Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Volume 1 – O Segundo Setor

Capítulo 22: Casca de Pedra


 

⟪ Na noite anterior ⟫

 

Antes de Réviz convocar Mark para um treino arriscado, mergulhou num destino bastante preocupado, apoiado em uma enorme janela no último andar do prédio mais alto — no centro da ODST a instalação.

Nenhum ser vivo dava sinal. Mesas e cadeiras de espera tornavam-se sinônimos de felicidade se comparadas ao homem silencioso. Embora a testa colada no vidro imenso, as gotas de chuva intensa que tocaram a janela traziam uma angústia, na qual fazia os dedos dos braços cruzado a um ritmo sem paciência.

O ar revirou pelas narinas e balançou o queixo, negou uma afirmação antes de pensar em algo.

“Clima desprovido de paz”. Ao prestar assunto ao chão tão distante abaixo, viu a névoa dificultar a visão enquanto água cobria a instalação militar. Virou-se e apoiou as costas contra o vidro. Fechou os olhos e o ritmo dos dedos foi encerrado, interrompeu a si pela falta de palavras para descrever o que sentia.

Réviz decidiu fingir que a chuva era mentira.

A força da água aumentou, o ruído de fundo e talvez agradável ecoou pela sala num alarme que o fez tensionar os ombros e descorar do vidro após contrair as bocejas em nojo.

Andou em direção à porta do centro, que estava destacada pelo seu tamanho e o grande símbolo do Segundo Setor. Quando quase a tocou, o elevador, bem mais atrás, abriu e revelou a moça de terno branco.

— Cara, por que você está tão assim? — Correu em direção ao amigo.

— Apenas prossigo com meu dever. Relatarei meus planos ao… — Réviz retirou sua mão da maçaneta e olhou para ela com uma frieza penetrante, algo que não fez por muito tempo.

— AH! CORTA ESSA! — Levantou a voz enquanto apontou para seu colega. — Ai… desculpa.

Réviz permaneceu parado, encarava-a e apenas levantou uma das sobrancelhas. Era para ter sido isso, mas o ruído da chuva atraiu a atenção e esboçou o nojo novamente.

A conversa dos dois era difícil. Luri passou o dia com os convidados, na esperança de aliviar o peso da responsabilidade que seu… amigo transmitia. Estava irritada e decepcionada.

Chegou pelo elevador com energia para bater em alguém, entretanto, agora, uma bomba de hesitação explodiu ao ver Réviz angustiado. Juntou as mãos e evitou o contato direto antes de abaixar a voz.

— Vo-você finalmente achou aquele garoto após cruzar o segundo setor inteiro, não pode aliviar só um pouco?

Réviz apenas se direcionou a ela, sem qualquer ruído, a diferença de altura dos dois deixava-o no posto de um juiz que apenas esperava ouvir todos os argumentos de quem acusava. Não prestava resultado aos esforços de sua líder.

— Já faz mais de dezoito anos, não precisa aguentar isso sozinho... Não precisa. Não precisa! — insistiu. — Tem que esquecer ela.

Depois de reparar o desinteresse de fato, Luri desabou. As chuquinhas murcharam e as costas curvaram. Foi em direção ao elevador, lentamente, durante algumas olhadelas ainda mais esperançosas. Os passos da mulher ecoavam pelo local, destacavam ainda mais a insatisfação que continha.

A última olhada foi o suficiente para interromper o andar, que vacilou ao receber a vibração pelos ouvidos que, enfim, causou o movimento descontinuo:

— Acredito fielmente que estes vislumbres, sinais tão repentinos, e as pessoas que vejo nele irão me conduzir a descobrir o que… — Hesitou, porém, ganhou força para continuar com os olhos fechados. —  O que aconteceu com a Quiral.

Surpresa anormal tocou as bolas azuis, que brilhavam em branco. Soltou um singelo gemido com a mudança drástica da respiração. Ouvir palavras tão simples que não tocavam na missão, a deixavam feliz e, ao mesmo tempo, triste.

— Eu já disse, eu não levei a sério a situação, foi minha…

— Sua culpa? Sua culpa?! Luri, entenda de uma vez! Caso estivesse usado minha energia da maneira correta, não teriam a imobilizado! Não teriam a levado! Que merda de chuva é essa tão de repente?!

