conteve.

   Ainda assim, havia limites para o que ele podia conter.

“Só de assistir, me dá fome...”

   O cheiro do ensopado que vinha da cozinha era irresistível, e o estômago de Mizuki roncou em resposta. Se pudesse, entraria ali mesmo para experimentar.

   Enquanto Mizuki lutava contra esse desejo, uma voz alegre soou da cozinha: “Certo! Pronto!”

“O espiazinho da cozinha, Mizuki-kun... você estava observando, então sabe, né? A comida está pronta. É um pouco cedo, mas podemos começar a festa de aniversário?”

   Misaki espiou da cozinha com um sorriso radiante enquanto perguntava.

   Mizuki assentiu, parecendo uma criança pega roubando um lanche.

“Com certeza. O cheiro está incrível há um tempo já... estou morrendo de fome.”

“Muito bem! Vou ignorar sua espionagem só desta vez. Mas posso te dar o trabalho de ajudar a fazer tudo?”

“Claro. Farei o que você precisar.”

“Obrigada.”

   Quando Mizuki se levantou ansiosamente, Misaki sorriu de alegria.

   Ele serviu o ensopado, o gratinado, a salada Caesar e o prato principal — baguete — um por um. Enquanto fazia isso, Misaki colocava velas no bolo que ela mesma havia decorado.

   A mesa da sala logo estava completamente ocupada com os pratos de Misaki.

   Mizuki nunca havia vivenciado uma comemoração de aniversário tão emocionante antes. Ao ver tantos pratos feitos especialmente para ele, não pôde deixar de se sentir profundamente emocionado.

“Certo, vou acender as velas agora. Apague-as assim que terminar de cantar.”

“Você está realmente se entregando a isso, hein?”

“Claro! Ah, e sem rir se eu desafinar. Além disso, Mizuki-kun, me acompanhe na gaita. Cantar a cappella é muito constrangedor.”

“Você quer que eu toque a gaita e imediatamente apague dezessete velas? Isso é um pouco difícil.”

“Você vai ficar bem, você vai ficar bem! Eu acredito em você!”

   Misaki cerrou o punho e o aplaudiu com um “Ganbatte!”

   Quando Mizuki pegou sua gaita, Misaki acendeu as velas e apagou as luzes do quarto.

“Certo, pronto? Um, dois!”

   Ao sinal de Misaki, Mizuki começou a tocar a melodia em sua gaita.

   O canto de Misaki seguiu.

“Parabéns para você, parabéns para você, parabéns, querido Mizuki-kun, parabéns para você!”

   Os tons puros da gaita de Mizuki e o canto ligeiramente desafinado de Misaki ecoaram calorosamente pelo ambiente.

   Sem dar tempo para que o momento se prolongasse, Misaki deu sua próxima ordem.

“Certo! Agora, Mizuki-kun — apague as velas!”

   Instado a prosseguir sem nem mesmo um momento para recuperar o fôlego, Mizuki se inclinou para a frente e soprou.

   Quando as velas se apagaram, o ambiente ficou brevemente escuro — e então se iluminou novamente quando Misaki acendeu as luzes.

“Mizuki-kun, feliz aniversário de dezessete anos!”

“Muito obrigado.”

   Mizuki deu um sorriso tímido e curvou-se levemente enquanto Misaki aplaudia entusiasticamente sozinha.

“Bem, então! Já cantamos a música de aniversário, então vamos comer! Seria uma pena se esfriasse.”

“Concordo. Bem, então — itadakimasu.”

   Juntando as mãos em agradecimento, Mizuki pegou o ensopado fumegante.

   O ensopado quente absorvia seu estômago vazio. Os grandes pedaços de carne e vegetais eram satisfatoriamente substanciosos. A carne, mergulhada em um molho rico, derretia delicadamente em sua língua.

   Depois de saborear o ensopado, ele passou para o gratinado. Comeu com uma colher, quebrando a superfície dourada e crocante. O molho branco derramou, e ele o pegou com um pouco de macarrão. Estava quente o suficiente para queimar sua boca, então ele soprou para esfriá-lo enquanto saboreava a cremosidade — um sabor diferente do ensopado, mas igualmente delicioso.

   Observá-la cozinhar o deixou um pouco nervoso, mas claramente o treinamento dela valeu a pena. Ambos os pratos estavam excelentes.

“Você não precisa comer tão rápido. A comida não vai fugir, sabia?”

“Eu sei disso... mas não consigo parar.”

   Mizuki retrucou confiante enquanto Misaki ria dele.

   Com uma comida com uma aparência e um cheiro tão bons à sua frente, manter a calma era impossível.

   Enquanto continuava devorando prato após prato, Mizuki se viu pensando mais uma vez: ele realmente havia encontrado a melhor parceira possível.

   Ele não tinha ideia de quantas vezes já havia pensado nisso, mas sentiu novamente, mais forte do que nunca, enquanto saboreava a comida dela.

   Depois de comerem quase tudo, Mizuki deu uma mordida no bolo que Misaki havia feito. O chocolate não estava muito doce — exatamente como ele gostava.

“Então, Mizuki-kun, como está? Usei um bolo comprado pronto, mas acho que decorei muito bem. Está bom?”

“Vamos ver... Se eu tivesse que resumir em uma palavra: tem gosto de felicidade.”

   Quando Mizuki deu sua opinião honesta e sincera, Misaki o encarou, estupefata.

   Mas então, quase imediatamente, ela caiu na gargalhada e disse: “O que é isso?!”

“Mizuki-kun, o que você quer dizer com ‘Tem gosto de felicidade’? Isso é comestível?”

“É mais do que delicioso. Parece que estou subindo ao céu. É melhor do que qualquer bolo que já comi.”

“Isso é realmente um exagero. Mas... se você gostou tanto, então eu também estou feliz.”

   Constrangida com o elogio excessivo, Misaki corou timidamente.

   Então, como se algo de repente lhe tivesse ocorrido, Misaki disse: “Espere um segundo aqui,” e saiu do quarto.

   Mizuki observou a porta de correr com curiosidade, imaginando o que ela estava fazendo, e menos de um minuto depois, Misaki retornou. Em sua mão havia uma pequena sacola de papel.

“Aqui! Seu presente de aniversário.”

   Com um olhar surpreso, Mizuki aceitou a sacola que ela estendeu.

   E pensar que ela havia preparado não apenas a comida, mas também um presente... Seus canais lacrimais, que estavam especialmente frágeis ultimamente, já estavam à beira de ceder.

“Posso abrir?”

“Claro.”

   Com Misaki assentindo à sua frente, Mizuki tirou o conteúdo da embalagem.

   O que surgiu foi uma pequena caixa de madeira, do tamanho de duas mãos. Era um retângulo largo com rebites de metal, dando-lhe a aparência de um baú de tesouro antigo. Era um presente muito estiloso.

   No entanto...

“Hum, Misaki-san. Esta caixa... não abre...”

   Mizuki lançou-lhe um olhar perplexo.

   De fato, uma pequena, mas sólida fechadura estava presa ao fecho. Não havia como olhar dentro.

   Misaki, como se isso fosse óbvio, simplesmente assentiu.

“Bem, sim. Está trancada.”

“Você não vai me dar a chave?”

“Ainda não.”

   Ao ouvir as palavras enigmáticas de Misaki, Mizuki prendeu a respiração involuntariamente.

“Ainda não.” O significado daquela frase, dada a situação, só podia ser uma coisa.

   O conteúdo daquela caixa... deveria ser sua lembrança.

“Misaki-san...”

   Antes que percebesse, Mizuki a segurava com força em seus braços.

   Ele queria confirmar que ela estava realmente ali, viva. Sentir seu calor com todo o seu corpo.

“Você é mesmo uma criança, Mizuki-kun. Vai passar por momentos difíceis depois que eu partir.”

“Hoje é meu aniversário. Deixe-me ser egoísta, só desta vez.”

“...Certo.”

   Misaki acariciou suavemente a cabeça de Mizuki. Aquele toque suave lhe trouxe uma profunda sensação de paz.

   Se ao menos o tempo pudesse parar ali. Mizuki desejou isso em seu coração.

   Mas o tempo, implacável como sempre, continuou a passar. A ampulheta dentro de Misaki certamente deixava a areia da sua vida cair sem parar.

   Querendo impedi-la de desaparecer, Mizuki a abraçou ainda mais forte.

 

   Após o término da festa de aniversário, Mizuki saiu de casa com Misaki. Já estava escuro como breu lá fora, então ele a acompanhou até em casa.

   Embora fosse março, o ar da noite ainda estava extremamente frio. Mesmo agasalhado, o frio perfurava sua pele.

   No entanto, sem a iluminação excessiva da cidade, as estrelas podiam ser vistas claramente. Os dois caminhavam de mãos dadas, olhando para o céu noturno.

“Uau! É como se o céu estivesse coberto de joias!”

“Ohh! Misaki-san, dizendo algo tão feminino pela primeira vez... As estrelas são realmente incríveis.”

