Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Volume 1 – Um Sentimento Esquisito

Capítulo 16: Morro da Lei (Parte 1)


 

Em algum lugar do Primeiro Setor 

A noite já havia chegado sobre Dourres, que estava sentado em cima do prédio do terceiro nível. Apesar das luzes por toda a instalação imitarem a sensação ensolarada do dia, o encantador brilho das estrelas cativaram o olhar estático e misterioso do líder.  

Esse comportamento fez os funcionários que estavam ali por perto perceberem o homem sentado no lado de fora como se fosse um robusto enfeite de telhado. Tal imagem do filho do chefe tornou as perguntas em reações automáticas: 

— Ele tá bem?  

— O que aconteceu agora? 

— A gente devia fazer alguma coisa? 

Passavam em volta, questionando. Somente deram os ombros e ignoraram de vez, prosseguindo com as rondas. A concentração que Dourres tinha era invejável. Permanecer quieto por muito tempo era uma habilidade única de alguém que tinha... muito tempo. 

— Morro da lei, hum...  

Junto ao delicado toque que formava o perímetro da máscara, formulou com a boca as palavras que ouviu do sujeito no beco que foi seguido por Cortax. A concentração que condensou no momento tinha foco para o dia que o tal mandante ia se apresentar, o mesmo dia do alívio de inúmeras caminhadas. 

Abaixou o rosto e… suspirou? Os olhos fechados destacaram uma ansiedade anormal no rosto do homem-estátua. A máscara tentou disfarçar a entonação ligeiramente preocupada, mas serviu para abafar o ar que saiu. No meio da visão, um par de pés saudou antes de qualquer palavra com uma autenticidade tingida de roxa, um uniforme militar colorido e digno de chamar atenção. 

— Pensativo perto da missão? Não está a reconsiderar, correto? 

Os ruídos penetraram os ouvidos despreparados, Dourres retomou o agir inválido de emoções e levantou o rosto até encontrar a origem da invasão do seu foco. As curvas belas destacaram a oposição da postura em posição de sentido. O questionamento se revelou pertencer à mulher muito alta, com um cabelo que lembrava vinho, que tinha mechas que ondulavam o rosto. 

Mesmo com a aparição repentina perto do líder do terceiro nível, demonstrou uma expressão tanto quanto parecida: olhos fixos, respiração imperceptível, coluna reta. Dourres balançou a cabeça, negou enquanto contraiu de volta o relaxar recente. 

— Por um mísero segundo, imaginei que faltaria, Still. Esta operação possui o viés de precaução. Hm… — Suspirou. — Confesso que também imaginei que Xerta iria te assombrar se faltasse.  

A moça se sentou ao lado quando uma ventania passageira fez seus cabelos voarem. Fitou os olhos serenos e permaneceu, não demonstrou nem uma piscada como forma de reação. Apenas... observava de perto as estrelas recrutarem a atenção sem parar do dono da máscara. 

— O que presume? 

— Equipamentos estranhos estão aparecendo nessa região, levando em conta nenhum evento que justifique isso, seria racional presumir situações piores do que apenas o oportunismo. 

Extremamente direto. As respostas vinham na velocidade que não esperava a pergunta terminar. Still ficou desconfortável. Apertou os dedos e pôs a atenção nas mesmas estrelas, tentou imitar o rapaz para compreendê-lo melhor. 

E não conseguiu. No telhado, o vento soprou outra vez, transmitia a pressão da mudança do clima vazio de uma noite de céu limpo. Levantou-se e permaneceu em pé logo a frente de Dourres; tampando a vista da estrela que brilhava mais intensamente enquanto o fez levantar a sobrancelha em dúvida. 

— Possuímos outro esquadrão do nível 1 preparado para o reconhecimento ao seu comando nesta operação, senhor. Estão em posição no portão nordeste da instalação, senhor. 

Still, uma mulher alta que fez seu superior levantar o queixo para ver seu rosto, era a única que conseguia converter os uns e zeros da frieza de Dourres em ações dignas de uma máquina de carne, embora que seu comportamento precise ser igual ao dele; muito direta e seca. 

— Descansar. Qual a necessidade di… 

— Sei que isso é importante para o senhor, estou ciente de tudo e, assim como o resto de nós, ter você aqui é prioridade. Aliás, o carro é só para fortalecer o fator “presença”. 

