Volume 3 – Terra Exilada
Capítulo 53: Incertezas
[Em algum lugar no extremo da fronteira da Passagem]
O nascer do sol banhava o horizonte com tons dourados e serenos, lentamente iluminando o caminho solitário do carro cumprido, que avançava pela estrada, sozinho.
A ventania fazia o silencio, por definição, não existir nos passageiros, que viajavam a um rumo tão desconhecido que nenhuma palavra saltava pelas bocas para tentar uma hipótese.
De fato, a ausência de qualquer palavra não foi por mera falta insistência, mas de uma vontade mais pura.
Mark, Will, Nirda, Feites, Luri e, por fim, Réviz. O grupo formado através de causalidades do destino destrutivo tinham um objetivo comum: seguir até um local chamado Terra Exilada.
Apesar dos presentes estarem dentro do carro, havia apenas dois que estavam despertos para a realidade.
A rigidez do braço e olhar firme demonstrou que nenhuma tentação do sono o fez ceder a atenção; Réviz, o vice-líder do Segundo Setor, conduzia o veículo em concentração.
Imediatamente atrás dele, no banco traseiro, o ex-órfão de cabelo cor de neve apoiava a cabeça com o braço, que tinha o cotovelo ao lado da janela fechada.
O pai adotivo passou ligeiramente a visão no retrovisor central e notou o ajustar do corpo do filho adotivo, mostrando-se também acordado extremamente cedo naquela manhã.
— Foi o primeiro a acordar.
— Tenho o costume de acordar muito cedo... como sempre foi no orfanato. É que... Réviz.
— Sim?
A mão hesitante de Will veio ao segurar o banco e poder chegar mais perto do pai adotivo. Após algumas tentativas de falar, balançou a cabeça para os lados — espantou os pensamentos que o impediam de falar e completou:
— Não podemos mesmo voltar para nossa cidade natal? Tem uma casa sua lá, aquele que passamos uma semana.
O pai adotivo apertou mais o volante e fechou um dos olhos, o desejo sincero ressoou dentro do coração, mas não podia responder da maneira certa.
Seus dedos ajustaram novamente a pegada e respirou lentamente, tentando concretar uma resposta devida.
— Infelizmente, não podemos. Não mais.
— Nem para o orfanato ou ODST?
— Nenhum lugar é um destino óbvio. Seu irmão explicou tudo a você?
— Só algumas coisas. Sei que ele iria responder caso eu perguntasse, mas queria perguntar a você.
Após sair de uma curva longa, o carro se deparou com outra reta sem menção de um fim. O vice-líder aproveitou a brecha para notar com atenção o olhar sério que nunca viu em Will.
— Está desconfiando de mim, Will?
— Confesso que estou.
— É justo. Apesar de querer te dar as devidas explicações, sua irmã, a Nirda, precisa as ouvir também. Se me permite fazer um pedido, peço para que aguarde até todos despertarem. Mark merece escutar.
— Tudo bem. Mas...
— No fim deste ano, irá ter a maior idade, correto? Acredito que já é capaz de notar o que de fato está acontecendo em sua volta.
— O que quer dizer?
— Como pai dos três, irei assegurar a segurança de vocês. É uma promessa. Uma promessa que autoexplica sua necessidade.
— Então se voltássemos para sua casa ou a ODST, estaríamos em perigo? Daqueles bichos?
— De fato. Tais criaturas fazem parte da resposta. Irei queimar a largada e explicar mais algo antes do seu irmão e irmã. Mesmo que ainda não saiba exatamente o porquê, tenho evidências que suas vidas ainda estariam em perigo se eu nãos os adotasse. Ou melhor...
A conversa fluía com calma, embora as palavras tranquilas tivessem um peso alarmante, quase como se convencesse o ex-órfão de imediato.
Will engoliu seco e ressaltou ao ver o seu pai inclinar levemente o retrovisor central, fazendo o reflexo se deparar em Mark, que estava dormindo com o capuz levantado.
— A estrela sorridente iria chegar nele cedo ou tarde. E caso seu irmão estivesse despreparado, mais do que ainda está, suas vidas estariam em perigo certo.
