Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Volume 3 – EI

Capítulo 52: Uma Noite Engraçada (Parte 3)


 

— QUEM É VOCÊ?

— Cortax. Me...

— Vamos com calma, haha! É uma situação tão inusitada que ficou engraçada.

Cortax, enraivecido, estendeu os dedos quando a ignição apareceu pelo seu corpo. Cacos de vidro se redirecionaram e quase formaram um círculo de projéteis prontos ao seu redor.

A conclusão foi ansiada ali, mas os cacos pararam no instante que ousaram atingir o invasor, por amenos milímetros.

Uma maquiagem que dividia o rosto, um sorriso distorcido e a heterocromia específica entre verde e amarelo. Para o agente loiro, era a primeira vez que o viu.

Ver o comportamento psicótico, que ousou aproximar ainda mais a ponta da lança, realçou o impasse de alguém que o conhecia.

— Que bom que entendeu a situação.

            Cortax, flutuando e condenando um ódio anormal ao invasor, suspirou quando um barulho veio atrás dele. Sendo preciso, esse barulho era outra voz idêntica à que ouviu.

— Ou devo dizer “a gravidade da situação”, Há!

— Cortax!

Ficou assustado, esqueceu de manter a pose mal-encarada e relaxou a ponta dos dedos, que se confundiram completamente.

Outra Xerta. Outro desconhecido. Olhou para frente e para trás e ainda podia contar como duas versões ao seu redor.

Cada um deles segurava um cristal com uma das mãos, o resplandecer anterior não deu brechas para saber a qual as luzes realmente foram.

— Ao contrário daquele robô frio...

Outro invasor idêntico surgiu próximo aos destroços da porta, sentado ao equilibrar a lança com os dedos. Era o único que não rendia uma suposta Xerta.

Um caco foi projetado logo na testa, fazendo a cópia se derreter e transparecer para a inexistência.

— Você nem perde tempo. Vejo muita graça nisso!

E mais outro aparaceu. Quantos tinham? O que de fato eram?

Cortax teve a confirmação. Uma ignição surgiu em cada um, que fecharam um dos olhos para mostrar apenas a pupila amarela.

— Foi você quem Dourres encontrou! Era verdade.

— Dourres? Ele já perdeu a graça pra mim! He! Que nem a tal de “Beatrice”, né não?

— Tira o nome dela da boca, desgraçado! O que você fez na cidade flutuante? Já tá obvio que é assunto da estrela.

Outro caco veio para dar fim a cópia insolente. Mas, num reflexo rápido, a mesma cópia levantou um pouco o corpo da suposta refém, que fez cada célula de Cortax contrair e interromper o projetil.

— Será que está aqui é a ilusão?

— Ou será está?

— Talvez esta?

— Até eu não sei!

— Que engraçado, pode ser esta.

Assim, as cópias começaram a criar gracinhas para confundi-lo.

— Cortax! — suplicaram as Xertas, em uníssono.

Não sabia em qual focar, cada ilusão começou a falar como se fosse um ser separado e deslocado, diferia de um espelho ou meras cópias.

Tinha certeza de que havia um nível de profundidade, haviam sombras projetadas, o ambiente interagia, luz as tocava; os critérios para assumir o original se eliminaram vagorosamente.

Enfim, as ilusões da Xerta, que atuava como refém, foram caladas pelas respectivas ilusões do invasor, que tiveram as bocas tampadas, pescoços apertados ou ameaçadas pela lança.

Mais de dez. Vinte? Mal dava para contar.

— Como você chegou aqui?

— Cheguei? Oras, eu sempre estive aqui!

— Tô falando sério, porra!

— Pois também estou, hahaha! Já te disseram o quão engraçado é? Quer ser o banbanban? Por que só não me joga pra longe com sua energia? — indagou a ilusão a sua direita.

— Ah, pera, não responde! Eu sei essa piada... — comentou a ilusão adiante.

