Volume 1 – O Segundo Setor
Capítulo 18: As Coisas Mudarão
Enquanto retirava roupas da mala, Mark sentiu um calafrio ao ouvir a palavra-chave. “Líder?” Os ombros tencionaram num reflexo que o fez virar lentamente para a moça na porta. Aquelas que lembraram as empregadas estavam distantes agora, mas a penumbra da expressão gélida de Luri forte e presente ainda permaneceu.
Os irmãos ficaram nervosos com a rigidez, endureceram o corpo e permaneceram parados, esperavam algo que provasse que o comportamento sério não fosse transmitido de volta.
A pupila de Mark contraiu, tentou decifrar de maneira direta sobre o escalar de eventos: “As empregadas obedeciam Réviz, que faz parte de um esquadrão. Essa mulher também tem a ener…”
— Ain! Me desculpem. Podem ficar completamente à vontade aqui. — Apontou ao redor. — Vou ficar no meu quarto, se precisar, é só griitaar!
Luri havia estufado o peito e acalmou os nervos dos irmãos com a mãos unidas, apenas não foi o suficiente para Mark, que continuou a encará-la com tensão. A moça, já fora da visão do ex-órfãos, sacudiu o cabelo e puxou as bochechas.
— Réviz vai me matar! — sussurrou, balançando a cabeça. — Aaaaah! — O grito suprimido soou como se só soltasse ar pela boca aberta. — Tô lascueida!
A porta ainda era foco principal para Mark. O pescoço inclinou quando Will o puxou para perto. Nirda estava em cima da cadeira, no centro do quarto.
— Ela vai comandar dessa vez — disse Will.
Sobre o controle do sorriso satisfeito de sua irmãzinha, Mark retirou a blusa e estalou os dedos da mão com a mais incrível convicção de quem esqueceu o que acabou de acontecer.
— Xá comigo.
A situação se acalmava aos poucos, a viagem começou na madrugada e se encerrou depois de dois dias ao meio-dia. O guia turístico paterno foi substituído e os três ficaram a mercê duma visita inesperada a ODST do Segundo Setor. O alerta crescente sofreu com quebra-molas pela iteração inesperada do fantasma e suspeitas sobre o plano de Réviz.
Mark propôs para si em se manter centrado, embora a preocupação com seus irmãos causasse uma sobreposição prioritária na mente. Enfim, se rendeu, com muito custo, ao simples fato de aproveitar a viagem.
No quarto brilhante e organizado, os passinhos leves e o pano do vestido dançavam com vigor sobre a música fofa e colorida; Nirda cantava num karaokê montado no quarto. A melodia agradável e a voz fina, que estava um tanto desafinada, tornaram-se a trilha sonora dos dedos ágeis de Luri e Will no andar de baixo.
A sanguinolência dos tiros e sangue representados na televisão contrastavam a concentração na precisão de cada movimento. Sentados com a coluna curvada à frente, a mensagem de vitória de “Xxx_Lurizinha_Darka_xxX” deixou Will arrasado, sua mão foi a testa e deixou as costas despencarem junto a um enorme peso contra o sofá.
Luri guardou o controle como uma verdadeira dama de classe, o dedinho mindinho ressaltou a pose forçada que se segurava para deixar o riso desbravar o ar.
— Acho que está ficando tarde demais… — comentou Mark.
Will e Luri assentiram, viram o jovem mostrar o relógio no celular, que destacava já ter passado da meia-noite e não deviam acostumar a irmã deles a uma vida de coruja. Subiram para o quarto e desligaram o karaokê no meio do refrão de um falsete infantil.
— Ei! — Nirda se emburrou.
Mark a arrastou e a arremessou graciosamente na cama. Não demorou para os dois ajeitarem-se e Luri apagar a luz. Em seguida, colocaram-se em suas camas. As pálpebras de cada um iniciaram a rebelião do estado “acordado”, somente com a exceção de quem tinha a blusa azul pendurada na cabaceira da cama.