Fazia muito tempo desde o último milésimo que viu aquelas emoções tomarem conta da fala, Luri presenciou o colega e se arrepiou ao atentar diretamente para o rosto dele, entretanto abaixou a cabeça com o tom incomum.

Réviz abriu as mãos como se liberasse garras e descontou na chuva pela janela. O punho disparou contra o vidro e parou a um átomo de distância. Governou os impulsos e expôs as presas ao apertar os dentes enquanto continuava:

— A minha energia mudou completamente! O comportamento de… da… situação mudou! A missão 117 foi apenas o pontapé inicial! Não entende?! Eu quero entender, quero entender o porquê.

— Então, me diga o porquê parece que você está me evitando o tempo todo — sussurrou. — Sabe que foi eu quem não deu ouvidos para o que ela disse...

— Por favor, não.

— Que um fantasma havia dito para ela que a missão era uma armadilha.

— Não quero te envolver nisto, Luri.

Réviz remontou a pose, arrumou o cabelo e colocou os braços para trás. Quando notou a colega, assustou com a tremedeira. A moça cerrava os dentes, embora o cabelo ainda cobrisse o rosto.

Num movimento sucinto, Réviz deixou escapar o ar quando Luri se levantou. Invés de ira e ódio em resposta, lágrimas correram e tocaram o chão.

— Não quer me envolver? Não quer? NÃO QUER?! — Andou para bem mais perto e apontou o dedo para o rosto dele. — Ela era muito mais que uma irmã para mim, não pode me negar a vontade de ajudá-lo! Não pode se esconder numa casca de pedra enquanto esconde seu verdadeiro objetivo, senhor “faço tudo sozinho”! Paga de protetor, ó o grande cuidador do bom-senso, mas está apenas se agarrando a um desejo egoísta… ficou cego por vingança, dúvida e… — incapaz de aguentar, seus olhos brilhavam devido às lágrimas. — Não percebeu que virou outra pessoa, não percebeu que está trazendo aqueles dois jovens e, e uma... uma... criancinha com você para ainda mais perigo!

A moça, conhecida por ser extremamente sorridente, desabafava, em rios de preocupação, um pesar de culpa que precisou aturar por quase duas décadas. Esfregava o rosto, soluçou com a ideia de que a pessoa que o manteve firme como parte da equipe do terceiro nível talvez nunca fosse retornar. 

— Naquele dia, quando aquelas criaturas sombrias apareceram, parece que não levaram somente a minha irmã — Aguentou, com força, a sinceridade que jorrava de seu rosto em forma de água —, mas você também.

Réviz não sabia o que dizer, nunca a havia visto naquele estado. A líder deixou com que o guardado pudesse voar para fora. Engoliu seco, não queria que isso durasse. Somente escutava mais dela:

— Estamos na mesma geração dessa equipe, treinamos desde pequenos para carregar esse posto. Quer fingir que nada disso faz parte da sua busca? Tudo bem! Era para a Quiral continuar a líder desse esquadrão! Era a Quiral que te daria o filho que tanto quis! E sou EU que está pagando o preço!

— A mensagem, a mesma mensagem que recebi naquele dia, foi para achar o “general Marcos”, o comissário das chamas. Os vislumbres eram constantes, tornaram-se raros após um tempo. Depois que me aproximei de Mark, se tornaram mais frequentes novamente, ele se encaixa no que os vislumbres mostraram.

Os dentes de Luri colidiram novamente dentro da boca. Não suportava a repetição da ideia de uma caça ao tesouro que tanto recitava, queria banir a palavra "vislumbres", o pesar de tristeza acabou no combustível ardente de ódio que aflorou em Luri.

— Ainda vai me ignorar? Ainda vai me…

— Quiral foi a mulher mais importante para mim, e você foi a mulher mais importante para ela. Luri, quero encontrar a razão disso, a movimentação incomum da Estrela Sorridente, os sinais, aquela menina e o garoto são as coisas mais próximas que consegui nesses anos.

A moça engoliu mais lágrimas e soluçava ainda mais. Os dentes retraíram quando sentiu o toque que segurou os ombros, que a fez prestar atenção num suspiro — queria, do fundo do coração, que não fossem mais outra conversa de líder, queria apenas uma conversa de… um alguém também importante.

— Não suportaria a ideia de perdê-la também.  Entretanto — Respirou fundo —, ter um alguém para proteger, ou melhor para você: creio que um tanque, é uma ideia muito atraente nesta operação, Luri Epimoni.

