Volume 1 – Um Sentimento Esquisito
Capítulo 15: Sem Volta
Réviz deixou seus dedos empurrarem contra sua testa, negava o fato que contorcia com um olhar frustrado que recusava a aceitação do que houve. O jovem, ao notar o desconforto do pai, não pode evitar o contato direto, massageou a cabeça e deixou o desgosto da dor se esvair aos poucos até virar uma lembrança ruim.
As imagens que viu tinham um sentido familiar, porém sentia um tratar diferente delas — feito uma cena vista de um ângulo diferente. O tom assustador do último vislumbre anterior ainda permanecia ardente no cérebro; ter visto um rapaz com óculos antigos de aviação era, com toda certeza, algo a mais.
Era como um personagem inserido a força num mundo que desconhecia, conseguiu falar com o desconhecido e teve a sua presença reconhecida. De um jeito ou outro, teve a certeza de que foi visto pelo jovem aviador.
E depois, naquele momento, num jardim calmo e clima morno, um vislumbre que o colocou na posição de um mero observador ao longe. Via imagens e nada mais, não tinha corpo ou voz, apenas via a mulher de cabelos vermelhos, que não reagia e não interagia com os observadores. Seu pai também a viu, caso devesse tratar com cautela e exatidão, tal afirmação suportava a suposição de mais pessoas serem capazes de ter estes vislumbres.
- Aquela moça não o viu, aquele rapaz o viu; qual o critério? Não havia mais o que fazer além de levantar possibilidades surreais, que cada vez mais se tornavam normais. Com piscadas rápidas, Mark retomou a atenção roubada pela dor. Na mão do seu pai, a ignição da energia se relaxava de um curto à brilhos pequenos.
— Essa energia... Por que... eu? Como ninguém sabe... disto?
No desejo da resposta direta, se levantou na espera de algo que podia o fazer entender de fato antes de imaginar outras possibilidades que o deixariam ainda mais preocupado. Os olhos mais atentos, postura firme e uma respiração agitada. Mark estava retornando o comportamento de dias antes do acidente sem perceber.
Contudo, manter um pensamento que busque sempre a causa dos eventos para se acomodar na esperança da solução era difícil. Tomou esta causa, recuperou as vontades e assumiu as chamas. A cor de sua blusa não fugia desse sentimento; que trazia o acidente, a bravura irracional de Will, a adoção, o carinho da irmã, as crianças, suas antigas mães… e a si mesmo; toda sua história.
O azul era algo triste, mas, no agora depois do acidente, a blusa azul tinha uma listra que significava a contradição da tristeza: uma determinação que podia se arrepender.
A ignorância sumiu, Mark proclamou, no apertar de punhos, a dedicação que o tornou são. Mesmo que não aceite essas coisas, se libertaria do autodiagnóstico de louco.
Réviz não pode notar o conflito interno do filho. Insatisfação o definia, endireitou a postura e pigarreou. Viu o olhar confiante no rosto a frente e não deixou o sorriso ser contido. O terceiro nível apreciava a dedicação mútua.
— Quanto a promessa…
Tendo uma pausa no meio de sua fala, ele olhou de cima a baixo para Mark, então reconheceu um novamente um jovem qualquer com um poder importante, digno de ser uma ajuda formidável apesar das aparências. Bastava que ele provasse e Réviz faria de tudo para que seu objetivo fosse concluído.
— Sua vida tem outro significado. Permaneça firme, queira ou não.
A sucessão das informações foi um impacto profundo. Escutar de outra pessoa soava muito diferente de análise da sua própria persona. Mark engoliu o seco e assentiu lentamente.
— Este poder está nos níveis… quase divinos, ninguém da linhagem dos militares registrou um poder regenerativo. Enfim, exijo um acordo de cooperação entre nós. Quer respostas. Pois as quero também.
— Certo. Imagino que existem condi…
— Busco pessoas que podem me ajudar numa operação de rastreio. Você é objeto direto desta investigação. Entenda-me corretamente. — Réviz deu uma olhadela para a casa mais ao longe, indicou a ordem de sua lógica. — Adotei os três para protegê-los, mas apenas em prol do rastreio.
— Espe… Tá… Hmm, tá, entendi. Ei! Você tá usando-os como refém pra eu te ajudar?
Seu corpo reagiu por impulso na chance de ter sido chamado sozinho, sua emoção gritou pela promessa de manter os irmãos juntos por toda a vida, contudo, essa mesma emoção o amarrou num destino desconhecido com um pai adotivo interesseiro.
Sua razão negou com todas as forças, o caminho era deturbado, arrasado e incerto. É injusto pensar somente nas suas vontades, devia priorizar o bem-estar deles… Porém, mal podia priorizar o próprio.