“...Mizuki-kun, você está começando uma briga?”

“Desculpe, é só uma brincadeira. Você estava tão fofa com os olhos brilhando — eu não consegui me conter.”

   Depois da pequena apresentação cômica, os dois sentaram-se em um banco de um parque próximo e olharam calmamente para o céu noturno.

   As estrelas cintilavam no ar límpido do inverno, mudando sutilmente de brilho ao longo do tempo. Eles podiam ficar olhando por horas sem nunca se cansarem. Sem dizer uma palavra, ambos deixaram seus corações vagarem pela beleza natural à sua frente.

     Segurar a mão da pessoa que amava, observar as estrelas — parece um momento tão valioso, pensou Mizuki.

   Conhecê-la, apaixonar-se e sentir seus sentimentos se conectarem — foi isso que levou a esse momento. Se ao menos uma única engrenagem estivesse dessincronizada, eles não teriam essa felicidade agora. Perceber isso o fez sentir que só estar ali, assim, já era um milagre.

   Enquanto pensava nisso, Mizuki de repente se lembrou de um personagem de um romance ou algo assim que certa vez disse: “Eu nasci para te conhecer.”

[Del: I was made for lovin’ you, baby. And you were made for lovin me.]

   Para ser sincero, Mizuki sempre encarou versos como esses com um certo ceticismo. Ele costumava zombá-los, considerando-os impossíveis.

   Uma vida que existe apenas para conhecer outra pessoa — ele pensava que isso era apenas romantizar a coincidência. Você não podia saber para que realmente servia sua vida até o momento da morte. Trilhar um caminho chamado vida, sem saber aonde ele levaria — como alguém poderia encontrar sentido nessa jornada enquanto ainda estivesse nela?

   Mesmo que aquele personagem perdesse o parceiro, provavelmente seguiria em frente e eventualmente se apaixonaria por outra pessoa. No final, mesmo que sua vida se cruzasse com a de outra pessoa, aquele momento de cruzamento de caminhos nunca se tornaria o objetivo de toda a sua vida.

   Era nisso que ele costumava acreditar.

   Mas agora... ele sentia que conseguia entender os sentimentos daquele personagem, mesmo que só um pouco.

   É claro que, mesmo agora, ele não acreditava que sua vida existisse apenas para conhecer Misaki.

   Mesmo assim, Mizuki sentia que estava tudo bem se apaixonar por Misaki se tornasse o propósito de sua vida. Ele não havia nascido para conhecer Misaki — mas o fato de tê-la conhecido e se apaixonado havia, como resultado, se tornado a parte mais importante de sua vida.

   Ele queria agradecer a Misaki do fundo do coração por lhe proporcionar aquele tipo de sentimento.

   Então, naquele momento, Misaki falou enquanto ainda olhava para o céu.

“Mizuki-kun.”

“Sim?”

“Estou muito feliz por ter comemorado seu aniversário com você pela última vez. Nunca esquecerei o dia de hoje. Não... não só hoje. Nunca esquecerei todas as memórias desde o dia em que nos conhecemos até agora.”

“Não diga ‘última vez’... Por favor, não diga coisas assim. Quero que você comemore meu aniversário também no ano que vem, e no ano seguinte. Quero comemorar o seu aniversário também. Então, por favor... não diga que é o último.”

   Mizuki falou, como se estivesse rezando.

   Ele não queria ouvir a palavra “último” vindo de Misaki. Principalmente depois do presente de antes — fazia tudo soar como uma mensagem de despedida.

   Mas Misaki apenas lhe lançou um sorriso preocupado.

   Soltando a mão de Mizuki, ela se levantou do banco e deu alguns passos à frente.

“Espere, Misaki-san!”

   Em pânico, Mizuki correu atrás dela e a abraçou com força por trás. Parecia que, se não o fizesse, ela poderia desaparecer ali mesmo.

“Não vá a lugar nenhum. Por favor, não desapareça da minha frente.”

“...Desculpe. Não posso prometer isso. Você sabe disso, não sabe?”

   Misaki respondeu gentilmente, como uma mãe acalmando uma criança que está tendo um ataque de raiva.

   Então, ela lentamente desfez os braços de Mizuki e se virou para ele. Olhando para ele com os olhos, ela sorriu suavemente.

“Mas... okay. Certo, vamos fazer uma promessa. Não importa a forma que eu tome, com certeza comemorarei seu aniversário novamente no ano que vem. Então, não faça essa cara triste.”

   Então, Misaki ficou na ponta dos pés e beijou Mizuki nos lábios — quase como se fosse um selo da promessa deles.

   Mas para Mizuki, aquele beijo parecia o último presente que Misaki lhe daria.

 

3

 

◆◇◆◇◆

 

 

   Mizuki estava sonhando.

   O lugar era um quarto de hospital. A estação era inverno.

   Assim como antes, ele estava compartilhando as sensações de outra pessoa — e de repente foi atingido por uma dor lancinante no peito.

   Era uma dor insuportável, diferente de tudo que ele já havia experimentado na vida. A cada poucos segundos, ele sentia que ia perder a consciência.

   Enquanto suportava aquela agonia, uma torrente de pensamentos cheios de arrependimento fluía pela mente de Mizuki.

   Ele — ou melhor, esse alguém — fizera a escolha errada.

   No dia em que lhes disseram que o fim estava próximo, deveriam ter escolhido com mais cuidado.

   Se tivessem feito isso, mesmo que o resultado final não pudesse ser alterado, a jornada para alcançá-lo poderia ter sido diferente. Eles poderiam ter dito “obrigado” àquela pessoa.

   Se isso tivesse acontecido, talvez não estivessem tão profundamente arrependidos e pudessem ter enfrentado aquele momento com o coração em paz.

   A sensação de arrependimento insuportável inundou a mente de Mizuki. Fingindo aceitar o destino, eles desistiram cedo demais — e agora, do fundo do coração, se arrependiam.

   Por isso, em meio a esse arrependimento, fizeram um pedido.

     Se ao menos fosse possível — se pudéssemos voltar e recomeçar daquele dia...

   Mesmo enquanto a dor continuava a dilacerá-lo, aquele único desejo ecoava incessantemente na cabeça de Mizuki.

 

 

◆◇◆◇◆

 

 

   O telefonema veio no dia seguinte ao aniversário de Mizuki — domingo, pouco antes do meio-dia.

   O nome exibido na tela do smartphone era — Kensuke Fujieda. Pai de Misaki. Quando Mizuki visitou a casa deles no Ano Novo, eles trocaram informações de contato, por precaução.

   No momento em que Mizuki viu aquele nome, uma profunda e crescente sensação de pavor começou a percorrê-lo.

   Com os dedos trêmulos, ele apertou o botão de chamada. Do outro lado da linha, ouviu a voz de Kensuke.

   Para ser sincero, Mizuki mal conseguia se lembrar do que ele mesmo havia dito — ou do que Kensuke havia dito. A única coisa que permanecia clara em sua memória era o nome do hospital e—

“Esta manhã, a Misaki desmaiou.”

   Aquela frase.

   Assim que a ligação terminou, Mizuki saiu correndo de casa sem pensar duas vezes. Ele pulou em sua bicicleta e correu pelas ruas a toda velocidade.

   O que preenchia a mente de Mizuki enquanto pedalava era a lembrança daquele dia, dois anos atrás.

   Aquele dia — quando sua mãe faleceu. Ele não chegara a tempo.

   A sensação da mão dela ficando mais fria ecoava vividamente em sua mente.

     Será que vou chegar tarde de novo? Vou repetir a mesma coisa de novo?

   Lágrimas brotaram em seus olhos quando ele invadiu o hospital.

   Era o mesmo hospital onde Misaki havia sido internada até um ano atrás. Era também o hospital que Mizuki frequentava quando sua mãe estava lá — um lugar que ele conhecia como a palma da mão.

   Ele correu pela entrada e subiu as escadas correndo, em direção ao sétimo andar que Kensuke mencionara ao telefone. Ofegante, finalmente chegou ao sétimo andar e invadiu o saguão.

“—Mizuki-kun.”

   Esperando por ele no saguão estava Kensuke. Vendo Mizuki ofegante, ele se aproximou com uma expressão severa.

“Misaki-san... a Misaki-san está bem!?”

   Quase agarrando Kensuke pelo colarinho, Mizuki o pressionou com desespero.

“Calma,” disse Kensuke, tentando acalmá-lo, e então se virou.

“Vamos. Por aqui.”

   Com isso, Kensuke começou a andar, guiando Mizuki.

   Eles chegaram à entrada da unidade de terapia intensiva.

   Uma enfermeira estava parada na entrada, e Mizuki foi escoltado para uma sala de preparação junto com Kensuke. Segundo a enfermeira, foi a pedido veemente dos pais de Misaki que Mizuki também recebeu permissão para entrar.