A indagação do jovem de cabelo hipérbole se tornava cada vez mais evidente ao remexer de um lado para o outro. "Droga… Ainda nem tenho a mínima ideia do porquê me trouxeram até aqui", pensou.
A brisa do vento gelado o fez apertar os dentes, precisou apenas esticar o braço para fechar a janela logo ao lado. Finalmente, o clima que gostava apareceu, algo mais quente e aconchegante. Sua vista estava descontinua, os escuros duravam por mais tempos do que os claros.
E...
Áspero, talvez até macio? Calmo, mas apareceu um zumbido? Quente, só que esfriou mais ainda? Mark se ajeitava em completo desconforto sucinto na cama. Duro, somente duro. Pedras? Gosto frio e… Neve?
Decidiu levantar o troco. Sonolento, tentou recuperar os detalhes da vista totalmente esbranquiçada. Árvores edois borrões na sua frente… Levantou com o impulso das pernas como uma mola. Arregalou os olhos e jogou as duas mãos no cabelo.
— É um sonho... Tem que ser, não quero bancar o cara alucinado! Onde estou?!
O que pode definir como “borrões” se formularam em duas pessoas altas. Um encapuzado num manto azul e uma mulher que tinha um cabelo vermelho e liso que atingia o chão.
— Will, onde você es...
Não pensou duas vezes, procurou por seu irmão. Caminhou pela neve com passos que se prendiam no fundo. Lentamente, ouso até chegar perto dos desconhecidos. Porém, aqueles dois estavam distantes demais. Na verdade, Mark havia voltado para onde se levantou sem perceber.
O caminho que andou se alongou e tornava impossível sair do lugar, mesmo com tantos passos. No entanto, como a voz deles estavam tão claras naquela distância?
— Se liga, mané! — A mulher respirou fundo após dar um tapa. A potência feroz na voz se esvaiu pelo preocupar sincero: — O que… fará após nos separarmos?
— Darei continuidade aos assuntos de Adnis, espero que assim também faça. — Cutucou a mulher no nariz.
— Não vêm com essa! — Afastou o nariz. — Se quer morrer, me avisa que agilizo pro cê… — disse, irritada. — Quando tudo acabar de verdade, essa tal de perfeição vai para a vagabunda que pariu! — Deu as costas, seguiu caminho na direção oposta.
O homem deu alguns passos para a frente e a segurou pelo ombro. O vento soprou no exato momento, acabou por movimentar neve e afastar o capuz. Acabou por revelar alguns detalhes do encapuzado: um homem com um cabelo separado ao meio por branco e preto.
— Ouviu os rumores? — Escutou a mulher rosnar em resposta. — Estão referindo a guerra como "pôr do sol", não podemos deixar que isso continue… tempo é a chave… estrela… impedir — continuou o homem antes da sua voz se tornar cada vez mais inaudível a ponto em que nada fosse ouvido.
O envolta escurecia, e as duas figuras irreconhecíveis juntaram aparências com o breu vagante... A respiração de Mark acelerou a ponto de fazer seu coração sair pela boca. O preto tocou os pés e o deixou imerso no vazio como um mar preto. Flutuou pelo imenso inverso de tudo, debatia braços e pernas. O suor frio escorreu. Antes que o grito mudo encerrasse ao afogar.
A pressão na garganta se alterou feito um engasgo. Quando pode perceber, o quarto escuro e calmo estava em volta. Ofegantemente, colocou o indicador e o dedão em cada olho, processava o evento sem questionar, negava pelo balançar do queixo agitado.
— Pelo amor de Deus, o que eu faço...
— Siga-me.
Um rangido passou pelo ouvido. A claridade se ajustou e revelou a presença de quem devia ter estado junto de Mark o tempo todo:
— Réviz?
— Preciso que venha, agora.
Réviz saiu da porta e deixou a reposta pré-definida. Não teve escolha. Mark viu sua blusa e a porta aberta do quarto. Abaixou a cabeça, precisava continuar com o tal plano. Afinal, ainda era a melhor opção obtida.
Nirda e Will não acordaram mesmo com o barulho que causou. Saiu da cama, relutante. Vestiu a blusa e demorou para fechar a porta. Suspirou e obteve coragem — ou ignorância — de deixar seus irmãos. O quarto de Luri estava aberto, as luzes acesas da casa mostraram que a desconfiança esteve correta.
Ao saíram do prédio, Réviz o levou até o mesmo local onde o tour parou, que foi a área dos laboratórios. Havia muitas pessoas para trabalhar naquele horário durante a madrugada. O trânsito de pessoas em todas as direções deixou as paredes quase invisíveis. Entretanto, seu pai adotivo prosseguiu em linha reta.
Invés de sentimentos curiosos abordarem Mark como na última vez, percebeu uma tensão exagerada por perto. As pessoas circundavam os dois, liberavam o caminho com medo de estarem perto. Uma cientista de jaleco rosa esbarrou no jovem, saiu de perto com dentes apertados durante um “mil perdões”.
Atravessando o longo corredor que existia entre dezenas de salas, sempre havia uma delas que chamasse a atenção. Um dos militares se escondeu ao observar Réviz passar. O único que constatava serenidade era o terceiro nível, que prendeu a atenção no vão criado até seu objetivo.
Cerca de mais oitenta metros de caminhada até um portão, nenhuma alma foi observada. Os trabalhadores firmaram uma linha que deixava os dois livres de qualquer proximidade não desejada. Não tinha mais ramificações, salas, janelas ou qualquer decoração no caminho. Era só uma linha reta e um portão — nada preocupante.
Mark começou a se arrepender de ter saído da cama. “Ninguém quer vir aqui…” Atrás dele, viu pessoas apreensivas que não conseguiam manter o contato visual direto.
Assim que terminaram de atravessar o grande corredor, os detalhes da entrada reforçada em um aço fosco estavam perceptíveis. Sem entender a localização de qualquer tipo de maçaneta, Mark notou Réviz fazer gestos com mãos e braços.
Barulhos graves e sinais de alerta em hologramas apareceram. O portão começou a se abrir e deixar a luz branca penetrar pelo ambiente. Mark colocou o antebraço feito um obstáculo, porém, numa piscada desajeitada, toda a luz havia ido embora.
Um local imenso. Cada ambiente novo de uma ODST desafiava as leis da física sem esforço. Torres, muros altos, um rio, deserto, floresta e até um vulcão. Mark foi incapaz de desfazer a boca aberta pela grandiosidade repentina.
“Como tem isso tudo aqui dentro?!”
O teto naquela parte do complexo estava recuado de forma que permitia a entrada da iluminação da lua. O local estava estranhamente claro demais do que o céu em que passou há minutos.
No meio do extenso campo, havia a mulher com as chuquinhas que sofriam ações constantes da ventania, estava de braços cruzados com seu terno branco e chamava ainda mais atenção enquanto brilhava com o reflexo da lua.
— Mark... — Réviz olhou ligeiramente para trás.
Depois de finalmente se voltar para seu filho, que tinha olhos arregalados, respirou fundo e ergueu sua mão direita em sua direção com três dedos erguidos.
— Tenho três coisas para destacar! Primeiro: precisa aprender a usar sua energia. Segundo: precisa entender o que está por vir... — comentou, frio.
Antes de abaixar o último dedo, notou para Luri e revirou os olhos, a mulher entrelaçava o cabelo nos dedos e sorria para Réviz.
— Dê o melhor golpe que puder... — disse Luri ao estalar o pescoço em ambas as direções.
O jovem de cabelo hipérbole franziu o cenho, não por medo, mas pelo tamanho do giro que sua linha de raciocínio sofreu. Deu um passo para trás e travou as pernas, incrédulo.
— E-eu escutei direito?! “Golpe”? Cadê a câmera da pegadinha?
O pai adotivo nem deu brecha para que sua concentração fosse furada. Estava certo do que pretendia, deu ligeiros saltos como num aquecimento, alongou as pernas e mirou no alvo distante, preparado para uma pose de corrida. Vendo o seu amigo se preparar, faíscas surgiram no cabelo de Luri e eletricidade na cor azul-marinho correu pelo corpo.
— Prevenção!
Réviz sumiu para Mark, poeira veio e projetou o gosto horrível na língua. Ao piscar várias vezes, o garoto de franja branca não acompanhou o movimento de bala em direção à moça.
Um impacto avassalador. Quando tudo parecia ir de mal para pior, Mark se abaixou, foi surpreendido quando, na mesma hora que seu pensamento impulsivo nas pernas agiu, o impacto havia chegado junto do estrondo que rugia por todo o campo.
Depois de toda a sujeira esvair do campo de visão, viu Luri que estava intacta, mesmo com um soco de força total de um usuário de energia enfincado no rosto. Aos olhos de Mark, estava claro o que aconteceu. Até as chuquinhas pareciam pedra. A bochecha apresentou um total de zero deformações, na verdade, o punho de seu pai não conseguiu fazer qualquer contado direto.
Réviz retirou o punho e sacudiu suas roupas. Uma aura azul surgiu em volta de Luri e um rachado apareceu na bochecha, no exato local que devia ter recebido o impacto — não era em seu corpo, mas na própria aura.
— Mark, você está na presença de outros dois que compartilham da sua mesma preocupação! — exclamou Luri. — Sou integrante do esquadrão tático, líder do terceiro nível desta ODST. Tenho controle da energia que te causa tanta insônia. — Ela sorriu ao elaborar o símbolo de paz com a mão e deixar a ignição azul aflorar. — A minha tem capacidades de proteger qualquer ser vivo de dor física e... ela meio que dá sono também... Não havia forma mais prática de mostrar isso a você. — Levantou os braços. — Fui bem, né, Revizinho? — sussurrou.
Réviz entrou na frente de Luri, a ignorou e tampou a visão do jovem, que chegava mais perto e preocupado. Ergueu os dedos novamente e completou a contagem com o terceiro dedo.
— Terceiro: preciso que tenha confiança em mim. Caso coopere, poderemos ajudá-lo em qualquer âmbito. Por consequência, a necessidade de entrar, provisoriamente, no terceiro nível aparece.
— Por que eu teria... que entrar? — Ansioso, olhou para baixo e apertou os punhos com receio.
— Poderei treiná-lo e garantir segurança sem qualquer hesitação, assim como o combinado. Você não é só minha responsabilidade pessoal como pai, mas, a partir deste momento, é minha responsabilidade como militar. — Colocou o indicador a poucos centímetros da testa de Mark.
Apertou os lábios com força, sua determinação era grande, e sua ansiedade demonstrava presente cada vez mais. Não sabia o que exatamente devia fazer. Porém, sabia que deveria escolher algo ali.
Quando ele mexeu a boca na tentativa de responder ao alerta, hesitou no mesmo momento e sua voz não saiu.
"SIM", respondeu a voz. O jovem não havia escutado, apenas veio um ligeiro sentimento esquisito que o coagiu a repensar o que iria dizer. Assim, sacudiu a cabeça e descontou a insatisfação:
— Que besteira... vou ter que aceitar de qualquer jeito, tá. Tudo bem, droga!
— Hum, maravilhoso. Não perdemos mais tempo. Agora... eis seu adversário… e eis o começo do treinamento.
Réviz abriu os braços, orgulhoso do resultado atingido. Deu passos para o lado e liberou a visão para a moça de chuquinhas. Mark ficou espantado com a pressa, porque Luri extinguiu o sorriso ao decorrer da fala enquanto estralava mais e mais as mãos e coluna:
— Seu novo objetivo será terminar de quebrar a aura — concluiu Réviz.
Diante da decisão que podia ser a mais importante de sua vida, uma brisa gelada revelou sua presença. Mark levantou o queixo, aflito pelas palavras absurdas que jurou por um milésimo ter entendido.
A boca começou a tremer, observava bem o que era seu "treinamento" — pensou que tinha ouvido errado novamente. Coçou os ouvidos, nervoso e atentou-se para Réviz ao seu lado, com uma expressão abismada e confusa.
— Espera. Co-como assim? — Engoliu seco.
Seu pai não ficou surpreso com a reação, soltou um suspiro enquanto negava com a cabeça. A moça se aproximou, ainda com os braços cruzados, dizendo:
— É simples, Mark... Basta quebrar o meu escudo uma vez que seu treinamento, por hoje, vai acabar. Tipo: pow, puf! E acabou.
Seu nervosismo crescia, tentou olhar diretamente para Luri, mas sua expressão fria o espantou do contato direto.
— C-como... como eu deveria? Vocês são rápidos de mais! Não sei lutar. E pra que preciso disso?! É impossível, vocês querem me ma…
Réviz fechou os olhos e estendeu a mão direita, a fez ficar entre os três no momento em que a energia fluiu — sua contradição ativou. Imersos no vazio, projetou todos a uma conexão forçada e surpresa.
— Lá vem — disse Luri.
Sucintamente, mostrava o diálogo que teve com seu filho no lado de fora da sua mansão. O mundo em volta se reconstruiu na memória em que Réviz possuía; os outros dois viam somente na perspectiva de Réviz.
"Quando uma palavra específica soa, grande parte dessa ignição desaparece, dando lugar ao desejo de sua cognição. Não existe a necessidade desta etapa, entretanto, a existência de um gatilho emocional fortalece a conexão do seu desejo distorcido e concebe no mundo físico."
"F-ferva." Frisou a cena, após a fala de Mark.
— Você não me disse que ele já tinha uma palavra de gatilho — comentou Luri.
Rapidamente, Réviz trouxe todos a si quando cessou o efeito de sua energia. O jovem perdeu o equilíbrio e quase desabou de cara no chão. Luri o segurou pelo capuz antes que fosse cair enquanto continuou:
— Não lidamos com coisas logicas agora. Se fosse fácil te ensinar com algum remedinho ou qualquer coisa, já teríamos colocado na sua água sem você notar. Para nós, que não tínhamos... bem, não devo terminar.
— Eu não preciso lutar, preciso aprender a ajudar as pessoas.
A mulher voltava para onde estava, mais a frente e no centro do campo, logo abaixo da luz da lua. O pai adotivo transmitiu um olhar penetrante para sua colega. O que planejavam, começava. Réviz voltou-se a Mark e nem dava a devida importância para o que o jovem dizia, apenas seguia as etapas já combinadas.
— Não se preocupe. Ela não vai ficar apenas olhando enquanto leva golpes. — Saiu da reta entre os dois, colocou as mãos para trás e continuou: — Para aprender a salvar os outros — Com um passo marcante, ficou na distância central dos dois adversários repentinos antes de aumentar o tom de voz —, precisará salvar a si!
Mark retomou à mulher de branco, entretanto, no segundo em que Réviz oficializou o objetivo do embate forçado, não conseguiu encontrá-la.
Em uma presença intimidadora, a moça surgiu atrás dele com um chute alto a velocidade máxima. Notou no último segundo, mas, antes que pudesse reagir, foi simplesmente lançado para uma pilastra, seu corpo ficou gravado e delimitado pelo perímetro de forma clara.
A visão embaçava, o corpo adormecia, lagrimas saíram. Mark estava atordoado desde o momento inicial do impacto. O corpo amoleceu, apenas despencou no chão, cada uma de suas células tremiam e gritavam. Junto do sangue que escorreu.
A mulher estava com um olhar sinistro, não era possível enxergar a expressão do rosto devido ao seu cabelo que o cobria.
Levantou a cabeça, o sangue da boca e nariz pintaram o chão com cores de lamento. Quando tudo parecia apenas um susto, um vulto branco surgiu novamente. Já estava em sua frente, pronta para outro golpe. Um garoto sem qualquer experiencia em lutas, se sacudia desesperadamente e… Desviou do soco por sorte, rolou para o lado e mancou no ritmo mais veloz que conseguia.