É. Verdade, sim. A última frase criou um lampejo que fez Dourres se levantar de uma vez, surpreso. O momento em que usou a energia pela primeira vez. Barulhos de borracha, que deslizavam sobre o asfalto, ecoavam na memória feito imagens recentes. 

— Xerta me convenceu a nada. Finquei minha vontade desde antes de nossa conversa. 

Distraído pelas lembranças, as luzes da ODST reviraram o consciente para transformar em faróis do carro, um veículo que estava ativo de sua energia. Atrás do movimento impetuoso, seu eu criança ficava mais calmo ao presenciar o resultado da colisão.

【 Treze anos atrás】 

Como o filho do chefe, foi treinado desde sempre para se acostumar com o potencial da sua energia. Jogado numa vida que assimilou sua energia ao um “cotidiano” que forçou a dizer que foi normal, independente se gritasse pelo uso constante que fazia sangue sair por olhos e narizes. 

— Você é a arma da nossa nação! Erga-se, Dourres Epimoni! — Cientistas levantavam pela camisa o menino sem forças no chão. 

A falta de emoções não vinha de uma personalidade fechada, vinham de uma escolha, a escolha da sobrevivência. Demonstrar a sua dor era demonstrar sua fraqueza. Desta forma, dava valor a todos os colegas que compartilhavam o existir em meio a sua presença — ao menos, os colegas que entendiam sua dor. Não os que o maltratavam em prol de um bem maior que não incluía seu próprio bem. 

Beatrice, Cortax e, por fim, Still. O grupo, treinado para assumir a geração do esquadrão do terceiro nível ficavam sempre horrorizados pela diferença de pressão ao terminarem os horários de treinamento. Num ambiente de laboratórios, atividades como identificar a energia de cada uma, entender o que era uma ignição foi tratado delicadamente com o apoio dos cientistas, que substituíam lentamente as figuras dos pais que se importavam com uma boa educação, embora seja uma educação voltada a usar habilidades sobrenaturais. 

Porém, a uma sala preparada com o mais caro revestimento acústico de distância, a discrepância do tratamento se traduzia a berros e batidas contra o chão em dor. 

Pouco a pouco, os cientistas quase matavam uma criança todos os dias, refinavam a energia com o uso intensivo de larga escala, obrigando ao pequeno menino a se conectar com cada dispositivo da instalação... ao mesmo tempo. 

Num dia comum de sábado, as crianças foram levadas para o lado de fora da ODST. Invés de um treinamento especial, era um simples passeio pela cidade principal do Primeiro Setor, pelo menos, para as três crianças agrupadas mais à frente. 

Rodeavam pelas praças, e sempre havia alguém mais atrás, separado do grupo e acompanhando com olhos atormentados que encaravam cada canto. 

Passinhos correram na direção do solitário e, antes de reagir, uma pequena mão macia o puxou para perto das outras crianças. A dona de um vestido roxo, chamou a atenção do futuro líder e o forçou a interagir com os futuros amigos. 

— Você nunca falou com a gente, vamos! Sou a Still, esse aqui é o Cortax e a encolhida atrás dele é a Beatrice. 

— Oiê! 

— Ele me dá arrepios.  

— Relaxa, Bia! 

— Sou o Dourres — sussurrou. 

E Dourres nada disse depois. E nada disse pelo resto do passeio. Na verdade, não conseguia ainda traduzir o que dizer se não fosse por gritos ou berros, pois estava tão fascinado com o fato de a mão estendida ter um pingo de carinho, que o passeio ficou gravado nas memórias. 

A rota que faziam da ODST, lojas e praça se tornou a rotina de suas caminhadas até hoje. 

— Crianças, vamos voltar! Já está escurecendo — gritou uma mulher de farda. 

— Num quero volta! E você, Dourres? Vou considerar essa cara como um... poste? 

Still tentou chamar a atenção, negando com vigor o chamado da responsável. No entanto, teve a direção do olhar trancada na mesma direção que Dourres tanto olhava boquiaberto. 

Com a noite se aproximando, os postes acendiam um a um para iluminar as ruas, porém, um deles decidiu assim não fazer, piscando sem parar. 

A pequena mão saiu do bolso da calça e tocou milimetricamente no concreto, uma faísca apareceu e a palavra surgiu na hora: 

Permissão — sussurrou. 