   Seguindo as instruções da enfermeira, Mizuki passou por uma preparação completa e um check-up antes de entrar na UTI.

   Misaki dormia tranquilamente em um dos quartos.

   De pé ao lado da cama dela, Mizuki olhou para seu corpo adormecido.

“Ela está estabilizada por enquanto,” disse Kensuke, agora de pé ao lado dele. “Mas os médicos disseram que não tinham certeza se ela algum dia acordaria. Disseram para nos prepararmos. Minha esposa também está exausta — ela está descansando em outra sala.” Mizuki ouviu em silêncio.

     Não tinham certeza se ela algum dia acordaria. Preparar-se.

   Ele conseguia ouvir as palavras, mas elas não eram registradas. Era como se seu cérebro se recusasse a compreendê-las.

   Não — ele estava se recusando a aceitá-las.

   Porque se aceitasse aquelas palavras, sabia que desabaria ali mesmo em lágrimas...

   A visita durou apenas cerca de dez minutos, e então Mizuki saiu da UTI com Kensuke.

“Vou ver minha esposa. E você?” perguntou Kensuke assim que retornaram ao saguão.

“...Vou descansar aqui um pouco,” respondeu Mizuki, inexpressivo, com a expressão vazia.

   Assim que Kensuke saiu e Mizuki ficou sozinho, ele afundou em uma das cadeiras da sala de espera, como se suas pernas tivessem cedido.

   O aniversário que Misaki havia comemorado ontem agora parecia algo que havia acontecido há muito tempo.

“Misaki-san... Misaki-san...”

   Seus ombros tremiam enquanto as lágrimas escorriam por suas bochechas. Ele chamava o nome de Misaki repetidamente.

   Mesmo depois que seus pais retornaram, Mizuki permaneceu sentado, silenciosamente desejando que Misaki acordasse.

   Mas, no fim das contas, aquele dia terminou sem que Misaki recuperasse a consciência, e Mizuki foi mandado para casa assim que o horário de visitas terminou.

“Hum... Posso voltar amanhã de manhã também? Não me importo se não puder vê-la como hoje. Depois de amanhã, e depois de amanhã também... continuarei vindo todos os dias até que ela acorde...”

   Ao sair, Mizuki perguntou a Kensuke — que viera se despedir dele — quase suplicante.

   Ele queria ficar com Misaki o máximo possível. Queria esperar ao lado dela, acreditando que ela acordaria.

   Mas Kensuke balançou a cabeça.

“Eu entendo como você se sente, Mizuki-kun. Mas você não pode negligenciar sua própria vida por isso. Você precisa ir à escola direito.”

“Mas se algo acontecer enquanto eu estiver fora...”

   O que passou pela cabeça de Mizuki foi, mais uma vez, o que acontecera dois anos antes.

   Sua mãe havia falecido enquanto ele estava na escola. Então talvez... Misaki também falecesse...

   Tomado por uma ansiedade semelhante a um trauma, Mizuki reagiu.

   Mas Kensuke, com uma expressão severa, balançou a cabeça novamente.

“Sinto muito, Mizuki-kun. Mas por enquanto, por favor, deixe isso com a família. Se algo acontecer, entrarei em contato com você.”

“— ……”

   Mizuki abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra saiu. Sua cabeça pendeu impotente.

   “Por favor, deixe isso com a família.”

   Ouvir isso daquele homem à sua frente... Mizuki não pôde recusar.

   Porque Mizuki tinha sido quem estava roubando o tempo deles — tempo que deveriam ter tido com Misaki.

“...Entendido. Me desculpe... por ser tão irracional.”

“Não, sou eu quem sinto muito — por não poder honrar seus sentimentos.”

   Com Kensuke ainda com uma expressão severa, Mizuki curvou-se levemente e saiu do hospital.

   Ele nem tinha forças para andar de bicicleta. Caminhou lentamente pelas ruas escuras da noite.

   O que lhe veio à mente foi a imagem de Misaki dormindo na cama do hospital e o olhar severo de Kensuke.

   Mizuki não sentia raiva de Kensuke por negar-lhe o direito de visitá-la.

   Eles não sabiam por quanto tempo a condição de Misaki continuaria. Se Mizuki parasse de ir à escola e fosse ao hospital todos os dias, isso poderia afetar seu futuro.

   Kensuke havia escolhido ser o vilão para proteger o futuro de Mizuki.

   Mizuki entendia isso. Ele até apreciava o fato de que, apesar de ser apenas seu namorado e não da família, Kensuke havia demonstrado tanta consideração por ele — até mesmo permitindo que ele fosse para a UTI.

   Mas... mesmo assim, Mizuki ainda queria ficar ao lado de Misaki. Mais do que um futuro vago e desconhecido, ele queria valorizar o tempo com ela que só podia ter agora.

   Mesmo que essa escolha fosse tola, ele ainda queria fazê-la.

“Mãe... Misaki-san...”

   Dois sorrisos surgiram em sua mente: o da mãe e o de Misaki.

   Era exatamente como com sua mãe. Estaria ele prestes a perder alguém importante novamente? Seria abandonado chorando diante da morte, sem sequer estar presente para se despedir?

   Olhando para as estrelas espalhadas pelo céu noturno, Mizuki lamentou sua própria impotência.

 

 

◆◇◆◇◆

 

 

   Daquele dia em diante, a vida de Mizuki tornou-se monótona e sem vida. Ele manteve a promessa a Kensuke e frequentou a escola, mas sua mente estava em outro lugar — sempre pensando em Misaki.

   Fazia cinco dias desde que Misaki desmaiou. Hoje, como em todos os outros dias, a sala de aula estava tranquila. Mesmo na ausência de Misaki, nada havia mudado. Os mesmos dias mundanos se repetiam.

   E naqueles dias sem graça, Mizuki começou a sentir uma irritação silenciosa e crescente em relação àquela mesma sensação de paz.

   Durante a aula de segunda-feira de manhã, a professora simplesmente anunciou que Misaki ficaria fora por um tempo. A princípio, houve alguma preocupação na turma, mas cinco dias depois, tanto os colegas quanto a professora haviam voltado ao normal. Parecia que todos haviam simplesmente aceitado uma rotina diária sem Misaki.

   Era como se Misaki não fosse mais necessária neste mundo.

   Foi assim que Mizuki começou a se sentir, observando a atmosfera na sala de aula.

   Claro, ele sabia que era apenas uma espécie de paranoia.

   Todos certamente ainda se importavam com Misaki no fundo. Ao contrário dele, ela era alguém querida pela turma.

   Ele entendia isso.

   Mas para proteger seu coração, que parecia prestes a ser esmagado pela ansiedade, ele teve que preenchê-lo com uma emoção mais forte.

   Depois da aula, Mizuki foi embora sem demora.

   Ele não tinha ido à biblioteca nem uma vez naquela semana. Ele simplesmente não conseguia se importar com suas obrigações como membro do comitê da biblioteca. A bibliotecária lhe dissera: “É importante fazer uma pausa às vezes,” então não havia problema.

   Ainda assim, como sempre ficava na escola até quase o horário de fechamento, voltar para casa tão cedo o deixava com muito tempo livre. Pensando que poderia muito bem se preparar para a aula de inglês da semana seguinte, Mizuki tirou o livro didático e o caderno da mochila e os colocou sobre a mesa.

   Foi quando seu smartphone, deixado no bolso do uniforme, começou a tocar de repente.

   Assustado, ele o pegou e viu que era uma ligação.

   Quem ligava era o pai de Misaki, Kensuke.

“...Alô?”

“Alô, é o Mizuki-kun? Aqui é o pai de Misaki. Agora é uma boa hora?”

“Sim, já estou em casa. Aconteceu alguma coisa... com a Misaki-san?”

   Se Kensuke estava ligando, tinha que ser sobre Misaki.

   A única dúvida era se eram boas ou más notícias.

   Engolindo em seco, Mizuki esperou pelas palavras de Kensuke.

“...Cerca de duas horas atrás, Misaki acordou.”

“—! Sério!?”

   Foram poucas palavras, mas eram boas notícias.

   Quando Mizuki perguntou novamente, Kensuke respondeu simplesmente: “É verdade.”

   Apesar dos médicos dizerem que ela poderia nunca mais acordar, Misaki havia recuperado a consciência.

   Foi um milagre. Lágrimas brotaram nos olhos de Mizuki.

“Ela ainda está consciente agora. Desculpe o pedido repentino, mas... você poderia vir ao hospital agora? A Misaki disse... que quer muito te ver.”

“Claro! Estarei aí imediatamente!”

   Mizuki disse a ele, então desligou rapidamente, vestiu o casaco e saiu correndo de casa.

   Assim como no domingo, ele pedalou sua bicicleta a toda velocidade em direção ao hospital. Mas, ao contrário daquele dia, seu coração estava cheio de alegria, não de medo.

   Assim que chegasse, Misaki estaria lá esperando. Ele poderia falar com ela novamente.