— Vão me matar… Vão me ma…
Réviz não demonstrava reação, apenas se concentrava enquanto via o garoto correr por sua vida.
Foi puxado polo capuz, parou a corrida após seus pés flutuarem por um milésimo; virou lentamente para trás ao notar o sentimento ameaçador, o mesmo sentimento que sentiu mais cedo ao ver Luri pela primeira vez — tinha certeza que não era qualquer delírio, a fumaça preta estava para se tornar visível.
— Deixe a ignição ativa... porque irá se MaCHUCAR!
O medo tomou seu corpo. Não havia para onde correr, não havia quem socorrer, não havia esperanças a perder. Se viu numa situação de vida ou morte — enxergava tudo lentamente enquanto sua adversaria erguia seu punho que com certeza atravessaria o cranio.
Como um brilho em um túnel profundo, viu uma silhueta iluminar o local congelado no tempo por trás de Luri. Piscou várias vezes e reconheceu o brilho: o fantasma de mais cedo, a forma de luz misteriosa que agia como ele mesmo.
Os incríveis milissegundos tornavam-se em décadas. O agir daquela silhueta não havia olhos ou sobrancelhas que davam dicas do que pensava. A segurança nos ombros erguidos que viu realçou os sentidos como o mais profundo:
— Você sou eu. E eu sou você, então não se esqueça.
Energia fluiu, o ciano apareceu e a calma instalou na mente feito uma espada na pedra. Aquilo havia retornado. A luz se mexia como se o ensinasse, pode sentir que a silhueta se retorcia na vista, uma deformação ondulatória que uma chama causaria.
O fantasma começou a se comportar como um fogo de uma vela.
Mark sentiu oxigênio entrar e ficou arrepiado, uma dor de recordação, uma dor de ter esquecido, doeu, doeu muito. Cerrou os dentes e… E puxou mais ar, ignorou o grito do corpo e continuo a inspirar.
O ar não o deu poder. O ar lhe deu lembranças. O ar o fez se lembrar, lembrar das chamas. Um calor de fazer os pulmões arderem.
A sensação do tempo começou a se definir de novo.
Com uma presença tão notável quanto a de Luri, Mark fitou nos fundos dos olhos da sua adversária, fazendo-a ficar surpresa. O movimento do soco foi impressionante, porém, o movimento que o garoto fez para desviar… foi mais ainda. Mark não estava fora se si, estava mais consciente do que nunca.
Jogou o pescoço de lado e retirou a pegada de Luri do capuz ao apertar os tendões do pulso.
Com uma posição de guarda diferente do habitual, se aprontou para o verdadeiro embate. Sua mente parecia em branco.
Era como se estivesse possuído.
Sem hesitar, ela continuou no avanço como um foguete desgovernado. Desviou. Luri saltou e tentou atacar por cima, Mark girou o corpo e escapou.
A moça grunhiu com a insatisfação, simplesmente, tornou-se incapaz de acertá-lo. Mark ficou parado na frente dela, sua barriga não mexia, nem as pálpebras; era um boneco que “vivia” para reagir aos movimentos do inimigo.
— Parece que aprende rápido mesmo...
Não disse nada. Ficou lá parado, porém, numa distração injusta, sacudiu o próprio rosto; o seu fantasma estava ao lado de Réviz, assistia de longe os movimentos da luta improvisada. A cara voltou a funcionar, a barriga expirou e o olho piscou. Numa investida desajeitada, se aproximou dela na tentativa de um soco.
Sofreu um contra-ataque quando Luri usou a inércia do ataque para apanhar seu braço. E foi projetado de novo. Perdeu um pouco do equilíbrio e caiu deitado, capotou sobre a terra. Sentiu uma enorme dor nos dentes, passou as mãos sobre a boca e arregalou ao identificar o que não queria:
Dentes e Sangue.
Seu desespero não partiu. Mark começou a chorar ali mesmo.
Se esteva possuído ou não, era o real Mark que chorava.
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