Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Cidade Flutuante – Um Sentimento Esquisito

Capítulo 13: Consciente Ruindo

A menina estava em alerta mais uma vez, algo se tornou gatilho para aquela expressão, rapidamente retornou, em um piscar de olhos, como se nada havia acontecido. As mudanças abruptas transmitiam uma falta de controle, batidas do coração que agiam sem perceber, iniciava, recomeçava ou terminava ainda assim,

Quando terminou, se vestiu e saiu do banheiro. Chegou no quarto designado por Réviz e começou a examinar mais uma vez o cômodo até ter visto a foto que Will trouxe do orfanato. O sutil brilho das luzes contrastou a noite que instaurava pela janela e guio até o refletir da memória esquecida, a foto do logo após chegar ao orfanato.

Enquanto se aproximava, hesitou com um passo desajeitado, algo perturbou a mente em um enfraquecer de joelho. O tempo já havia passado. Se recompôs com um pulinho adorável, levou sua mão para o queixo.

— Nossa! O banho parece ser é rapidinho aqui — piscou e piscou.

As mãozinhas chegaram a foto. Percebia que era mais nova nela, quase um bebê, soltou um sorriso sutil até que, logo em seguida, ouviu sons apressados. Pôs a foto na estante, ajustou com precisão de máquinas para a posição original e retomou com os dedos entrelaçados por trás das costas.

Depois de alguns segundos, os passos revelaram a presença iminente dos irmãos. Estavam trajados com suas roupas para dormir; Mark tinha uma regata branca enquanto usava calças grossas, e Will o acompanhava com uma camisa de manga longa e uma bermuda fina — as preferências estavam evidentes. 

— Dessa vez, chegou primeiro, né? Não queria aproveitar o banheiro grande? — perguntou Mark.

A menina respondeu com um rosto confuso, inclinou o pescoço para entender melhor. O tempo havia realmente passado? Os dois chegaram em instantes. Ao que tornaria diferente? Podia ser a casa nova.

— O banheiro grande? 

— É. Você ficou com o maior deles e…

— A gente tá só zoando você, hihi — concluiu Will.

Emburrada, a menina virou o rosto. A estranheza percorreu as sobrancelhas num protesto, simplesmente esqueceu de detalhes tão bobos há alguns minutos. Will se impôs no meio do quarto, ficou pensativo ao olhar em volta; apontava para as sacolas ainda espalhadas. Contraiu um processo de análise cuidadoso e silencioso, que deixou os irmãos curiosos. 

— Quatorze! — anunciou, com o braço estendido ao teto, feito um comandante de ataque. A postura reta e movimentos regidos destacou a estratégia que cimentou. 

Os olhos acompanharam o movimento quase desastrado do jovem de cabelos brancos. Ele subiu em cima de uma cadeira para buscar a vista do campo de batalha — e também para pose de sentido. 

— Atenção! Hora de arrumas as coisas! — Berrou aos elementos, que o observava com caras coradas.

Os outros dois irmãos notaram um sinal esquisito, Will sibilava uma palavra inaudível, desfez a pose no momento em que Mark e Nirda se entreolharam, certificaram que ambos ainda não captaram o significado disto tudo. O jovem de blusa azul estalou a língua, os fatos percorreram no cérebro quando deixou um “ah, é isso então” escapar. 

— Querem que o orfanato seja reconhecido por criar… preguiçosos?! 

Determinação brilhou nos rostos dos ex-órfãos, partiram para perto de suas camas, instantaneamente, em que estavam as bagagens. Mark puxou a manga da blusa até os ombros, e Nirda ajeitou as pontas dos cabelos. 

— Não mesmo! — disseram Mark e Nirda, uníssonos.

Depois de observar os dois em seus devidos postos, Will esfregou as mãos num ar maléfico e disparou uma gargalhada, a mesma gargalhada que praticou para aterrorizar criancinhas desavisadas. Nirda engoliu seco por causa do calafrio.

O comandante da faxina guiava os instrumentos em sua frete, estabeleceu o maestro dos móveis limpos e a sinfonia da desorganização vacilante, a mesma poeira que se tornou vítima do ditador da poeira invisível.

— Hora da reforma, hihihi… 

Os outros viraram soldados de uma missão: ajeitar o quarto. 

O irmão do meio exerceu uma superioridade natural o tempo todo. Apesar de seus problemas sérios de ansiedade, sempre procurou distrair as angústias precoces com o simples ato de ajuda. Ocupar a cabeça era o ponto vital para esquecer de alguns problemas, por isso, teve grande importância no orfanato. 

Recordava dos momentos que contemplava de forma pessimista a entrada da sua antiga casa.  Ainda pequeno, o crescer de preencher a inércia do “sem o que fazer” reagiu, havia pegado um balde de tinta que usou para pintar o portão. Foi pego na hora, entretanto, as lagrimas repuxadas disseram “por favor” mais sincero que as empregadas notaram. Enfim, foi quem decidiu todas as cores do lugar.