   Motivado não pelo pânico, mas pela esperança, Mizuki pedalou com todas as suas forças.

   Ele irrompeu pela entrada do hospital, pegou um elevador perfeitamente sincronizado e seguiu para o sétimo andar, onde Misaki estava internada.

   Quando saiu para o saguão, assim como no domingo, Kensuke o esperava — desta vez com a mãe de Misaki, Izumi, ao seu lado.

“Vocês estavam me esperando esse tempo todo? Obrigado.”

   Mizuki se aproximou deles e os cumprimentou animadamente, seu alívio e alegria por Misaki ter acordado claramente visíveis em sua voz e expressão.

“...Não, não se preocupe com isso,” respondeu Kensuke, conseguindo dar um sorriso forçado apesar do rosto exausto.

   Ao lado dele, Izumi mantinha a cabeça baixa, a expressão sombria.

“Hum... a Misaki-san realmente acordou, certo?”

“Ela acordou. É verdade. Mas...”

   Quando Mizuki perguntou hesitante, Kensuke assentiu, mas parou.

   Pensando bem, Kensuke soara estranho mesmo durante o telefonema. E agora, nenhum dos pais de Misaki parecia aliviado ou feliz por ela ter recuperado a consciência.

   Foi então que Mizuki finalmente percebeu.

   Misaki não havia passado pelo pior. Ela usara as últimas forças para abrir os olhos — apenas para se despedir. Seus pais o haviam chamado com tanta pressa para que ele pudesse estar presente em seus momentos finais.

“Não há tempo. Mizuki-kun, por aqui.”

   Instados por Kensuke, os três seguiram para a unidade de terapia intensiva.

   Assim como antes, Mizuki seguiu as instruções da enfermeira e completou os preparativos, entrando na UTI com os pais de Misaki.

   Quando chegaram ao quarto onde Misaki estava, Kensuke colocou a mão no ombro de Mizuki.

“Então é assim que é entregar sua filha... Conto com você.”

   As palavras de Kensuke ecoaram silenciosamente pelo corredor imaculado.

   Conto com você.

   Só havia um significado para aquelas palavras. Os pais de Misaki estavam confiando a Mizuki a tarefa de se despedir de Misaki. Provavelmente era o desejo dela.

   Ele poderia ter recusado. Dito que não estava à altura de tal tarefa.

   Mas Mizuki...

“...Sim.”

   Ele apenas assentiu silenciosamente.

   Ele não fugiria. Fora ele quem dissera que queria ficar ao lado dela até o fim — e ainda falava sério.

   Vendo Mizuki responder com determinação, Kensuke pareceu satisfeito e levantou a mão. Ele se afastou para indicar o caminho a Mizuki.

   Com os pais de Misaki se despedindo dele, Mizuki abriu a pesada porta e entrou em seu quarto.

 

   Dentro do quarto — assim como da última vez — estava silencioso.

   Os únicos sons eram os bipes suaves das máquinas médicas.

   Misaki estava deitada na cama, com os olhos abertos, mas imóvel. Comparada a cinco dias atrás, ela estava visivelmente mais magra. Provavelmente não tinha mais forças nem para se sentar.

   Mas quando viu Mizuki entrar, virou a cabeça ligeiramente e lhe deu um sorriso gentil.

“...Ei, Mizuki-kun. Já faz cinco dias.”

“Sim. Você com certeza dormiu demais, Misaki-san.”

   Retribuindo o sorriso, Mizuki sentou-se na cadeira ao lado da cama.

   Misaki então estendeu a mão de debaixo do cobertor.

   Uma mão pequena e frágil, agora terrivelmente fina. Mizuki a segurou delicadamente com as duas mãos.

“Desculpe, Mizuki-kun. Parece que meu corpo realmente chegou ao limite, afinal. Sinto muito.”

“Por favor, não se desculpe. Isso não é típico de você, Misaki-san.”

   Mizuki sorriu, fazendo o possível para suprimir a dor interior enquanto se desculpava repetidamente.

   Mas, na verdade, ela era a última pessoa que deveria se desculpar. Na verdade, deveria ser ele.

   Não havia como o estado de Misaki ter piorado de repente. Ela devia estar segurando a dor o tempo todo — suportando a dor só para que ele não se preocupasse.

   E, no entanto, ele nem havia percebido. Estivera ocupado demais lutando contra o medo dentro de si para realmente olhar para Misaki bem à sua frente.

   Ele era um fracasso como namorado. Não conseguia se perdoar por isso.

   Enquanto Mizuki se culpava silenciosamente, Misaki de repente olhou para o teto e murmurou: “Não é típico de mim, hein...”

“Ei, Mizuki-kun. Por que você acha que eu nasci?”

   Ela voltou os olhos para ele e fez a pergunta de frente.

“...Por que minha vida tem que acabar aqui? Por que fui eu quem teve que carregar uma doença contra a qual não posso fazer nada? Não precisava ser eu, né? Por que minha vida teve que ser arruinada assim? Fui hospitalizada, não consegui fazer amigos por muito tempo e passei meus dias na escuridão... Todos os outros vivem tão casualmente, como se a boa saúde fosse garantida, então por que sou a única que tem que passar por isso?”

   Esses eram os sentimentos que Misaki havia reprimido por quase dezoito anos. Pensamentos que ela mantinha escondidos, atenciosa demais com os outros para jamais expressar. E agora, ela finalmente estava desabafando.

“Todo esse tempo, fiquei me perguntando: se eu não ia viver muito, qual era o sentido de eu ter nascido? …Ei, Mizuki-kun. Por que você acha que eu nasci?”

   Como sempre fora alguém que priorizava os outros, ela nunca fizera essa pergunta — a ninguém. E agora, pela primeira vez, a fazia à pessoa que mais amava.

   Mizuki entendia isso. Por isso, parou de se culpar e lhe deu toda a atenção — pronto para responder.

“Bem... eu não acho que haja realmente algum sentido na vida de ninguém, não apenas na sua, Misaki-san.” A resposta de Mizuki foi dura — desprovida de conforto.

   Ao ouvir isso, Misaki soltou uma risada fraca e seca. “É aí que você diz: ‘Para me conhecer,’ certo? Você não deveria ser meu namorado?”

“Eu não posso fazer isso. Não quero mentir para você, Misaki-san.”

“Você sabe que existe mentira gentil, né?”

“Mentiras gentis geralmente são gentis apenas com quem as conta. São apenas uma maneira de evitar dizer algo doloroso.”

“Bem, não vou discutir isso, mas... talvez não se diga isso para alguém que está prestes a morrer.”

   Misaki deu um sorriso impotente. Honestamente, esse meu namorado...

   Mizuki sorriu de volta gentilmente e continuou respondendo à pergunta dela.

“Bem, deixando as mentiras gentis de lado, eu realmente não acho que nascer ou estar vivo tenha algum significado inerente. É por isso que todos se esforçam tanto para encontrar algum tipo de desculpa — para se convencerem de que suas vidas significaram alguma coisa.”

   Mizuki não conseguiu dar uma resposta definitiva à sua pergunta.

   Então, isso não era uma resposta — apenas uma resposta pessoal. Algo que ela pudesse considerar como uma perspectiva.

“Então, se você quer saber o sentido da sua vida, Misaki-san... então invente sua própria desculpa. Esse será o seu sentido.”

“Você é bem brutal, Mizuki-kun. Então, só para referência — que tipo de desculpa você está usando?”

“Vejamos...”

   Instigado pela resposta dela, ele encarou a parede branca do hospital, pensando.

   Mas então ele rapidamente olhou para ela com um sorriso constrangedor.

“Desculpe. Depois de dizer tudo isso, eu ainda não tenho uma desculpa. Mas... dentro de mim, carrego tudo o que as pessoas com quem me importo — meu pai, minha mãe e você, Misaki-san — me deram. Eu acho... contanto que eu proteja essas coisas e viva com cuidado, talvez isso seja o suficiente para mim.”

   Desculpando-se pela fraqueza de sua resposta, Mizuki pelo menos ofereceu sua própria resposta improvisada.

   Ao ouvir a resposta improvisada de Mizuki, os olhos de Misaki se arregalaram de surpresa.

“Você vai guardar com carinho o que eu deixar para trás...?”

“Sim. Cada lembrança que tenho com você, tudo o que você me ensinou sobre como aproveitar a vida — eu vou guardar com carinho.”

“...Mizuki-kun, você ficou feliz por nos conhecermos?”

“O suficiente para mudar completamente a minha vida e a maneira como vejo o mundo.”

“Você ficou feliz comigo?”

“Acho que finalmente entendi o que ‘felicidade’ realmente significa.”

   Enquanto Misaki continuava com suas perguntas, Mizuki as respondia com suavidade.

   Porque não havia motivo para hesitação. O tempo que ele passou com Misaki foi insubstituível.

“...Entendo. Fico feliz.”

   Ao ouvir as respostas firmes de Mizuki, Misaki finalmente sorriu. E se Mizuki não estivesse enganado, aquele sorriso parecia de alívio — de salvação.