“Por que esse cara decidiu fazer tudo isso?” Abaixou a cabeça levemente e deixou as explicações correrem pelos ouvidos:
— Há pessoas com intenções ruins para encontrá-lo cedo ou tarde. Confesso que minha intenção é pura oportunista. E sua ligeira existência é um perigo para os próximos a você. Caso não coopere comigo, não duvido que irão morrer em breve.
Mark levantou o queixo, perplexo, a indicação não demonstrava tons de ameaça, era um aviso sem piedade, frio e calculista. O gelo na abordagem do seu pai o fez olhar também para a casa, significava que o rumo de seus irmãos estava completamente sobre as consequências de seus atos.
— Mas como?! Por que a gente morreria assim do nada? Do que tá falando?!
Réviz afinou o olhar, examinou o jovem ao já esperar uma resposta impulsiva de emoções novamente. Entretanto, se surpreendeu quando o viu retomar como uma conversa normal:
— Acho que não tem opção melhor.
— Ha… ótimo! Irá ficar claro quanto aos riscos que correm com o tempo.
— Quer que eu assine um contrato pra ficar rico antes de saber que vai custar minha alma?
— Formalizando: pelo bem dos três, ajude-me. Considere minha proteção a retorica de nossa mesma missão.
Retirou o pouco de grama preso as roupas e prosseguiu a retorno da casa. Mark sentiu um pouco mais próximo dele, mas ainda tinha receio guardado. Hesitou em segui-lo, mas logo aterrissou o passo atrás.
— Existem detalhes que ficaram claros. Poucas pessoas selecionadas da rede militar têm informação sobre a energia. isto pode se manifestar de qualquer forma. Exige do físico e mental, desgasta rápido com a falta de prática; mais poder, mais consumo. Se descrever grosseiramente: uma simples atividade física. Sem o esforço mental, a carne ruirá. Sem o esforço da carne, o mental explodirá.
— Está me dizendo para treinar? Só fiz aquilo uma vez! Sinto até como se fosse outra pessoa que tivesse feito!
Réviz sentiu uma coceira estranha. Saciou o instinto e tentou compreender o filho adotivo. Era só uma forma estranha de explicar sua perspectiva durante o evento — pelo menos na hora. Respirou fundo e soltou a mais pura forma perfeita de sinceridade:
— Se vira. — O tom seco fez Mark se irritar — Ninguém o ensinou a respirar quando nasceu, correto?
Uma piada? O adulto tão misterioso começou a ficar descontraído de repente. Mark tensionou os ombros por não encontrar a graça, fez o possível para deixar os nervos aflorarem só para dentro.
Havia muitos metros que os muros cobriam, os domínios da sua residência podiam ser comparados a de uma fazenda inteira, era fácil confundir a imensidão do verde com a profundidade do mar no horizonte, como se fosse uma extensão infinita. O jovem colocou as mãos no bolso da blusa, o som monótono de passos em grama apenas serviu como catalisador dos receios desta decisão.
— Desta vez, peço humildemente que não compartilhe absolutamente nada sem minha permissão. Minha energia é ótima para extração de informações, seria um desperdício demonstrar o potencial em destruir memórias de alguém.
— Olha, beleza, quer manter segredo, tá bom, maravilha. Mas precisa de ameaças? Afinal, tem as outras ODSTs, não é? Serei seu menor problema aqui.
— Já conhece as execuções feitas no passado. Suspeitos de espionagem eram capturados o tempo todo. Digo isso porque, caso algo aconteça, não posso te proteger dos meus líderes.
— Então…
Réviz se virou de costas e interrompeu o caminho de Mark, que resfolegou pelo movimento instantâneo. A seriedade da abordagem deixou claro que os perigos da sua decisão era mais do que chegou a cogitar no início.
— Mark, o que aconteceu com o Will pode acontecer de novo, digo que um acidente pode facilmente tornar-se num incidente. A estrela sorridente não espera brechas. Temos a energia da criação a nosso favor e terá que usá-la, seja para salvar outras pessoas... ou a você. Vou falar com as empregadas sobre a viagem, vá aos seus irmãos e peça para arrumarem as malas.
—Ué, pra onde? Acabamos de nos mudar pra cá.
— Fica mais fácil de para você atuar se não saber. Precisa manter as aparências.
A conversa daquela manhã concluiu. Prosseguiram o caminho de volta como a convicção de aliados, que não tinham uma fagulha de sinergia, eram apenas derivados da esperança e receios. Uma razão que os uniria ao futuro escuro pela frente.
Já que, supostamente até então, Mark não tinha capacidades de acreditar se o dissessem que seu maior aliado estava ainda no outro lado do mundo...