Haha! Você consertou! Como fez isso? 

— Consigo... me conectar com qualquer eletrônico e dar ordens para que obedeçam. 

Uau! Tendi nada que você falou! 

Hân?! Ladrão! peguem o ladrão! Polícia! 

Logo atrás dos pequenos, um rapaz clamou por ajuda ao ter sua mochilada levada por um encapuzado, que tentava correr em direção aos becos do outro lado da praça. Os militares, que acompanhavam o passeio, estavam longe demais para alcançá-lo. 

— Permissão! 

— Dourres? 

As pessoas ao redor, espantadas pelo ato ilegal, tentaram ajudar ao atrapalhar o assaltante, mas o rapaz desviava com destreza cada golpe, pedra ou tentativa de agarrá-lo. 

Um pequeno gelo congelou a espinha das três crianças, uma varredura de luz cobriu a praça e somente eles puderam perceber a origem — o menino perto do poste. 

A luz passou por cada centímetro e se concentrou num único ponto: um carro estacionado perto do beco que o ladrão almejava. O motor silencioso despertou e os faróis altos ligaram. 

Assim, um sorriso crescia lentamente, de acordo com a aceleração do veículo. 

— Meu Deus! 

— Ele foi... 

Pouco antes de chegar à rota de fuga, o encapuzado foi arremessado para o outro lado da pista. Um carro autônomo, à primeira vista, havia convenientemente parado de funcionar e começou disparar em linha reta, atingindo o mal feitor. 

— Uma ambulância! Mesmo que seja pra um traste desse... — gritou a de farda. 

— Dourres... 

Conforme o ocorrido, de toda a multidão reunida pelo alvoroço, as crianças eram as únicas a olhar para o lado oposto, viam, atormentadas, o menino que matou um ladrão... sorrindo de orelha a orelha. 

 

Com o barulho do alarme do carro reverberando na mente, Dourres recuperou o raciocínio num passo pesado e retomou a visão da instalação chique e iluminada. Na luz que se diluía sob o ajustar das pupilas, Still apareceu estática também. 

— E os preparativos? Esqueci de dizer que presumo que precisamos ir logo. 

— Eu fico feliz que queira falar comigo. E, como disse, já estão a postos no portão. Agora é minha vez de presumir que o senhor estatua viajou nas lembranças. — Still sorriu gentilmente e apontou para a entrada.  

No lugar alto onde estavam, grande parte da ODST estava à mercê da vista, a moça direcionou a conversa ao portão enorme que tinha no centro à frente. Era o grande momento que Dourres queria.  

— Se comentar com o Cortax e a Beatrice... 

— Não vou, senhor. 

Hm. 

Perto do local mencionado, notaram mais quatro soldados com coletes, armas bem grandes e uma van preta que se disfarçava com a paisagem escura.  

Dourres fitou cada soldado, que posaram suas armas em resposta ao usuário de energia. Estalou a língua com um “eles servem”. Tomou o volante, e o resto se aprontou para a partida. 

O caminho era deturbado. Ao redor da cidade, havia morros que desafiavam as noções espaciais de altura, mas um se destacava mais ao longe. A estrada, ausente de pavimentação, levantava poeira e destacava os feixes de luz que tinha como origem a música no horizonte. Still fechou o rosto em completo desgosto. 

Soldados saíram a postos. Estavam longe do local que deixava a estrutura feito uma gigantesca árvore-de-natal infestada de formigas. Um espaço de festas que cobria a área inteira, dava para atravessar os dois lados do morro somente por dentro do lugar. 

Tinha muitas pessoas no lado de fora com inúmeros veículos que exalavam a riqueza e outros que transmitiam uma criatividade de artistas. Uma exposição mergulhada no mar de pessoas.  

O tipo de pessoa que frequentavam era… questionável. Bebidas e pessoas loucas, um descaso que fez Dourres mexer as duas sobrancelhas, enojado. Podia apenas ser uma noite comum, música alta e pessoas felizes da maneira completamente insegura. 

Enfim, desceram do carro os dois importantes. Still ajeitou sua farda e puxou golas altas que cobriam toda a metade para baixo do rosto. A máscara de Dourres foi alocada e traduziu algumas expressões de nojo, uma boca aberta que deixava algo feito vomito sair numa imagem fofa; embora estar literalmente quieto e calmo agora.  