“Obrigada, Mizuki-kun. Encontrei minha resposta. Agora sei que minha vida — e poder refazer aquela decisão naquele dia — teve significado e valor reais.”

“Hã...?”

   Mizuki inclinou a cabeça ao ouvir as palavras estranhas de Misaki.

   Mas ela não pareceu notar e, em vez disso, olhou para o teto novamente, murmurando: “Mesmo assim... é uma pena.”

“Eu queria experimentar um vestido de noiva. Ter uma cerimônia em uma igreja linda. Ah, mas talvez um quimono branco tradicional em um santuário fosse melhor?”

“Eu adoraria te ver noiva, Misaki-san. Seja um vestido de noiva ou um quimono branco... você ficaria deslumbrante em ambos. Eu garanto.”

“Eu também queria filhos. O ideal seria um menino e uma menina. E você, Mizuki-kun?”

“Sinceramente, eu ficaria bem só nós dois. Contanto que eu tenha você... é mais do que suficiente. De qualquer forma, não sou muito bom com crianças. Acho que elas não se apegariam a mim.”

“Aposto que você se tornaria um pai totalmente dedicado se tivéssemos filhos. Compraria uma câmera de vídeo sofisticada e de alta resolução e começaria a gravar tudo enquanto eu reviro os olhos.”

“Você acha mesmo?”

“Acho. Você é o tipo de pessoa que preza a família. Sei que seríamos felizes. E viajaríamos juntos, nós quatro. Você disse que não tem muitas fotos agora, mas elas se acumulariam rápido. Mesmo que você diga: ‘Não sou fotogênico,’ eu não deixaria você escapar.”

“Não sei dizer se isso parece um sonho ou um pesadelo...”

   Era um futuro que poderia ter sido — mas nunca chegaria. Mesmo sabendo disso, Misaki falou alegremente sobre o “algum dia” que havia imaginado.

   E Mizuki respondeu gentilmente a cada pedaço daquele futuro imaginado que compartilhava.

“Quando nossa filha chegar à fase rebelde, ela vai te achar irritante. E seu filho também vai começar a manter distância. Você vai chorar no travesseiro todas as noites, Mizuki-kun, como o pai amoroso que você é.”

“Isso é duro, não é? Eu sou o único sofrendo nesse futuro.”

“Não se preocupe. Estarei lá para te confortar.”

“Ah, então acho que não tenho nada a temer.”

   Os dois riram alto.

“Mas, sabe, quando as crianças crescerem e passarem pela adolescência, seremos uma família unida novamente. E eles vão trazer seu namorado e namorada para casa, dizendo: ‘Tem alguém que eu quero que você conheça.’”

“Isso parece estressante.”

“Quando nossa filha se casar, você vai chorar como um bebê. Serei eu quem vai te dar um tapinha nas costas e dizer: ‘Você não tem jeito, pai.’”

“O triste é que nem isso eu consigo negar. Vou contar com você nessa hora.”

“Deixe comigo.”

   Mesmo sabendo que isso nunca aconteceria, Mizuki pediu — e Misaki, radiante de orgulho, concordou.

   Foi então que aconteceu. De repente, os dedos de Misaki ficaram moles.

“—! Misaki... san...?”

“Estou bem... ainda bem... Só estou com um pouco de sono...”

   Mizuki apertou as mãos dela com mais força, com a voz trêmula enquanto gritava. Misaki respondeu com uma voz fraca.

“Desculpe, Mizuki-kun... eu realmente não consigo mais me mexer...”

“...Não. Por favor, não vá. Não me deixe sozinho!”

   Ele não pretendia dizer aquilo. Mas quando chegou o momento, toda a razão desapareceu e as palavras jorraram. Ele não estava apenas dizendo aquilo — ele agarrou a mão dela com mais força, desesperado para não perdê-la.

   Ele sabia que isso só a incomodaria. Mas não conseguia parar.

   Antes que percebesse, sua voz tremia. Lágrimas escorriam por suas bochechas.

   Seu rosto ficou rapidamente encharcado, uma massa de lágrimas e ranho.

   E, ainda assim, Misaki reuniu suas últimas forças para sorrir para ele.

“Me... desculpe... por ser uma namorada horrível... que está te largando sozinho...”

“Isso não é verdade! Não é verdade mesmo!”

“Conhecer você, Mizuki-kun... me fez feliz também... Estar ao seu lado até o fim... Eu fiquei muito feliz...”

“Não vá, Misaki-san! Diga alguma coisa — continue falando comigo!”

“...Obrigada... por amar alguém como eu...”

   Antes que ela pudesse terminar de agradecer, sua voz sumiu.

   Os olhos de Misaki se fecharam e cada resquício de força abandonou seu corpo.

“Misaki...san...?”

   Ele chamou e sacudiu seu corpo gentilmente, mas Misaki não respondeu — nem mesmo um estremecimento. Ela não o provocou como de costume com uma “brincadeira”. Ela não chamou mais “Mizuki-kun” com aquela voz gentil.

   Não havia mais respiração de Misaki. Quando ele pressionou o ouvido contra o peito dela, não conseguiu ouvir nenhum batimento cardíaco.

“Mi… sa… ki… san…”

   Mizuki puxou o corpo sem vida de Misaki para perto. Seu corpo ainda estava quente. Não parecia real — ele não conseguia acreditar que ela havia partido.

   Mas seus olhos nunca mais se abririam. Sua voz nunca mais o alcançaria. Ela nunca mais apertaria sua mão de volta.

“U... ugh! Ah...!”

   Conforme sua mente aceitava a verdade, a razão foi engolida pelas ondas de emoção.

   Agarrando o corpo de Misaki com força, Mizuki gemeu como uma fera, gritando como se sua garganta fosse se partir—

 

4

 

◆◇◆◇◆

 

 

   Alguns dias depois, o funeral de Misaki foi realizado em silêncio e solenidade.

   Mizuki compareceu tanto ao velório quanto ao funeral, mas, para ser honesto, tudo depois daquele momento em que ele gritou com a morte dela foi um borrão. Num momento, o velório havia começado, e agora o funeral estava terminando. Era assim que se sentia.

   Todos que compareceram lamentaram a morte prematura de Misaki e derramaram lágrimas.

   Mas os olhos de Mizuki permaneceram secos. Nem uma única lágrima caiu. Porque não havia mais nada dentro dele para chorar.

“—Mizuki-kun.”

   Ele ouviu a voz de Kensuke logo após o término do funeral.

   Virando-se com os olhos vazios, Mizuki viu o homem, desgastado e exausto, parado à sua frente. Izumi estava logo atrás dele, parecendo igualmente esgotada. Ambos estavam completamente arrasados ​​pela perda da filha.

   No entanto, mesmo diante deles, Mizuki não sentia nada. Seu rosto permanecia inexpressivo, seus olhos vazios, simplesmente refletindo as figuras à sua frente como um boneco sem vida.

   Mesmo assim, os dois curvaram profundamente a cabeça diante de Mizuki.

“Obrigado por estar com Misaki até o fim. E... desculpe por colocar o fardo de vê-la partir em seus ombros.”

   A voz de Kensuke estava cheia de gratidão e pedido de desculpas — pelo bem de Mizuki.

   Certamente, eles não tinham mais energia para se preocupar com os outros. Certamente, eles queriam estar ao lado de Misaki no final. E, ainda assim, Kensuke ainda colocava o bem-estar de Mizuki em primeiro lugar.

   Naquele instante, algo se agitou levemente no coração de Mizuki — um coração que estava anestesiado.

“O médico disse que a Misaki provavelmente faleceu sem dor. Que deve ter sido tranquilo. E a razão pela qual ela pôde partir tão tranquilamente... foi porque você estava lá ao lado dela. Obrigado por ser o conforto dela.”

   Obrigado.

   Aquelas palavras repetidas ecoaram pesadamente dentro de Mizuki. Aquela dor tênue em seu coração se transformou em uma dor insuportável e torturante.

“Por favor... não diga isso...”

   Antes que percebesse, Mizuki caiu de joelhos. Agarrando a terra com as mãos trêmulas, começou a chorar.

   E então, pela primeira vez em dias, as emoções de Mizuki explodiram quando ele gritou:

“Se eu não estivesse lá, Misaki-san poderia ter vivido mais. Então, por favor... não me agradeça. Se não fosse por mim...”

   Isso mesmo — ele não era alguém que merecesse agradecimentos.

   Na verdade, teria sido mais fácil se o tivessem condenado.

   A culpa é sua pela morte de nossa filha. Se você nunca tivesse aparecido...

   Se tivessem gritado isso para ele, talvez o tivesse aliviado. Então ele poderia ter retribuído tudo com a vida — sem hesitação.

   Mas os pais de Misaki não permitiram isso.

   Não, não apenas isso. Seu pai colocou a mão no ombro de Mizuki enquanto chorava e acenou gentilmente para ele, tentando confortá-lo.

