Volume 1 – Um Sentimento Esquisito
Capítulo 14: Energia
Os olhos tremiam ligeiramente, apenas o suspirar sincero deixou a deriva outra vez. A versão imitadora de si virou para fora e saiu do quarto como se quisesse que Mark fosse ao seu encontro. O significado daquilo era desconhecido demais para concordar sem pensar.
Repousou a mão no rosto e o permitiu peso do braço esticar a face, sem ânimo — tinha acabado de acordar para inventar de insistir com ansiedade tão cedo. Ver situações fantasiosas escreviam uma nova definição de “normal”. Limpou os olhos com indicador e polegar ao concluir.
— Eu... diria que… faz parte das coisas todas, cacetada.
Apesar da mudança para a casa nova, essas novas variáveis não pareciam ter mudado, somente a demonstração de cada uma mudava. Invés de prová-las por contradição por não conectar com o real, deixou seu real sem intervalo definido — podia ser que o seu “real” que que era o anormal. Agora, tinha o dever de provar para si que ele é o real.
A ligeira chance de estar completamente enlouquecido coçava a nuca. Só podia significar, definitivamente, que o problema estava diretamente com ele — foi tudo que pensava.
Caminhou para a janela e colocou sua visão no horizonte, como costumava fazer no orfanato. Olhou por alguns minutos, mas a expressão… faltava algo. Se aproximou do espelho que existia no guarda-roupa, seu braço foi automaticamente puxar a porta do antigo armário que não pertencia mais a ele.
Deu uma risadinha com sua falta de atenção com a nova rotina e ajeitou a postura para o espelho, que agora pegava seu corpo inteiro. Se avaliou como sempre: roupas de dormir, cabelo bagunçado, cansaço da noite mal dormida.
“Vou só aceitar que virei biruteteia”, ao seu lado, o pensamento de ter visto uma espécie de espírito casualmente sair da sala o fazia neutro, logo, qualquer força não o atrairia com facilidade. Na cabeceira de sua cama, apanhou sua blusa e repetiu os passos do espírito, vestindo a roupa favorita.
Antes dos dedos deixarem a porta fechar por inteiro, firmou o braço para analisar de novo. Nirda e Will dormiam em paz, isso o fez levantar um sorriso de satisfação e o rosto se tornar menos pesado.
Embora quisesse ficar ali, ia contrariar a lógica exata. Tudo precisava ter a razão enraizada, e Mark plantou este raciocínio na alma. Forçou a concentração para sair do quarto e soltou a maçaneta. “E também vou deixar vocês de fora disto”.
O sol da manhã emitia a luz e incomodava a vista, fez o jovem desviar a cabeça para o chão e descer as escadas com cuidado. A casa estava em proporções de mansão. Na ausência do guiar do pai adotivo, os corredores estreitaram a noção do espaço em labirintos de formas retas.
Prosseguiu pela direita, o chão destacou os barulhos dos chinelos que anunciou a chegada informal de borracha. Espiou e… Vazio. As quatro cadeiras estavam movidas de maneiras diferentes, provas de que foram usadas há pouco tempo. Um odor aconchegante penetrou pelo nariz; a xícara de café quase no fim sobre a mesa estava ainda quente.
— Acordaram agorinha.
Retirou a postura de bisbilhoteiro e analisou em volta. Olhou para o labirinto, e o labirinto olhou de volta. Um medo de passear sozinho ascendeu na mente. Arrepios percorreram dos ombros até a ponta dos cabelos. Deu uma meia-lua e cedeu na direção da entrada da enorme casa.
Ao tocar na porta, a leve força já trouxe a resposta do ranger da madeira reluzente. Se surpreendeu com a confiança na falta de segurança naquele lugar tão afastado da cidade.
— Destrancado?! — Arregalou os olhos. — Aah! — suspirou, negando com a cabeça — Ele não nos deixaria sozinhos sem um motivo bom… espero que não ser um velociraptor perdido que abriu isso.
A casa vazia e silenciosa o fez deduzir possibilidades da saída, embora uma porta aberta também pudesse ser um feito pré-histórico. Caminhou para fora e observou o grande portão mais a frente, porém, quando recuou a vista para a esquerda, notou Réviz que estava sentado e analisando o céu.