Como parte do terceiro nível, o protocolo de reduzir a identidade podia ser da maneira que o integrante quisesse. Não importa o que sugerissem: máscaras, capacetes, roupas especiais ou dispositivos para camuflar a aparência; não havia ninguém com culhões para ousaria impor tal detalhe naquele esquadrão. Afinal, não eram mais crianças controladas. 

"Não irei sair daqui sem o que quero... Um reconhecimento com presença", pensou Dourres. 

— Atenção! 

O líder revirou para os soldados, que se assustaram com velocidade e fizeram alguns homens quase deixarem as armas caírem. 

— Como comandante desta operação, exijo que os quatro fiquem aqui. Iremos entrar somente nós dois e vamos averiguar o local, retornando quando finalizarmos.  Façam o que for necessário para manter nossa presença aqui despercebida. 

Se aproximou rapidamente, estabeleceu a ordem na distância de um passo dos quatro. Responderam com a formação de sentido assim que tremeram. Logo, o líder voltou em direção ao objetivo, prosseguindo a pé.  

Enquanto caminhavam, a ignição de Still se manifestou, a eletricidade aflorou de seus olhos até a boca, onde sibilou o comando ao colocar os dedos no pescoço. 

Soa. 

Sucintamente, Dourres pode ouvi-la perfeitamente. O vibrar grave das caixas de som não fazia o efeito esperado, o ensurdecedor barulho de festa calorosa reduziu a um som ambiente de sussurros. Um toque macio no ombro de Dourres fez com que um roxo azulado o envolvesse ao abraçar as orelhas e caminhou até a garganta. 

— Como nos velhos tempos— continuou Stil, aliviada. 

Dourres relaxou os ombros, o desprezo e nojo dos dois foi banido com a energia de sua colega, que sorria tranquila. Por cima dos ouvidos dos dois, uma ligeira luz pairava, ondas sonoras eram transmitidas diretamente e davam clareza perfeita às palavras dela — de certa forma, tinham um abafador de som quase invisível. 

— Ainda gosta da “presença”? — perguntou Dourres. 

A voz ecoou numa reta até o outro ponto de luz — formaram um sinal de rádio que filtrava todo o som que não fosse a voz deles.  

Se aproximando do pátio principal da festa, a densidade de pessoas aumentava a cada metro. Antes que a satisfação da sua colega se mostrasse, sentiu um impacto desagradável que interrompeu o assentir sincero. 

Alguém esbarrou sem piedade na moça, que fechou o rosto pela falta de educação. Afinal, era compreensível, perceberam um certo padrão nas pessoas que estavam "festejando". Algumas, que estavam perto de uma entrada do salão, tinham a tal tatuagem de estrelas comuns. 

Não era o famoso símbolo da organização criminosa, mas foi o suficiente para que reparassem o padrão incomum. 

Dourres franziu o cenho com a causalidade da situação. O peso daquela marca foi banalizado a ponto de sua máscara retorcer na imagem de dentes firmes de raiva — as expressões digitais traziam com excelência o que não podia deixar claro: ódio. 

Mais passos adiante, maior o valor do gradiente de desavisados. Um horário de pico, transporte lotado, uma fila pra atendimento. Faltavam exemplos para decifrar a condição anormal de pessoas naquele local. 

Entravam do ponto central do Morro da Lei, identificado pelo letreiro que piscava em vermelho. Ao atravessarem uma porta reforçada, que lembrava a de abrigos projetados contra catástrofes, o local abafado revelou a boate que estendia pelo horizonte. 

Still sentiu o nariz coçar. Atrás dela, um rapaz de óculos escuros a seguia. O cabelo bagunçado e cigarro na boca trazia tanta suspeita que a certeza foi clara. Ela revirou os olhos ao notar o perseguidor, que tentava chegar mais perto dela enquanto atravessava as pessoas dançando. 

— Por um acaso, pensa no mesmo que eu? 

— Sempre — respondeu Dourres, após virar-se para trás. 

A atenção do sujeito estava completamente presa à moça, empurrava homens e mulheres com brutalidade feito obstáculos de um percurso olímpico. Um uniforme militar e pupilas que brilhavam tanto como as luzes da festa — a energia ativa, que mantinha a conexão com Dourres, trouxe a intenção vil do desconhecido. 