“O jeito como você amou a Misaki... só isso já é mais do que suficiente para nós. Somos gratos além das palavras. Então, por favor, pare de se culpar. Você não fez nada de errado. Ninguém é culpado.”

   Repetidamente, diziam a ele: Você não tem culpa. Como se para revestir seu coração de bondade, para ajudá-lo a se levantar novamente.

   E talvez por causa dessa mesma bondade... Mizuki não conseguia fazer nada além de abaixar a cabeça e continuar chorando, incapaz de escapar.

   Ao voltar para casa após o funeral, a casa parecia completamente sem vida — completamente diferente de como era há pouco tempo.

   Fazia apenas cerca de dez dias. Recentemente, o lugar parecia acolhedor — preenchido com uma presença tangível.

   Mas agora, não havia mais aquele calor. Apenas uma atmosfera fria e vazia.

   A tristeza de perder Misaki. A culpa que sentia pelos pais dela.

   Sempre que estava sozinho, essas emoções corroíam implacavelmente o coração de Mizuki.

   E o frio cortante do ar parecia como se a própria casa o estivesse acusando — acusando-o de ter voltado sozinho.

   Incapaz de suportar aquela atmosfera, Mizuki de repente se viu correndo porta afora.

   Onde ele acabou... foi na escola.

   Ele havia tirado o dia de folga para o funeral de Misaki, mas ainda era dia de semana. Já era depois da aula, mas os sons dos alunos praticando atividades do clube ecoavam no pátio da escola. Do prédio vinham os instrumentos da banda.

   Aqueles sons animados e enérgicos ecoavam ao seu redor, mas Mizuki simplesmente os deixou envolvê-lo enquanto caminhava até a sala dos professores para pegar uma chave emprestada e, em seguida, seguiu por um corredor familiar.

   Abruptamente, ele destrancou a porta da sala de arquivo.

   “Bem-vindo de volta, Mizuki-kun. Obrigada pela entrega.”

   No momento em que abriu a porta, uma lembrança de Misaki passou por sua mente. Ele quase podia ouvir a voz dela. Sua respiração ficou presa na garganta enquanto ele soltava um gemido amargo e dolorido.

   Mizuki, ainda respirando pesadamente, caminhou até os fundos da sala de arquivo e ligou o laptop. Então, como se estivesse tentando se livrar de algo, mergulhou na tarefa há muito atrasada de registrar todos os livros recém-comprados.

   “Certo! Pode deixar. Vou colar essas etiquetas como uma louca!”

   “Mizuki-kun, terminei de consertar os livros.”

   Mas sua eficiência era péssima. Cada vez que pegava um livro, cada vez que apertava uma tecla, parecia que ouvia a voz de Misaki. Cada tarefa levava mais que o dobro do tempo normal.

   Mesmo assim, Mizuki não parou. Se não se mantivesse ocupado, a realidade da ausência de Misaki se tornaria insuportável. A qualquer momento, seu coração parecia que poderia se despedaçar. Ele temia bater a cabeça na parede só para se redimir pelos pais dela.

   Em algum momento, o sol se pôs. As vozes dos alunos e o som dos instrumentos do lado de fora da janela haviam sumido. Quando ele olhou para o relógio, já passava das 6h30. Muito além do fim do horário escolar. Cedo ou tarde, um professor notaria que a chave não havia sido devolvida e viria verificar.

“...Hora de ir para casa...”

   De repente, tomado pelo vazio, Mizuki desligou o laptop.

   Não importava o que fizesse, o vazio em seu coração não podia ser preenchido. A tristeza de perder Misaki não iria embora. Percebendo isso, Mizuki baixou o olhar, esmagado pelo desespero.

   E foi então que aconteceu.

   Uma melodia quebrou o silêncio da sala de arquivo. O toque eletrônico de uma mensagem de texto chegando em seu telefone.

   A princípio, Mizuki ignorou. Ele não estava com vontade de verificar nenhuma mensagem.

   Mas então ele percebeu o que aquele toque específico significava — e correu para pegar seu telefone.

   Esse toque era o que ele havia definido para... uma mensagem de Misaki.

“Misaki...san...?”

   Por que agora? Por que ele estava recebendo uma mensagem dela? Mizuki não fazia ideia. Mas o fato permanecia: seu telefone havia tocado.

   Com os dedos trêmulos, ele o pegou e abriu a mensagem.

   Dizia apenas: Verifique o terceiro livro da direita na prateleira de cima da estante do seu quarto.

   Não houve preâmbulo. Nenhuma explicação. Nenhuma emoção.

   Mesmo assim, Mizuki saiu correndo da sala de arquivo. Ele atravessou as ruas agora escuras, com os olhos fixos à frente, correndo de volta para casa. Nem esperou para acender as luzes ao chegar. No escuro, esbarrando em pilares e móveis, subiu as escadas correndo.

   Ele estendeu a mão para pegar o livro especificado — e algo escorregou de entre as páginas e caiu no chão.

   Quando se abaixou e o pegou, encontrou uma pequena chave. Uma chave de estilo antigo, com um design adorável.

   Ele não precisava pensar para saber para que servia.

   Ele saiu correndo do quarto e foi para a sala de estar. Desta vez, acendeu as luzes corretamente e olhou para o armário onde a gaita estava guardada. Abriu-o e tirou a pequena caixa que ganhara de Misaki em seu aniversário.

   Lutando para conter suas emoções aceleradas, ele inseriu a chave na fechadura da caixa e girou.

   Clique. Um som nítido e satisfatório ecoou quando a fechadura se abriu.

   Quando ele levantou a tampa, uma melodia tocou de dentro — transmitida por um mecanismo de caixa de música. Era a melodia que Mizuki costumava tocar em sua gaita.

   Aparentemente, uma caixa de música havia sido construída em um canto da caixa, projetada para tocar quando aberta. E na outra metade, o compartimento de acessórios, havia...

“Um pendrive?”

   Ele tirou um pendrive simples e comum.

   O que poderia estar nele?

   Mizuki ligou seu laptop e, assim que ele inicializou, conectou o USB.

   Dentro havia apenas um único arquivo de vídeo.

   Suprimindo o tremor em suas mãos, ele clicou duas vezes — e o vídeo começou a tocar.

“Yoo-hoo, Mizuki-kun! Você está assistindo?”

   No momento em que ouviu a voz dela e viu seu rosto, lágrimas escorreram dos olhos de Mizuki.

   Lá na tela estava Misaki, sorrindo suavemente. O mesmo sorriso que ele conhecia tão bem. O sorriso que ele pensou que nunca mais veria.

“Se você está assistindo, significa que o e-mail chegou corretamente. Fico muito feliz. O papai e a mamãe devem ter lido minhas anotações de fim de vida e enviado para mim.”

   Na tela, Misaki soltou um suspiro de alívio e deu um tapinha no peito.

   Mizuki não conseguiu dizer uma palavra. Ele simplesmente a encarou. Não importava o formato, não importava o quão artificial fosse, ele a ouvia falar com ele novamente. Vê-la sorrir para ele novamente. Só isso encheu seu peito de uma emoção avassaladora.

“Bem, então... eu poderia continuar falando para sempre, mas fiquei sem espaço no pendrive primeiro, então vamos ao assunto principal.”

   Misaki pigarreou com um pequeno “ahem”.

“Se você está assistindo, deve ser depois do meu funeral, no mínimo. ...Como você está? Estou certa? Não me diga que você simplesmente encontrou a chave e assistiu antes do previsto~ ou algo assim.”

   Ela inclinou a cabeça e fez a pergunta, como se estivesse realmente falando com ele pessoalmente. O tom, o timing, os pequenos gestos — tudo pensado para parecer uma conversa ao vivo. Misaki deve ter planejado cuidadosamente cada parte da gravação.

   Enquanto Mizuki pensava nisso, a expressão de Misaki tornou-se levemente preocupada enquanto ela olhava para a câmera.

“Mizuki-kun, você está dormindo? Está se alimentando direito? Eu sei que é difícil imaginar, mas... você não está pensando em me seguir, está?”

   Mizuki prendeu a respiração ao ouvir aquelas palavras, ditas com uma preocupação tão gentil.

   Ele não estava dormindo. Não conseguia comer. E se as coisas continuassem assim, ele poderia muito bem ter tomado essa atitude. As preocupações de Misaki atingiram o cerne de tudo o que ele vinha sentindo.

“Estou realmente preocupada com você. Você parece meio direto, mas, no fundo, é muito delicado. Receio que sua bússola emocional oscile demais e o leve a fazer algo imprudente...”

   Assim como suas palavras transmitiam, a expressão de Misaki estava repleta de profunda e sincera preocupação enquanto ela continuava falando.

   Ouvindo cada palavra dela sem hesitar, Mizuki não pôde deixar de ser tomado pelo constrangimento e pela vergonha. Ele queria fugir.

