Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Volume 1 – O Segundo Setor

Capítulo 21: Dois Instintos


 

O ato tão entusiasmado do cientista forçou um pressentimento estranho em Réviz. Cerrou a vista, atento a cada movimento dos dois e interessado com o proceder; colocou as mãos juntas nas costas e observou casualmente sem dizer nada. Mark colocou no seu braço direito próximo ao equipamento que o cientista tanto apontava, então, num pulo horripilante como um inseto ágil, garras saltaram e se projetaram ao pulso num abraço forçado com a carne.  

Assustou o jovem, que deixou lágrimas saírem em um grito apavorado. Antes mesmo que pudesse terminar de expressar a dor, a fonte da mesma dor sumiu. O item foi afrouxou até se adequar ao formato do braço daquele que o usava. “Que diabos”. 

— Não precisa preocupar, isso dói um pouco, mas some na mesma hora que aparece. — O cientista ajeitou os óculos, esperando por isto. 

— Tá… eu acho. 

O bracelete, que dava a base para o mecanismo, mudou de cor até se adequar ao mesmo tom da blusa que usava. Fascinado por isto, examinou o instrumento metálico até o foco de curiosidade emperrar na ponta afiada. 

— Como usa o arpéu? 

— Não sei como explicar exatamente… — Suspirou. —   Afinal, foram feitas calibrações usando dados do senhor Réviz e da senhorita Luri, sugiro produzir a tal ignição na forma mais alta possível. 

— Alta? 

A maneira na qual interpretava as ignições era como o ato de respirar após nascer, não existe maneira de ensinar, apenas entendia que o ar, instintivamente, passava por dentro de seu corpo novinho. O rosto fechou, tentava incorporar o que de fato era uma ignição alta, apertou os punhos e fechou os olhos.  

Nada apareceu. 

Invés do curto percorrer o corpo, o silêncio revigorou. Perturbado, admirou as mãos que davam a razão ao pedido. Firme e decidido, endireitou o pé e o dedo mindinho, puxando levemente num estalo fofo. O estalo que perfurou o silêncio fez o cientista limpar os óculos. 

“Ir até o fundo talvez”, citou mentalmente. O jovem sacudiu os ombros e permitiu os braços reviraram pelo ar. Aqueceu e soltou a si num alongamento improvisado.  

Repetiu as etapas e se concentrou. Respirou fundo e, cautelosamente, a energia saia gradativamente. Ainda de olhos fechados, pode sentir que não havia algo diferente de quando usou o fogo ciano antes. Olhou ligeiramente para o cientista e percebeu que a curiosidade ainda era mesma, ou seja: a ignição alta era algo completamente diferente. 

O nariz levantou e a boca abriu, forçou mais ar para dentro e o prendeu. 

A eletricidade foi calma e sutil, a intensidade aumentou gradativamente até destacar o brilho ciano por todo seu corpo. O brilho envolveu por completo fez sua pele brilhar por um misero e ligeiro picossegundo. 

O instrumento fazia um zumbido durante o processo, as engrenagens superficiais giravam e aceleravam sem parar conforme o tempo que Mark deixava a ignição intensa agir. 

— Acho que... é isso. Consegui? Eu consegui! Uhh! 

O gancho saiu com velocidade máxima e prendeu no chão, imitando um arpão. As engrenagens aquecidas giraram no sentido contrário e puxaram a corda, fazendo o jovem se jogado de cara no chão de forma bruta, metade da cabeça se aprofundou no chão.  

Esqueceu de averiguar para onde apontava a arma antes de tentar algo. 

Ah, é! Se manter assim por muito tempo, ele já vai te puxar quando carregar no máximo. — Deu um sorriso. — Então precisa mirar direito antes, hhahahah! Apesar do gancho já ter voltado para a base, com o detalhe que trouxe você junto, o motor só irá parar de puxar o gancho quando sua ignição cessar. 

— Estava interessado neste rope dart, sim? — perguntou Réviz, em um tom seco. 

Mark se levantou, cheio de poeira e terra, enquanto cuspia o que quase engoliu. Ninguém havia pensado em dar importância de fato na insatisfação do jovem, que resmungava após notar sua blusa favorita suja. A retirou do corpo e começou a abaná-la ao dizer: 

— Olha…Cof — A poeira foi diretamente contra a boca. — Isso me lembra de um jogo de um cara numa armadura verde. A DIFERENÇA É QUE ME EXPLICAVAM COMO USAR! Vamos! Tão esperando o quê? Me enterrarem de uma vez?! 