— Por que ir atrás dele?!
— Shh. Não a acorde tão cedo.
Will levantou um pouco a voz pela surpresa, levantou-se ligeiramente do banco e precisou interromper-se quando Réviz colocou o dedo indicador na frente de boca sua boca.
No outro janela do outro lado do veículo, a direita do jovem, a pequena menina de cabelo pontudo e verde se remexia, reagindo ao som alto — Esfregou os olhos, murmurou palavras inaudíveis e relaxou o rosto novamente.
— Queria saber tanto quanto você, meu caro. No entanto, minha missão tem se conectado estranhamente como a este garoto. Da mesma forma estranha, a estrela parece saber dele. Sendo preciso, a existência do poder que ele tem. É algo único, ao menos, é isso que aquele rapaz mostrou se lembrar tanto.
Réviz apontou para o mergulhado nos próprios fios de cabelo. Com apenas a ponta do nariz para fora, Feites dormia com mãos no peito, escondendo o rosto de forma dramática com o cabelo longo.
— Aquele papo de memórias é verdade? E... E se o Mark deixar de ser o “Mark”? E se...
— É por isso que ele não está sozinho — soou uma voz sonolenta.
Assim, o pai adotivo retomou completamente seu foco na estrada perante a intromissão da sua líder na conversa de família.
— Luri?
— Isso tudo é um mistério pra nós. O que podemos fazer é dar nosso máximo para desvendar o que está acontecendo.
A jovem deu um ligeiro cafuné em Will, que se sentiu envergonhado ao acanhar no banco e se voltar-se para a janela.
— Tá parecendo a Maria agora.
— Desculpa! Não foi minha...
— Estamos a dez quilômetros do porto, iremos precisar pegar um Ro-ro.
Interrompendo as desculpas da líder, Réviz levantou o dedo o guiou até seu telefone, que estava preso ao lado do painel.
Havia uma rota pré-definida pelo GPS, contendo uma lista de pontos de interesse filtrados pela menor distância.
— Ro-ro? — perguntou Luri.
A moça pegou o telefone, o desprendendo do suporte magnético e desfazendo os preparativos do vice, que franziu o cenho quando viu o toque desprovido de delicadeza.
— Vulgo navio que transporta gente e carro. — Tomou o telefone de volta. — Entendeu? Temos que fazer a travessia.
— O rio central separa um monte de setores, precisamos ir para qual? — perguntou Will.
— Quiral.
— E lá vem mais coincidências... — comentou Luri. — Meu pai tinha que escolher logo esse nome para dar a ela também.
A líder abaixou a cabeça, colocou o dedo e o dedão de uma mão em respectivo olho e tensionou o rosto.
Réviz tentou não comentar nada, apesar de ajustar a pegada no volante como se algo o incomodasse.
— Vai explicar sobre isso também? — perguntou Will.
— Vou — respondeu Réviz, rapidamente.
— A história é longa. Se entendi direito, ainda temos chão... ou mar pela frente ainda, é o bastante para colocar o time inteiro nos trinques.
Luri finalizou as pontas soltas da conversa atrasando o corte das mesmas pontas. O resumo geral para aqueles que despertaram mais cedo foi uma cautela ansiosa.
Will, pensativo ao admirar a paisagem em velocidade alta, tentou relaxar o corpo no banco. Um peso ligeiro pousou sobre o seu ombro.
— Hm? Aff... era o que me faltava.
Uma cabeça lilás simplesmente inclinou o peso do sono na sua direção. Feites, que agora há pouco estava imóvel, ajeitou-se inconscientemente de repente.
— Eu vou acordar ele! Não tem essa não!
— Se fechar os olhos, o cabelo longo dele pode passar a sensação que é uma mulher, hihihi!
Sem perceber, fez como a mãe de mentira comentou. A escuridão e a sensação aconchegante começaram a invadir a mente.
Ao notar o próprio reflexo sem graça, arregalou os olhos e exclamou:
— Sai fora, Luri! Depois de uma linha, não tem volta mais!