   O que Mizuki faria depois que Misaki se fosse — ela tinha percebido tudo desde o início. E sabendo disso, Mizuki ainda a preocupava. Ele a deixou partir deste mundo com essas preocupações persistindo em seu coração. Como seu namorado, era mais do que patético.

   Ele queria continuar olhando para o rosto dela, mas antes que percebesse, seu olhar caiu. Ele não conseguia se forçar a encará-la diretamente.

     Se eu fosse mostrar um lado tão vergonhoso de mim mesmo, talvez fosse melhor se eu simplesmente desaparecesse—

“Se você sequer pensar em desaparecer ou morrer — se tentar fugir assim, eu nunca vou te perdoar.”

   Assim que Mizuki começou a mergulhar novamente naquele sombrio fluxo de pensamentos, Misaki interrompeu de repente, como se tivesse lido sua mente, sua voz áspera e firme na tela.

   Assustado com a perfeição com que ela o havia antecipado, Mizuki levantou a cabeça por reflexo.

   E lá estava ela — Misaki, olhando diretamente para ele, as sobrancelhas franzidas com intensidade.

   Mas, no momento seguinte, sua expressão se suavizou.

“Mizuki-kun, você se lembra? Daquilo que eu escondi de você o tempo todo? A razão pela qual eu escolhi você como meu parceiro para a aliança.”

   Ouvir essas palavras trouxe a lembrança de volta. Isso mesmo — ele nunca havia obtido uma resposta para aquilo.

   Então, agora, ele finalmente iria ouvir. Mizuki olhou fixamente para a tela.

   Após uma breve pausa, Misaki disse:

“A verdade é que, desde o dia em que morri, dei um salto no tempo de volta para fevereiro passado — de volta para o momento em que me disseram que eu não tinha muito tempo restante.”

   Ela declarou isso com uma expressão extremamente séria.

   Naquele momento, Mizuki sentiu como se algo profundo em sua mente tivesse se desbloqueado. E de repente, cenas passaram por sua mente — visões de sonhos, fragmentos das memórias de alguém, desejos de alguém.

   —Não, não foi só isso.

   Aqueles flashbacks puxaram algo ainda mais profundo. Da borda dessas memórias ligadas ao sonho, ele viu sua amada voltando contra o fluxo do tempo — algo misterioso e extraordinário.

   E então ele percebeu: o ano passado tinha sido uma jornada para Misaki — uma jornada para dar sentido à sua vida.

“Eu sei, dizer algo assim do nada parece inacreditável. Honestamente, eu ainda tenho dificuldade em acreditar. Logo depois que dei um salto temporal, desabei na frente do médico porque não tinha ideia do que estava acontecendo. Eles pensaram que eu tinha desmaiado de choque depois de ouvir o prognóstico — era tudo uma coisa. ...De qualquer forma, vamos deixar esse assunto de lado por enquanto. Eu sei que você provavelmente quer interromper com um milhão de perguntas, mas pode esperar um pouco e me ouvir? Isso se conecta ao motivo pelo qual eu pedi para você ser meu parceiro de aliança.”

   Misaki soltou uma risadinha autodepreciativa e olhou para a câmera, sua expressão de esperança silenciosa.

   Mas suas preocupações eram infundadas. Agora que Mizuki entendia tudo, não havia espaço para dúvidas. Ele aceitou as palavras dela exatamente como eram.

“Antes de dar um salto temporal, eu estava deitada em uma cama de hospital, esperando a morte, cheia de arrependimento. Então, no momento da morte, desejei poder refazer o ano após receber o prognóstico. E de alguma forma, mesmo sem entender como, aconteceu.”

   O que ela descreveu combinava perfeitamente com os sonhos que Mizuki tivera — aqueles flashes de memória.

   Por que seus sonhos se conectaram com as memórias de Misaki de antes do salto temporal? Assim como sua jornada inexplicável no tempo, a resposta era desconhecida.

   Mas, por causa disso, Mizuki conseguia entender o que ela estava sentindo. E por aquele milagre, ele só conseguia sentir gratidão.

“Eu instintivamente entendi que morreria novamente na mesma hora da primeira vez. Então, desta vez, eu queria ter certeza de que não me arrependeria de nada. Saí do hospital e fiz uma lista de coisas que queria fazer antes de morrer. Eu estava pensando nelas constantemente enquanto estava presa naquela cama, então não demorou muito para escrevê-las. Você já sabe a maioria delas, Mizuki-kun. Eram cinco, especificamente.”

   Contando nos dedos, Misaki começou a listar suas “coisas para fazer antes de morrer.”

 

   1. Agradecer aos meus pais por me criarem com tanto amor.

 

   2. Viajar com meus pais.

 

   3. Escrever um bilhete de despedida.

 

   4. Voltar para a escola mais uma vez.

 

   5. Agradecer a Mizuki.

 

   Cada uma dessas coisas era algo que Mizuki já tinha ouvido dela antes.

   Mas faltava algo. Quando concordaram com a aliança, ela também mencionou “me divertir muito” e “fazer coisas que eu não teria pensado sozinha.”

“Mas aí eu te conheci na escola, Mizuki-kun, e a lista cresceu. Adicionei mais três: Número seis — Tornar-me amiga do Mizuki-kun. Número sete — Lembrar o Mizuki-kun como é divertido sair com os amigos. Número oito — Ajudar o Mizuki-kun a se lembrar de como se conectar com os amigos novamente.”

“Eu meio que reformulei os dois últimos quando te contei, lembra? Mas foi isso que eles realmente quiseram dizer.”

   Os olhos de Mizuki se arregalaram com as palavras dela.

   Então, esses três últimos objetivos foram adicionados inteiramente por ele.

“No começo, eu só queria te agradecer por me ajudar. Porque... eu ia embora logo. Mas quando percebi o quanto você mantinha as pessoas à distância, me lembrei de algo da última vez que falei com a Youko-san. Foi quando mudei de planos e decidi agir.”

“Minha mãe...? Espera, isso significa que...”

   A lembrança de sua confissão passou pela mente de Mizuki.

   Ele havia pedido a Misaki que lhe contasse a verdade naquela época, e ela se recusou. Talvez... essa fosse a resposta dela, afinal.

“Eu já te disse que, depois que você me ajudou, eu não conseguia mais sair do quarto do hospital. Que a Youko-san faleceu e eu nunca mais te vi. …Mas, na verdade, logo depois que me permitiram sair do quarto novamente, eu a vi uma vez — só uma vez. Um dia antes de ela falecer.”

   Os olhos de Mizuki se arregalaram novamente em choque. Misaki continuava o surpreendendo hoje.

   Então, sua mãe e Misaki tiveram uma última conversa pouco antes de sua morte. E essa conversa levou Misaki a agir — sua mãe havia lhe confiado algo.

   O que sua mãe havia dito a Misaki?

   O coração de Mizuki começou a bater forte como um tambor.

“Ainda me lembro claramente. Naquele dia, a Youko-san disse algo surpreendentemente vulnerável. Ela disse: ‘Nós só causamos sofrimento ao Mizuki. Como éramos pais tão pouco confiáveis, o fizemos arcar com tudo. Tiramos o tempo que ele deveria ter passado com os amigos e o deixamos sozinho.’”

“…Minha mãe disse isso…?”

   Ao ouvir essas palavras de Misaki, Mizuki sentiu um aperto no peito, como se seu coração estivesse batendo como um sino frenético há poucos momentos.

“A Youko-san também disse isso: que Mizuki havia se tornado um menino forte e gentil. Mas justamente por isso, ela estava preocupada. Por ser forte e gentil, ele tenta carregar tudo sozinho... e um dia, ela temeu que ele pudesse quebrar.”

   Mizuki pensou consigo mesmo: sua mãe realmente havia sido uma mãe até o fim.

   Sempre o colocando em primeiro lugar, sempre se preocupando com ele, sempre deixando de lado suas próprias necessidades. Se ele realmente havia se tornado alguém “forte e gentil” como ela disse, era apenas porque ele havia crescido observando-a. Por ter um modelo tão grande, Mizuki havia se tornado quem ele era. Ele podia dizer isso com orgulho.

“Se o Mizuki acabar sozinho em um lugar doloroso, talvez eu não consiga estar lá para ele... Só de pensar nisso eu me aborreço. Não consigo me perdoar por não ser uma mãe de verdade — isso me faz chorar.”

   Talvez ela tivesse pressentido algo, acrescentou Misaki baixinho.

“Então eu deixei escapar na hora,” disse Misaki. “Eu disse a ela: ‘Então eu vou me recuperar da minha doença e apoiar o Mizuki-kun. Se ele vai ficar sozinho, então eu me ofereço para ser amiga dele!’” Ela riu baixinho. “Bem, acabei me tornando mais do que apenas uma amiga, no entanto.”

   Pego de surpresa, Mizuki corou de vergonha.

