Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Cidade Flutuante – Um Sentimento Esquisito

Capítulo 15: Sem Volta

Réviz deixou os dedos empurrarem contra sua testa, negava o fato que contorcia o olhar frustrado para aceitar. O jovem, ao notar o desconforto do pai, não pode evitar o mesmo, massageou a cabeça e deixou o desgosto da dor se esvair aos poucos.

As imagens que viu não eram estranhas, porém sentia um tratar diferente delas. O tom assustado do último vislumbre ainda permanecia nas memórias, ter visto um rapaz com óculos antigos de aviação era, com toda certeza, algo a mais.

E depois, naquele momento, era o mero observador. Via imagens e nada mais, a mulher de cabelos vermelhos, não reagia, não interagia. Seu pai também a viu, caso devesse tratar com cautela e exatidão, tal afirmação suportava a suposição de mais pessoas serem capazes. 

Aquela moça não o viu, aquele rapaz o viu; qual o critério? Não havia mais o que fazer além de levantar possibilidades surreais, que cada vez mais se tornavam normais. Com piscadas rápidas, Mark retomou a atenção roubada pela dor. Na mão do seu pai, a ignição da energia se relaxava de um curto à brilhos pequenos.

— Essa energia... por que... eu? Como ninguém sabe... disto? 

Num desejo da resposta direta, se levantou na esperava de algo que podia entender de fato antes de imaginar outras possibilidades que o deixariam ainda mais preocupado. Os olhos mais atentos, postura firme e uma respiração agitada. Mark estava retornando o comportamento de dias antes do acidente.

Contudo, manter um pensamento que busque sempre a causa dos eventos para se acomodar na esperança da solução era difícil. Tomou esta causa, recuperou as vontades e assumiu as chamas. A cor de sua blusa não fugia desse sentimento, que trazia o acidente, a feridade Will, a adoção, o carinho da irmã, as crianças, suas antigas mães… e a si mesmo; toda sua história.

A ignorância sumiu, Mark proclamou, no apertar de punhos, a dedicação que o tornou são. Mesmo que não aceite essas coisas, se libertaria do diagnóstico de louco.

Réviz não pode notar o conflito interno do filho. Insatisfação o definia, endireitou a postura e pigarreou. Viu o olhar confiante na sua frente e não deixou o sorriso ser contido. O terceiro nível apreciava a dedicação mútua. 

 — Quanto a promessa…

Tendo uma pausa no meio de sua fala, ele olhou de cima a baixo para Mark, então reconheceu um novamente um jovem estudante com um poder impontante, digno de ser uma ajuda formidável. Bastava que ele provasse, e Réviz faria de tudo para que seu objetivo fosse concluído.

— Sua vida tem outro significado. Permaneça firme, então. 

A sucessão das informações foi um impacto profundo. Escutar de outra pessoa soava muito diferente de análise da sua própria persona. Engoliu o seco e assentiu lentamente.

— Este poder está nos níveis… “quase divinos”. Enfim, exijo um acordo de cooperação entre nós. Quer respostas. Pois quero também.

— Certo. Imagino que existem condições…

— Busco pessoas que podem me ajudar numa operação de rastreio. Você é objeto direto desta investigação. Entenda-me corretamente. — Réviz deu uma olhadela para a casa mais ao longe, indicou a ordem de sua lógica. — Adotei os três para protegê-los, mas apenas em prol do rastreio.

— Espe… Tá… Hmm, tá, entendi.

Seu corpo reagiu por impulso na chance de ter sido chamado sozinho, sua emoção gritou pela promessa de manter os irmãos juntos por toda a vida. Sua razão negou com todas as forças, o caminho era deturbado, arrasado e incerto. É injusto pensar somente nas suas vontades, devia priorizar o bem-estar deles… Mal podia priorizar o próprio.

Abaixou a cabeça levemente e deixou as explicações correrem:

— Há pessoas com intenções ruins para encontrá-lo cedo ou tarde. E minha intenção é pura oportunista. E sua ligeira existência é um perigo para todos próximos. Caso não coopere comigo, todos vocês morreram em breve.