Ao ajeitar seu terno incrivelmente branquinho, sorriu e levantou os ombros, limpou a água no rosto e destacou o pequeno sorriso que varria com serenidade a tristeza que acarretou evento estranho.

— Pelo menos — Soluçou e deixou o nariz escorrer lentamente —, não nega que sou bom no jogo.

Réviz tinha uma missão a zelar e uma colega que não podia deixar. Se é da escolha dela, não tinha intenção de excluí-la à força, porém, ia garantir que ela não se machuque. “Machucá-la… é machucar a Quiral”.

Uma última lágrima dançou pela bochecha enquanto Luri espremia o rosto, antes que seu dedo pudesse terminar o serviço, um dedo invasor tocou a pele e encerrou o trabalho, faltoso de qualquer anúncio. Vermelha após sentir o movimentar inesperado, inclinou o queixo para cima para ouvir com clareza.

— Retomando, preciso de sua ajuda para mostrar ao jovem do que ele não sabe. Por favor, vá ao corredor principal na área dos laboratórios e configure a passagem para o campo. Preciso que faça sua demonstração de sempre.

— Tá-tá bom, mas ainda sou eu a líder aqui. — Foi para o elevador enquanto mexia com suas chuquinhas.

— Ordene para que ninguém ande próximo daquele lugar até tudo acabar, até grite do jeito que só você sabe se precisar. — Pouco antes da porta fechar, Réviz completou em tom mais alto: — Lembre-se! Precisamos da confiança dele.

Naquele momento, somente o plano de Réviz e a imperdoável chuva eram notados na sala. Prestou para a entrada da sala mais importante do lugar, que tentou pouco antes. Observou as luzes e apertou a visão. Nojo e desprezo eram visíveis no ato de tentar abrir a entrada.

Sob o cruel soar da água pela janela, a frieza instaurava as ações novamente. "Lidarei mais com ela depois", pensou. Construiu a postura digna de um membro do terceiro nível. Deixou à mostra um pequeno corredor com uma porta dourada no meio de dois guardas.

Uma luz vibrante em branco penetrou pela fresta recém-aberta. "Farei de tudo para descobrir o que fizeram com você, minha Quiral". Cobriu com a mão e liberou a claridade adaptar e contar informações cruciais: um pequeno corredor com uma porta dourada no meio de dois guardas.

O corredor olhou para medroso de chuvas, e o medroso de chuvas olhou de volta. Fez anos desde que Réviz sentiu qualquer grau de nervosismo. Percorria, em ritmo lento, diante dos guardas, que ficavam com medo da aparição tão inesperada do terceiro nível naquela hora da noite.

— E não é que ele voltou — sussurraram.

 O lugar inteiro era completamente diferente de fora da sala. As paredes eram revestidas por uma espécie de tinta que brilhavam por cada centímetro, pareciam estarem imersos num mar de branco. Não estava acostumado com aquilo, esfregou com delicadeza os olhos, que tinham dificuldade em manter a visão continua.

A sala baniu qualquer significado de profundidade. Caso a porta dupla a frente não existe, embora teve a impressão de que flutuava no nada, era impossível dizer que avançou algum passo.

Havia um silêncio muito incomum, os passos eram como se aterrizassem suavemente em almofadas, que não propagava quaisquer barulhos. Sempre teve uma impressão ruim daquele corredor estranho, a noção de ter uma negatividade que sondava o lugar coexistia em sua consciência com a definição peculiar. “Ser desprezível”, pensou.

A conversa que teve com sua colega no lado de fora, com certeza, não foi ouvida — nem mesmo uma explosão podia ser descoberta pelo lado de dentro. Queria apenas ser o mais pontual possível. Nojo definiu o exterior da porta. Réviz apressou o passo na direção da porta dupla e dourada no fim do corredor.

Estava cada vez mais perto, flutuava em meio a uma percepção falha da visão devido à falta de profundidade que o corredor parecia conter. Os guardas ficaram eriçados pela aceleração.

— Desculpe, se-senhor.

Com as mãos tremulas, um dos guardas se aprontou para destrancar a porta. Esquisito e raro. Não havia maçanetas ou trancas, ou sequer chaves. O guarda fazia sinais como se conversasse com a entrada até que um pequeno brilho surgiu nela. O outro rapidamente saiu da frente de Réviz, quase em um tropeço.