— Menos mal — sussurrou, aliviado.
O campo aberto era extenso, deu uma pequena corrida para alcançar a atenção do pai adotivo. Ao chegar perto, permaneceu ao lado, porém alguns segundos passaram e Réviz demonstrava estar ausente de alma. O corpo dele era tocado pelo vento e o verde criava impacto pelo amanhecer.
A manhã calma tomava forma, perante os dois. Mark soltou o passo pesado e relaxou com um “bom dia”. Nada vinha na reação do pai. Seguiu a direção que o via tanto fitar e pode admirar também a enorme vista da cidade. Ver o sol tocar a superfície escura, transcender tal noção de bem-estar para a população, retirou um ligeiro sorriso junto aos ombros calmos.
— O sol tá nascendo.
— É o primeiro.
No reflexo confuso, Mark virou o pescoço junto de um “como?” e abaixou a coluna para ficar mais perto do homem sentado. Um comentário seco e sem emoções, o olhar estático ao fundo que se iluminava deu a impressão de ser um pensamento em voz alta. Tentou contemplar a vista novame…
— Ou talvez o segundo a ver, seguindo sua lógica, as “coisas todas”.
Um peso recaiu sobre aquela vista. O amarelo perdia o sentido e o escuro parecia retomar tudo, a sensação de perigo alterou o significado daquilo. Mark tomou o olhar, espantado, para o pai, que o encarava numa expressão séria.
De repente, Réviz se levantou e destacou a imponência. Aquele homem julgava o jovem sem dizer algo, o desprezo inibido passou quase despercebido. Mark deu um passo para trás, as sobrancelhas arquearam e a boca não fechou por um segundo.
Por que essa mudança de clima?
— Você conhece a organização de uma ODST?
Mark olhou para baixo por um momento, mas levantou a cabeça. Coçou a orelha e reagiu involuntariamente numa “desculpa?” Não sabia o que pensar sobre a reação do seu pai adotivo, teria que entender cedo ou tarde, podia simplesmente ter algum manual que explicasse os eventos que o abordaram?
Por que, naquele exato momento, o seu próprio pai se tornou um das “coisas todas”?
— Organização de Desenvolvimento e Segurança Tática, ODST. Esta organização possui o principal objetivo, já explicado em seu nome, do desenvolver geral em todo o território que se estabelece. Nove no total: Primeiro Setor, Segundo Setor, Passagem, Vulax, Tif, Corrente, Novo Leste e…
— Quiral.
O agir de Mark se tornava ameno. Um palestrante começou a reunião sem aviso, e o garoto não cedeu à pressão das informações. Colocou a mão atrás da cabeça, havia certeza na calma que instalou em si — a resposta confiante oficializou o seu pai no montinho de coisas bizarras.
Independente dos por quês, Mark tentou manter-se preso ao real.
Réviz ergueu um pouco o queixo. Soltou um “hum” que manejou o desprezo a um certo orgulho estranho. Um orgulho que um professor apático teria do melhor aluno.
— Cada uma é responsável tanto pelo jurídico, executivo e legislativo. Dessa maneira, os territórios se tornam independentes, tendo culturas diferentes e ambientes totalmente diferentes umas das outras. As ODSTs tendem ter comportamento cooperativo nulo, sempre existe uma desaprovação de ações estrangeiras a priori, fortalecendo a xenofobia... ou uma rivalidade violenta. — Desviou o olhar por um segundo, como se mergulhasse em ideias divergentes, entretanto recobrou a si e prosseguiu: — Todas possuem poder militar devido à centralização do poder. Por consequência, são divididas em três níveis fundamentais.
Mark sentiu algo ruim na boca, parecia que existia uma vontade unilateral que corroía a presença na sua frente. Essas explicações deviam mesmo estar aqui? Remexeu o pescoço, tentando aliviar as tenções da ansiedade e simplesmente perguntou:
— Réviz? Aconteceu algo? Não tô entendendo direi…
— No primeiro nível — Levantou o indicador —, temos o convencional como: empresas de grande porte, os sistemas de educação e o que chamamos de "gerentes sociais", atuantes políticos.
Mais uma pausa para adicionar outro dedo na contagem. Mark reparou na mudança do seu comportamento desde que iniciou a explicação, mas preferiu adiar a preocupação, assentindo com Réviz.