— É porque sua energia não pode controlar outros usuários ou objetos concebidos também por uma energia! Que fraqueza deplorável e engraçada — continuou a ilusão da esquerda.

— Espera.

 Cada sílaba propagada pelo desconhecido fez o agente girar os projéteis improvisados pela telecinese como se fosse um cano giratório de uma arma gigante.

Todas as Xertas começaram a se assustar, porém, não foi o perigo iminente de ser vítima dos disparos inconsequentes, pois foi a verdade que um dia esteve escondida por poucos:

— Essa é a parte que você conta o final da piada. “Dourres e o chefe eram os únicos a saberem disto”, hahahah! Que coisa, não? Vai acreditar em quem agora, senhor-estou-solitário? — Equilibrando o cristal numa mão e torturando a refém com a outra, a ilusão a suas costas tirou sarro.

— É verdade...

Hm?

A expressão confusa veio por todos os lados, Cortax tensionou os ombros e fez as presas reagirem tão evidentes quanto a aura que começou a expandir.

O toque verde da sua ignição se alastrou pela sala por completo — rachaduras começaram a se alastrar e barulhos sutis de rupturas alertaram o que poderia ser o pior.

— E daí que não posso implodir seu sorriso, filha da puta. Posso muito bem te fazer em pedaços usando tudo ao meu redor!

Pedaços do chão saíram do lugar, desgrudava o piso e paredes, decidiu tomar o que a visão constava para si. Ignorou a expressão triste das reféns de mentira.

Logo a sua frente, havia uma Xerta que não se deixou levar pelas ameaças ou dores, apesar das lágrimas e um rosto vermelho.

 Pés pisaram em falso a cada pedra que se desmontava, umas das ilusões do invasor desequilibrou e perdeu a pegada forte do braço na refém.

— Cortax! Aqui!

— Vadi...

A vice-chefe conseguiu sair das garras do criminoso, que precisou segurar o cristal com a ponta dos dedos.

Tal agilidade momentânea — que pode existir graças a brecha que Cortax criou — foi notada ao puxar uma arma de choque de um dos bolsos da farda.

— Xerta!

O agente apontou os dedos e manipulou mais destroços para formar uma passarela que conectasse os pés da mulher até o seu lado.

A sala do chefe estava completamente irreconhecível, o teto já não existia e o céu estrelado proporcionou uma luz do luar minguante invadir o campo de destruição.

O invasor tentou recuperar a força, mas o choque o fez cair de uma das pedras que flutuava e caiu de costas no chão, ainda abraçando o cristal e segurando a lança.

Bastou o impacto para que sua energia perdesse o efeito, as cópias derreteram e transpareceram; e, acima de qualquer conclusão, o sorriso distorcido cessou.

— Não queria... Não queria ter que usar isso logo quando o carreguei! Há! Que engraçado!

— Fique atrás de mim, Xerta. Vou matar esse infeliz.

O sorriso foi mergulhado numa hostilidade que disseminou raiva com ambos os olhos abertos. O cristal começou a pulsar e transbordar.

Um líquido negro jorrou e se espalhou sobe os pés, dando forma a criaturas que se levantavam com apenas um único foco:

— Matem aquela traidora!

Algumas dezenas de monstros apareceram, a pedra começou a se tornar pálida, embora não totalmente branca, algumas manchas densas e pretas davam a entender seu funcionamento brevemente.

— Aquela cachoeira veio disso? — perguntou Cortax.

— Precisa sair daqui! Tem que... — implorou Xerta, o abraçando forte enquanto chorava.

— Não vou a lugar algum antes de matá-lo, você é quem precisa sair daqui!

A aura verde tocou a vice-chefe, fazendo-a levitar para longe.

Similar a um maestro no auge do espetáculo, Cortax guiou sua orquestra ao afastar mais objetos para levar a mulher até o solo.

— Asas?!

Os pés da moça mal acabaram de sair para o ar seguro. Agora, o ar não estava mais seguro.