Mark levantou o queixo, perplexo, a indicação não demonstrava tons de ameaça, era um aviso sem piedade. A frieza na abordagem do seu pai o fez olhar também para a casa, significava que o rumo de seus irmãos estava completamente sobre as consequências de seus atos

Réviz afinou o olhar, examinou o jovem e esperou uma resposta impulsiva de emoções novamente. Entretanto, se surpreendeu quando o viu retomar como uma conversa normal:

— Acho que não tem opção melhor.

— Ha… Ótimo. Formalizando: pelo bem dos três, ajude-me. Considere minha proteção a retorica de nossa mesma missão.

Retirou o pouco de grama preso as roupas e prosseguiu a retorno da casa. Mark sentiu um pouco mais próximo dele, mas ainda tinha receio guardado. Hesitou em segui-lo, mas logo aterrissou o passo atrás.

— Existem detalhes que ficaram claros. Poucas pessoas selecionadas da rede militar tem informação sobre a energia. Ela pode se manifestar de qualquer forma. Exige do físico e mental, desgasta rápido com a falta de prática; mais poder, mais consumo. De maneira mais informal: uma simples atividade física. Sem o esforço mental, a carne ruirá. Sem o esforço da carne, o mental explodirá. 

— Está me dizendo para treinar? Só fiz aquilo uma vez! Sinto até como se fosse outra pessoa que tivesse feito!

Réviz sentiu uma coceira estranha. Saciou o instinto e tentou compreender o filho adotivo. Era só uma forma estranha de explicar sua perspectiva durante o evento — pelo menos na hora.

— Se vira. — O tom seco fez Mark se irritar — Ninguém o ensinou a respirar quando nasceu? 

Uma piada? O adulto tão misterioso começou a ficar descontraído de repente. Mark coçou a cabeça, tentou entender da mesma maneira que ele. Fez o possível para deixar os nervos aflorarem só para dentro. 

Havia muitos metros da casa, os domínios da sua residência podia ser comparado a de uma fazenda inteira, era fácil confundir a imensidão do verde com a profundidade do mar no horizonte, como se fosse uma extensão infinita. O jovem respirou fundo e colocou as mãos no bolso da blusa, o som monótono de passos em grama apenas serviu como catalisador dos receios desta decisão.

— Desta vez, peço humildemente: não compartilhe absolutamente nada sem minha permissão. Minha energia é ótima para extração de informações, seria um desperdício demonstrar o potencial da destruição delas.

— Olha, beleza, quer manter segredo, tá bom, maravilha. Mas precisa de ameaças? Afinal, tem as outras ODSTs, não é? Serei seu menor problema aqui.

— Já conhece as execuções feitas no passado. Suspeitos de espionagem eram capturados o tempo todo. Digo isso porque, caso algo aconteça, não posso te proteger de todos.

— Então…

Réviz se virou de costas e interrompeu o caminho de Mark, que resfolegou pelo movimento instantâneo. A seriedade da abordagem deixou claro que os perigos da sua decisão era mais do que chegou a cogitar no início.

— Mark, o que aconteceu com o Will pode acontecer de novo. Não somos os únicos que a usam. Terá que usá-la, seja para salvar outras pessoas... ou a você. Vou falar com as empregadas sobre a viagem, diga aos seus irmãos e peça para eles arrumarem suas coisas.

—Ué, pra onde? Acabamos de nos mudar pra cá. 

— Fica mais fácil de atuar se não saber. Precisa manter as aparências.

A conversa daquela manhã concluiu. Prosseguiram o caminho de volta como a convicção de aliados, que não tinham uma fagulha de sinergia, eram apenas derivados da esperança e receios. Uma razão que os uniria ao futuro escuro pela frente. 

Já que, até agora, podia acreditar que seu maior aliado podia estar ainda no outro lado do mundo.

Will despertava vagarosamente em sua cama, o que fez levantar de uma vez quando caiu dos braços da coberta enquanto espreguiçava. 

Levantou pelo o reflexo do tombo e com o cabelo ainda bagunçado, olhou ao redor e, de cara, percebeu a ausência de seu irmão na cama ao lado. As roupas amassadas destacou a aura desajeitada e simples. Deu um cafuné protetor na irmã e foi direto ao espelho para pentear o caos na cabeça. Pegou a escova de dente e abriu a porta.