O cientista não aguentava as risadinhas, colocava a mão na barriga e curvava para trás. Limpou as lágrimas felizes e o fervor retornou para ensinar. 

— Para liberar o arpéu, basta fazer ao contrário. Então, deixe sua energia no mínimo que o equipamento irá liberar a corda. Então, se cessar, ele para, hihi. Se estiver no máximo, ele dispara e te puxa assim que prender em algo. 

Tentou fazer assim como ouviu, liberou cerca de três metros de corda antes de cessar sua energia. Um calafrio. Outro… calafrio. Sentiu um gelo em sua espinha. Não tinha palavras para descrever, era como um certo déjà vu. A forma como acorda se enrolava sobre o chão, pode jurar ter já visto aquilo em um chão mais… frio. 

Aflito, sacudiu a cabeça e tentou se manter são. Balançou por alguns segundos aleatoriamente, era claro que não havia quaisquer noções para manusear a arma. 

— É para me ajudar a me defender. Beleza, ok, ótimo, maravilha, bacana e supimpa… só que sinto que me enganei... Não posso só aprender uma defesa pessoal ou sei lá o... — Se atentou para a ponta do gancho.  

O lugar destruído era um cenário vil, mas coincidentemente, enquanto tentava balançar a corda, um raio de luz refletiu na ponta do ganho e o interrompeu.  

A inércia de seu movimento fez o gancho saltar e ter luz da lua refletida em seus olhos, ao contrário de evitar o contato direto, Mark abraçou a luz sem tocá-la. O cérebro ficou tão incrédulo que transmitiu a sensação do tempo parar, era como se tudo exigisse que a ponta ali no ar fosse cultuada.  

O rosto dilatou e pode perceber o que não era claro. “Após puxar, a ponta irá subir até o ombro, avance a pegada e aproveite o impulso”. 

O instante de décadas foi destruído pela engrenagem do tempo, a análise de minutos era um piscar para os dois observadores, que viram a energia oscilar entre mais alta e calma num clarão.  

O giro dos ombros aumentou a velocidade e fez a ponta completamente invisível a olho nu, até que a largou com força para o chão. O buraco que foi parcialmente a toca da cabeça de Mark colapsou num corte profundo. 

O chão tremeu e o barulho fez o estudioso espantado, ainda não havia percebido que o o resultado desse movimento devido aos seus óculos cheios de areia, os limpava com o próprio jaleco e ficou de boca aberta quando sua visão se ajustou ao cenário.   

— Interessante — comentou Réviz. 

— C-Como fez isso? Hein? — perguntou o cientista, impressionado. 

O jovem não só levantou poeira com a ventania, também partiu o chão ao seu lado como manteiga, deixou um rombo profundo na terra com o formato do gancho. 

— Eu só… hmm, eu não sei — soltou, sem jeito, após trazer o gancho de volta à base. — Não dava pra enrijecer a roda pra ficar que nem um... dardo? Eu balancei, disparei o arpéu e enrijeci no último segundo. Aí ele só furou o chão invés de prender e me puxar. 

— Ah! Moleque insolente! — resmungou o cientista, esperando algo mais objetivo. — Qualquer descrição é mais valiosa do que um mero ISSO! — Coçou a cabeça. 

— Essa arma é uma das que utilizada um metal raro chamado de “duolápis”. Além da resistência, é o único que consegue reagir pela energia. Não fico surpreso que cause esse estrago com uma fina e simples corda — esclareceu Réviz. 

Mark examinava novamente o equipamento, esfregou sua blusa nele para limpar um pouco da sujeira que tinha caído sobre e acabou se vendo com o reflexo — percebia que algo estava esquisito, seu rosto voltava para a mesmo alerta que tinha quando acordava todas as manhãs no orfanato, por que sentia tantas impressões diferentes sobre o mesmo tópico? H 

ora continha o medo, hora raiva, hora alívio, hora… nostalgia. “O que tá acontecendo comigo?” 

— Diga-me. Encontrou algum problema? — Réviz se aproximou.  

O pai adotivo exigiu algum esclarecimento, mas somente notou a atenção alheia desviar da pergunta de forma não intencional: o garoto observava, dentro de uma luta interna, os obstáculos que haviam distribuídos mais ao fundo do grande campo.  

Aterrissou sua visão sobre a mesma torre que tentou escalar durante o "treinamento" com Luri. 

Ter o capuz puxado foi um incômodo, embora, com o rope dart, o resultado poderia ter sido diferente, Mark podia se afastar o quanto e para onde precisasse. Percebia que tinha facilidade em aprender aquelas coisas. E isso o assustava... O instrumento estalou depois do gancho travar na base. "Talvez, se eu tivesse isso ontem". 