“Quando eu disse isso, a Youko-san pareceu tão aliviada. Ela sorriu e agradeceu. Eu fiquei muito feliz. Eu sempre senti que era eu quem estava sendo apoiada por ela... então senti que finalmente podia retribuir o favor, só um pouquinho.”

   Misaki sorriu com carinho, como se estivesse relembrando aquele momento.

“Quando vi você, Mizuki-kun, completamente sozinho, isso só fortaleceu minha determinação. Eu não podia deixar aquele voto desaparecer. Eu não conseguiria encarar a Youko-san no céu de outra forma. E, acima de tudo, eu não suportava a ideia de você ficar sozinho para sempre. Então, adicionei mais três coisas à minha lista de coisas para fazer antes de morrer... e comecei a aliança.”

   A voz de Misaki ecoou no coração de Mizuki. Seus pensamentos começaram a girar.

   Até agora, Mizuki pensava que a aliança era pelo bem de Misaki. Mesmo tendo aproveitado cada momento, ele sempre acreditou que o propósito era ajudá-la a partir sem arrependimentos.

   Mas Misaki acabara de dizer — esta aliança nasceu do voto que ela fez à mãe dele.

   O que significava...

“...Haha. Não acredito. Foi o contrário o tempo todo.”

   Mizuki levou a mão à testa com um sorriso irônico.

   Misaki tinha acabado escondendo bem... mas desde o início, esta aliança...

“Eu sabia que não viveria muito, não importa o quanto eu tentasse. É por isso que eu queria que você, Mizuki-kun, soubesse como é maravilhoso passar tempo com outras pessoas. Pensei que talvez, mesmo depois que eu partisse, você pudesse começar a frequentar os círculos sociais por conta própria. Foi por isso que mencionei a aliança — para te dar um motivo.”

   E agora, quando Mizuki descobriu a verdade sobre para quem a aliança realmente era, Misaki revelou seu verdadeiro propósito.

   Não é de se admirar que ela parecesse tão desesperada quando a propôs pela primeira vez.

   Porque desde o início, esta aliança tinha sido pelo bem de Mizuki. Misaki usou seu tempo limitado não para si mesma, mas para ele.

“Bem... na época do festival de fogos de artifício, meu motivo mudou. Eu só queria estar com o Mizuki-kun que eu amava.”

   Ela corou, sorrindo radiante ao dizer isso.

   Cada palavra fazia o coração de Mizuki explodir. Era quase demais, e ele sentiu as lágrimas brotarem novamente.

“Deixando de lado como minhas intenções mudaram ao longo do caminho, foi por isso que propus a aliança. Olhando para trás, percebo que foi egoísmo da minha parte. Nunca sequer considerei o que o Mizuki-kun poderia querer. Da sua perspectiva, pode ter sido totalmente fora de contexto... Se te fez sentir mal, sinto muito.”

    Na tela, Misaki curvou-se profundamente.

   Mizuki balançou a cabeça lentamente, mesmo sabendo que não podia vê-lo.

“De jeito nenhum. Graças àquela ideia ‘fora de contexto,’ lembrei-me de como é divertido passar um tempo com alguém. Obrigado, Misaki-san.”

   Se ela não o tivesse puxado com tanta força, Mizuki ainda estaria enfurnado sozinho naquela sala de arquivo. Tudo — a alegria de compartilhar tempo com os outros — ele devia a ela.

   Se ao menos... se ao menos ele tivesse percebido isso antes, enquanto ela ainda estava viva. Se tivesse, poderia tê-la agradecido adequadamente. Esse era o único arrependimento que restava em seu coração.

“Esse era meu último segredo. Agora que foi revelado, me sinto completamente em paz.”

   Como prometido, Misaki sorriu com uma expressão clara e despreocupada. Então, tossiu levemente, sinalizando que estava prestes a encerrar.

“O que eu realmente queria dizer é: mesmo que eu só possa cuidar de você do outro lado agora, quero que você continue vivendo e olhando para o futuro, Mizuki-kun.”

   Ela olhou diretamente para a câmera, com os olhos cheios de força e calor.

“Eu sei que não tenho o direito de dizer isso. Fui eu quem te deixou para trás. Mas mesmo que seja egoísmo, direi mesmo assim: —Você vai ficar bem, Mizuki-kun! Porque você é o tipo de garoto por quem me apaixonei. Você é forte o suficiente para seguir em frente. Então não fique deprimido só porque eu fui embora!”

   Com um sorriso largo, Misaki deu um soco na direção da câmera.

   Aquele soco, enviado pela tela, acertou em cheio o coração de Mizuki, destruindo os últimos resquícios de seu desespero. Foi um nocaute.

“...Sim. Isso mesmo.”

   Mizuki exalou suavemente e sorriu com compreensão silenciosa.

   Era assim que Misaki era. Sempre se entregando por inteiro e não esperando nada menos dele.

   Se Mizuki tirasse a própria vida ali, mesmo que acabasse vendo Misaki novamente do outro lado, ela certamente lhe daria as costas. Daria as costas... e choraria sozinha.

   E se Mizuki morresse assim, sua mãe sem dúvida se culparia.

   Ele não queria fazer isso — não queria causar mais dor a nenhuma das duas. Não suportava ver tais expressões em seus rostos.

“Eu fui apoiado pelas esperanças de tantas pessoas... então acho que não tenho escolha a não ser viver esta vida até o fim.”

   Ele deu um sorriso cansado para Misaki, que estava na tela à sua frente.

   Mesmo depois de deixar este mundo, as pessoas que ele mais amava — sua amada e aquela que ele respeitava acima de tudo — ainda desejavam que ele continuasse vivo. Ele não podia ignorar isso.

   Afinal, ele não havia prometido a Misaki? Que valorizaria o que as pessoas que ele amava lhe haviam deixado e viveria com isso em seu coração.

   Ele ainda tinha um longo caminho a percorrer neste mundo.

   E então — por pura coincidência ou não — Misaki sorriu na tela.

“Então... está começando a sentir que consegue continuar, Mizuki-kun? Espero que sim...”

“É, bem...”

   Ele respondeu instintivamente, um pouco inseguro, mas sorrindo para ela mesmo assim.

“Este é o fim da minha mensagem. Obrigada por assistir até o fim. Estarei rezando pela sua felicidade do outro lado. Você consegue, Mizuki-kun!”

   Com isso, Misaki se moveu para encerrar a gravação.

   Mesmo tendo acabado de lhe dar coragem para seguir em frente, a ideia de terminar o encheu de uma profunda solidão.

   Mas então, de repente, Misaki disse: “Ah, esqueci de uma última coisa!” Ela se virou para a câmera, com um sorriso caloroso e primaveril, e declarou:

“Eu, Fujieda Misaki, amo Akiyama Mizuki mais do que qualquer outra pessoa no mundo — não, mais do que qualquer outra pessoa em qualquer lugar, mesmo além deste mundo!”

“—!”

   Os olhos de Mizuki se arregalaram enquanto ele encarava Misaki, ainda sorrindo para ele na tela. Sua visão rapidamente se turvou com as lágrimas.

“...Eu também.”

   Ele riu em meio às lágrimas enquanto respondia à confissão dela.

   Satisfeita após entregar sua mensagem final, Misaki encerrou a gravação e o arquivo de vídeo parou.

   Mizuki desligou o computador, enxugou as lágrimas e respirou fundo.

   O desespero enlouquecedor que o dominava de alguma forma começou a desaparecer. A voz de Misaki — seu sorriso — fez isso por ele.

   No final, parecia que ele nunca conseguiria se igualar a ela.

   Enquanto pensava nisso, um pequeno sorriso apareceu no rosto de Mizuki pela primeira vez em dias.

“…Certo. Vamos lá!”

   Com essas palavras, Mizuki se levantou e foi para a cozinha.

   Ele não comia direito há dias. Mas isso não daria mais. Pegou uma xícara de macarrão instantâneo da prateleira, despejou água quente, esperou três minutos e então o devorou ​​com uma determinação faminta.

   Com o estômago cheio, sua mentalidade também se tornou mais positiva.

   Mesmo agora, a tristeza de não ter Misaki ao seu lado persistia em seu peito.

   Mas o tempo de luto havia passado. Ele carregaria essa tristeza e ainda seguiria em frente. Como alguém que ficou para trás, ele viveria mantendo os desejos daqueles que lhe eram queridos perto do coração. E ele estava pronto para fazer isso agora.

   Voltando para a sala de estar, Mizuki colocou o pendrive em uma pequena caixa e a colocou ao lado da gaita no armário.

“Por favor, cuide de mim daí, Misaki-san. Farei o meu melhor aqui até o fim.”

   Ele sorriu para as lembranças que Misaki havia deixado para trás.

   Era uma promessa para ela — não, para todas as pessoas que o apoiaram.

   Com esse voto em seu coração e uma visão clara do que precisava fazer, Mizuki fechou a porta do armário.

 

 

-Almeranto: Apenas, magnífico. Não consigo pensar em palavras sobre o que eu estou sentindo no momento.

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