— Tudo bem, hihiihi! Eu não tenho nada contra!
— Ô, Réviz!
— Não posso contestar palavras da minha superior — disse com um ligeiro sorriso.
— Agora não pode?!
Outro movimento foi sentido pelo ombro, ao olhar para o lado, o peso havia desaparecido, dando apenas a visão do rapaz que ajeitava o cabelo que estava esparramado pelo rosto.
— Saudações. — Conferiu os arredores. — Vejo que estou atrasado. Há alguma atualização para relatem-me?
— Estamos no primeiro dia da viagem. Precisamos atravessar o mar por mais um dia e terra novamente por...
Réviz, fitando o anfitrião da mansão, ajeitou o dispositivo no painel. Seu celular reduziu o zoom do trajeto e o mostrou por completo.
Embora a previsão da rota fosse um tanto precisa, limitava-se até um certo ponto.
— Imagino que tua navegação carece de detalhes, sim?
— Infelizmente.
— Ué, eu coloquei o lugar errado?
Após o pai adotivo ter concordado ao examinar o trajeto por completo, Luri fuçou o celular para ver onde realmente terminava.
— Eu falei pra i.a colocar na “terra exilada”, mas deu nisso aqui.
A ponta tracejada fazia uma curva após uma longa reta depois do mar, indo para uma cidade que não havia qualquer correlação.
— A “terra exilada” denomina o território que pertence a nenhum setor, um território não catalogado nos mapas disponíveis para pessoas comuns, logo, as rotas são redirecionadas.
— Estamos indo para o lugar errado? Ah, não!
— Com licença, corrigirei a rota com as informações contidas na biblioteca. O prefeito previu que minha companhia seria confirmada nessa jornada e precarizou informações valiosas por falta de necessidade.
— Obrigada.
Feites devolveu o celular nas mãos de Luri, que rapidamente ajustou a visualização e as estimativas ao posicionar no suporte do painel.
A moça encarou o vice-líder, que estava quieto demais desde que o anfitrião acordou.
— Confesso que há um resquício de minha intuição nesta rota. Caso minha pessoa esteja correta, o ponto de interesse que aloquei se alinha com a entrada mais próxima do povoado.
— Réviz, o que a gente diz pra um rapaz educado?
— Tsc. — Estalou a língua. — O-obrigado.
Will se virou para o colega ao lado e ponderou momentaneamente antes de fazer uma pergunta:
— E lá é perigoso?
— Incertezas pairam ao redor desta pergunta. Os registros na biblioteca mencionam que a região foi povoada por refugiados. No entanto, há de ser ter cautela, pois existem criminosos que atuam em tal terra. Dito isto, senhor Réviz e senhorita Luri, embora seja fora de suas jurisdições, a ODST do Segundo Setor possuí uma informação a adicionar?
Na condução da conversa, Feites redirecionou a vez para os dois líderes, que prestavam atenção com características distintas: indiferença e ansiedade.
— Esse lugar existe nos registros, e nada mais específico.
— Tem uma coisa...
O vice-líder respondeu rapidamente, em tom seco. Seu olhar desviou por reflexo da pista se direcionar Luri, que o surpreendeu ao afirmar levemente.
— Minha irmã, Quiral, me mostrou arquivo descriptografado dias antes da operação 117. Nele, havia uma única informação sobre a Terra Exilada: “Até hoje, a estrela sorridente foi incapaz de se estabelecer”. Ela suspeitava a mais tempo sobre a conexão entra as ODSTs e estrela, então pode ser mais seguro do que imaginamos lá. Se o prefeito disse a verdade, Réviz, nosso chefe não tem intenção de nos receber outra vez. Era uma missão para nos matar.
Réviz ficou com um gosto ruim na boca, de alguma forma, cada detalhe se conectava com seu objetivo de forma anormal. O nome de sua amada, irmã de Luri, vinha à tona sempre que uma revelação surgia.
Isso tudo só o instigava a descobrir quem está por trás de tudo isso.