Essa ideia de simples limpeza vagamente cabia em tudo, pode jurar que esse foi o objetivo dele ter parado lá. E agora fazia o mesmo, ajudava seus irmãos para tentar se esforçar para superar as barreiras do desespero repentino. Foi uma pena não ter tal possibilidade ao lutar com uma folha de papel.

A nostalgia o guiou por momentos bons e ruins. Independente da maneira que os enxergava, o bordão, "não criamos preguiçosos", encravou as peles de cada criança como calor latente. Um encorajamento de queixos erguidos e arrependimento das bundas sobre tapas

O sentido de ter alguém que devia arcar com a limpeza foi perdido devido a suas antigas “mães”, que não só tentavam trabalhar, mas ser, de fato, o máximo como mães para todos do orfanato. Após algum tempo de arrumação, a entropia do lugar pareceu mínima, pelo menos enquanto o sistema estava fechado., Mark e Nirda estavam verdadeiramente contentes com o resultado. O líder, em pé na cadeira, decidiu finalmente descer.

— Aí sim! Topzera! — Sacudiu os braços, satisfeito.

As coisas de Mark e Will sempre ficavam contidas em armários, tapadas e protegidas de olhos alheios. Estava ainda mais destacado como vários polos, os três tinham pertences que não variavam muito de cor. Verde, azul e braco. Cinza, verde e… vermelho. Branco e azul… Já falei verde?

Finalmente iam navegar pelas profundezas das terras dos sonhos, Will bocejou e esticou a coluna, foi direto a cama, a gravidade o puxou; aterrissou de cara, encerrando:

— A mimir.

Madrugada, silencio e um defunto. Não, não. Isto é o jeito que a menininha fica. Olheiras que destacavam os faróis estáticos, que fitava o teto num tormento da falta de sono. Pedras racharam e ossos pareciam quebrar, a anciã movimentou o pescoço para ambos os lados. Espasmos nas pálpebras emitiram a descrença.

A criança estava com a cara repuxada e cabelos desajeitados — muita dó ver a insónia atacar tão nova.

— Quero dormir, poxa! — sussurrou, incrédula. Levantou o tronco ao espernear os braços.

Desceu da cama e cutucou o rosto do jovem de cabelo hipérbole, entretanto não tinha nenhuma resposta, insistiu na velocidade que a visão não reconhecia.

— Quando preciso, não coopera! — Fechou o rosto, frustrada.

Após perder a paciência cedo, foi até Will para repetir, assim que acabou de começar a cutucá-lo, ele virou as costas para ela. Conteve os nervos que assumiam sua vontade feroz de pular na garganta do irmão, os ombros cresceram e os dentes ameaçaram. Ele a faz ajudar naquele trabalhão e até o sub-consciente dele ignorava as vontades dela.

— Num vô perder tempo com você. — Deu a língua. 

Com a impulsividade de uma dama indelicada, abriu a porta e deparou com o corredor. Os lábidos empedravam e as pelinhas caiam. A sede a consumia. Massageou os beiços com a língua e deu passos determinados até a escada.

— De-deve ser a cozinha, não é? — cochichou — As empregadas dormem aqui? E-eu… n-não quero incomodar elas.

A luz cerrou a visão, a menina pôs o antebraço no caminho. Originado de um cômodo na lateral do corredor do primeiro andar, a incerteza tornou-se absoluta. Uma casa escura com apenas um lugar aceso. Era diferente de alguém que acordou por insônia e buscou um assalto na geladeira enquanto marcava seu percurso com o acender das luzes

Mesmo não sendo mães, podiam ser amigas; isso era que dava combustível aos passinhos calmos e cautelosos. Chegou devagarinho à grande cozinha. Quando estava perto da porta, decidiu esgueirar-se para ver o que tinha dentro antes de entrar.

Claridade ria das inúmeras piscadas que Nirda usava como defesa. O brilho caiu e nitidez revigorou o em volta; quatro pessoas: Réviz e as três empregadas. As mãos estavam unidas no centro da mesa, emanavam choques que atraíram a menina como mosca.

Andou lentamente, não pareciam terem notado a presença dela ainda. Viu seu pai sentado na cadeira, simplesmente imóvel, de cabeça baixa. Naquele angulo, ela teve certeza que ele havia cedido ao sono.

— P-pai, onde fica a á… Han?

O toque frio disparou um susto na menina, folego escapou sem poder processar o movimento abrupto. Sereno e quase em paz. Réviz franziu o cenho. O toque de sua contradição estabeleceu o contato na testa de Nirda, que desmaiou instantaneamente.

As moças foram expulsas da energia, mentes retornaram aos corpos com efeitos colaterais já esperados. 

— Como que cê sentiu ela chegar? — perguntou a de cabelo longo.

— Permaneço consciente ao exterior durante todo o processo.

— O que vai fazer com ela? — perguntou a de cabelo cinza. 

— Meu trabalho.