Com o ruído que traduziu ao novo uso do item, apontou para o cientista e juntou as mãos num pedido sincero: 

— Se importaria se usar isso aqui rapidinho? — perguntou, olhando para os dois enquanto direcionou o dedo para o fundo do campo. 

O cientista, em dúvida sobre o que responder, buscou orientação em Réviz, quem só disparou um rosto severo e analítico, a gravidade de ver um superior em silêncio o encarar deu arrepios que o fez abaixar a cabeça.  

— Tanto faz! Faça o que quiser. — O desconhecido de jaleco retirou os óculos e massageou os nervos. 

Mark foi num trote simples, passou pelo pilar que tinha seu corpo gravado e examinou o resultado dos socos de Luri. As perfurações em forma de punho o fizeram suar frio ao imaginar o resultado de outro acerto direto. 

— Então não é como se eu tivesse que arrumar limpar essa bagaça depois — comentou baixinho o estudioso, irritado.  

Desviou dos obstáculos ainda mais eficiente do que feito anteriormente, acelerou o passo e correu em direção à torre que tentou escalar — queria provar que conseguia. Um ligeiro sorriso apareceu. Sua mente estava serena. A calma de não estar em perseguição o fez aproveitar os movimentos que o percurso exigia para atravessá-lo da maneira que foram propostos. 

— Parece que ficou fácil. — Deslizou por baixo de uma grade   

ROTINA”. 

Com os olhos no topo da torre, ergueu seu braço direito quando sua ignição surgiu em totalidade. O gancho foi atirado, formou o lindo arco que simbolizou o giro da ponta até a beirada topo. Após fixar, foi puxado — se assustou, mais uma vez, com a força que o fez flutuar. 

Remexeu o corpo e ajustou a postura na trajetória, conseguiu agarrar a ponta do chão e suspendeu o corpo até ficar em pé no topo da torre e recolheu o ganho naturalmente. 

Conseguiu ver os dois lá embaixo mais ao longe, acenou para eles com um sorriso de vitória, fez Réviz devolver um minúsculo sorriso. A satisfação em estar ali o deixou feliz. Neste lugar, estava claro o tamanho de todo o campo de testes, inclusive da luz do Luar que preenchia o centro e irradiava a função inversa da escuridão ao redor da torre. 

Este lugar… O fez se perder em pensamentos, imagens estranhas percorriam a mente. Foi capaz de dizer que tudo estava cercado de neve e… A madeira chiou e aço pulava. 

A estrutura começou a ficar instável. O chão se inclinou, impôs o deslize nos pés do jovem, que caiu de costas e viu a gravidade o forçar para baixo. Ficou amedrontado, rapidamente tentou segurar em algo, mas as mãos e pés não paravam de escoregar.  

Teto repartida e partes do concreto caiam, quase o acertando. Paralisado pelo evento, observava o chão se aproximar ao sentir o vento pelo corpo, destinado a queda livre pelo chão que tinha a angulação cada vez maior. 

— Droga! A torre vai cair, vou chamar a… 

— Negativo. 

— Ele vai se machucar! 

— E isso é ruim?  

O cientista ficou preocupado e puxou um celular, mas teve a mão segurada por Réviz, que não retirou a atenção daquele que estava prestes a cair. 

Mark estava no ar, disparou o gancho e prendeu na parede, onde acabou por confrontar de cara pela trajetória do movimento. Atordoado, a corda liberou mais distância e o fez cair de uma distância não letal.  

Acima dele, O maior obstáculo daquele lugar se desfazia com o jovem presente, metade dela se partiu, ficava livre devido à falta de sustentação e caia como um dominó. Apertou a guarda, liberou o gancho novamente e, quando a corda saiu, preparou para o golpe. 

Invés de puxar ou retrair, Mark desligou toda a ignição. A corda, em reposta ao usuário, de tornou rígida e firme, as fibras se contraíram e transformou a corda solta num cabo de aço retilíneo, onde a ponta do gancho cresceu. 

Naquele segundo, o rope dart imitou uma lança enorme e leve. 

— Pelo amor de Deus, funciona!  

Quando girou o ombro e o corpo, o ataque instantâneo partiu uma parte da torre em duas, fez o destino do impacto evitar certeiramente o garoto de cabelo hipérbole. Uma enorme nuvem de poeira cinza e verde subiu. 

Durante o barulho de destroços se remexendo, Réviz notou o jovem subir nos destroços com um sorriso estampado. 