O invasor apontou o dedo e ordenou numa risada. As bestas começaram a criar asas e ousaram e avançar as garras e dentes negros para Xerta.

— Sei que pode lidar por sí com todos, mas pode lidar em proteger por si a uma pessoa de todos? HAHAHAH!

Na sua frente. Acima. Em volta. Estavam cercados.

Cada estilhaço foi apanhado pela aura, cada pedra, cada ferragem, cada poeira, cada átomo.

O agente composto por um homem só montou a postura para se definir como um batalhão inteiro. Girou os ombros e estalou os dedos.

Garras quase encostavam nas bochechas da moça, dentes almejaram abocanhar costelas, lâminas fizeram o vento da entocada atingir o pescoço.

Ocorria um malabarismo fantasioso no último andar do prédio central.

Naquele segundo, quaisquer barulhos de tiros ou bombas, que fossem de outra origem daquele andar, foram encerrados.

 Perante os cadáveres de monstros que se liquidificavam, todos os pares de olhos que lutaram para proteger o setor de pesquisa tiveram a atenção roubada para os estrondos do mais alto dos prédios da ODST.

As vantagens do agente — vulgo a munição para seus poderes psíquicos — tinham os segundos contatos.

Cada ângulo foi preenchido por uma besta diferente, voos em zig-zag, pulos mortíferos e sedentos, golpes afiados de cortar almas; a situação castigava o menor erro.

Xerta flutuava de um lado para o outro ao redor do agente, que buscou a afastar dos perigos, mas sempre havia um monstro esguio entre os destroços para surpreendê-lo.

Suor frio, sobrancelhas mais tensas e um cachecol que cada vez mais havia letras “x” estampadas.

Estava sendo testado. Um desafio que compreendia cada detalhe que absorveu: desviar, acertar, voar, retorcer, comprimir, puxar... e proteger.

Os blocos de concreto acabavam, vergalhões rompiam no impacto, vidro se desintegrava. A tal munição vinha em escassez. Precisou arrancar do chão e dos andares inferiores, embora gastasse tempo que não possuía.

Proteger, carregar, atirar, perfurar e matar. Sem sessar.

O número de bestas estava reduzindo na mesma proporção, contudo, o nível de dificuldade saltou sucintamente.

Cortax tentou se afastar do andar ao voar e trazer Xerta consigo. As bestas responderam contorcendo ombros. Pernas ou braços para criar asas na evolução pura e forçada.

— Se vira nos trinta! Hehe!

O voo bruto das criaturas levantou uma poeira de escombros. A visão foi clareada quando inúmeras fendas na poeira abriram para revelar o que se escondia.

Mais cópias do invasor. Dessa vez, apontavam as lanças, que brilhavam, zumbindo em algum tipo de poder.

A ignição verde do desconhecido irradiou de cada pupila e percorreram até as lanças. Assim, tiros invisíveis propagaram no ar até a moça.

Uma onda de choque cortou fios do cabelo da moça, fazendo um buraco que manchava sua beleza.

Alguns tiros não faziam efeito. Cortax tentou bloquear usando paredes, mas nada acontecia. Era mais um obstáculo incerto imerso na horda de criaturas.

Conseguiu adivinhar o original ao traçar a trajetória de origem do tiro que interagiu com a parede e ousou em mirar e Xerta. Sua perspicácia foi água abaixo quando um monstro rasgou seu casaco.

A falta de atenção custou caro, não por uma simples roupa, e, sim, pelo detalhe que poderia ter mudado o fim daquele embate.

— Cortax! — clamou pelo agente a vice-chefe, virando para trás ao encarar ao cenário assustador.

Invés de tiros, havia lanças que buscavam alvejar cada centímetro do seu corpo. As cópias estavam andando e trocando de lugar.

— Merda!