Surgiu a abertura, que deixou à vista um enorme cômodo semelhante com um tribunal muito iluminado. Uma mesa elevada acima do normal e outras cadeiras em volta; janelas que realizavam a volta completa pelo lugar transmitiam toda a vista da instalação feito uma visão panorâmica.

Curioso e assustador. Apesar da vista bela e muito alta, não deixava rastros do próprio prédio, entregava constantemente a ideia de que flutuava o tempo todo. Uma ligeira posição de observador divino de um todo.

— Ora, ora. Eis quem resolveu dar um sinal de vida. — A voz grave surgiu no momento que a porta fechou sozinha.

Réviz disfarçou o desprezo, fortaleceu uma emoção indiferente no rosto e resolveu ver diretamente aquele quem evitou. Uma luz atrasada acendeu e desvendou, da única sombra do lugar, um homem de idade, musculoso e careca, que usava óculos escuros num tom mais relaxado, chamou a atenção de um dos mais importantes da instalação enquanto endireitava o traje de gala.

O computador em sua frente tampava perfeitamente o rosto dele. Ele inclinou o monitor para receber com nitidez enquanto esboçou um meio sorriso:

— Vamos lá, me diga! Hmmm! Melhor não… — disse calmamente — Não, espera, já sei. Deixarei você começar. — A voz grave ressoou novamente e o braço esticou para dar a deixa.

— Hoje de manhã, trouxe uma pessoa que tenho certeza de ter aparecido em meus… vislumbres.

— E? Espero que não seja só isto.

— Um usuário da energia, chefe.

Hihe! Que piada! Hhahaha! — gargalhou.

Réviz sempre teve receio daquele em sua frente. O chefe do segundo setor era conhecido por sempre ajudar as pessoas das cidades com muito cuidado e por pegar pesado com os que trabalha.

Entretanto, estes míseros detalhes eram completamente insuficientes para trazer uma ligeira e singela ansiedade no agente que sempre conseguia se comportar com êxito em quase todas as situações. Toda a cena se tornou algo…

— Interessante, não é? Passou grande parte da vida em uma busca sem sentido que, de repente, deu frutos do sucesso, não é mesmo interessante?! Nem sequer fez questão de me dar atualizações diretamente. Que declínio, hein!

O chefe espreguiçou pela cadeira, levantou os dedos para cada informação que vinha na mente. Listou com sarcasmo vil a maneira que Réviz vinha agido nos últimos tempos.

— Você tem um ótimo desempenho desde que pisou aqui pela primeira vez, mas essa busca... — Coçou a careca. — Foi a primeira vez que acreditei que iria fracassar. Não me diga que está aliviado por terminar. Não precisa, consigo adivinhar que não a terminou ainda — Apontou o dedo, interrompendo que o outro respondesse. — Apontou o dedo, interrompendo que o outro respondesse.

O outro estreitava a visão a cada palavra, não parecia um elogio vindo daquela pessoa. Àquela altura, era difícil ter o contato direto, embora o chefe pudesse imaginar corretamente como o outro iria reagir.

— Serei sincero: não importei muito com a falta de comunicação que demonstrou, porque ainda tenho muita confiança em você. Hehe! Afinal, temos uma líder que é quem devemos depositar nossas tarefas.

— Por favor, esse assunto é só meu. Não a envolva mais que o suficiente.

O chefe começou a bater de leve os dedos na mesa, o mesmo ato vicioso e rítmico que imitava o ato de impaciência do terceiro nível de proposito.

— Não encare como algo negativo, entendo que não quer que a tragédia se repita etc. Quero tomar precauções contigo, logo, gosto da ideia que ela participe mais disso.

— Possuímos uma agente a menos, é um planejamento ruim contar que ela me acompanhe e deixe a instalação sem uma proteção devida.

Réviz gostava de contar com a ajuda da colega, mas precisava se manter na razão, já que a decisão final não dependia dele. Dessa forma, apenas tentou tomar as ações que evitassem uma ordem direta.

— Poxa! Tem certeza? Ele ainda age igual a irmã...

Réviz cruzou os braços e virou o rosto. Não era a vergonha ou sentimento estranho que o trazia para fora do olhar do chefe, era a aura estranha que sentia perto dele. Algo pior que nojo ou desconforto, o próprio ódio.