— Acho que é instinto! — Ergueu um joinha para o cientista. 

Minutos antes 

 

Luri estava muito animada em mostrar o arsenal para os convidados. Depois de chegarem ao estande de tiro, viram uma área aberta que cabia um campo de futebol junto de alvos de diversos tamanhos, que se mexiam bastante ao redor de cada ambiente: deserto, floresta e pântano; tinha um céu tão atraente que não parecia ser do mesmo lugar onde estavam.  

A moça alcançou, em um grande salto, duas pistolas douradas que estavam penduradas num compartimento camuflado na parede, com apenas um toque ligeiro uma gaveta abriu e mostrou um forte brilho dourado. 

— Réviz não irá se importar hehehehhe! — Riu ao tramar o plano maléfico. Se virou aos irmãos enquanto as girava e continuou: — Vocês dois, já viram uma arma em ação de perto? 

— Não mesmo! — responderam, em uníssono. 

Tinha um objetivo com a exposição: distraí-los. Seu colega precisava que os irmãos se distanciassem de Mark, no entanto, acreditava que era capaz de se divertir durante o processo. Deu uma boa encarada nos curiosos, lançou as armas para cima e, quando aterrissou em suas mãos, apontou rapidamente para cada alvo que sua visão alcançava. 

Mexia os braços como se brincasse. Acertava os alvos com balas de mentira, mas o barulho era ainda amedrontador, como um canhão que disparava bolas de papel. 

– Cinco, quatro, três, dois e... um — comentava os acertos, com felicidade. 

Antes de acertar o último, a olhadela de confiança e orgulho — ou esnobe — atingiu o Will e Nirda de relance, que estavam boquiabertos com a precisão. 

— Vejam só o grand finale!. — Fechou o olho esquerdo para o último alvo. 

Com o sorriso estampado, agarrou mais forte a arma e... o canhão disparou, só que não houve um barulho de metal em reposta. O barulho do tiro sofreu um gelo da não resposta. Luri abriu o olho devagar e, enfim, fitou o destino cruel: a mulher que se exibia errou. A expressão contente desmoronou depois das pálpebras terem espasmos com o resultado.  

Uai, estava mirando em outro alvo? — Will chegou perto e tentou enxergar o rosto de Luri. 

A franja cresceu, abaixou a cabeça e se escondeu. Estava deprimida, arrasada, desiludida e desamparada. Queria se mostrar como uma doce cuidadora que tinha inúmeras habilidades. 

Ah! Claro, né? He. É, foi. É, isso — disfarçava. 

Guardou, aborrecida, as pistolas de treino do seu líder, queria ser reconhecida com elas — ou com qualquer arma de fogo. "É por isso que prefiro ir pela base da porrada", pensou.  

— Nossa! A mamãe é demais! Posso tentar! Deixa, vai, deixa!  — Deu palmas leves mesmo com o resultado e cutucou Luri. 

Nirda ainda estava repleta de surpresa com o desempenho da moça. 

— Pera... Quê? "Mamãe"? “Mamãe”!? — Ficou sem reação com o pedido com as mãos unidas. 

A garotinha insistia mais ainda, sacudia o terno branco, com um rosto fofo. Luri reparou que, mais atrás, o irmão segurou a espingarda de brinquedo enquanto levantava as sobrancelhas. 

— Ela confia em você. — Will entregou a arma, com delicadeza. 

— De onde você tirou isso? 

Luri assentiu o sinal e estava, novamente, determinada em cumprir seu papel. Faria o necessário para aliviar o peso de Réviz e compensaria o que não pode carregar. Com ainda mais delicadeza, aproximou o rosto sereno para o alto-falante próximo, respirou fundo e segurou o botão ao lado. 

Após um pigarro... 

— EI! MANÉ! COLOCA O ALVO PARA ALIVIAR O ESTRESSE! 

Os dois se assustaram com a reação anormal da moça adorável. Militares olhavam e fingiam ignorá-la, tremendo de medo. As chuquinhas viraram pedra e a franja no ar destacou as presas dos dentes. 

— Credo! Calma, calma, tá-tá indo – respondeu um homem que jogava no celular em sua cabine, desesperado, pelo alto-falante. 

Logo, um alvo imenso, que cobria toda a janela do atirador, bem próximo aos três, surgiu. Tinha cor amarela, que o destacava ainda mais do que os outros e amassados com o formato de punhos.  

Ela carregou a espingarda com a munição de mentira e entregou lentamente nas mãos da pequena. Ajeitou a postura da novata com um olhar confiante, sabia que não iria ter perigo, já que, para balas de brinquedo numa arma também de brinquedo, bastava acertar o alvo. 