— Quer que eu faça algo diferente, senhor? — perguntou Still, desacelerando o passo 

— Definitivamente não. — Dourres colocou suas mãos no bolso, sua máscara se apagou no momento que examinava o teto acima. 

Still não insistiu, fitou diretamente o perseguidor e aguardou até ele parar cara a cara. O rosto se transfigurou ao normal, um robô sem emoções; que não convertia impulsos elétricos em sentimentos se o usuário perto não fosse o líder de esquadrão. 

O rapaz a examinou de cima a baixo, encarou as belas curvas e fez as veias de Still saltarem. A jovem moça estava como uma estátua fria que se continha para dar um bote. 

— Que tal me dizer o segredo desses olhos, hein? Nova marca de lentes? — indagou o homem. 

Chegou com o rosto mais perto dela, tentava impor superioridade desajeitada. Still só apertou os punhos com muita força, seu olhar encarava o homem num tom de uma alma penada que cultuava a vítima; veias espalhavam feito vírus pelos braços.  

Dourres varria o teto com a vista, o acelerar parou e abaixou o corpo. Sob a multidão que o circulava, o dedo tocou o chão num clarão amarelo.  

— Aqui é perfeito. Permissão. 

Energia fluiu antes do pensamento virar palavras, as lâmpadas estouraram juntas e a música se tornou o verdadeiro silêncio. Um breu profundo deixou as pessoas confusas e… na frente do rapaz assustado, o brilho rosa dos olhos de Still o deixou, finalmente, espantado. 

Perturbe. — Os lábios arquearam e um vazio agoniante instalou como uma explosão. 

As pessoas sentiram um peso profundo no peito, o som perfurante foi abafado constantemente. E o resto também foi. O ambiente ficou abafado e ausente de qualquer som. O escuro não revelava profundidade e não tinha barulho. A festa clara e barulhenta virou o posto da definição num piscar de olhos.  

Confusão instalou nos festejantes, que suas silhuetas estavam distorças no local atingido por duas energias. 

Entretanto, num verberar sem precedência, o silêncio se tornou o desejável. Um zumbido recebeu o lugar e atormentou a balada. Somente os dois terceiros níveis permaneciam com o equilíbrio estável perante o caos mudo e escuro ao redor.  

Para terminar a varredura, a energia de Dourres se concentrou e dissipou na porta reforçada, a abrindo por inteiro sozinha. Casualmente, somente a lâmpada acima dele estava intacta — o revelando como uma atração principal de um palco —, trouxe toda a comoção para seu cabelo de cor prata. E mais casualmente ainda, puxou uma casual pistola e deu três tiros casuais em direção ao teto acima. 

— Quem for inocente, não vai pensar duas vezes — disse Dourres numa olhadela para Still. 

Os convidados corriam para fora do estabelecimento, criaram um pânico que alertou o lado de fora da boate. Mas somente por um momento, nada havia partido para fora de fato, a não ser a falta de explicação aos tais inocentes para as pessoas no lado de fora. Música e tumulto ainda estavam intactos. 

Apenas dentro da boate a luz se apagou, o som cessou, tiros apareceram e a porta abriu numa conveniente rota de fuga. Aqueles que foram lá fora apenas se passaram por loucos enquanto o resto negava qualquer evento perigoso. 

A mulher abriu uma área de isolamento, tudo que fosse propagado dentro dela não iria sair. Ausência de som momentânea e o zumbido ensurdecedor eram efeitos de quem estava dentro do alcance. O outro causou um apagão somente na parte inferior do salão interno, uma interferência em qualquer eletrônico. 

Numa sincronia de dois agentes, as pessoas nem perceberam quando a entrada reforçada fechou. A evacuação sem motivos certos deixou o ar leve. Os terceiros níveis se entreolharam, e a máscara sorriu de forma descarada no homem-estatua.  

Quando o breu repentino prevaleceu e o silêncio gritante demonstraram presentes, somente mais sete estavam em pé, inclusive o homem anterior, que estava a se levantar do chão, desorientado. 

O sujeito se assustava com dois pares de olhares brilhantes que o encaravam de forma ameaçadora. O cigarro apagou no momento que o holofote improvisado deixou a atração de prata a derivada do escuro novamente.  