— No segundo, sou capaz de resumir em: policiais, militares, investigadores e alguns comandantes que gerenciam os dois postos em geral.
O outro esperava um terceiro dedo na contagem, mas viu a mão de seu pai abaixar devagar em uma fala lenta e resoluta. A postura se concretou na pose ereta e permaneceu como um verdadeiro militar. Mark se sentiu coagido a dar outro passo para trás, os movimentos abruptos eram difíceis de prever.
— No fim, a parte tática, uma definição bem clara dos três níveis... É necessário reparti-la em mais outros três níveis. No primeiro temos o departamento dos cientistas de pesquisa aplicada. Segundo; um aglomerado de líderes do primeiro e segundo nível e o, sendo apelidado diretamente como terceiro nível... são os esquadrões de operações táticas.
— Calma, calma, calma! Espera um tiquinho aí! Ainda não me disse que uma razão pra esse seminário. Ouvi algumas coisas disso no colégio, vai querer nos motivar a seguir a vida militar? Ei, ei… Desculpa, não queria desres…
Réviz estava parado na frente do jovem de cabelo hipérbole, o encarava sem piscar. Sua última fala não foi uma descrição formal, foi um apontamento de um fato severo. O pai arrumou a postura num passo ligeiro, que fez o filho cair para trás no chão. A mudança no comportamento era tão drástica de momento a momento que o medo também fez parte do seu real.
— O terceiro nível é composto por pessoas com habilidades bem diversas. Sempre que imaginar algo, a probabilidade de alguém deste nível ser ótimo é considerável, mesmo que seja algo como jogar videogame. — Recuou alguns passos, aliviando a pressão em cima do jovem. — Foram os responsáveis por dar a ODST a influência que existe hoje; no momento, apenas os membros do alto escalão militar ou social tem acesso à identidade deles, é um segredo zelado desde antes da separação continental entre leste e oeste.
Réviz agachou na frente do filho, que estava de barriga para cima e apoiava o corpo sobre os cotovelos no chão. Mark sentiu um calafrio, o mesmo calafrio que sentiu na manhã de antes de ir ao colégio.
O tempo de resposta teve zero cooperação com sua pessoa. Simplesmente, o espírito, que copiava a sua aparência tingida de branco e com a silhueta característica, observava a conversa incomum de família ao longe
— Conseguiu esquecer as chamas?
Mal teve oportunidade de notar o fantasma e foi alvejado por outra quebra de lógica, o homem na sua frentechegou a hesitar por um momento, porém, avançou mais o corpo, retirou o ar dos pulmões de Mark com a formação de frases, quem não pensava em ouvir isto naquele dia:
— Promessas são um artifício belo para exercer a confiança. Logo, Mark, meu filho adotivo, preciso que tente sempre manter uma comigo. Quer respostas?
A adoção foi realizada com segundas intenções desde o início. Esse foi o fato aterrorizante que Mark cimentou. A boca estava novamente aberta, entretanto, não conseguiu fechá-la, tentou emitir ruídos de contestação. E a mente negou qualquer tentativa. Tentou se manter coeso e firmou o rosto surpreso nas mãos trêmulas. E o coração negou qualquer tentativa.
— De que forma… vo-você sa-sabe disso?! Vai me dizer que sabe do fantasma também?
Réviz, ao ouvir a palavra-chave, afunilou os olhos em um receio antigo, sua mão tremulou por um segundo como se fosse atingido por uma fava invisível. No entanto, se recuperou na mesma velocidade que se surpreendeu.
— Fantasma? De qualquer forma, creio que está delirando, não há nenhum fantasma.
O jovem fazia uma cara estranha enquanto um arrepio cravava em sua espinha. O pai que ganhou de presente sugeriu saber dos eventos recentes, mas ficou em dúvida com o fantasma — até a logica racional não tinha lógica? Essa aparição assombrosa era realmente algo que só ele via mesmo tendo as memórias lidas?
"Concentre-se". A voz soou, e ainda não ouvia.
— Eu, Réviz, sou o líder do décimo sétimo esquadrão do terceiro nível do Segundo Setor. Cabe a mim a responsabilidade por três jovens, os tornando protegidos, também, por mim — exclamou com a mão sobre o peito.