— Dia, ainda tá dormindo?

— Como assim?! São seis e trita e sete e quarenta e nove segundos. Você levantou antes de mim!

Era bom com a percepção do tempo, bastava um ligeiro olhar ao céu para seu incrível e preciso relógio biológico pudesse traduzir a luz em dígitos numéricos. Mark levou a mão para trás da cabeça e sorriu. Will soltou um sorriso pequeno, mas logo em seguida percebeu as calças e blusa um pouco sujas de terra em seu irmão.

— Aconteceu alguma coisa? — Apontou para as roupas.

— Na-não! Eu só estava conversando um pouco com Réviz no jardim lá na frente — Balançou os braços.

— Upandando confidant logo cedo, tendi, tendi.

A preocupação de Will sumiu em um instante do mesmo jeito que surgiu — os bombardeios de preocupação e alivio o podiam converter num bipolar. Mark inclinou o corpo para ver sua irmã dormir sem problemas da porta. Aquela vista de uma criança dormir em paz aquecia o coração, era uma pena que não pudesse ter aquilo sempre.

— Quando conversei com ele, mee disse que quer mostrar algumas coisas pra gente… eee quer começar uma… u-ma viajem amanhã — disse, cautelosamente

Will arregalou os olhos com a notícia repentina e ficou animado com a ideia. Mark levou um susto com o despertar instantâneo da menina atrás dele, que desbravou um "viagem?!" numa explosão de alegria sem justificativa. 

— Temos que arrumar nossas coisas de novo porque acho que vai ser pelo menos uma semana.

Todos ficavam felizes com a ideia, afinal, nenhum deles tinha viajado para fora na vida, então ter isso logo após serem adotados era algo extraordinário. Estavam, pouco a pouco, a realizar as vontades que sustentavam a obra de cada sonho.

Mark foi comovido pela animação, mas conteve a cinetica ao lembrar o verdadeiro motivo daquilo tudo. Recente demais. Difícil de engolir. Precisava de tempo, que com certeza não tinha, seria uma viagem que não tinha foco em lazer — lembrou das imagens do fogo ciano nas mãos…

Nirda pulava na cama de felicidade junto de Will, o irmão mais velho correspondia aos movimentos da pequena feito uma dança ensaiada; não repararam na apreensão de Mark, que foi de imediato a organizar os pertences em devidas malas já postas no lado de fora.

Em meio a isso, Réviz estava na garagem perto do carro. As empregadas estava em posição de sentido, aguardavam qualquer ordem do homem de pose pensativa. Os dedos contornavam o queixo feito hipóteses que guiavam a um só marco.

Fechou os olhos e assentiu, concluiu os planos e fitou cada uma sequencialmente. A forte se arrepiou quando viu a frieza tocar sua direção.

— Quero agradecer vocês por todo o serviço que fizeram.

Foi uma fala inesperada, a de óculos ajeitou a posição do item no nariz e deixou o “não é necessário” partir. As outras desfizeram a posição e apenas relaxaram os ombros, de bocas abertas.

— Têm meu respeito. Darei passagens para a instalação, gostaria que fossem o mais rápido possível para avisar os líderes e o chefe sobre a chegada. Digam que estou chegando para mostrar o resultado.

Durante a fala, as duas recobraram de si a posição merecida na presença de um superior. Réviz estalou a língua, queria uma confiança que não fosse movida por uma pressão unilateral. Queria demonstrar as verdades nuas e cruas, embora possam ser facilmente entendidas como mentiras na primeira vez.

— Não tenham medo de mim, apesar de tudo, a missão pede medidas que não gosto de tomar, quero deixar claro que errei bastante no processo.

— Mas e os outros dois? Você não queria apenas o da franja branca? — perguntou a de óculos.

Réviz apenas inclinou um pouco a cabeça para o chão, A empregada da direita deixou os cabelos loiros tremerem em ressonância a tensão gerada. Acreditou que foi uma afronta tal questionamento levemente fora de contexto. Começou a dar leves puxadas na roupa doméstica da de óculos enquanto sibilava “cala a boca”.

