Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Cidade Flutuante – O Orfanato

Capítulo 9: Alerta Total

【A manhã nasceu no orfanato】 

 

Devia ser algo normal, casualidades da rotina, entretanto a doce menina ousava em contradizer bons momentos em ações difusas de… raiva. Perto das escadas, as grandes bolas arregaladas não se mexiam. A boca abria, fechava, parava. Nirda falava com alguém, ou melhor: alguém respondia ela.

Enquanto isso, Mark se encarava no espelho, piscava várias vezes; a resposta de sua ânsia não queria focar em sua realidade. No fundo, queria apenas achar uma razão de todas essas coisas. Forçou-se a continuar, arrumou suas coisas, relutante.

Incapaz de digerir todos os acontecimentos. A maneira inquieta de pegar seus pertences com mãos trêmulas era extremamente desconfortável. 

— Nem que eu esteja realmente louco... Só quero parar de pensar nisso.  

Mesmo em um clima agradável e um ambiente quieto devido à ausência das crianças, que estavam agora em aula, existia um caos e uma confusão que ponderava dentro de sua mente. Notou sua mochila logo abaixo do espelho e pegou, de dentro dela, a blusa que tanto gostava. 

Foi a janela que tinha atrás de sua cama. Quando olhou, percebeu o movimento da rua, como todo dia. A aflição de sentir algo errado e não decifrar de imediato, pensar que há o errado num aparente certo, é tentador.

— O que tem de errado comigo? — Esfregou o rosto.  

Uma coleção de respostas sem fundamento, dúvidas concretas e receios cimentados. A cognição de construía numa agonia de simplesmente faltar entendimento, o entendimento que tinha que encontrar para salvar a si de si mesmo.

A cabeça coçou em melancolia desagradável, a ligeira sensação de sentir como formigas sobre a pele foi se converteu, transfigurou, converteu a um trator que esmagou o crânio e estacionou em cima.

O joelho falhou e os braços se tornaram âncoras sobre a cabeceira. Os pulsos iam explodir pela tensão e dor repentina. A visão se tornou um borrão sem cor, morta de qualquer coisa visível. 

Tudo em volta se derreteu, desmontou e se reconstruiu. Grandes manchas estavam logo na sua frente. A dor escalonou em função exponencial junto ao foco vivo de detalhes perturbadores.

O ritmo dos choros acelerou em gritos de piedade, socorro, egoísmo sem fim num cenário que poucos engoliram. Lá apareceu Mark, onde um rapaz de cabelo verde-escuro e um estranho óculos de aviador da testa refletiam o pesar e ruir:

— Mãe! Mãe! Mããe!

O grito foi enfincado feito uma adaga nos ouvidos, Mark caiu para trás. As pernas gelaram no mesmo instante, molhou as roupas pela poça de sangue que vinha dos braços do rapaz. 

Rapidamente, seu rosto se expandiu em agonia, o oxigênio saiu pelas narinas como ar no vácuo ao perceber um cadáver horrível nos braços do desconhecido: uma mulher de idade tinha um buraco enorme no peito. O tempo foi ainda mais cruel, antes de conseguir processar os ligeiros segundos… sinos.

— Q-quem é v-você? 

Os óculos de aviador brilharam e a pergunta apareceu igual a um susto. Os sinos soavam cada vez mais altos. Aquele rapaz pode ver Mark também. Pior que isto, suas mãos soltaram as mãos da sua mãe sobre a inabalável dor de cabeça… sinos e mais sinos.

Antes que pudesse ao menos se estranhar, neve invadiu o cômodo. O lugar, que parecia um quarto de outra pessoa, se derretia em neve; os dois não esperavam por isto.

Mark estendeu o braço, a determinação aflorou, esbanjou um pico de coragem e se entregou nele. O estranho apenas se arrastou para trás, assustado. O jovem segurou as dores num fio de insistência e… mais nada.

O preto, tom profundo e denso do mais puro nada, conquistou tudo em sua frente. Cego pelo evento, os joelhos dobraram e caiu de costas num macio acolhedor

Estava com o coração acelerado e respirava ofegante, cores concorreram à realidade.

 — O-o que foi isso?... Não tá bem! Não. Tem. Nada. Bem. Mas... Muita calma, muita calma. Calma. — Levantou o corpo, desesperado.   

Viu uma cena de terror agora pouco, transmitir esse sentimento de horror para os outros da casa, ainda mais após ter conseguido finalmente retornar para casa depois do acidente, tornou-se a última opção.  

Enquanto um caos mental reinava a ligeiras camadas de parede, Nirda na exata posição — uma estatua viva. O piscar disparou, cílios cresceram mais… menina fofa, sorridente e meiga foi invocada. 

— Eu ia fazer o quê?

Desceu as escadas e se deparou com Will na cozinha, onde mexia tranquilamente em seu celular.  

— Iai? Cê tem algo pra agora? — Pulava ao redor de Will.  

— Hum… Acho que vou esperar a Maria e a Martía chegar para ajudar elas enquanto não acho outra coisa — disse Will, sem desgrudar o olhar do celular.  

— Entendi. E se a gente brincar um pouquinho?  

— Calminha, mocinha, tô quase ganhando a partida aqui — comentou em tom acelerado, girando todo o troco com movimentos de volante.

Nirda ficou um pouco chateada, apontou o dedo para Will ao soltar uma risada maléfica e forçada.  

— Não me force a pegar a mutiladora! — Forçou um tom grave.  

Não percebeu nenhuma resposta de seu irmão, ficou ainda mais frustrada e deu um passo à frente, irritada.  

— Se eu pegar el...  

Cessou sua própria fala. Simplesmente, virou diretamente para a escada; o rosto praticamente já desenvolvido de um adulto pairou a realidade, mãos paralisaram e os ombros congelaram sobre o ranger da porta no segundo andar.

— Mantenha o foco, Nirda — sussurrou.  

Will não havia reparado, mas, quando “vitoria” saiu de seu celular, sua atenção tinha finalmente retornado em sua totalidade ao mundo exterior a tela.

O instinto foi atendido, deu um cafuné em sua irmã e o rosto fofo apareceu de volta à vista. Os passos pesados mas escadas não tinham como ser escondidos.

Mark, em seu quarto, recuperava a si mesmo em meio ao clima de…“AGORA, AGORA, AGORA", alertou a voz gutural como um pelo refrão de metal. Levantou de sua cama e foi em direção a porta. Os barulhos lentos de alguém se aproximar se tornaram claros para trazer a prontidão da pergunta:

— Pode abrir? — soou a voz abafada de uma mulher.  

— S-Sim!

Quando a porta se abriu, revelou a diretora do orfanato com o rosto ainda abatido.  

— Tá tudo bem?  

— Estou, sim, obrigada por perguntar... Fico contente em saber que você está bem.  

Conhecia bem a diretora da mesma maneira que as empregadas. Ficou feliz em ouvir as palavras da dela, então, involuntariamente, levantou um sorriso.  

A convicção no semblante de pele escura não permaneceu por tempo suficiente, ela inclinou um pouco a porta para fechar. 

O movimento abrupto gritava por falta de decisão, colocou o próprio pé e deixou o pedido escapar com hesitação:

— Mark... Preciso que venha comigo para a sala de espera.

A felicidade momentânea se dissipado num sentimento surpresa, geralmente, a diretora só ia voltar aos afazeres normalmente — sabia que só podia significar coisas ruins. “Por que essas coisas esquisitas?” Apertou o punho e acompanhou ela.

Nirda, ainda ao lado de Will, viu por inteiro a presença do homem estranho. Bastou metade do corpo para que o irmão mais velho notasse ser o mesmo que entrou na sala da diretora.

A presença finalmente desceu do andar de cima, se sentou no sofá ali próximo e olhou para a TV desligada, onde avistou o reflexo de dois jovens que o encaravam da cozinha.   

Virou seu rosto cautelosamente para os observadores, e disse:   

— Tudo bem com vocês?   

— Joia! — respondeu Nirda ao acenar.  

Will estava um pouco tímido, evitou o olhar direto — tinha muita dificuldade de conversar com estranhos sem qualquer aviso.

— Meu chamo "Réviz". E?   

— O-o Meu nome é W-Will! E o dela é Nirda. — Agitou as mãos.  

O ímpeto da meninada destacou a falta de óleo nas engrenagens do irmão. Se aproximaram dele para o comprimento formal de apertos oficial para promover um estranho para um conhecido.

— Que bom! Parece que vocês já se encontraram, já se apresentaram, não é? — disse a diretora.  

Atrás dela, o jovem de cabelo hipérbole estava frenético por dentro. A noção de algo estranho estar na sequência de eventos atormentava o cérebro até adivinhar corretamente o futuro.

Suas mãos estavam inquietas, se esfregavam uma na outra. Limpou o cômodo sujo pelo ambiente desconfortável, e o movimento duro colidiu no alvo; velho com um queixo marcante, um olhar neutro, cabelo com cor amarelo-queimado, com uma franja grande: aparência que dilatou em arrepios na pela.

 

Com o clima peculiar entre os três órfãos, a diretora se sentou ao lado do visitante. Will arrastou duas cadeiras para ele e Nirda se permaneceram mais perto; Mark, que hesitou por um segundo, trouxe outra cadeira após engolir seco.  

Estavam todos presentes ali na sala, apenas esperavam a diretora continuar. 

— Por acaso, algum de vocês se lembram do nosso “plano c”? — perguntou a diretora. 

— Aquele onde... lembram da gente no último momento possível? — respondeu Nirda, depois se esforçar para lembrar. 

— Bem, não nessa forma de expressar. 

Depois de ouvir Nirda, ponderou sobre o real peso das suas palavras, porque queria que esse fosse o caso em questão — queria o máximo de tempo possível. 

— Sabem que são os mais velhos da casa... e este homem tem um acordo especial para dizer a vocês...  

— Estou na cidade a pouco tempo, tenho conversado com a diretora de vocês pelo celular por um período anterior. Hoje, vim pessoalmente. 

Ergueu do sofá feito um soldado em pleno juramente de honra, hora na qual depositou anos de sua vida na possibilidade de um fio de sucesso. A imponência carismática capturou a atenção com eficiência, colocou a mãos para trás e continuou

— Nirda, Will e… Mark, tomei a decisão de adotá-los.

O irmão de cabelos brancos quase caiu da cadeira, definiu-se num borrão de uma alma penada quase espatifada no chão; Nirda abriu um sorriso que ia de uma orelha para a outra; Mark apenas segurou a respiração, perplexo.

A diretora se emocionava e deixava escorrer algumas lágrimas, mas rapidamente tentava as secá-las junto a uma postura de uma mola, mantinha ereta e sedia a emoção de corcunda.

Réviz, com seu um sorriso leve, continuou a explicar como funcionaria tudo. 

Apesar de não ter o papel encarregado parecido como a de uma “mãe”, ao contrário das duas empregadas, a diretora chorava ao lidar com a inevitável. Mark foi confortá-la com um abraço, e seus irmãos rapidamente fizeram o mesmo.

A moça se entregou aos sentimentos de despedida com duas imensas cachoeiras.

 

[ Dias depois ]

 

A luz da lua iluminava uma casa grande que estava ao redor da cidade, atingia a cozinha chique em que Réviz tomava o café tranquilo. 

Escuro. Xícara. Lua. O homem estava num cenário misterioso, mas não importava. 

Observava o seu telefone em sua frente em cima da mesa. Tensão cobria o ar. O clima de velho oeste, sem sentido, retocava o dispositivo.

“Ache Marcos, convoque os outros antes que…" Esmurrou a mesa, frustrado. Lembrar desta frase revirava se consciente em tragédias interiores.

Lembrava de sua operação mais importante e colocou a xícara de café na mesa. A respiração escalonou como um terremoto de um vulcão ativo.

Ambos os bravos colidiram contra mesa, a xícara tremeu, café foi derramado e desabafo foi emitido:

— Tantos anos... eles precisam acreditar em mim. As coisas vão ficar bem complicadas... Agora, posso finalmente encontrar ela.

Réviz tinha um grande problema com horários de sono, invés de apenas insistir em dormir, planejava e replanejava, escrevia e reescrevia… condenava mais o "eu" fracassado. 

A maior operação e o maior fracasso.

Um comportamento nada diferente de Mark, que estava deitado em sua cama.

A falta de sono passou de inconveniência até rotina. As perguntas não o deixam em paz, a ansiedade de ter que se mudar em breve só aumentava a cada dia. 

Estendeu os bracos ao teto e lembrou de quando viu o fogo incendiar o corpo.

— Eletricidade, chamas, palavras, sinos e uma dor de cabeça... 

Chamas que não eram quentes e tinham uma cor diferente, não era azul esperado e nem vermelha, mas um azul esverdeado similar ao ciano. 

— Só pode ser coisas da minha cabeça, aqueles remédios que me deram enquanto estava inconsciente deve ter me dado uns pesadelos medonhos, mas... aquela neve. — Abaixou as mãos. 

Percebeu que, em seu “pesadelo”, nevava no momento onde o fogo aparece, mas estava longe da época de frio e só se lembrava de ter nevado naquela cidade quando era criança, seria muito estranho tal neve aparecer sem ser algum evento raro. 

— Ele também viu.

Cadáver. Socorro. Buraco. Branco. Mark não esperava que mais coisas ruins aconteceriam depois de uma semana. 

A mente desacelerou e o corpo enfraqueceu. O jovem se deixou a deriva do sono.

Sua respiração pesada e prologada passava a se tornar leve e rápida. 

Estava preso em algo que o fez desarrumar sua cama toda. 

Sonhava com algo real de mais. 

A integração da área ao redor acordou no ponto pico. A transição não suave o fez tropeçar em… pedras 

O gosto seco e azedo da neve preencheu a língua. Havia tropeçado na trilha que levava ao topo da montanha. 

O chão não era visível no fundo, a névoa esbranquiçada atrasava as percepções do real perigo. 

Vozes coçaram os ouvidos. Homem e uma mulher que conversavam mais à frente; um usava uma capa que cobria todo o corpo estando de costas para Mark, e a outra estava com a cabeça a mostra, deixava seus cabelos vermelhos à vista, mas seu rosto não estava claro o bastante para se enxergar. 

Ouvia palavras inaudíveis, mas algumas soaram altas e outras mais baixas, era como se fosse um erro proposital: “Como... seguir... agora... depois... daquilo...”, palavras distantes na frase, embora a sequência fazia realmente sentido.  

De repente, o homem tirou sua capa e revelou parte de seus cabelos brancos e espetados. 

Silêncio. O vento, que trazia mais neve, aumentou sua força. 

Eletricidade surgia do corpo em cor azul, uma palavra que, destacada em um grito, foi propagada para Mark. 

— Ferva! 

Chamas surgiram e explodiram tudo ao redor, pedras e árvores voaram e sua direção.

Enfim, o amanhecer chegou. Mark caiu da cama e sentiu o gelo do chão do orfanato mais uma vez.

 

 

 

 



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