Faltavam cerca de cinco monstros para ter o direito de atacar o inconveniente livremente. Forçou os punhos e deixou a aura brilhar mais forte, focando em finalizar os monstros e, ao mesmo tempo, proteger sua atual chefe.

HAHA!

— Como?

A ignição do invasor realçou o sorriso doentio que deu as caras uma outra vez. As lanças disparadas foram aparadas corretamente pelos objetos que Cortax conduzia no ar...

Todas elas foram aparadas...

O agente contorceu mais as sobrancelhas. Nenhum projetil foi atravessado, ou desaparecido, ou consumido pelo nada.

Naquele segundo, cada lança era real?

Então seria todas as cópias reais também?

A aura tentou banhar cada arma, mas nenhuma respondia ao chamado dos seus dedos. Estavam preenchidas pela ignição do invasor e impediu que a telecinese as afetasse.

Algumas enfincaram, outras atravessaram e começaram a queda livre ao chão distante, rodopiando pelo impacto que receberam.

No final da girada dos braços, o último monstro foi abatido e liquidificado pelo agente loiro.

Era muitos detalhes para prestar atenção. Logo, pode finalmente focar-se totalmente em saciar o desejo de ver sangue que diferia de tom preto das criaturas.

— Você tem muita graça!

Quanto piscou os olhos, havia apenas um invasor no centro da sala sem teto. Era um alvo perfeito.

Perfeito demais.

Xerta foi afastada para trás pela palma de Cortax à distância, deixando a reta livre para seu dedo indicador manobrar e retorcer o estribo restante em sua órbita e acelerar o único vergalhão.

Há! Perfure! — gritou o invasor, que fez um gesto com as mãos envolvidas pela ignição.

Um clarão veio das costas de Cortax.

O estrondo que ressoou feito um trovão o fez revirar-se para trás.

O estribo que encerraria o embate perdeu a aura e, simplesmente, sentiu a real gravidade o puxar para o chão tão fundo.

— Co...

A determinação era devagar demais para reagir. Nada para bloquear, nada para desviar, incapaz de parar o objeto por si só... sem tempo para afastá-la.

O que veio no seu rosto foi o que desejava: um sangue vermelho carmesim.

O que veio no seu rosto não foi o que esperava: ver a vice-chefe ser atravessada pela ponta dourada da lança.

— Xerta!

— Esta aí tá morrendo de rir com sua graça.

A lança havia se controlado no ar, seguindo o gesto do invasor. Uma propulsão sinistra a fez adquirir uma velocidade quase instantânea, tornando-se uma bala longa.

Então, a arma esquisita retornou a pegada do inconveniente ambulante, que riu ao observar a cena.

Cortax voou para mais perto e segurou a mulher nos braços. O buraco na barriga afastou seu olhar, que começou a se rechear de lágrimas em pálpebras trêmulas.

A palma ligeira da mulher o tocou nas bochechas, forçando para que prestasse atenção nas palavras sinceras.

— Acre... Cof... Uh... Acredite no Dourres. A estrela está em tudo, inclusive nas ODSTs. O chefe não vai voltar. Precisa proteger o... o Dourres!

Sangue se revoltava contra as palavras finais da moça, que começava a relaxar o corpo a cada letra.

Blá, blá, blá. A traidora precisa do clichê.

— Seu!

— Cortax. Tem uma... uma guerra para acontecer, o pôr do sol vai aparecer novamente. Tem que destruir aquele cristal!

Balançando os braços, o estranho zoou o momento a uma melancolia de distância. Uma resposta amarga veio quando as lágrimas do agente loiro soltaram uma ofensa que nem mesmo a sua boca pode expressar.

A garganta contraiu e algo foi dito na linguagem corporal: a simples vontade de retirar a vida de alguém.

— A estrela está atrás do Dourres! Querem manipulá-lo para ir ao pôr do... sol, vão usar o corpo dele pra...

— Xerta! Não!

Antes que pudesse deixar as emoções tomarem controle de si, a outra palma da moça o puxou para se atentar novamente.