— Bom, não posso simplesmente dar um fim neles, seria algo contra o acordo criado entre nós, ainda mais com aquela menina. — Ele avançou mais para perto e puxou três bilhetes. — Vão o quanto antes, avisem a Luri para estar a postos no observatório quando o carro for pego no radar.

Elas saíram logo depois. Réviz foi a cozinha tomar seu café, ainda estava quente. A fumaça deu mais um tom aconchegante ao local. Remexeu a xícara e relaxou na cadeira. No andar de cima, devia estar os três ex-órfãos; fitou bem como se pudesse ver corretamente o jovem de azul arrumar as coisas.

— Será deveras interessante.

No mesmo dia e perto da madrugada, estavam os quatro perto do carro. Os dois irmãos podiam remeter a configuração de um dipolo, compartlhavam as mesmas reações sem perdas, apenas Mark, quem conduziu o revirar de eventos, estava com uma expressão calma e mais tensa. 

— Muito bem! A viagem vai até um local surpresa! Vai ser pelo menos um dia e meio de viagem, fiquem tranquilinhos! Deixei um bocado de lanches pra gente.

Cada vez estava mais claro a atuação descarada do seu pai adotivo. O rosto descontraído e leve fez um nojo crescer na garganta de Mark. Ele apertou os dentes e tentou digerir aquilo. 

Will abriu a porta durante a fala e viu que tinham vários compartimentos dentro do grande carro, haviam desde sanduíches até alguns doces que fizeram Nirda abrir um sorriso de uma orelha para a outra.

Durante a verificação minuciosa de guloseimas dos irmãos, Reviz e Mark se entreolharam. Sob a luz da lua, o acordo quebrou correntes que liberavam as verdadeiras consequências da promessa. Tinha que confiar, presenciou a capacidade daquele homem e não devia ousar em descobrir mais. Assentiram entre si, fecharam naquele momento o acordo de uma vida.

Uma verdadeira mistura heterogênea. Tinha um desequilíbrio emocional no trio de irmãos, era um passeio dos sonhos para dois e uma reconciliação com as coisas todas para o último— uma motivação que poderia levar todo o tempo do mundo para satisfazer, e um segundo para se arrepender.

Enfim, partiram.

Após horas se passarem na estrada, somente Réviz e Mark permaneciam despertos. Com o amanhecer tocando o horizonte, Mark sentiu algo familiar pela janela. "Que coisa esquisita", pensou. Feito uma pegada sutil ou um cheiro reconfortante, atentou-se ao longe como se reconhecesse algo ali, perto do nascer do sol. Foi o suficiente para a ignição ciana aparecer em um instante, o justo suficiente para que seu pai pudesse notar pelo retrovisor.

— É a primeira vez que os vejo pessoalmente.

Deixou a voz do coração percorrer o ar, percebeu a movimentação de seres estranhos no horizonte — um grande bando deles. Réviz olhou para a esquerda e viu um aglomerado de animais. Estavam em uma área com a vegetação amarelada e árvores laranjas esbeltas.

— Magcos ficam aqui durente um periodo do ano, vagam em bandos até o fim da manhã.

Animais similares a touros, que tinham chifres curvados e amarelos, maiores que uma pessoa. Animais exóticos que não tinham presença nas redondezas urbanas.

A sucinta falta da presença deles no caminho realçou a cidade por baixo do morro. Chegaram a cidade na qual queriam, ao contrário de adentrar pelas grandes vias populosas de carros, Réviz colocou o destino na direção da estrada que contornava numa estrada não asfaltada.

A densidade de placas crescia de forma absurda, alertando os indivíduos desavisados com figuras que iam de simples sinais de alerta até ameaças com armas. Sobre "área de segurança máxima", o carro se aproximou do grande muro. Havia um imenso portão roxo que abriu automaticamente.

Desafiando as noções da natureza, as medidas do fora não batiam com as de dentro. No outro lado do portão, uma espécie de instalação com enormes prédios apareceu na visão, um lugar que era considerado uma outra cidade.

No prédio mais alto, a escultura de metal do enorme símbolo parecia pairar logo em frente.

— Eis a ODST do Segundo Setor — apresentou Réviz.



 



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