— Não se preocupe também! O ritmo dos relatórios do primeiro nível está desacelerando rápido, parece que o perigo pelo Segundo Setor caiu drasticamente. E se estivesse alto, faltariam motivos para chamar o esquadrão do terceiro nível, vulgo vocês, o tempo todo para apenas pegar ladrões ou traficantes.

— Exato.

Hmm?

Com a postura ajeitada, o chefe abaixou os óculos para intender melhor a reação fora de sincronia. A cadeira foi guiada para mais a frente, posicionou o foco para escutar a chamada daquele que tanto demorou para dizer:

— Indo para o assunto que trouxe minha visita, senhor — Encarou no fundo dos olhos de quem o fazia pouco. — O assunto que quero abordar possui uma conexão com este fato.

— Prossiga como quiser. — Intimidação. O comandante e responsável pela ODST emanava um ar de tensão ao entrelaçar os dedos.

— Batemos o recorde da ausência qualquer menção da Estrela Sorridente com quase vinte e oito dias. Junto disto, existe um movimento crescente para o Oeste nestes vinte e oito dias também, a maioria indo para regiões próximas da cidade flutuante.

— Mérito nosso! — Levantou o punho direito, comemorou uma vitória que não percebeu até agora. — Com respeito ao movimento, seria um comportamento comum com a época de férias acadêmicas que estamos e o festival flutuante. — Se aproximou mais com a cadeira. — Entretanto, suponho que meu nobre amigo tem algo a mais, não é? Um amigo que não me traria suposições sem fundamentos e óbvias após eu dar suporte durante a anos de uma operação sem…

Réviz começou a se incomodar com as falas, parecia que testavam seu temperamento. Apenas inclinou o pescoço e estalou para interromper o chefe. Essa ação foi percebida e, pouco a pouco, o chefe também ia ao teste.

— Os assassinatos que ocorreram nos últimos meses foram de vítimas que tinham alguma conexão com a organização criminosa. Baladas, bares, shows, tvs e, por fim, becos foram situações mais frequentes. Todavia, por falta de evidências concretas para qualquer outra afirmação, foram concluídas como apenas “acerto de contas”. Os suspeitos foram detidos aleatoriamente e nada mais foi concluído.

Pegou seu celular e, após um toque sutil, um holograma estendeu a tela e revelou um mapa simplificado com uma linha em forma de espiral, começando do centro-leste do segundo setor até acabar na região de alta movimentação.

— Todos os casos envolvidos neste espiral da ordem cronológica dos últimos meses têm conexão com a organização — O chefe ajeitou os óculos, atentou-se pelo trajeto marcado —, entretanto, o detalhe, também comum, é que este espiral inclui exclusivamente vítimas que tinham conexões diretas na cidade flutuante. Seus corpos, invés de terem o tratamento devido por suas famílias, foram levados para lá sem prestar explicações concretas nos relatórios, resumindo em uma simplória “terra natal” conveniente.

Ele guardou o celular e encostou o dedo indicador em sua testa. Negou com a cabeça uma lógica que baseava no emocional, porém, segurando-se racionalmente, continuou:

— Depois que os vislumbres aumentaram, esse lugar é o que mais vejo. Ter encontrado o usuário de energia, o Mark, foi o catalisador desses eventos. São coincidências demais para alegar uma afirmação sem um juízo prévio. Senhor, o silêncio da organização em simultâneo com o crescimento do movimento, a proteção de nosso terceiro nível, a resposta para a missão 117, as evidências de meus vislumbres e essa incidência nos relatórios… Senhor, treinarei Mark, meu mais novo filho adotivo, e o usarei para alcançar mais repostas.

— Por que tão confiante? Espera, adotou alguém e trouxe para cá? O que está pensando?! Nunca imaginei que faria uma ação imprudente como esta!

— Este jovem, que tanto vi nestes dezoito anos, consegue regenerar pessoas com chamas de cor ciano.

O chefe, sucintamente, levantou-se da cadeira, aflito. Não acreditava nas palavras que ouviu. Retirou os óculos, com as mãos que tremiam muito enquanto respirava rapidamente.

— Por favor… re-repita.

Mudança drástica de comportamento. Agora, o polo de ansiedade sem razões aparentes foi trocado numa simples mudança de equação. Réviz ficou atordoado, de alguma forma, o imponente chefe estava a se reduzindo a migalhas de inquietude.

— A desgraça do legado de Marcos para me assombrar… — sussurrou o chefe, incrédulo. 


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