Sentiu um gelo na espinha e se concentrou novamente. Feites notou isso e balançou a cabeça, gesticulando a sinceridade:
— Confesso que ser o mediador de afirmações seja um incomodo. Isso significa que as ODSTs, incluindo a que pertencem, não pode criar conexões naquele território.
— E como a ODST e a estrela são um só... — comentou Luri.
— Esses vislumbres precisam ter uma razão — encerrou Réviz.
Assim o pai adotivo externalizou o que o peito disse para si.
Sua busca almejava descobrir o paradeiro de Quiral, o levando até um orfanato do Segundo Setor, até Mark, até a cidade flutuante, até o museu, até o parque, até o prefeito e, enfim, até a Terra Exilada.
Independente do que causou cada vislumbre, sua origem possui uma razão, uma lógica desconhecida que atraia cada vírgula a devida palavra.
E, ao admirar o horizonte que escondia o fim da estrada, afinou o olhar e definiu na mente: “Mark também é capaz de ter estes vislumbres... E começaram apenas quando me aproximei dele”.
Cada questionamento era jogado aos ventos na paisagem do nascer do sol. Sem perceberem, cada tripulante desperto começou a mergulhar em dissertações internas, permanecendo em silencio até o próximo ponto de interesse da rota.
Porém, apenas em um dos tripulantes o silêncio estava guiado por mais do que simples perguntas internas.
Com um ligeiro contrair de lábios, Mark reagiu a algo que diferia do assunto principal.
Algo somente em sua mente.
“Meu corpo... tá tão gelado. O que tá acontecendo?”, por reflexo, pensei suavemente. Cada ponta dos meus membros estava enrijecida.
“Ahhh!” levantei o tronco, na sensação do grito, e... Neve?! Do nada eu emergi de um aglomerado de neve. Tentei respirar fundo, mas nada entrava.
Minha mão correu até minha boca e senti nada, na verdade, senti tudo menos minha boca. Meus pensamentos se tornaram o único meio para expressar.
“Minha boca?! Esse... Esse lugar”. Estas montanhas. Essa neve, esta altura, aquelas pessoas...
Apesar dos sustos em sequência, consegui recordar de uma espécie de sonho que tive no orfanato. Numa trilha de escalada perto do pico de uma montanha, havia um grupo de quatro pessoas caminhando lado a lado na minha frente.
Uma mulher de cabelo ruivo, um rapaz que parecia ter óculos presos na testa, alguém escondido atrás de um manto.
Um deles havia o cabelo longo que enrolava parte num cajado dourado. No mesmo momento, veio a imagem de Feites e as memórias que o vi projetar naquela biblioteca doida, pois são muito parecidos. “Esse é o general Felipe?”
Tentei me levantar para alcançá-los, mas tropecei em uma pedra assim que me levantei.
Ergui a cabeça para manter o grupo na vista, mas desapareceram com exceção de um. O único que estava envolvido por um manto.
Foi quem se virou para trás e deixou um pequeno feixe da luz do sol atravessar o breu que envolvia sua cabeça, revelando parte do cabelo divido em branco e preto.
Me afastei por instinto. Esse doido queria pular dando um susto em mim?
“Minhas mãos estão brancas. Estou pálido. Como assim?”
Apoiei meus braços para me erguer outra vez, mas os tons brancos tão parecidos com a neve quase se disfarçaram.
“Eu virei...”
— Não se esqueça.
Eu me tornei o fantasma?! Me assustei a reconhecer a mim mesmo. Quando pisquei, o estranho estava logo na minha frente apontando o dedo para mim ao ter dito algo esquisito.
“Não se esqueça?”
Atrás dele, um resplandecer em cor ciana o envolveu, me engolindo por completo.
“A... chama”.
— Mark?
— A chama!
Teve nem um pequeno aviso, meu corpo sentiu o oxigênio e meu coração acelerou. Acabei gritando de verdade e... O carro. É verdade, estava num carro.
E lá vem a Nirda me cutucando de novo. Revirei o rosto e notei que os outros já se retiraram.
No lado de fora das janelas, havia uma vista linda para o mar e um enorme navio se aproximando.
— Vamos, Mark, levanta! — insistiu Nirda.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios