Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Cidade Flutuante – O Segundo Setor

Capítulo 17: Segundo Setor

Ao mesmo tempo em que se concretizava uma viagem de sonhos para Will e Nirda, Réviz e Mark assentiram entre si pelo retrovisor da frente. Aquele momento era definitivo da lógica jovem de cabelo hipérbole. O ambiente estranho capturava a atenção dos irmãos, prédios enormes com formas curvas.

No centro de tudo, a grande torre tinha o símbolo estampado, aquilo fez Mark engolir saliva, porém, antes que pudesse aproveitar tudo pouco a pouco, o carro virou para a direita e o desequilibrou. Uma enorme construção em forma de esfera estava adiante, branca, brilhante e sem qualquer imperfeição.

A esfera foi dividida horizontalmente, a parte de cima foi desmontada, como peças que retraiam para as posições originais, onde revelou um teto feito de brilho que começou a brilhar.

Esta recepção fez Nirda se levantar e abraçar Réviz, que quase teve o controle perdido do veículo. A felicidade alastrou em volta, militares e cientistas finalmente reconheceram o carro que entrou sem cerimônia. Acenaram, chamaram e comemoraram; Mark tensiona as sobrancelhas, o contexto que possuía não dava margens para isto. 

— É isso, gente! Podem sair do carro, vou mostrar um pouco do lugar a vocês, mas antes quero apresentar vocês a uma pessoa — disse Réviz.

Havia encerrado a viagem de maneira efetiva, feito um guia turístico, apontou para a esfera brilhante. Uma porta de fez no centro da base da estrutura, o perímetro foi desenhado e a maçaneta apareceu.

“Escudo!” A gritaria percorreu até os ouvidos do jovem desatento, revirou o corpo para procurar a origem. A boca apenas secava com todo o evento inesperado, as pessoas ao redor estavam reunidas a poucos metros atrás deles. Os olhares fixos em frente fizeram com que Mark cedesse a curiosidade ao ver na mesma direção.

“Ele não me falou nada disso”, a atuação de pai amigável trazia nojo. Pior que a vontade única de entender aquilo, era saber que não tinha o controle da situação. Necessitava seguir a risco os comandos feitos por Réviz.

Estalos e barulhos de aço vinham do outro lado da porta. Correntes, trancas, engrenagens e… um martelo? A maçaneta rangia, barulhos finos de um sistema de computador que processava os comandos brutos. Começou a remexer e dar vários giros em ambos os sentidos.

— Aaaah! Vai catar coquinho! Tá bom, tá bom, eu digo… Por favorzinho inho minho! 

A voz abafada de uma moça, que gritava com alguém que estava junto dela, surgiu da porta. As pessoas ficaram um tanto que incomodadas, Réviz revirou os olhos, e Will coçava a cabeça. Nirda, que saltitava em volta de Mark, não pode notar a face tensa com dentes de nervosismo a mostra.

Por baixo do pequeno vão da entrada, uma aura preta começou a espalhar e alastrar pelo mundo, uma névoa preta começou a colorir tudo em preto e branco. Uma tonelada recaiu sobre o coração de Mark, o suor frio e a ansiedade o fizeram tossir instantaneamente. 

O mundo escureceu, o brilho geral abaixou e se tornou difícil de enxergar. Como uma mosca atraída, Mark se recompôs e viu a si em frente da porta. A presença fantasmagórica estava de costas e todo o arredor desacelerou no tempo.

Os dedos que tremiam ficaram estáticos, sua respiração foi interrompida, apenas o olhar conseguia transmitir o sinal de vida em meio ao mundo congelado e sem cor.

— Desista desta ideia de buscar a razão.

O fantasma cruzou os braços e virou para ele enquanto balançava a cabeça. Não havia boca para o barulho sair. Aquela voz gutural invadia a mente diretamente. Deu passos cuidadosos e parou logo a frente da menina parada.

Assim como Mark, o outro Mark, que era um fantasma completamente branco, que somente a silhuete remetia ao jovem, examinou bem Nirda e Will.

— Nunca pare de tentar, e, antes que nosso tempo acabe… Não a deixe morrer de novo. — Usou o dedão para apontar para trás, onde estava a porta que ainda não abriu.

O peso sumiu, e o ar ficou violento. Sobre as cores que retomavam tudo, Nirda deixou a gravidade agir novamente, e o fantasma sumiu da mesma maneira em que apareceu: num instante e com falta de explicações.

Mark desarmou o zíper da blusa e permaneceu, o suor frio descarrilhou o pouco momento de cautela de volta num turbilhão. Aquele momento foi idêntico ao ter encontrado Réviz pela primeira vez.

O rosto atormentado teve a mão inquieta como um ataque, Mark massageou o rosto, não digeriu o que viu. Simplesmente, parou após um segundo, a mão que o tentava acalmá-lo foi a verdadeira origem disse tudo. Bastava ignorar? Fingir ou Aguentar? Queria tempo para responder. 

Entre os dedos inquietos, a porta da esfera gigante finalmente abriu. Uma mulher jovem se aproximava, andando de forma cautelosa, deixava as chuquinhas balançarem pelo vento enquanto usava um terno branco muito chamativo.

Ela estava com os nervos a flor da pele, mas, quando seu olhar aterrissou em Réviz, ela se endireitou numa pose de madame com as mãos na cintura.

A sensação pesada, rígida e tenebrosa trouxe oposição na aparência doce. Atentou-se ao chão e não viu nada de suspeito. Era isso mesmo? Mark apertou os punhos e respirou fundo. Juraria que tentaria manter as aparências para…

Foi tudo água abaixo. A moça não estava mais na sua visão, a pose forçada de madame foi quase enterrada no chão. O tropeço fez com que Nirda e Will rissem, Réviz apenas virou o rosto para moça, que levantou ao disfarçar. Aquela falta de preparo com o terreno fez a preocupação de Mark desaparecer.

 — O-oi, gente! Óia só, vejo que são os convidados do Réviz, não são? — Chegou com um sorriso sem jeito. — E-eu sou a Luri, amiga do… pai de vocês?

— Certo, preciso falar com uma pessoa agora, pedi para ela mostrar a vocês a instalação e também o lugar onde iremos ficar — comentou Réviz ao andar para longe. 

Luri perdeu o brilho da saudação, teve a impressão evitada junto a uma desculpa conveniente. Logo em seguida, todos entraram no carro com a nova motorista. Foram em direção aos prédios centrais da instalação.

— Que bom que voltou ao normal — disse uma idosa.

As pessoas reunidas voltaram a suas tarefas sem protesto, comentava a vinda de Réviz e esperavam pelo reencontro com que esteve no outro lado da porta.

“Espero que ela não vacile de novo", pensou Mark ao olhar seu pai se distanciar na direção oposta. Quando chegaram perto, estacionaram no lado de fora de um grande prédio — não sendo o maior em altura, mas em largura. 

Luri os guiou para a entrada, mostrava um sorriso cativante para todos, mas Mark tinha dúvidas: "Ela sabe o que o Réviz sabe? O que ela pretende fazer?”, pensava enquanto tinha o olhar fixo na moça. Encarava a recém apresentada com angústia e falta de apreço. No final, era questão de tempo até um novo ponto aparecer de repente — para sua tristeza, não existiam câmeras de pegadinha que justificassem qualquer coisa.

A mulher se mostrava muito atenciosa com os funcionários. Eles cumprimentavam-na de forma muito amigável, e ela sempre respondia igualmente. Todos da instalação conheciam-na, porém, vê-la guiar outros três adolescentes em ambiente militar como uma instalação da ODST trazia comentários estranhos:

— Quem são os três? Por que o radar me disse que só o Réviz entrou?  — questionou uma mulher que via através das câmeras.

— E por que a Luri tá fazendo isso? — perguntou um guarda próximo.

— Ahwn! A menina é tão fofa! — exclamou uma cientista ao lado.

O jovem de cabelo hipérbole era o único desequilibrado do grupo, os outros irmãos andavam e admiravam o lugar como todo. Ele caminhava junto ao grupo com os braços para trás, em alerta com cada sala que Luri apresentava. 

— Aqui é o setor dos laboratórios, aqui só tem gente mega inteligente, tipo, muito mesmo! — disse Luri, apontou para a grande placa em frente a um corredor que não se enxergava o fim.

Will notava as pessoas de jaleco andarem para todos os cantos. Naquele cenário, o grupo se destacava muito em meio ao trânsito dessas pessoas.  Luri e os funcionários se misturavam pelo ambiente branco e sem cores chamativas. Nirda, inquieta, girava o corpo em círculos, maravilhada por um lugar tão diferente do orfanato.

O contraste da parte de dentro era a manifestação do inverso do exterior. Invés de aparências curvas ou arredondadas, os corredores retos e as marcações das paredes lembravam detalhes que remeteram a não ter vindo desta época; cores metálicas, espelhos e luzes que indicavam cada centímetro com informações.

A menina parou o giro com um passo forte no chão. Anulou toda a força do momento causado e fixou a força do olhar em Luri...  A expressão mudou. 

Mark reparou a falta de movimento de sua irmã, numa olhadela rápida, pode perceber a terrível forma que Nirda estava. O pé foi para trás por um reflexo de sobrevivência. Porém, no mesmo inspirar, assustado com o que viu, a menina fofa havia retornado ao movimento giratório ordenado.

"O quê?!." Qualquer coisa estranha que acontecia ao redor de podia ser considerado um delírio dias antes de encontrar seu pai. Não encontrou seu fantasma em qualquer lugar, abaixou a cabeça e fungou o nariz. A hora de se manter focado tinha a dificuldade aumentada de forma constante.

“Sinto que já vi aquele… fantasma antes. Mas… ‘morrer de novo’? Eu devia saber isso? Talvez Réviz possa investigar minhas memórias depois”, seus pensamentos formavam um raciocino de conexão simples. Quando o fantasma aparece, os eventos se desenrolam negativamente sempre. O receio recaiu sobre Will, acompanhava a moça lado a lado.

Tudo isso começou com a chama ciana, uma chama que surgiu. Apenas surgiu. O que de fato isso significa? Mark ajeitou a blusa e tentou seguir em frente.

— Luri! O cê é quem aqui? — perguntou Nirda.

— Nesse lugar? — questionou Luri, sem graça.

— É! Você trabalha aqui, né? — continuou Nirda, animada.

A moça foi pega de surpresa com a pergunta, deixou as bochechas inflarem e se lembrou do mesmo instante da chegada da últimas mensagens de Réviz, que concluíram sobre o que fez durante a missão.

Do bolso da calça branca, pegou o celular e examinou. Nirda inclinou o rosto, buscou entender um certo desprezo no rosto de Luri.

"Consegui… Achei um deles".

“Nossa! Que ótimo, cara. Você não precisa mais ficar desse jeito, né?”

"Preciso ganhar confiança… Ajudá-lo é me ajudar".

"Não pode sair atravessando o planeta nisso, corre perigo o tempo todo". 

"As voluntárias voltarão hoje, trarei eles dentro semanas. Quando o carro entrar na área do alcance do rádio, me encontre em frente a área do observatório”.

"Voluntárias? Acho que sei quais são. Se tiver a chance, mostre a ele o que pode fazer, não quero causar uma impressão ruim quando for minha vez".

Mensagens que o pai adotivo teve após encontrar Mark no colégio. Luri tinha sempre receio das questões de seu amigo, o motivo dessa preocupação com um terceiro nível veio devido ao que aconteceu antes de se juntar a equipe, não conheceu o verdadeiro Réviz, aquele que existia antes da missão.

Agora, são apenas restos amontoados. O papel de parede em seu celular era de três pessoas. Ela estava no meio, Réviz na sua direita e uma mulher de cabelo cinza e cílios amarelos no outro lado; todos sorriam naquele momento. Agora, ela não conseguia conter o peso emocional.

Hm... É. Bem... sabe... pois é. — Se interrompia a cada tentativa de iniciar uma resposta, revirava em poses de análise, mas disfarçou a insegurança ao enrolar o dedo na chuquinha. — Pode dizer que sou uma “faz tudo”! E-eu ajudo no que precisa, incluindo os trem do seu pai e pá.

— Nossa! Deve ser a melhor! Todos aqui te conhecem — comentou Will.

— Acho que sim...

Antes de prosseguir com o tour improvisado, reparou bem no jovem que deu o motivo do movimento naquela ODST, Mark evitava contato direto. Um garoto em defensiva enquanto esperava pelo pior dos piores.  

Luri entendeu, ergueu um sorriso de lado e deu meia volta no imenso corredor. As pessoas  se assustaram pelo grito e as chuquinhas que esbarravam nos funcionários. 

— Vamos! Temos um lugar pra mostrar pra vocês! Não vão querer estar aqui quando esse lugar fechar, haha — disse ao acelerar o passo em direção à saída do complexo.

O local onde estavam era o maior com relação à área coberta na instalação. Lá, todos os níveis agiam em conjunto, somente partes complementares ficavam separadas em estruturas exteriores. Dessa maneira, era fácil localizar o que queria. 

Cada ODST tem um grupo tático, Mark lembrava da explicação de Réviz em sua mente sobre o funcionamento de uma, porém a existência de tal grupo num lugar tão concentrado deixava ainda mais difícil distinguir quem seria outro membro, mas todas as hipóteses traziam somente as mesmas opções.

"Réviz não é um grupo de um único membro, se não for a Luri, pode ser também as empregadas… Militar com empregadas certinhas? Nem pensar". Ficava ansioso, mas não de forma ruim. Almejava uma resposta para qualquer coisa que via, invés de evitá-las como um tormento pontual. Um garoto em defensiva, de férias, com medo, que possuía habilidades capazes de salvar seres vivos, guiado por militar duvidoso.