— E então não se es-esqueça de...

Esquecer do quê?! Xerta! Xerta!

Enfim, as duas palmas perderem forças e despencaram sobre os próprios braços. Instintivamente, Cortax estava planando até poder se manter em pé no que restou do chão do andar.

Colocou os ouvidos no peito da moça e se espantou outra vez. De alguma forma, a expressão desesperada de perder uma pessoa que iria proteger foi uma experiencia inédita.

Olhava e revirava ao redor, sem entender o que fazer. Observou os olhos completamente dilatados e balançou o pescoço, negando o que cada detalhe contava.

— Ela deve estar pensando no demônio azul que podia curá-la, você sabe, o motivo real da Beatrice ter achado uma razão conveniente pra não morrer aqui, he!

Do buraco na barriga, uma pequena fagulha de luz adquiriu forma. Dançou pelo ar como papel ao vento, circulando o corpo de origem e atravessando Cortax.

O agente tentou seguir a luz, e notou que era um destino semelhando das que viu anteriormente.

O pontinho branco desviou de alguns destroços e caminhou até o cristal que o invasor segurava, adentrando sem explicações.

— Bastou a vida dela para o cristal carregar. Menos trabalho pra mim!

As manchas escuras se movimentaram, houve até uma sensação de que algo lá dentro tremia para ser liberto. O cristal se escureceu e ficou completamente escuro, da mesma forma que emergiu aos monstros num líquido perverso.




— Filho da puta. VOU. TE. MATAR!

— Que engraçado, ficou até fofo.

Cortax colocou a mulher no chão e, no passo mais pesado que fez na vida, condenou aquele que centrava em sua frente.

O inconveniente ambulante, segurando o cristal embaixo do braço, puxou de um bolso interno do sobretudo uma outra pedra que brilhava.

Apesar da aparência semelhante, era tão pequena a ponto de caber completamente na palma de sua mão.

Correu para o outro lado da sala, onde havia mais nada além da beirada destruída.

— Minha vez de incomodar acabou, hihi!

Na frente da queda fatal, apontou a pequena pedra para baixo e, num breve segundo, um lampejo em cor marrom banhou sua mão.

Mergulhe.

A eletricidade comum a definição de ignição rodopiou sobre os dedos. Uma energia sem nada em comum com as habilidades do invasor apareceu.

Simplesmente, havia quebrado a pedra ao apenas fechar as mãos. Invés de cacos perigosos ou pontas que o machucariam, cada fragmento brilhou e se tornaram uma ignição.

O agente usou uma investida para acertar um soco no insolente, mas foi desviado pelo ligeiro fato de ter visto o invasor se jogar do andar, lentamente de costas ao inclinar o calcanhar.

Era uma surpresa atrás da outra. Cortax não se lembrava da última vez que chegou a ver inexplicáveis em tanta sequência no mesmo dia.

Quando atentou a direção da queda do invasor, havia algo que desafiava as leis que davam sentido mínimo a natureza.

Uma espécie de fumaça, espelho, um holograma, uma imensa televisão, um holofote, um... um buraco no próprio ar.

Lá mergulhou o invasor, na sopa de algo que faltava definições concretas, atravessou aquilo e aterrizou num chão que tinha origens diferentes da ODST.

— Um portal?! Foda-se! Não vai fugir de mim.

Voou e permaneceu na perseguição.

Quando atravessou a abertura mística, o clima estava completamente diferente, aquela passagem misteriosa no ar seguia minimamente as perspectivas. Caiu no chão de outro lugar, pelo contrário do que seria da ODST.

Invés de quase um quilômetro de queda, aquele tipo de fenda o trouxe para um lugar que estava apenas alguns metros do chão.

Ao tocar na terra do desconhecido, havia apenas um escuro bosque, envolvido por árvores e pedras tão grossas, que impediam enxergar qualquer horizonte.