Will despertava vagarosamente em sua cama, porém, a calmaria de um homem calmo ruiu com o impacto feroz que fez levantar de uma vez. Sem mais ou menos, o espreguiçar ligeiro desencadeou uma queda ao chão.
Levantou-se pelo reflexo do tombo e, com o cabelo bagunçado feito um choque, olhou ao redor e percebeu a ausência de seu irmão na cama ao lado de cara. As roupas amassadas
destacaram a aura desajeitada e simples — ou olheiras de uma bela adormecida acordada por tapas invés de um beijo.
Deu um cafuné protetor na irmã e foi direto ao espelho para pentear o caos na cabeça. Pegou a escova de dente deu só duas passadas e assumiu os dentes tinindos. Três toques na porta apareceram, fez o sorriso limpo iluminar o caminho e abriu a porta. Logo, viu o contrário das suas ações encarnadas no irmão, que segurava um dos braços como se segurasse até as palavras na mente.
— Bom di... Ué, Mark... Tá dormindo em pé ou o quê?
— Só é aquela... aquela insônia que nem na última vez.
— Só de olhar pro céu já consigo dizer que são seis e trinta e sete e quarenta e nove segundos. Minha dedução de segundos deve ter um erro de dois ou três.
— Q-que bom... eu acho.
Era bom com a percepção do tempo, bastava um ligeiro olhar ao céu para seu incrível e preciso relógio biológico pudesse traduzir a luz em dígitos numéricos. Mark levou a mão para trás da cabeça e sorriu sem jeito, agradecido pelo assunto ter se desviado sem esforço da sua parte. Will, no entanto, esperava outro tipo de comentário, logo em seguida, percebeu a calça e a blusa do seu irmão um pouco sujas de terra.
— Aconteceu alguma coisa? — Apontou para as roupas.
— Na-não! Eu só estava conversando um pouco com Réviz no jardim lá na frente — Balançou os braços.
— Social link tá no 10 já logo cedo? Tendi, tendi.
A preocupação de Will sumiu em um instante do mesmo jeito que surgiu — os bombardeios de preocupação e alívios o podiam converter num bipolar. Mark inclinou o corpo para ver sua irmã dormir sem problemas da porta. Aquela vista de uma criança dormir em paz aquecia o coração, era uma pena que não pudesse ter aquilo sempre.
— Quando conversei com ele, disse que quer mostrar algumas coisas pra gente… eee quer começar uma… u-ma viajem amanhã — disse, cautelosamente.
Will arregalou os olhos com a notícia repentina e ficou animado com a ideia. Mark levou um susto com o despertar instantâneo da menina atrás dele, que desbravou um grito: "viagem?!" numa explosão de alegria sem justificativa.
— Temos que arrumar nossas coisas de novo porque acho que vai ser pelo menos uma semana fora.
Ficavam felizes com a ideia, afinal, nenhum deles tinha viajado para fora na vida, então ter isso logo após serem adotados era algo extraordinário. Estavam, pouco a pouco, a realizar as vontades que sustentavam a obra de cada sonho.
Mark foi comovido pela animação, mas conteve a cinética ao lembrar o verdadeiro motivo daquilo tudo. Recente demais. Difícil de engolir. Precisava de tempo que com certeza não tinha. Seria uma viagem que não tinha foco em lazer — lembrou das imagens do fogo ciano nas mãos…
Nirda pulava na cama de felicidade junto o jovem de cabelo branco, o irmão mais velho correspondia aos movimentos da pequena feito uma dança ensaiada; não repararam na apreensão de Mark, que foi de imediato a organizar os pertences em devidas malas já postas no lado de fora.
Em meio a isso, Réviz estava na garagem perto do carro. As empregadas, em posição de sentido, aguardavam qualquer ordem do homem de pose pensativa. Os dedos contornaram o queixo em hipóteses que guiavam a um só marco.
Fechou os olhos e assentiu para si mesmo, concluiu os planos e fitou cada uma sequencialmente. A forte se arrepiou quando viu a frieza tocar sua direção.
— Antes de qualquer ato, quero agradecê-las pelo serviço que fizeram.
Foi uma fala inesperada, a de óculos ajeitou a posição do item no nariz e deixou o “não é necessário” partir. As outras desfizeram a posição e apenas relaxaram os ombros, de bocas abertas.
— Têm meu respeito. Darei passagens para que retornem à instalação o quanto antes, gostaria que fossem o mais rápido possível para avisar os líderes dos outros níveis e o chefe sobre a minha chegada.
— Não pode apenas avisar a Luri? — perguntou a de óculos.
— A Luri... tem suas responsabilidades a tomar conta. Tenho certeza que esta informação a atrapalharia.