O garoto não entendia o peso daquelas palavras. Réviz esperou outra reação confiante, mas não surgiu. Balançou a cabeça, insatisfeito, e concluiu com um certo desprezo:
— Eis a razão do meu anúncio. Preste atenção, Mark.
Cada milésimo remetia a décadas, o nervosismo crescia, suor frio passava pelo nariz. Na paisagem adiante, toda a cidade foi banhada pela luz do sol. Mas, feito uma mosca sem noções de perigo, a luz marrom na sua frente fez as córneas dilatarem.
Somente outra coisa retornou em sua mente.
— Isto é a "energia”... especificamente a "ignição" de uma.
Não tinha resposta que pudessem complementar a preocupação em constante aumento.
— Quando uma palavra específica soa, grande parte dessa ignição desaparece, dando lugar ao desejo de sua cognição. — O brilho intensificou. — Não existe a necessidade desta etapa, entretanto a existência de um gatilho emocional fortaleça a conexão do seu desejo distorcido e concebido no mundo físico. É o psicológico de sua sombra que se manifesta.
O jovem tremia com as explicações, isso deu portas abertas para que todo seu raciocínio de estar louco ter sido todo em vão — isso o assustava muito. Afinal, significa que as “coisas todas” tinham fundação no mesmo conjunto real que existia.
As imagens do acidente viam como um bombardeio de memórias traumáticas, lembrou do momento que viu Will ferido e da… neve. Uma leve faísca de cor ciano surgiu em suas mãos, mas foi tão rápido que Mark não havia percebido.
— Ferva...
— Então entendeu. Hum… Para existir justiça na nossa promessa, o mostrarei…
Réviz se levantou e aproximou com a mão estendida. O jovem permaneceu paralisado, os músculos não respondiam o colidir de informações psicológicas, e os espasmos serviam como pilares para a face embasbacada.
Contudo, foi forçado a sentir o toque dos dedos do pai na testa.
— Que promessa?!
— Contradição.
No mesmo instante, Réviz passou novamente por suas memórias, especificamente no momento do acidente e na noite anterior à adoção. Dessa vez, o jovem via ângulos que não presenciou, era como se estivessem na frente de uma televisão, assistindo uma imagem que era projetada.
Antes que Mark pudesse raciocinar, o ambiente ambíguo que estava a projeção de suas memórias foi desligado, o breu tomou conta. O quente do amanhecer clamou pelo seu tato, e sentiu a vasto gramado penetrar na visão.
O tempo dentro daquela habilidade podia durar horas, mas sempre seria instantes no lado de fora. Réviz se levantou novamente e notava os olhos do garoto ansioso na sua frente, que traduziam em tristeza e desconforto.
— O que, exatamente, você quer comigo? — disse Mark, com o rosto abaixado.
— É o primeiro, o primeiro que encontrei. O ensinarei a lidar com sua energia. Deseja que seus irmãos fiquem a salvo, correto? Infelizmente, isso não dependerá somente de tua determinação.
O outro deu um sorriso nervoso, pensando no que estava acontecendo em sua vida. Esfregou a cabeça, ajeitou a blusa, cuspiu na grama e sacudiu os braços.
— O que quer dizer com isso?
— Vamos prometer que…
Antes que Réviz pudesse sibilar qualquer outra palavra, sua postura falhou, e Mark deixou a cabeça cair no chão. Agoniou, grunhindo em dor intensa, apenas pode capturar Réviz, que franziu o cenho com o significado.
Sinos, uma cidade muito escura e estranha, construções empilhadas e amontoadas como a uma favela, uma janela acesa em uma enorme torre, mostrava uma mulher alta de cabelos ruivos que entregava armas para alguns homens.
Não se podia enxergar os rostos de ninguém, os sinos ficaram mais altos e tudo desapareceu em um instante. Réviz aguentou as visões com frieza feito um robô. Mark não pode determinar mais nada a cada revirar do assunto daquela manhã.
— V-você ouviu os... sinos? — Arregalou os olhos.
Mais uma vez a ignição se manifestou. O homem se levantou e estendeu a mão para Mark para ajudá-lo a levantar e, depois de alguns segundos de silêncio com os dois se olhando, Réviz disse:
— Viajaremos amanhã.
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