Tentou procurar pelo assassino em alguma direção, acabou por vê-lo diretamente atrás dele, um pouco distante e com o sorriso estampado.

— Desgraçado.

— Acho melhor como “engraçado”. — Girando a lança, o desconhecido fez o objeto se contorcer para transformar-se num mero pincel.

Antes que a aura pudesse apanhar qualquer arma natural, as folhas sob seus pés começaram a fazer barulho.

Ferragens começaram a subir, num piscar de olhos, uma jaula complemente branca o prendeu por dentro ao se montar automaticamente.

Suas presas começaram a aparecer e tentou forçar as barras pálidas para sair de lá.

E nada aconteceu.

Tentou continuar a movimentar uma pedra no lado de fora para enterrar o invasor.

E nada aconteceu.

Tudo que aconteceu foi o apagar da aura e o resplandecer de seus silos e olhos.

Junto disso, um sono esquisito que pesavam as pálpebras.

Antes de cair no piso metálico, tentou atravessar com o braço o espaço entre as barras, embora alguma força estranha o impedisse de ultrapassar até mesmo os pequenos vãos.

Hhahahha! Que urso grande eu peguei, hein!

— Mais rápido que pensei, Vulax.

O agente despencou sobre o peso exponencial que o cérebro se tornou incapaz de suportar. A fadiga anormal deixou sua cabeça inclinada no chão, o que permitiu apenas escutar e ver os pés do que cercava.

— E Amanda acha que essezinho aí é o mais forte, é engraçado da parte dela, haha! Teria sido diferente se o metidinhominhoinho a robô estivesse lá. Ele caiu direitinho.

Junto aos sapatos estranhos do invasor, um par de pés pálidos e delicados aproximou da jaula.

Hanf... — Suspirou. — Enerc pediu para confiar o receptáculo a ele. Tá bem óbvio que está tramando algo a mais fora disso. Verei isto depois de encerramos com o nosso cristal.

Além da conversa com teor ácido, pode ver o cristal que Xerta pediu para destruir logo na sua frente. Tentou levantar a cabeça para identificar os donos do diálogo, porém, cedeu imediatamente.

— Para de brincar. Somente o cristal veio no carregamento para o Primeiro Setor?

— Sim, senhora.

— Que seja. Passe-o para cá, o chefe de lá está morto de qualquer forma, não fará falta.

E assim, os dois pares de pés se afastaram ao caminharem juntos para o escuro entre as árvores.

Um barulho de passos que não coincidiu com o que via tocou os ouvidos. E não foi o único que percebeu isto, já que os pés pálidos pararam a se virar para a jaula.

— Pegue o garotão ali. Será perfeito com ele sobre controle.

A palidez se afastou definitivamente, realçando os dedos inquietos numa irritação e falta de paciência.

Por fim, um par misterioso apareceu. A pele escura era completamente diferente dos pares anteriores. Mais que isso, pode ver os joelhos se agacharem para cochichar algo:

— Me desculpe. A hora certa de te ajudar ainda virá.

Incapaz de entender o proceder daquela noite, o agente loiro, que devia ser a última linha de defesa do terceiro nível, falhou em sua missão e foi capturado em um lugar desconhecido.

Sobre o perímetro arraigado pelo caos no Primeiro Setor, o lado de fora da ODST estava intacto, sem conhecer o terror que tocou dentro daquela área.

Tudo que sobrou deste evento estava para ser controlado pelos soldados e cientistas que ainda continham o vigor para acalmar o restante dentro da instalação.

Somente uma pessoa, também inexplicavelmente, conseguiu absorver essa comoção em uma mordida no lábio.

Dentro do carro e numa viagem de última hora, sendo recebida pelo pôr do sol há alguns milhares de quilômetros de distância do Primeiro Setor, estava a pequena menina que contraiu a expressão tensa que divergia de um corpo de criança.

— Péssimo sinal — sussurrou Nirda, abraçando os próprios joelhos, encarando o lado de fora da janela.

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