Durante a fala, as duas recobraram de si a posição merecida na presença de um superior. Réviz estalou a língua, queria uma confiança que não fosse movida por uma pressão unilateral. Queria demonstrar as verdades nuas e cruas, embora possam ser facilmente entendidas como mentiras na primeira vez.
— Não tenham medo de mim, apesar de tudo, a missão pede medidas que não gosto de tomar, quero deixar claro que errei bastante no processo.
— Mas e os outros dois? Você não queria apenas o da franja branca? — perguntou a forte.
Réviz apenas inclinou um pouco a cabeça para o chão, A empregada da direita deixou os cabelos loiros tremerem em ressonância da tensão gerada. Acreditou que foi uma afronta tal questionamento levemente fora de contexto. Começou a dar leves puxadas na roupa doméstica da forte enquanto sibilava “cala a boca”.
— Bom, não posso simplesmente dar um fim neles, seria algo contra o acordo criado entre nós, ainda mais com aquela menina... — Ele avançou mais para perto e puxou três bilhetes. — Repetindo: vão o quanto antes. Só peço para que diga a Luri estar a postos no observatório quando notarem que meu carro foi pego no radar.
【Madrugada】
Uma ansiedade pairava os quatro perto do carro, resumiam as fontes desta emoção em: animação de uma longa viagem e uma missão com destino incerto. Os dois irmãos podiam remeter a configuração de um dipolo, compartlhavam as mesmas reações sem perdas, apenas Mark, quem conduziu o revirar de eventos, estava com uma expressão calma e, ao mesmo tempo, mais tensa.
— Muito bem! A viagem vai até um local surpresa! Vai ser pelo menos um dia e meio de viagem, e fiquem tranquilinhos! Deixei um bocado de lanches pra gente.
Cada vez estava mais claro a atuação descarada do seu pai adotivo. O rosto descontraído e leve fez um nojo crescer na garganta de Mark, era como estar ciente das ações de um criminoso antes do ato — realmente um criminoso?
Will abriu a porta durante a fala e viu que tinham vários compartimentos dentro do grande carro, havia desde sanduíches até alguns doces que fizeram Nirda abrir um sorriso de uma orelha para a outra.
Durante a verificação minuciosa de guloseimas dos irmãos, Reviz e Mark se entreolharam e sob a luz da lua, o acordo quebrou correntes que liberavam as verdadeiras consequências da promessa. Tinha que confiar, presenciou a capacidade daquele homem e não devia ousar em descobrir mais detalhes. Assentiram entre si e fecharam naquele momento o assunto que iniciou nomesmo dia.
Uma verdadeira mistura heterogênea. Tinha um desequilíbrio emocional no trio de irmãos, era um passeio dos sonhos para dois e uma reconciliação com as coisas todas para o último — uma motivação que poderia levar todo o tempo do mundo para satisfazer, e um segundo para se arrepender.
Enfim, partiram.
Após horas se passarem na estrada, somente Réviz e Mark permaneciam despertos. Com o amanhecer tocando o horizonte, Mark sentiu algo familiar pela janela. "Que coisa esquisita", pensou. Feito uma pegada sutil ou um cheiro reconfortante, atentou-se ao longe como se reconhecesse algo ali perto do nascer do sol. Foi o suficiente para a ignição ciana aparecer em um instante, o justo suficiente para que seu pai pudesse notar pelo retrovisor.
— É a primeira vez que os vejo pessoalmente.
Deixou a voz do coração percorrer o ar, percebeu a movimentação de seres estranhos no horizonte — um grande bando deles. Réviz olhou para a esquerda e viu um aglomerado de animais. Estavam em uma área com a vegetação amarelada e árvores laranjas esbeltas.
— Magcos ficam aqui durente um periodo do ano, vagam em bandos até o fim da manhã.
Animais similares a touros, apenas com três chifres curvados invés de um único par. Animais exóticos que não tinham presença nas redondezas urbanas.
A sucinta falta da presença do grupo de animais que se distanciavam no caminho realçou a cidade por baixo do morro. Chegaram a cidade na qual queriam, ao contrário de adentrar pelas grandes vias populosas de carros, Réviz colocou o destino na direção da estrada que contornava sem qualquer asfalto.
A densidade de placas crescia de forma absurda, alertando os indivíduos desavisados com figuras que iam de simples sinais de alerta até ameaças com armas. Sobre "área de segurança máxima", o carro se aproximou do grande muro. Havia um imenso portão roxo que abriu automaticamente.
Desafiando as noções da natureza, as medidas do fora não batiam com as de dentro. No outro lado do portão, uma espécie de instalação com enormes prédios apareceu na visão, um lugar que era considerado uma outra cidade a parte.
No prédio mais alto, a escultura de metal do enorme símbolo parecia pairar logo em frente
— Eis a ODST do Segundo Setor — apresentou Réviz.
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