Contradição apareceu. Faróis marrons escanearam os confins das memórias de Nirda. No momento inicial, o procedimento padrão não mudou. Num momento infinitamente seguinte do inicial, a garganta seca do pai adotivo movimentou um protesto. 

Na biblioteca incontáveis, havia muitas cinzas, rasgos, destruição; marcas de garras que trilhavam um caminho entre as estantes para um livro verde resplandecente de um altar. Os passos eram densos como areia movediça.  Estranheza estalou na espinha do terceiro nível. A postura de um leitor esvaiu para a postura de um invasor. O lugar inteiro rejeitou sua presença.

No lado de fora, suor preencheu o nariz, e as empregadas resfolegaram pelo revirar. Réviz forçou sua energia, percorreu o chão vacilante com o peso de centenas de quilos extras. Uma força invisível e contraria impedia cada centímetro. Sem perceber, entrou num limite de uma série infinita. Impossível chegar ao livro, caiu no chão e tentou se arrastar.

O dedo indicador foi numa última tentativa. Infelizmente, sentiu a parede invisível que tendia seu sucesso ao menos infinito. 

— Por que a demora? Achei que pra esconderem o esquadrão terceiro tinha que ser isso aquilo tudo — questionou a forte.

Não respondeu. Invés de parar, seu consciente reagiu no mundo exterior, a outra mão repousou na testa da menina. A biblioteca ruiu. A tentativa de penetrar no alcance do livro fez tudo desmoronar. O lugar inteiro… não só rejeitava, odiava do fundo do coração a presença dele.

O lustre despencou, condenado ao colidir de Réviz. Incapaz de reagir, somente o atentar sinistro da menina de cabelos lisos no altar encerrou a invasão:

— Tem sorte que ela gosta de ti.

A colisão encerrou. Machucados ou dor… nada. Foi expulso do próprio plano do sub consciente. Como? O evento inesperado o fez respirar longamente quando a realidade o sequestrou com força. 

Nirda cairia de cabeça no chão se seu pai não apoiasse pelo reflexo absurdo. Atrás dele, as moças tinham as bocas abertas, suavam tão frio quanto ao terceiro nível.

— Eu… Fui expulso. 

— Expulso? Já passou por isso? — A de óculos se aproximou, curiosa.

— Na verdade… Esqueça. — Voltou seus olhos novamente à criança em seus braços. —  Confirmarei minha hipótese na ODST. Outro motivo para levar todos.

Levantou e foi em direção às escadas para colocar a menina em seu quarto. As empregadas processam, inquietas e confusas — o que deveriam pensar do agente mais importante que não gostava de dizer os detalhes?

— Ele pode... acabar matando eles? — perguntou a forte.

— Caso desejasse, teria feito, mesmo que a energia dele fosse toda drenada para alterar tantas memórias enquanto mantinha a gente conectado — comentou a óculos, friamente.

— Eu não quero ser parceira disso! São tudo jovens pra dedéu, não é legal entrar numa missão dessas — disse a loira com as mãos no peito.

— Prestou atenção no que ele mostrou pra gente? Aquele garoto é importante, não importa o que aconteça. Réviz quer levá-lo para ODST, então vai ser muito útil para gente.  — A forte confrontou a loira.

— Numa competição, ele é mais perigoso e valioso, que nós, mesmo eu como a melhor… — sussurrou a de óculos.

Continuaram a discussão na cozinha sobre todas as informações que testemunharam e do atentado a confiança que acabou de acontecer. Réviz finalmente deparou com o corredor e prosseguiu devagar para o quarto. Viu seus outros dois filhos que dormiam.

Foi até a cama perto da parede, colocou Nirda delicadamente para não deixar nada estranho, mas também para mantê-la confortável. Colocou o cobertor por cima da menina e ajeitou seu cabelo. A imagem da garota do altar atacava em vãos, ausentes de explicações.

Ficou ali parado, a fitava numa expressão sombria, a penumbra do olhar foi descoberta pelo luar que varria pela janela. Engoliu seco e se escorou no peitoril.

— Preciso saber quem a matou... preciso saber o que ele tem de mais especial nele. — Os mesmos morros que conduzia o planejamento interno das manhãs recebiam o desabar. Fechou os olhos e assentiu para si: — Duas semanas... o terceiro nível tem que preparar os campos e o interrogatório.

Caminhou devagar até à porta, fechou e desceu em direção à cozinha para terminar o que Nirda havia interrompido. 

Mais tarde, a calma do amanhecer do sol atingiu primeiro um dos adormecidos estava frenético, se movia de um lado para o outro da cama, deixava claro que não tinha nada bem. O sol tocou a blusa azul, os movimentos aceleraram no manifestar e aversão da luz. Mexeu mais e mais.

“Vá". A voz gritou em sua mente e o fez despertar de uma vez por todas com um susto.

Quando sua visão focava, sua expressão estava simples. Mark não escutou a voz, mas, de alguma forma, o acordou. Conseguia ver uma espécie de vulto totalmente branco parado na frente da porta que o encarava.

 

 



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