— QUE CARALHOS SÃO…  

Desespero instaurou ao puxar uma arma por baixa da blusa, mas um soco de Still foi lançado na propulsão de um foguete, os dentes da vítima voavam enquanto foi projetado contra a parede. O suspeito afundou na alvenaria e enraizou rachados do impacto. 

Com os olhos que pareciam faróis em cor rosa, Still se virou para seu chefe com uma expressão obediente e um joinha, satisfeita por aliviar sua raiva. O outro assentiu, fez um joinha calmo, mesmo quando seis figuras estranhas observavam o ato sobrenatural logo atrás dele, que pegaram armas e facas para contra-atacar. 

Não havia presença, não havia som e não havia esperança quando começaram a ser varridos por uma mulher que era mais rápida do que poderiam ver. As pupilas piscavam e deixavam sua trajetória incerta, transformou-se em vultos na escuridão. 

Dourres estalou os dedos, controlava os pequenos holofotes ao iluminar o caminho de sua colega que dançava em formas de ataque. As empunhaduras revelaram adagas transparentes que chiavam pelo ar. Os golpes velozes fizeram as lâmina incertas atravessar as vítimas. Still cortou os alvos e nada mais aconteceu, eles caíram com bocas cheias de espuma e ouvidos que escorriam sangue. 

As lâminas não haviam cortado a carne. Still apenas deixou a ignição esvair e engolir as armas até desaparecerem de vista. As adagas de tornaram apenas o reverberar do vento — armas que criou apenas manipulando ondas sonoras e as segurando em mãos. 



Após ter abatido os tais culpados, virou mais uma vez para Dourres como esperasse algum tipo de resposta — ainda estava com a expressão fria, ajeitou as mechas onduladas e permaneceu em sentido. Dourres formou “ok” com os dedos, e a máscara sorriu de orelha a orelha, a combinação fez Still devolver de satisfação. 

O líder esticou os braços e balançou os ombros. Com o amarelo sobre o corpo, bateu duas palmas que varreu o salão novamente. Caixas de som voltaram a tocar música, luzes coloridas piscaram, a porta abriu e o ambiente de boate retornou. Still somente relaxou a postura, o zumbido retomou o local de maneira contrário, retrocedeu os efeitos e deixou o peso abafado ir embora. 

Dourres chamou pela colega e seguiu para mais a fundo. Logo atrás, a porta aberta trouxe aos loucos a festa que tanto queriam em estado perfeito.  

Havia uma cortina em volta do balcão do DJ, o líder passou a mão e deixou o enorme corredor a vista. 

Sua colega passou primeiro por baixo do seu braço, não pode evitar de ver as pessoas retornarem as danças esquisitas como se nada havia realmente acontecido. "Animais", pensou. Avançaram sem cerimónia até um cômodo simples que lembrava uma sala de estar. 

A mulher dava uma boa observada no local, mas hesitou por um único segundo quando se aproximou de uma parede que não havia nenhum móvel. Algo muito simples que a instigou a apoiar a orelha na parede.  

Humrum… — chamou a atenção do seu colega, intrigada. 

Dourres chegou mais perto da parede e sentiu a mesma dúvida, colocou a mão sobre o queixo e analisou brevemente. E assim entendeu de imediato. Seus olhos brilhavam ligeiramente, deu dois passos para trás enquanto dizia: 

— Afaste. 

Ergueu o dedo indicador, onde se podia ouvir estática, a ignição surgiu, e triscou delicadamente seu dedo na parede. O que estava escondido na sala era uma enorme escada em espiral que se estendia por algum mecanismo de ativação. 

Completamente inútil para o líder. Antes que colocassem um passo à frente, foi interrompido quando Still colocou o braço na frente.  

Ecoa. — Seus ouvidos tinham uma luz baixa. 

A moça aguçou os sentidos, pode ouvir murmúrios de vozes diversas, especialmente uma grossa e rouca de um homem que estava muito mais distante. Mostrou um joinha para o colega e foi respondia com outro. Prosseguiram a descer as escadas com extrema com cautela. 

— Quantos? — perguntou Dourres ao atentar a cada detalhe do corredor.  

— Cinco. 

Um lugar completamente diferente, tudo ali se assemelhava a um hospício abandonado, com corredores de tinta branca descascada e luzes que mal se aguentavam acesas. 


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