Nirda parecia feliz, tinha suas pequenas mãos envolvidas por aquela que assegurava quaisquer erros. 

— Quando você... 

Ausente de esclarecimentos, a pegada pequena soltou e fez o gatilho ser pressionado. Disparou sem qualquer aviso. Luri sentiu a alegria da menina se esvair, a bala não percorreu nem um metro.  

O sorriso dela também se desmanchou. Precisaria apenas acertar o alvo que estava muito próximo, mas não adiantava com a arma da recompensa de um simples bom comportamento. 

Hi, hi. Sabe, acho que essa espin... — a mulher consolava, sem graça. 

A garotinha abaixou a cabeça, abatida, soltou a espingarda no chão e engoliu várias vezes as cataratas que emergiam. A distração ambulante sacudia suas chuquinhas de lado a lado, nervosa e sem ter a noção do que fazer. O irmão apertou os dentes com o ocorrido. Se Nirda não chorasse, iria emburrar pelo resto do dia.  

"Ai, ai, ai, ui, ui", pensou Luri. Virou para o jovem de cabelos pálidos e o segurou com força os ombros tensos. Olhos nervosos e frenéticos com o desapontamento o abordaram. Sentia culpada por deixá-la daquele jeito. 

— Will! Me diz o que fazer... Se não ele vai me dar uma bronca. — Tremia. 

Will estava petrificado, não retirou Nirda do centro de sua visão, desacreditado com a tristeza surpresa da irmã. Não bastava o clima ruim, a moça em sua frente tinha reações tão instantâneas que o conceito de "previsível" não existia.  

O evento de exibição foi transfigurado em um evento da exatidão de um funeral. A garotinha olhava atentamente para tudo ao redor, notava os detalhes por toda área de tiro, ambientes realísticos, o céu acolhedor, o grande alvo que queria atingir e toda a instalação atrás, onde havia os dois a se sacudir ansiosos. Os bracinhos trêmulos não foram dignos de sustentar as duas lágrimas que escorreram de cada olho. 

Suspirou e agachou no momento que colocou a cabeça entre os joelhos, aguentou a carga de choro com angústia e… Percebeu algo estranho. No caso de uma criança, desapontamentos geram choros de birra, mas, quando uma criança ficava verdadeiramente triste, espalhava o clima para todos ao redor com facilidade muito maior.  

Podia ser birra, mas Will, ainda petrificado, percebeu que não era o caso. 

— Queria entender o porquê. 

Não era nada simples... era um desejo profundo de uma criança. Foi coagida ao fracasso pelo ato se agir da maneira correta e a ação de gentileza. A pequena precisava, naquela idade, esperar o ruim daquele que surge e segue pelo bom? 

Era apenas uma arma de brinquedo, por que a comoção? 

Luri puxou um dos cabelos de Will e o acordou para a realidade. Enquanto os dois discutiam sobre o proceder, as pupilas meninas dilataram em um segundo, o suspiro em um tom triste dissipou em uma expressão esquisita e séria. Soltou um suave som como alguém que acordou no meio da noite. 

— Acalme-se, pequena — disse nirda, supostamente, ao levantar o rosto.   

De repente, saiu com passos apressados em direção ao corredor que ligava ao lado de fora.  Não parecia a menina de antes, buscava algo totalmente diferente, algo mais complexo do que um simples acerto de um alvo.  

Luri largou intensamente o garoto e olhou de volta para o arsenal. 

— Aí, Nirda! Me desculpa por... favor? — A cara exprimida em lágrimas notou a falta da presença que deu origem a situação. 

Sentiu um gelo percorrer a espinha, pensava que a tristeza acometida a tinha feito sair. "Cacetada, ele vai me matar!" pensou. 

— Ela sumiu!  

Will ficou espantado com o anúncio da mulher e remexeu o cabelo, um evento que não era rotineiro com o comportamento da menina. 

— Anda! Procura essa muié! — Luri acelerou ao redor do local. 

Não tinha o que discutir, porque precisava ajudar Luri a encontrá-la. Percorriam pelo lugar e perguntavam aos outros funcionários.  

O rosto franco de Nirda passava já no lado de fora do corredor, frenético. Se atentava às estruturas em volta, procurando por algo.  

— Cadê... o puro. — Notou a maior área da ODST: a área de testes. 

Era o mesmo caminho que saiu há segundos, mas com o destino diferente por aquela grande porta.  

— Mais uma vez que Réviz a magoa. 

O brilho de rubis apareceu, encarando a mesma porta que saiu.


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