Perigo lhe aguardava, sabia disso, tinha que enfrentar, sabia disso, podia dar tudo errado, sabia disso. Esperar o inesperado, queria não saber disso. Um jovem na defensiva, usado como arma contra si sem perceber.

Seus pensamentos eram regidos por medo, determinação e, quando nada disso se aplicava, esperança. Esperança de não ter que ver aquelas coisas todas. O fato de organizar ideias, construir uma lógica e decretar um raciocínio o fazia acelerar o coração. Uma faísca de cor ciano surgiu em seus punhos, acabou por ser desfeita antes que Mark percebesse, foi puxado pelo capuz pela mão inquieta de Luri.

Após chegarem a uma área mais isolada do lugar, o sol saía de vista, e a escuridão vinha preencher o espaço da ODST. O carro estacionou na frente deu um prédio bem pequeno para as proporções da instalação.

Uma a uma, as luzes se acenderam e revelaram os tons amarelos espalhados por aquela área. Um lugar colorido alimentou a vista dos irmãos cansados do tom seco preto e branco.

— Caraca, mano! Que porta chique é essa? — disse Will, impressionado com os equipamentos.

— Parece que a gente tem outra pessoa com bom gosto aqui, hahah. Isso aqui é só o começo, porque aqui vocês vão ficar.

Com uma porta de chamar atenção que brilhava com a aproximação dos quatro, mais luzes se acendiam pelo lugar todo, anunciou de forma silenciosa a chegada. Ela digitou ferozmente pelo painel ao lado, os dedos nem eram vistos com clareza.

— Pleno 3023 e ainda tenho que usar essa joça.

Nirda tentou fazer o mesmo, mas a porta não respondeu a pequena. Abaixou a cabeça e escondeu as lagrimas do resultado inútil. Luri deu um ligeiro cafuné, que fez o rubi dos olhos brilharem novamente. 

Quando entraram no prédio de dois andares, viram que tinha uma variedade de opções de entretenimento, karaoke, jogos, um mini cinema e uma piscina.

Mark vacilou sua cautela ao reparar em um videogame de última geração, correu até ele. Luri, num piscar de olhos, assustou todos ao ficar na frente dele, o alcançou em uma velocidade incrível.

— T-toma cuidado, t-tá bom. Esse aqui é meu precioso — disse Luri com um olhar piedoso ao abraçar o videogame. 

Depois de prosseguir as escadas, Nirda e Will averiguaram cada centímetro de toda a sala. A moça ficou feliz em vê-los soltar menos retraídos. Apresentou o prédio sem pressa, porque prendia a atenção dos convidados. 

No segundo em que os irmãos averiguavam os detalhes do prédio, sua atenção era constantemente capturada pelo relógio na parede. Bufou, mas conteve a sinceridade da preocupação. Bastava que Réviz aparecesse pela porta. Ela deu um tapinha em cada bochecha e prosseguiu para os quartos no andar de cima.

— E aqui será onde vão ficar!

A porta se abriu e revelou um grande quarto e... um monte de exatas e precisas mesmas coisas. Literalmente, idêntico ao antigo quarto apresentado pelo pai dos ex-órfãos

— É meio parecido, né? — comentou Mark, pressionava a visão para tentar ver algo diferente.

— Vou ter que comandar outra organização… — lamentou Will.

Humrum! — concordou Nirda.

Luri escondeu o rosto com as chuquinhas, levantou o dedinho, mas fechou a mão, frustrada. Queria muito surpreender os irmãos de forma agradável, só que seu amigo tinha sido ainda mais rápido.

— Po-pois é... Vou pedir pra colocaram os pertences aqui — disse, abatida.

Os três irmãos entraram no quarto e, logo atrás, três outras moças apareceram com as malas. Will e Mark olhava de forma esquisita, igual anteriormente. Três mulheres com uniformes militares e boinas com cores diferentes.

— São tão parecidas com as empregadas do Réviz… — Mark sussurrou para Will, incrédulo.

— Pois é, cara, mas se não forem? — sussurrou Will.

A aparição das agentes que agiram como empregadas durante alguns dias. Entraram bem rápido e colocaram tudo perto das camas em instantes, mas, antes que todas saíssem, a loira virou no último segundo e tentou acenar para Nirda, porém foi interrompida no momento que outra a forte puxou com força. 

— O que você tá fazendo?!

— Saiam.

Antes do soco atingir a tentativa de cumprimento, os olhos de Luri foram cobertos pela franja ameaçadora. A imponência na sua voz fez com que as mulheres se arrepiassem. 

— Repitam e paguem, ou… saiam.

— Nos desculpe, líder. — Encerraram ao sair de fato do local.

 



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